domingo, 21 de dezembro de 2008

Bom Natal!

Gosto do Natal! Gosto do Natal! Gosto do Natal!

Já sei que o espírito da época se dilui no consumismo, na correria pelas lojas, na tristeza de nunca poderem estar todos, porque aquele casou e passou a ter mais uma casa onde festejar, o outro divorciou-se e aparece com uma desconhecida a ocupar o lugar da 1ª, os que morreram fazem-se sentir mais nesta época, etc...

Mas, convenhamos, se não fosse pelo Natal, qdo se juntariam as famílias à volta de uma mesa?

Neste nosso ocidente-que-perdeu-tradições, que rituais ainda nos restam? O carnaval? Hmm, nem sempre apetece uma outra máscara. A passagem de ano? Tem anos. Há anos em que dá uma grande neura ter que fazer balanços e esperar pela meia-noite para começar a aquecer.
Os outros feriados passam por nós sem que demos por eles. Se são pontes, passa-se a ponte; se não são, fica-se a descansar.

O Natal persiste, tem qualquer coisa de reconciliação, tréguas ( é espantoso que se parem bombardeamentos em países em guerra), alegria, várias gerações juntas, cheirinho a boa comida da mamã, relembrar sabores, velas na mesa, frio lá fora, calor humano cá dentro.

Gosto mesmo do Natal! A sério :)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

"Homem na escuridão" - Paul Auster

Acabei ontem de ler o último livro do Paul Auster.
Não estranho os ambientes que cria, são-me familiares. Ler o Paul Auster é como conversar com um amigo que sabe contar histórias que se passam com pessoas parecidas connosco.
Há as fantasias e a vida mais real. Há cruzamentos entre os dois mundos. O primeiro atiça-nos a curiosidade, o segundo envolve-nos na intimidade das pessoas do nosso tempo.

Gostei muito das conversas entre o avô e a neta já adulta. Duas gerações sem o constrangimento da geração do meio, que se escutam e se compreendem, que não têm medo de chocar. A distância necessária à proximidade...

A fantasia, que eu julgava que iria reaparecer no fim para resolver aquela realidade, vai-se esfumando, porque deixa de fazer falta...

No livro do ano passado: "Viagem no scriptorium", ganhava a irrealidade. Tudo ficava suspenso.

Este é um livro mais feliz!

domingo, 30 de novembro de 2008

Silêncio

Gosto de silêncio.
Os professores precisam dos seus momentos de silêncio.
Nas aulas, fala-se, ouve-se, às vezes grita-se. A concentração é grande, não há momentos de distracção. Não existem outros pensamentos, o mundo de fora desaparece.

Talvez por isso, precisemos tanto do silêncio. Descomprime-se e há uma sensação de liberdade.

Este fim de semana calhou ficar só. Perdi a noção do tempo, entre pensamentos, leituras, um cinema, correcção de uns trabalhos dos alunos. Não senti falta de pessoas. Gostei da minha companhia :)

Só tenho pena que o tempo voe. Estava a saber-me bem este retiro. Apetecia-me mais dois dias de silêncio...

sábado, 29 de novembro de 2008

Para que serve um blogue?

Um blog não é um diário.
Como escrever, num espaço público, o que, de íntimo, deixaria de o ser?

Como expor sentimentos sem se sentir despida, vulnerável?

Felizmente há ideias, interesses, projectos que se podem partilhar na blogosfera.

Gosto disso! :)

domingo, 9 de novembro de 2008

Porque lutam tanto os professores?

Há 8 meses, no dia 8 de Março estiveram 100 000 professores na rua. Ontem, eram 120 000. A classe tem 140 000 pessoas.
Qualquer pessoa, ainda que não conheça as razões desta revolta, deve perguntar-se: "O que se passa, de tão grave, para virem quase todos protestar?"
A atitude mias cómoda é acreditar no que diz a Ministra da Educação: "Não querem ser avaliados", ou "São manobrados pelos sindicatos".
Os professores estão todos equivocados? Saõ pouco inteligentes e deixam-se manobrar? Estão todos receosos de perder direitos adquiridos?

Os professores sempre foram avaliados. Se o modelo não era o mais correcto, haveria que negociar outro. Mas, sendo uma profissão com características tão peculiares ( não há chefes pq todos têm a mesma formação) teria que se ter pedido o contributo de pessoas conhecedoras da realidade escolar e teria que se ter estudado modelos europeus e fazer adaptações. Em vez disso, pegou-se no modelo de um país de 3º mundo, o Chile, e impôs-se a todas as escolas portuguesas, com o carácter de lei, ou seja, aplique-se! Assim que as escolas tentaram aplicá-lo, depararam-se com situações completamente ilegais, irresolúveis, absurdos, a que a tutela não consegue dar resposta. Apenas insiste: "Avaliem-se uns aos outros!"

O que me revolta não é só a burocracia. Querem afogar-nos em grelhas? Se fosse só isso, pegávamos nas montanhas de grelhas que circulam na net e faziamos copy paste.
O que me indigna e não consigo engolir é esta avaliação inter-pares.
Não tendo recursos para proceder à avaliação de todos os professores, o ministério decidiu abrir um concurso para dividir os professores em "titulares" e "simples professores". Não sabia como dividir-nos, então escolheu o seguinte critério: baseou-se nos últimos 7 anos de docência e atribuiu pontos pelos cargos desempenhados nas escolas.
É aqui que começa o absurdo. Os cargos que sempre existiram nas escolas ( professores que coordenam os seus grupos disciplinares) não se obtinham por mérito!!! Todos tinhamos que os desempenhar, eram rotativos, de 3 em 3 anos havia nova eleição, e eram de aceitação obrigatória.
Eu fui coordenadora do meu departamento, a pessoa que se me seguiu estava no cargo quando foi o concurso. Ela ficou titular-avaliadora e eu fiquei professora-avaliada.

Esqueceram-se, ainda, os senhores do ministério, que há departamentos que englobam várias disciplinas. Passou a haver professores avaliadores de Educação Musical, por exemplo, que, por terem passado a titulares, terão que avaliar colegas de Educação Física ou Educação Visual, sem terem quaisquer conhecimentos científicos dessas disciplinas.

Aqui chegados, pergunta-se à DREL : "Como pode um professor de francês, por exemplo, avaliar um de português?" A resposta deles é : "a avaliação não contempla os aspectos científicos".

Então contempla o quê?????
A relação do professor com os seus alunos??? Mas se em muitos casos ( já que o critério foi aleatório) a pessoa que avalia tem pior relação com os miudos do que a que está a ser avaliada!!!

Outra questão interessante é a seguinte: o minisério, ao fazer esta divisão, legislou que os professores avaliadores seriam eles também avaliados por inspectores. Não conseguiu ( custa dinheiro) formar inspectores avaliadores. Logo, esses colegas, que estão ao nosso lado, têm exactamente a mesma formação que nós, não serão avaliados!

Nesta trapalhada toda, as questões importantes são as seguintes:
Quem avalia quem?
O que se avalia??

Tudo isto é um processo kafkiano que ninguém, no seu perfeito juízo, consegue aceitar!
Os que não são professores preferem nem tentar perceber!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A mudança começou na América!

Queria lá estar! Queria participar daquela grande festa! O meu coração hoje mora na América!

Dizia um homem negro: "Passámos da escravatura a ter um presidente negro. Isto no espaço de uma geração"

Lembram-se o Luther King? I have a dream!
Dreams come true when we fight for them!


Yes, we can!

Esta frase, esta frase é a mensagem!

Que nos sirva de inspiração! Não há só o capitalismo desenfreado e egoísta; não há só o "estalinismo", que faz de nós carneiros obedientes.
A liberdade individual não é mérito dos liberais.
Há outros paradigmas e o que o Obama nos ensina é que é possível fazer política de outras maneiras!

Por cá, neste rectângulo retardado, já há quem pense assim...

"Mudam-se os tempos/ mudam-se as vontades/muda-se o ser/ muda-se a confiança/ todo o mundo é feito de mudança..."

domingo, 26 de outubro de 2008

A Oeste, algo de novo...

Acabei de ler a crónica do Daniel Sampaio, na revista do Público: "A América e eu".
Partilho, com ele, um sentimento ambíguo em relação à América.
Nunca estive nos E.U.A mas alguns dos livros que me têm marcado vieram de lá bem como alguns "filmes da vida". Sim, o "Citizen Kane" era a alma da América ( ainda?)...mas o que dizer do mais recente "Paris, Texas", ou daqueles filmes do Woody Allen que se passam em Manhattan mas poderiam passar-se em Paris?
Quando descobri o Paul Auster, devorei-o até me fartar. A mulher dele escreveu um livro que me perturbou pela actualidade, pela profundidade...Mais recentemente, li "A mancha humana" do Roth e pensei: "De superficial isto não tem nada"..
Tenho a impressão que os americanos se expressam muito, usam muitas palavras, não são um povo de silêncios...será?
Poderá, uma nação tão grande ter uma entidade? O que têm os nova-iorquinos a ver com os texanos?
A outra América, a arrogante, a grande potência, a moralista ( o mamilo da Jackson foi mais falado que o furacão Katrina), as guerras, os Bushistas, parvos, poderosos e ignorantes, a Palin que ainda acredita que o 1º homem foi o Adão e a 1ª mulher a Eva...
A crise financeira, a ganância, o subprime. Por outro lado, as maiores investigações científicas.

Disto, deste mundo, surge, inesperadamente ( pelo menos para mim) um afro-americano com um discurso de mudança e os americanos querem elegê-lo. Passo a olhá-los de outra maneira. Querem a mudança. "Autre chose".
Se ele vencer, como espero, muita coisa pode mudar por estas bandas.

Alguns, como eu, não se revêem nestas formas de fazer política que tornam os cidadãos meros executantes de medidas ocas, sempre centralizadas, elaboradas ou copiadas de seres pouco pensantes, tecnocratas do imediato, pessoas sem filosofia!
A oeste, algo de novo!

sábado, 25 de outubro de 2008

O que se aprende com os mais novos

Pode-se enganar um adulto? Pode! Muitos ficam-se pelas aparências. Não sabem "ler".
Pode-se enganar uma criança? Não. As crianças e os jovens lêem-nos.
Essa capacidade vai-se perdendo? Julgo que sim...
Um professor, numa turma perante 25 crianças, tem 25 pares de olhos que o "estudam" , o "analisam". Se o que ele estiver a dizer não condiz com a a sua expressão, a criança detecta imediatamente.
Numa aula de uma hora e meia, não há lugar para "teatros de adultos". Toda a concentração é necessária para compreender o que aqueles 25 pares de olhos estão a captar.

Estamos a analisar um texto, falamos das personagens, tentamos caracterizá-las, eles vão pondo o dedo no ar, vai-se aprofundando, os miúdos vêem sempre pormenores que nos escapam. às tantas um diz: "Na outra aula a stora disse que o miúdo estava a ser arrogante e , neste texto, diz que ele é tímido..."
Boa! Quem errou fui eu que julguei que uma atitude duma personagem podia ter só a "minha leitura"
O que achas? Acho que ele é tão arrogante, como o miúdo do outro texto...
Divagamos sobre o que é a arrogância...e a timidez...
Muitos têm o dedo no ar.
Aprende-se é com eles!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Imagine que...

Imagine que era professor, licenciado, profissionalizado ( com estágio profissional de 2 anos, supervisionado por alguém creditado) e experiente;
Imagine que tinha escolhido esta profissão por 2 razões: gostar de ensinar e gostar de estar próximo de jovens ( reconhecer que se está sempre a aprender com eles);
Imagine que a escola que sempre conheceu ( até há 3 anos) era uma instituição democrática, e talvez fosse a única instituição realmente democrática. Tendo os professores todos a mesma formação ( licenciatura e estágio) o que os distinguia era o tempo de serviço, a experiência que traz a sabedoria. Tudo na escola era feito por professores: desde a matrícula dos alunos a todo o acompanhamento de que necessitavam, além das aulas. Os cargos eram desempehados por professores efectivos e eram rotativos. Todos teriam que aceitar ser um dia coordenadores da disciplina, dos directores de turma, elementos do conselho pedagógico.
Os professores mais novos eram acompanahados pelos mais experientes, nas reuniões periódicas de planificação de aulas, ou em conversas na sala de professores.

Imagine que um dia, inesperadamente, surge uma equipa no ministério de educação que quer mudar tudo isto. Imagine que essa equipa, em lugar de saber o que estava errado no ensino ( e há tanta coisa errada no que aos programas diz respeito), lança para a comunicação social a ideia que os professores são os repsonsáveis pelo insucesso escolar!
Imagine o que sentia!

Imagine que o que se seguiu foi uma verdadeira "bomba" nas escolas. Criou-se uma divisão entre professores- titulares e não-titulares. Divisão essa que, por ser impossível de determinar o que os distinguia, se baseou, APENAS, no número de cargos desempenhados na escola nos últimos 7 anos ( nem um item sobre prática lectiva). Como referi atras, esses cargos eram, até à data, rotativos e de aceitação obrigatória entre efectivos.
Imagine que alguns colegas, ao terem subido a titulares, se tornaram avaliadores dos colegas do lado, sem qualquer formação para isso, nem qualquer mérito acrescido. Tratou-se, apenas, da lei do azar ( estavam a desempenhar um cargo nesse período). Imagine que os pobres avaliadores se sentem incapazes de exercer tal função, por saberem que, da nota atribuída, dependerá o futuro profissional dos colegas que lhes coube avaliar ( em nº até 12 )
Iamgine o ambiente que se passou a viver nas escolas, muitos repudiam este MONSTRO de modelo de avaliação, uns têm medo de represálias se não acatarem, outros, muitos, os que já podiam fazê-lo, pediram a pré-reforma.
Imagine que este modelo é, além de imoral e estúpido, ineficaz e totalmente impraticável, muitíssimo burocratico ( exige carradas de papeis, grelhas preenchidas , port.folios, etc) ...tudo a roubar tempo a quem gosta de ensinar. As reuniões, em vez de serem para analisar assuntos pedagógicos, descobrir estratégias para alunos mais problemáticos, passaram a ser usadas para interpretar leis incompreensíveis ou decidir sobre quais as melhores grelhas que há no "mercado"...

Eu sou professora e continuo a gostar muito de ensinar e a gostar muito do convívio com os jovens. Aliás, penso que quem convive com eles não envelhece tanto. Obrigam-nos a manter uma mente aberta, tentar ver o mundo pelos olhos deles.
Como todos os professores, estou angustiada com o que se está a fazer à escola pública e considero que atacar professores é atacar os seus alunos ( um pouco como numa família, atacar os pais, é atacar os filhos). A ESCOLA é, ainda, um espaço de relações humanas, que se quer autónomo de gestões impostas pelo exterior, e que precisa de estar "bem de saúde" para que se possa aprender e ensinar...e ainda, sentir carinho...

domingo, 12 de outubro de 2008

A ciência da alma

Li, no "Notícias Magazine" uma entrevista a EDUARDO PUNSET, um investigador científico e escritor, autor dos livros: "Viagem à felicidade" e "A alma está no cérebro".

Alguns excertos:

"O milagre é que tenham decorrido tantos milhares de anos sem sabermos o que se passava dentro de nós. Quando vimos ao mundo dispomos apenas de 7 emoções básicas e universais, positivas como a felicidade e o amor, negativas como a raiva, o stress, o desprezo. Não nos ensinaram na escola que a felicidade é uma emoção básica e universal e que é transitória, não pode durar para sempre."

"Descobrimos que somos menos programados do que acreditávamos ser. Não conheciamos o peso enorme de cada experiência no subconsciente humano, que é tal que deixa uma marca que acaba por transformar a estrutura cerebral.. Estamos programados, mas para ser únicos."
"Daí a reconciliação entre neurologistas e psicanalistas: uns e outros admitem que há leis gerais de desenvolvimento cerebral, mas ao mesmo tempo a experiência quotidiana através do inconsciente marca a estrutura cerebral, o que faz com que cada indivíduo seja único."

"Uma das grandes descobertas que transformará a vida das pessoas nos próximos anos, é que agora sabemos que até aos 5 ou 6 anos de uma criança estamos a decidir o que vai ser a sua vida de adulto."

"O grande desafio de um hominídeo é outro hominídeo..... Se foste bem sucedido em explorar a mente do teu pai, mãe, irmãos, vais querer aprofundar o conhecimento do resto do mundo, ... a busca do amor do resto do mundo. Se isso não funcionar, vais sentir rejeição ou indiferença em relação ao mundo, ou, na pior das hipóteses, serás um psicopata, com vontade de destruir."

"O cérebro só assume o que o diverte, o que lhe agrada. Uma das grandes descobertas da neurologia moderna é justamente que, quando a informação não agrada ao cérebro, determinados circuitos se fecham. Não é que não assimile, simplesmente não ouve."

sábado, 11 de outubro de 2008

Está em preparação...

um dia 15 de Novembro muito especial!!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Brecht

"Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém chama violentas as margens que o comprimem.."

Esta frase do Brecht entrou em mim na adolescência. Eu era o "rio" que transbordava. As margens não podiam conter-me...

Tantos anos mais tarde, este pensamento ainda me ocorre, algumas vezes. Não há melhor definição para a revolta contra o que nos parece injusto.

Não consigo entender como tantas pessoas se calam perante coisas que sentem como injustas, incorrectas. Será que engolem o que sentem, ou será que não sentem?

Como todos, eu gosto de me sentir em paz. Mas uma paz real, interna. Não gosto de "paz podre". Se não concordo, manifesto-me!
Penso que serei sempre assim...

"Crash" nas escolas portuguesas

O ambiente nas escolas está explosivo! Nunca vivi nada assim! A indignação é generalizada. Este modelo de avaliação entre-pares, único na história, além de completamente injusto e imoral, é de tal forma burocrático que se torna impossível de realizar. Quem quisesse cumprir o que é exigido, teria que deixar de preparar aulas e , em alguns casos ( caso dos professores avaliadores) teria que deixar de dar aulas para poder avaliar colegas. Todos os professores com mais de 55 anos pediram a pré-reforma ( com penalização salarial), o que resulta numa debandada de gente ainda muito competente, que gosta de ensinar e que eram pofessores de referência, pela experiência adquirida.
A indignação está a atingir proporções incontroláveis. Todos os dias circulam, na net, textos escritos, denúncias de situações aberrantes. O sindicato ( Fenprof), que no ano lectivo passado calou os profs estalabecendo um protocolo com o ministério, apercebeu-se da revolta iminente, e resolveu avançar para não perder o controlo dos professores.
Avizinham-se tempos de grandes lutas!
O essencial é conseguir manter alguma estabilidade para conseguir dar aulas decentes!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Fundamentalismos americanos

Há coisas que custa a crer que existam...


Nos E.U.A. há um jogo, disponível gratuitamente na net, intitulado "Massacre muçulmano, o jogo do moderno genocídio religioso", que está a fazer furor entre crianças e jovens.

"O objectivo é acabar com o maior nº possível de muçulmanos, ou, como é explicado através da reprodução da voz de Bush "assegurar-se que nenhum muçulmano ou muçulmana fique vivo".
"Para isso, o "herói americano" ( uma espécie de rambo loiro e espadaúdo) lança-se de para-quedas no Médio Oriente para levar a cabo a missão de eliminar a raça muçulmana, recorrendo a um arsenal das armas mais destrutivas do mundo. Ganha quem não deixar vivo nenhum muçulmano ou muçulmana. Cumprida a tarefa, o jogador passa, então, a níveis superiores, e a sua missão torna-se mais exigente: matar Bin Laden, o profeta Maomé e, por fim, o próprio Alá."

in D.N.

Prémio Ideias Verdes

Uma coisa tão simples. Como é que ninguém se tinha lembrado antes?

Quem ganhou o prémio foram uns jovens que apresentaram um projecto para prevenção de incêndios utilizando....cabras!


"...cabras que, controladas por cercas, devoram literalmente todos os resíduos florestais que estão na origem dos incêndios. As cercas que controlam a zona são alimentadas com energia solar e cada animal leva um chip na coleira, que permite a sua localização via GPS num telemóvel. É a junção da modernidade à ruralidade, à ecologia e à defesa do ambiente. E a prova de que uma excelente ideia não precisa de milhões para se concretizar."

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Onda de solidariedade precisa-se!

Manique, 01 de Outubro de 2008


Assunto: Falta de Educadoras de Educação Especial no Programa de Intervenção Precoce no Agrupamento da Alapraia - Estoril

Exmos. Senhores,

Chamo-me Cláudia Rocha e sou mãe do Guilherme Neves de Almeida que nasceu a 18 de Abril de 2006.
O Guilherme à nascença fez uma Encefalopatia Hipóxico Isquémica Grau I, pelo que aos 6 meses de idade foi-lhe diagnosticado Paralisia Cerebral (Hemiparésia Lateral Direita) que lhe afectou a nível motor, assim como o seu desenvolvimento cognitivo. A partir dessa idade iniciamos uma longa caminhada para a reabilitação do Guilherme através de sessões de Fisioterapia, sessões de Hidroterapia e sessões de Terapia Ocupacional.
No início do Ano de 2008 e após ter conhecimento do Programa de Intervenção Precoce, referenciei o Guilherme no Centro de Saúde de Cascais.
No dia 20 de Fevereiro de 2008 o meu filho foi sujeito a uma Avaliação do Desenvolvimento Global de acordo com “The Schedule of Growing Skils”, por 1 Terapeuta e por 2 Educadoras.
Segundo a Avaliação o meu filho apresenta em algumas áreas, um perfil de desenvolvimento abaixo dos parâmetros normais para a sua idade, nomeadamente na cognição, fala, linguagem e visão.
Nesta sequência o Guilherme foi inserido no Programa de Intervenção Precoce no Agrupamento da Alapraia, tendo o apoio de uma Educadora do Ensino Especial.
Iniciámos as sessões com a Educadora no 3.º Período Escolar, tendo o meu filho apoio domiciliário 4h por semana repartidos por 2 dias.
No final do período Escolar, a Educadora elaborou um Relatório Final onde concluiu que:

“O Guilherme é uma criança com Hemiparésia Lateral Direita com sequelas desde a nascença e um consequente atraso significativo. Devido à sua problemática, faz as suas aquisições de forma mais lenta. Apresenta um atraso bastante acentuado nas funções da fala com dificuldade em articular. Verbaliza muito pouco, com reproduções de sons intencionais, repetitivos e por imitação, demonstrando um ritmo inconstante na fluência e ritmo da fala.
Nas funções mentais específicas, revela dificuldades acentuadas nas funções de atenção, nas funções psicomotoras e nas funções mentais da linguagem, pelo que se considera que a continuidade do Apoio da Intervenção Precoce é imprescindível para esta criança e para o seu melhor desenvolvimento.”

Todo o processo do meu filho foi devidamente encaminhado pela Escola – Agrupamento da Alapraia para as Entidades Competentes.
No início do presente Ano Lectivo (15 de Setembro de 2008) entrei em contacto com o Departamento de Educação Especial / Intervenção Precoce onde fui informada que até à presente data o meu filho não tinha ainda uma Educadora designada.
Esta situação devia-se ao facto do Agrupamento da Alapraia ter solicitado à DREL a colocação de 7 Educadoras (o mesmo número do ano anterior) e até à data só ter sido colocada 1.
Aconselharam-me nessa altura para entrar em contacto com a DREL com o Departamento de Educação Especial e expor a minha situação.
Nesse mesmo dia consegui contactar a DREL que contactou o nosso Agrupamento tendo o mesmo confirmado a situação, ainda só tinham 1 Educadora colocada, quando tinham solicitado 7. Informaram-me ainda que a presente situação passava pela Direcção Geral de Recursos Humanos a Educação, pois seria este Departamento que promove a colocação de Professores pelo que deveria aguardar até ao final do mês de Setembro, altura esta em que se pensava que a situação estivesse solucionada.
Hoje e visto estarmos a chegar ao final do mês de Setembro, entrei em contacto novamente com o Agrupamento da Alapraia e qual não foi o meu espanto quando fui informada pela Direcção do Departamento de Educação Especial que a situação se mantinha, continuando a existir somente 1 Educadora das 7 solicitadas à Direcção Geral de Recursos Humanos a Educação.
Face ao exposto:
· O meu filho continua sem Apoio Educativo, não existindo qualquer previsão para o início do mesmo;
· Cerca de 60 crianças, pertencentes a este Agrupamento, com necessidades Educativas Especiais não têm Apoio Educativo por falta de colocação das Educadoras necessárias.
Estranhamente constato que a Educadora que acompanhava o meu filho encontra-se no Fundo de Desemprego, não tendo sido ainda colocada em nenhuma Escola.



Perante tal situação a minha revolta é enorme em pensar que:
· Afinal não somos todos iguais;
· Afinal não temos todos as mesmas oportunidades;
Afinal existem diferenças, entre as crianças normais e as crianças com necessidades Educativas Especiais, apesar do nosso Estado dizer o contrário, sim porque o Ano Lectivo iniciou em 15 de Setembro de 2008, mas foi só para alguns.

Neste caso, o que aconteceu ao art.º 23 da Convenção sobre os Direitos da Criança, que diz:
“No caso de seres deficiente, tens direito a cuidados e educação especiais, que te ajudem a crescer do mesmo modo que as outras crianças.”




Agradeço que publiquem nos vossos blogues e, caso tenham alguma ideia sobre como ajudar esta mãe, não hesitem!
Talvez possamos, juntos, criar onda de solidariedade que venha a derrubar estes "muros"!
Obrigada!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

É o mercado, estúpida!

O congresso americano chumbou o plano Bush para "resolver" a crise! Com eleições à porta, ninguém se queria responsabilizar pelo descontentamento dos cidadãos que veriam os seus impostos agravados.
Eu, estúpida que sou nestas matérias, pergunto: "O que se está a passar?" "Para onde foi o dinheiro?"

Então, a lógica era o mercado livre, o estado não teria que regular coisa nenhuma, quem sabia do assunto eram os "senhores do dinheiro"...e agora deparamos com nacionalizações de bancos, até na europa?!
Man, o socialismo vem salvar o capitalismo da crise do capital??

Somos nós, contribuintes, que teremos de pagar a recuperação da banca, sob pena de nos cair a crise em cima??

Alguém entende alguma coisa disto?

Estamos a ficar todos bipolares? :)

Não sei como entram estes termos na linguagem corrente mas desconfio que é por via das telenovelas. Não creio que alguns médicos andem a rotular abusivamente todas as pessoas que não se sentem bem...

Há uns anos, a moda eram os "hiperactivos". Nas aulas, quando mandava calar um aluno, ele respondia-me: "Stora, eu sou hiperactivo" :) Depois, lá me explicaram, havia um miúdo dos "Morangos com açúcar" com esse diagnóstico. Aquilo pegou!
O termo que mais oiço no dia-a-dia da escola é "trauma". As mães referem-se, frequentemente aos problemas dos filhos, usando-o. O ano passado, uma mãe dizia-me que a filha tinha um trauma com o cabelo. Estive quase para lhe responder: "Também eu!" :)
As tristezas passaram a ser denominadas "depressões", de tal forma que é obrigatório andar sempre com um sorriso na cara, para não ter que ouvir com um.. "andas deprimida?".
Não temos nós um leque de emoções e sentimentos vários?

Vem isto a propósito de um episódio hilariante que aconteceu hoje na escola:
Fui à secretaria consultar o processo de um aluno. A funcionária que tem este pelouro estava de baixa. Apareceu a chefe da secretaria, muito nervosa com o avolumar de trabalho com menos uma pessoa no activo. Disse-me que a dona... estava de atestado por se ter tornado "bipolar" com tanto serviço. E acrescentou: "Olhe, estamos a ficar todas bipolares!".
"Deixe estar, dona..., que os profs tb estão todos a ficar bipolares e os alunos tb, por isso isto é uma escola bipolar" :))

sábado, 27 de setembro de 2008

Quasimuda

Gostei da alcunha da Manuela Ferreira Leite :)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Por que matam os finlandeses?

Ondas de criminalidade existem um pouco por todo o lado, mas as causas parecem ser diferentes de país para país.
Em Portugal, quando alguém aponta uma arma tem como objectivo roubar. Podemos encontrar como causas ( e nunca como justificação) a pobreza, o desemprego, o racismo, a droga, etc...enfim, dinheiro...
As razões que levam os finlandeses a matar são, seguramente, outras.
Das duas, uma: ou o ser humano é muito mais complexo do que parece, ou as sociedades que construimos são desumanas. Ou ambas as coisas...

retorno ou recomeço?

Uma frase de T.S. Elliot:

"E no fim de todas as nossas explorações, chegaremos ao local de onde partimos e iremos conhecê-lo pela primeira vez."

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Homenagem aos colegas que partem...

Este ano vou perder a companhia de alguns colegas mais velhos. Foi-lhes dada a possibilidade de se reformarem, ao fim de 30 anos de serviço ( penso ser esta a condição) mesmo que ainda não tenham atingido a idade de reforma. Serão penalizados financeiramente, mas, ainda assim, todos os que estão nestas condições vão aproveitar a oportunidade.O Ministério mete algum dinheiro ao bolso com isto, já que por cada efectivo que sai, colocará um contratado a ganhar menos uns euros. E esta é a única preocupação deles!Tenho pena. Tenho conhecido pessoas muito competentes, muito empenhadas e que, para mim, sempre foram uma referência. Sei que saem antes de tempo, que teriam ainda muito para dar, que ainda gostam de ensinar, mas, perante o estado em que se encontram as coisas nas escolas, quem é que não aproveitaria uma oportunidade destas?Saem antes de começar o ano da avaliação de desempenho de todos os docentes. Saem pq não querem avaliar colegas ou ser avaliados por eles, saem pq não querem perder horas infinitas em burocracias, papeis e mais papeis. Saem pq não querem entrar na farsa de ter que passar todos os alunos. Saem por uma questão de honra! Preferem guardar memórias de uma escola digna, em que cada um dava o seu melhor, em que os professores eram respeitados, em que não havia competições idiotas entre colegas por uma nota melhor. Saem pq ninguém sabe o que nos falta mais aturar da parte deste ministério...Tenho muita pena...com quem vou eu debater a melhor maneira de abordar um texto? Com quem vou eu conferir resultados de testes e verificar, em conjunto, por que razão a maioria dos nossos alunos não entendeu uma questão que nos parecia fácil?Por tudo o que aprendi com os colegas mais experientes, pela disponibilidade de ouvir-me quando os massacro com as minhas dúvidas, um imenso OBRIGADO!

sábado, 20 de setembro de 2008

Ainda há pessoas com princípios?!

Todos os dias vamos sabendo das reformas chorudas que políticos ou administradores de empresas privadas ou públicas vão recebendo quando largam o posto. Às vezes, basta lá terem estado uns 3 anitos para serem compensados de uma forma que indigna quem trabalha uma vida inteira e se tem que contentar com uns trocos.

O que me surpreendeu pela positiva foi a atitude do Ramalho Eanes. Após anos em que não lhe foi paga uma reforma e, tendo os tribunais decidido que tinha direito a receber retroactivos de décadas, no valor de um milhão e trezentos mil euros, prescindiu desta quantia.

Nos tempos que correm, não estamos habituados a atitudes destas. Tiro-lhe o chapéu!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

"Marx-renaissance"

Li no Expresso e não fiquei surpreendida. A ideia de que as democracias liberais seriam o "fim da história" e que estaríamos numa fase pós-ideológica e pós-política começa a ser posta em causa.

"A "Marx-renaissance" é ainda um fenómeno culto, com sede nas universidades ( talvez em 1º lugar as americanas) e manifesta-se num debate que alimenta uma abundante bibliografia."

Num país como o nosso, que viveu metade do seculo XX em silêncio e onde, ainda hoje, a crítica é sinónimo de "bota-abaixo", talvez se devesse recomeçar a pensar que não estamos no fim da linha e que, como diria Marx: "O Real é mto mais permeável à interpretação do que à acção..."

Na origem desta "renaissance" está um deficit que se tinha tornado insuportável, mesmo mortal: o deficit crítico, de pensamento crítico para analisar o mundo actual e orientar-se nos fenómenos singulares das novas configurações sociais."
O filósofo Jacques Derrida diz que assumir a herança do Marxismo é assumir uma responsabilidade teórica, filosófica e politica dos vários "espíritos" do marxismo., incluindo a revolta, mas sem necessidade de uma organização do proletariado, ou de uma classe, ou muito menos de um partido. Apelando à força crítica e analítica de Marx tanto no plano da politica como na interrogação dos fantasmas, das mercadorias, da tecnologia, do trabalho imaterial, da globalização em curso e do aparelho mediático."
Ourto filósofo, Zizek, reinventa o marxismo, desenvolvendo a ideia de que é preciso politizar a economia e interromper a desmesura dos mecanismos do mercado..."

Pensantes de todo o mundo, uni-vos! :)

domingo, 14 de setembro de 2008

Maria do Carmo Vieira

Agradeço a esta senhora, professora de Português do ensino secundário, a coragem, a lucidez e a luta pelas convicções, fruto de 30 anos de dedicação ao ensino da literatura portuguesa.
Haja alguém que não se cala, alguém que não desiste de pensar e de expor as suas ideias, sem medo de consequências.

Excertos de uma entrevista publicada hoje, dia 14, no Notícias Magazine ( D.N.) :

"Só a resignação explica que se obedeça ao teor dos novos programas, que privilegiam o novo, ou seja os autores contemporâneos, no quase completo apagamento do que é velho, ou seja, os autores clássicos, a fonte. Este discurso oficial decidiu que os interesses dos alunos se centram no presente, liberto de influências, e no excesso de imagens que humanamente é impossível reter e que se dispersam sem qualquer significado. Talvez o objectivo primeiro seja treinar os alunos a não pensar..."

"...chamaram-me elitista quando dei a conhecer, de forma crítica, a presença do Big Brother e das telenovelas nos manuais, e quando defendi a importância da arte, nela incluindo a literatura, na sala de aula. Com efeito, se não for a escola a preencher o vazio cultural de uma situação familiar fragilizada, quem o fará? ..."

"Expressiva é a frase de uma das canções de Schumann: "Aqueles que são ignorantes são fáceis de conduzir." Mas isto é um crime, fazer com que os alunos se esqueçam de si próprios, se anulem enqto seres humanos, nunca reflictam sobre o que quer que seja. E depois admiramo-nos com o facto de os jovens não irem votar."

Questionada sobre como imaginaria um Plano Nacional de Salvação da Escola Pública, responde:

"Antes de mais, começar pelos conteúdos dos programas, o que exigiria um debate sério, sem a arrogância que temos vindo a conhecer, um trabalho rigoroso na sua planificação e de redacção límpida. É inadmissível que não exista um fio condutor na elaboração dos novos programas ou que tenhamos de ler 2 e 3 vezes o que está escrito, sem que compreendamos o que se pretende.. Há sempre a tendência para os alongar em demasia e, no caso do Português, é preciso tempo para trabalhar com os alunos a língua, a análise do texto, a contextualização de um autor, a par da literatura, a pintura, a música, ou outras artes. Dever-se-ia tb regressar ao estudo da gramática, verdadeira reflexão sobre a língua, e ao uso de dicionário..."
"Para além da reavaliação dos programas, esvaziados drasticamente dos seus conteúdos pela Reforma de 2003, era necessário que a escola voltasse a ser um espaço de qualidade, valorizando as capacidades dos alunos ( curiosidade, desejo de saber, o pensar, o imaginar, entre outras.) exaltando valores que têm sido silenciados, como o esforço, a força de vontade, o rigor, o trabalho, o brio e a alegria de vencer as dificuldades para atingir um objectivo. Relevante seria igualmente a escola voltar a privilegiar a relação ensinar-aprender, que em si contém desafio, partilha, solidariedade, dádiva e amizade."

sábado, 13 de setembro de 2008

Publicidade?

Sempre que escrevo e publico novo texto, aparece-me uma informação do google convidando-me a "ganhar dinheiro com o seu blog", a troco de publicidade. Nunca cliquei nesse item, mas fico sempre a pensar no que será isso. Pagam o quê?
Visitando alguns outros blogues, reparo que alguns têm publicidade a uma marca de cerveja. Será que são os que aderiram a esse "negócio"?
Alguém me pode informar?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

"A partícula de Deus"

Imagino que físicos de todo o mundo estejam com os olhos postos em Genebra, onde decorre uma experiência destinada a reproduzir, com um acelerador de partículas, as condições físicas da origem do Universo.
A ideia é extraordinária e só hoje, ao ler uma pequena notícia no jornal, percebi um pouco do que se espera encontrar.
Segundo li, espera-se confirmar a teoria de Higgs sobre a existência de uma partícula com o seu nome ( bosão de Higgs), que é conhecida como a "partícula de Deus", e que originou a explosão prevista na teoria do Big Bang.
Este físico de nome Higgs ( actualmente com 79 anos) tem como rival um outro físico, Stephen Hawking que apostou 100 dólares em como o tal bosão de Higgs não existe. ( Acho pouco para uma aposta destas:)

Imagino a ansiedade dos 2 senhores...
Eu, que nem sei o que é uma partícula subatómica, partilho da curiosidade dos "não-físicos" e, já agora, gostava de saber se sempre houve Big Bang ou não...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

"A verdade da mentira"

Pego no título do livro do Gonçalo Amaral sobre o "caso Maddie", para escrever sobre a notícia : "Os chumbos diminuiram significativamente, no ano lectivo passado"
Alguém acredita que, num só ano, se tenham invertido as catastróficas estatísticas de insucesso a que nos habituámos? Convinha justificar com outros dados além dos nºs. O que foi feito de tão diferente no ano lectivo de 2007/2008? Mudaram radicalmente as politicas educativas? Os alunos, miraculosamente, tornaram-se mais motivados e responsáveis? Os professores empenharam-se como nunca tinham feito até agora?
Não é preciso ser muito perspicaz para compreender que, numa área como a educação ( e provavelmente em todas as outras), grandes mudanças dão-se com políticas de fundo que levam alguns anos a revelar resultados.
Então o que aconteceu nas escolas portuguesas?

Só posso falar do que conheço. Sou professora numa escola básica de 2º e 3º ciclos. Na minha escola, no ano passado "conseguimos" reduzir em mais de 50% os níveis de insucesso dos nossos alunos!!
Olhemos para a realidade: a minha escola está situada, como dezenas de outras por esse país, numa área onde há muitas crianças e jovens: numa das periferias da cidade, onde vivem, em habitações cedidas pelo estado, centenas de jovens cujas famílias e bairros são muitíssimo problemáticos. O que nos ultimos meses se viu na televisão ( lutas de gangues) passava-se num bairro semelhante àquele em que trabalho. Os alunos faltam muito às aulas? Sim! Os pais responsabilizam-se por eles? Na maioria, não!
Quem são os professores desta escola? A maioria é efectiva do quadro há alguns anos. Experiência não nos falta. O que prende a maioria das pessoas que não concorrem para outras escolas? O desafio, a ligação com os miudos ( estas crianças são muito afectivas e , quando gostam de um professor, nunca mais o esquecem...), o ambiente entre colegas.
Que outros recursos tem a escola? Uma assistente social, que se desdobra em milhentas visitas domiciliárias aos alunos que desaparecem, uma professora de ensino especial e um professor de portugês-2ª-língua, que dá apoio a alunos dos palops ou do leste. Psicologa não há! Existia uma que se reformou e não foi substituida... ( há 2 anos)...

O que foi feito, no ano passado, para que tantos alunos tivessem transitado de ano? A única medida implementada, por orientação do ministério, foi um reforço da carga horária da disciplina de matemática. Foi útil? As colegas fazem balanço positivo, mas acham que não chega para minimizar as grandes dificuldades com que chegam os alunos do 1º ciclo.

A "ordem" foi: não reprovar!.
A ministra disse que as reprovações deviam ser um último recurso, pq se constata que um aluno que repete o ano, em geral não melhora. Concordo com esta afirmação. Mas: que alternativas tem uma escola para estes alunos? Se a solução estivesse em passá-los de ano, eles teriam melhores resultados no ano seguinte. A realidade prova o contrário. Em geral, voltam a reprovar. Relativamente a algumas disciplinas em que as aprendizagens são em espiral ( como a matemática ou o inglês) é impossível aprender o programa de um ano lectivo sem ter adquirido os conhecimentos do ano anterior.
Então, qual seria a alternativa? É aqui que está o problema de fundo. A escola, ao pretender ser igual para todos, pratica uma enorme discriminação. Para alguns, é extremamente fácil e é frquente ver pautas, em algumas escolas, em que a maioria dos alunos atingem o nível máximo ( nível 5); para outros é extremamente difícil, pela falta de aquisições básicas, pela extensão do horário, pela sobrevalorização de disciplinas teóricas e a quase inexistente componente prática.
Miúdos de 14 anos no 5º ano ( como tenho vários) misturados com miudos de 10, dias inteiros na escola a fingir que se interessam, não dá!

No ano lectivo passado, nas reuniões finais de avaliação, em todas as turmas da escola, não houve mais do que 1 ou 2, no máximo 3 reprovações. Riamo-nos todos ( para não nos lamentarmos mais). Diziamos: "Ainda vamos para o ranking das melhores escolas! :)
Passaram miudos com 3, 4 negativas. Quando era preciso, alguém "dava" nota para o aluno passar. Se tinham faltado no 3º periodo, ficavam com as notas do 2º. Se , mesmo assim, não tinham notas para passar, inventávamo-las!

Além de termos que fazer planos de recuperação para cada aluno que tem uma negativa e provar que se fez tudo ( inclusive ir a casa buscá-lo)..., os professores passaram a ser avaliados pelo sucesso dos seus alunos. Desgraçados dos que apanham com vários ciganos numa turma que, em geral, abandonam a escola antes do final ( em especial as raparigas). Quem se atreve a reprovar meninos, se, na turma ao lado, vão todos passar de ano?

Angustia-me pensar no futuro destes miúdos. Até podem concluir a escolaridade básica ( mesmo assim, alguns desistem a meio)...mas o que será desta geração daqui a 10 anos? Estão preparados para quê? Para a lei do menor esforço....e pouco mais!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A inspiração do poeta

Em 1903, um grande poeta da língua alemã troca cartas com um jovem aspirante a poeta, dando-lhe conselhos sobre o acto de criar. Aponta a solidão como caminho, a interioridade como o lugar a desbravar, sem medos, numa dedicação total à sua obra...

Um excerto de "Cartas a um jovem poeta" de Rainer Maria Rilke:

"Aproxime-se da natureza. Tente, então , dizer, como o primeiro homem, o que vê e o que vive e ama e perde. Não escreva poemas de amor; evite por ora as formas mais comuns e mais correntes; são elas as mais difíceis, pois só uma grande força, já amadurecida, conseguirá criar uma coisa própria por entre a abundância de boas e por vezes brilhantes prestações. Evite por isso os motivos gerais e prefira aqueles que o seu quotidiano lhe oferece; descreva as suas tristezas e desejos, os pensamentos passageiros e a fé numa qualquer beleza - descreva tudo isso com uma sinceridade íntima, tranquila, modesta, e para lhes dar expressão sirva-se das coisas que o rodeiam, das imagens dos seus sonhos e dos objectos das suas recordações. Se o seu dia-a-dia lhe parecer pobre, não o acuse de pobreza; acuse-se a sim próprio, reconheça que não é ainda poeta o suficiente para conseguir invocar as suas riquezas, pois para um criador não há pobreza e nenhum lugar é indiferente e pobre. E mesmo que estivesse numa prisão, cujas paredes separassem os ruídos do mundo dos seus sentidos, teria ainda e sempre a sua infância, essa riqueza preciosa e intemporal, a câmara do tesouro da lembrança. Dirija a ela a sua atenção. Tente levantar as sensações submersas desse passado longínquo; a sua personalidade fortalecer-se-á, a sua solidão estender-se-á até se tornar uma casa à luz do cair da tarde ou do amanhecer, por onde o ruído dos outros passa à distância..."

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A escola ideal

"Quem está no convento é que sabe o que por lá se passa". É assim o ditado?
Sei que não há ideais... ainda assim, continuo a imaginá-los e a acreditar que são mais realizáveis do que se pensa...

A minha escola ideal seria pequena. Pouco volume de pessoas num espaço aberto. Haveria jardins cuidados, espaços exteriores bonitos, que se veriam das janelas das salas de aula. As salas seriam arejadas e haveria ar condicionado para temperar o calor de verão e o frio de inverno. Haveria conforto e cores claras e os alunos não sentiriam vontade de sujar e destruir. Teríamos 15 alunos por turma. O professor poderia ajudar cada aluno e dedicar-se mais àqueles que têm mais dificuldades. Cada aula duraria apenas 1 hora ( e não 1hora e meia, o que satura tanto alunos como professores). Todos os alunos terminariam as aulas às 15.30 e passariam o resto do tempo em suas casas, ou bairros ou a praticar outras actividades. Não passariam 8 horas por dia fechados na escola.
Não haveria barreiras arquitectonicas. Haveria professores especializados para companhar alunos com deficiências ou grandes dificuldades de aprendizagem. Estariam dentro da sala de aula e apoiariam o aluno, em conjunto com a professora da sala. Haveria gabinetes em que estes professores dariam apoio individualizado a quem precisasse.
Respiraríamos tranquilidade e bem-estar, e aprender e ensinar seria , para todos ,aquilo que realmente é: um prazer!

Nesta fase de preparação de arranque do novo ano lectivo, olho para o meu horário e para o horário dos meus alunos. Reparo que as turmas têm 26 alunos, dos quais muitos são repetentes e, sei, pouco motivados. Vejo que tenho algumas turmas ao final da tarde ( qdo já estão saturados de várias aulas seguidas), penso que cada aula dura 90 minutos, respiro fundo e penso: " Lá vai começar mais uma aventura. Espero ser capaz, mais uma vez , de os cativar, de conseguir que todos aprendam alguma coisa do que vou ensinar, espero que não sejam muito malcriados, espero, espero..."

Este início é sempre ambíguo: a curiosidade, a expectativa e aquele "medinho" que se tem das "coisas difíceis" :)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Animais que sentem compaixão

Ainda retirado do livro do Damásio:

"A essência do comportamento ético não parece ter começado com os seres humanos. Há estudos feitos com aves ( como os corvos) e em mamíferos ( como os morcegos, lobos e chimpanzés) que indicam claramente que espécies não humanas se parecem comportar, aos nosso olhos sofisticados, de uma forma ética. Exibem simpatia, apegamentos, embaraço e vergonha, orgulho dominante e humilde submissão. São capazes de censurar e recompensar as acções de animais congéneres."
" Numa experiência notável executada por Robert Miller e discutida por Marc Hauser, os macacos deixavam de puxar uma cadeia que lhes trazia comida, caso esse acto fizesse com que um outro macaco recebesse um doloroso choque eléctrico. Em tais circunstâncias, alguns macacos PASSARAM DIAS SEM COMER. De forma bem sugestiva, os animais mais susceptíveis de se comportarem de forma altruística eram aqueles que tinham conhecimento social prévio do animal que receberia o choque. "
in Ao encontro de Espinosa, António Damásio

domingo, 31 de agosto de 2008

Poesia e filosofia

Um dia ouvi esta frase: "Não se pode viver sem poesia e sem filosofia!"
Escutei, acenei em sinal de confirmação e nada acrescentei. Às vezes, não é preciso explicar nada. O resto passa-se no interior. A mente divaga ou não. Alguma emoção aparece quando se ouve, da boca de outra pessoa, o que poderia ter saído da nossa...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A maquinaria das emoções e a neurologia do sentir

Sempre me interessei mais por psicologia do que por neurociências. Foi com a leitura dos livros do Damásio, acessíveis a leigos como eu, que constatei que as investigações nesta área, com a utilização da neuroimagem vêm confirmar que há um registo neurológico ( embora ainda pouco estudado) dos processos psíquicos de que Freud falava na sua extensa obra. A sua investigação foi tão exaustiva e baseada em postulados cientificos, que reclamou para a psicanálise o estatuto de "Ciência do inconsciente".

Damásio , no livro que ando a ler, reonhece estes ensinamentos, referindo "...a nossa gratidão para Freud" e afirmando-se como herdeiro dos "testamentos intelectuais de Darwin e Freud".

A sua investigação incide na observação da "maquinaria cerebral" desencadeada pelas emoções e, numa outra zona do cérebro, dos sentimentos. A parte mecânica interessará mais a médicos, mas é curiosa a hipótese que vai colocando, partindo da definição de emoção como uma "alteração temporária do estado do corpo e do estado das estruturas cerebrais que mapeiam o corpo e suportam o pensamento", e sugerindo que a educação teria com principal finalidade "interpor uma etapa de avaliação não-automática entre os objectos que podem causar emoções e as respostas emocionais. Esta modulação é uma tentativa de acomodar as nossas respostas emocionais aos ditames da cultura."

Estabelecendo um paralelo com a teoria psicanalítica, Freud introduziu o conceito de "pulsão".
"Freud escolheu o termo pulsão e não instinto para se libertar de todas as conotações comportamentais e constitucionais que este último termo tinha herdado das correntes psicológicas e filosóficas do sec. XIX. O conceito de pulsão representa uma das peças mestras do corpus teórico analítico e situa-se na fronteira entre corpo e psique."
"A fonte da pulsão, com efeito, indica por um lado a zona corporal onde nasce a excitação e, por outro, a energia psíquica que nela se encontra qualitativa e quantitativamente investida."
"A representação pulsional corresponde ao traço sensorial interno da experiência da gratificação..." "O afecto pulsional é o estado emocional, a ressonância afectiva que acompanha a representação precedente" ( in Psicanálise, de Alain de Mijolla)
Damasio mostra como tudo isto se processa nas "regiões somatossensitivas principais, desde o nível do tronco cerebral ao do cortex cerebral."

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Racismo....causas

Sempre encarei o racismo numa perspectiva social. Se num continente, o homem evoluiu mais do que noutro ( em termos de descobertas científicas), passou a olhar para o homem do outro continente como inferior. Se este 1º homem era branco, julgou existir alguma superioridade na sua raça relativamente às outras. Estes sentimentos ( emoções) tenderiam a desaparecer qdo o homem negro ( o racismo mais evidente no ocidente é entre brancos e africanos) deixasse de ser subalterno do branco. ( Obama, salva-nos do racismo!!)

Acabei de ler, no nosso Damásio, uma explicação ainda mais ancestral para o fenómeno do racismo. Falando da "biologia das emoções", refere-se, desta forma, às emoções que estão na origem dos preconceitos raciais:

"Estou a pensar nas reacções que levam a preconceitos raciais e culturais e que se baseiam em emoções sociais cujo valor evolucinário residia no detectar de diferenças em outros indivíduos _ porque essas diferenças eram indicadoras de perigos possíveis_ e no promover de agressão ou retraimento. Este tipo de reacções deverá ter produzido resultados extremamente úteis numa sociedade tribal, mas não é aceitável no mundo actual. É evidente que é importante saber que os nosso cérebros continuam equipados com a maquinaria biológica que nos leva a reagir de um modo ancestral, ineficaz e e inaceitável, em certas circunstâncias. Precisamos de estar alerta para esse facto e aprender a controlar essas reacções individualmente na sociedade em que vivemos."
in "Ao encontro de Espinosa", António Damásio

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Kafka

Ao ler "Carta ao pai" do Kafka, compreende-se melhor a mente labiríntica do autor de "Processo" e "Metamorfose"...

sábado, 23 de agosto de 2008

Back to town...

E agora?

Passar um mês a "vadiar", sem relógio, ao sabor do que apetece, sem outras obrigações além das refeições sempre fáceis... perto do mar (revolto numa costa, tranquilo na outra)... um mês a saborear tudo como da primeira vez, e a descobrir sempre coisas novas naquelas que conhecemos de cor...

Chega-se a casa e começa a aparecer aquela dor fininha das despedidas. Só de pensar em retomar a rotina do despertador e tudo o que se lhe segue ao longo de um dia de trabalho dá um aperto cá dentro...

Sim, gosto do meu trabalho ( mais de umas coisas que de outras)...mas nada se compara à LIBERDADE de não ter nada urgente para fazer e poder "perder" tempo a sentir que se gosta, que se está. É bom estar e deixar as coisas bonitas tocarem-nos. Apreciar...

A reorganização vai levar o seu tempo. Sou lentinha :)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Back to black

Estou há 2 dias a ouvir o último álbum da Amy Winehouse. Comprei os dois: "Frank" e "Back to black". Comecei pelo último e ainda não o consegui largar.

Conhecia algumas músicas, mas nunca a tinha ouvido a sério. Este desejo de a conhecer melhor veio depois de ler uma biografia dela que encontrei.

Quem é esta jovem de 20 e poucos anos que compõe e canta com uma tal profundidade que parece esconder, naquele corpo frágil, a sabedoria e experiência de uma mulher muito mais velha?

Li que os c.d.s dela foram gravados em várias partes do mundo: E.U.A, América Latina. O resultado final é uma fusão de vários sons, de várias épocas, de vários estilos. Mas as músicas são todas dela. E a voz ( aquela voz negra que invade e se expande sem qualquer esforço)...aquela voz é tão forte, tão de dentro que se fica arrepiado...

Há a questão das letras com que muitas pessoas se chocam. A mim, parecem-me páginas de um diário, escritas com aquela dor sem lágrimas. Têm a honestidade, o humor, a provocação daquelas pessoas a quem não se pode dar conselhos. O "BACK TO BLACK" foi feito ao longo de meses de dor. O namorado tinha -a deixado para voltar para a ex. Que pessoas são capazes de transformar o sofrimento em criatividade?
Na altura em que este disco foi produzido, a Amy ainda não estava no fundo do poço. Estará a caminhar para lá a passos largos? Não sei....espero que não.

A música da Amy é genial! O que ali está é ela. Não há truques, não há dissimulações. Há uma verdade incrível! Ouve-se aquela voz, lêem-se aquelas letras e fica-se a conhecê-la.

Penso que há pessoas que nascem especiais...o resto, o mundo à volta, o meio em que crescem...faz o resto...
A Amy é uma pessoa dessas...

domingo, 10 de agosto de 2008

...são lágrimas de Portugal...

Somos um país pequeno? Sim, a área terrestre não é grande...mas temos a maior zona marítima da Europa.

Em férias, todos nos viramos para o mar. Temos uma costa soberba, praias maravilhosas, areia fina. O mar acompanha-nos ao longo da vida. Todo o português tem o mar na alma.
Mas.... o nosso mar devia ser mais do que isso. Devia ser a nossa principal riqueza. Não temos petróleo, temos oceano!
Por que investimos tão pouco no nosso mar? Por que lhe viramos as costas? Por que razão, com a integração europeia, fizemos apenas uma aposta continental?

Em Bruxelas está um Português que, há 1 década ( desde a expo-98 dedicada aos oceanos), luta para que Portugal tenha um papel importante na Política Marítima Europeia. Chama-se Tiago Pitta e Cunha e deu uma entrevista ao EXPRESSO sobre o seu trabalho. Gostei de saber...


"Quandi fiz um mestrado em Londres, um professor, ao saber que eu era português, disse-me que ficava surpreendido por não ter mais alunos lusos, pq Portugal possuia a maior Zona Económica Exclusiva da Europa. Fiquei completamente abalado por estas palavras, foi um despertar para as matérias do mar, pq cresci num país que toda a vida me foi apresentado como sendo pequenino, sem outros recursos a que se agarrar senão aos fundos europeus."

"Portugal deve ter projectos nacionais próprios onde se possa diferenciar. Temos de encontrar as nossas áreas de mais-valia, onde possamos ser melhores, pq em termos geográficos temos excelentes condições..."

"Temos de articular muito mais a actividade dos ministérios com impacto no mar, mas de forma moderna, integrada... A iniciativa privada tb deve organizar-se para investir no mar. E é aqui que
a Política Marítima Europeia pode ter um papel fundamental, já que em Bruxelas se começa a investir nesta matéria..."

O parágrafo que se segue sintetiza o essencial do pensamento deste português de Bruxelas:

"Portugal tem um enorme vazio de concertação estratégica, de pensamentos virados para o futuro, de visão. E sem isso imperam cada vez mais os interesses de grupo. Para mobilizar as pessoas é preciso ideias muito fortes e duvido que exista uma ideia mais forte que esta de Portugal ser um país especializado no mar e líder nesta área. Devemos ser líderes nalguma coisa e o mar podia ser o nosso contributo para o projecto europeu."

Pela minha parte, estou 100% de acordo com esta visão!
Tomara que o trabalho deste homem seja conhecido e reconhecido...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

As palavras que nunca direi...

As grandes obras de arte são desprovidas de censura...
O que nos toca qdo lemos um bom livro, observamos um quadro ou ouvimos uma música forte é a VERDADE do que ali está expresso. O autor de uma grande obra "fala-nos" de dentro, tem acesso a regiões que nos são, regra geral, interditas, e tem a lucidez de as exprimir de uma forma que, embora absolutamente individual, tem algo de comum a todos nós.
Um artista não sofre de auto-censura, de superego vigilante. Não é politicamente correcto.

O pensamento, enqto racionalização das nossas emoções é muito útil. É um recurso da nossa inteligência que nos permite aprender, crescer e evoluir. É relativamente fácil discursar sobre sentimentos, escrever ensaios, críticas, análises.
Difícil é levantar a âncora e criar. Gosto de ler auto-biografias de pessoas que conhecemos apenas através da obra. A descrição que fazem do processo criativo parece-me um acto exaustivo, de entrega emocional, de comunicação entre o sentimento e a forma de o exprimir.
Lembro-me de ler uma descrição do F.P. sobre a "fúria criativa" que o fazia escrever poemas inteiros de pé, ao chegar a casa....por nem ter tempo de se sentar.

Por mergulharem em zonas sub-conscientes ( ou serão inconscientes?) os grandes autores tornam-se intemporais. Conseguem comunicar com pessoas de várias gerações, ao longo de séculos. Têm acesso à verdade que nos escapa. São também, julgo, menos adaptados do que nós às regras do viver em sociedade. Talvez não tolerem a mentira, a máscara que todos temos que usar para sobreviver. Talvez sejam pessoas com uma sensibilidade parecida com a das crianças...

terça-feira, 22 de julho de 2008

FÉRIASSSS!!!

SOL

SAL

SUL


Férias!!!!!


saudade do mar, da areia, da linha do horizonte...
de espaço de tempo de liberdade...

de despertar os sentidos de não ter obrigações
da luz da manhã e do fim da tarde
dos grilos à noite


ter um mês por ano em que o tempo interno não é interrompido pelo tempo do relógio...


Para todos os que me visitam: Boas Férias!!!
Para os que ainda trabalham: Coragem! O vosso mês vai chegar! :)

sábado, 19 de julho de 2008

O filósofo Zizek

Ultimamente muito se tem falado de Slavoj Zizek, que foi denominado "filósofo pop" pelo sucesso que tem obtido, pouco usual em pessoas ligadas ao pensamento filosófico.
Li a entrevista do Expresso e gostei do que li.
Alguns excertos:

"Na constelação pos-moderna, todas as proposições ontológicas foram rejeitadas. A nossa época é a do pensamento da finitude, do "pensamento fraco". Basicamente, a filosofia renunciou às pretensões epistemológicas de conhecer a realidade, reduziu-se a uma certa lógica discursiva. Eu tento quebrar isso e reabilitar noções como universalidade, verdade, etc..."
"Vejamos alguns exemplos da ideologia actual.A questão da tolerância. Está na moda lutar contra a intolerância e ser pela tolerância. Por que é que automaticamente se formula a luta contra o racismo em luta pela tolerância? Para Martin Luther King, o racismo antinegros não era um problema de tolerância, era um problema de injustiça económica, legalidade, ética..
Por que é que traduzimos o racismo em problema de tolerância? A resposta é clara: pq algo aconteceu com a chamada era pós-ideológica ou pós-política. Todos os problemas são formulados como culturais e não como políticos."
"É preciso repolitizar. Se não repolitizarmos a economia aproximamo-nos da catástrofe."
"Ninguém pergunta se há uma alternativa à democracia parlamentar, uma alternativa ao capitalismo."
"A bela metáfora do novo proletário seria o filme "Matrix", cujas personagens vivem a situação de manipulação total. É mais do que nunca actual a noção marxista de fetichismo da mercadoria.
O paradoxo do fetichismo da mercadoria é que a ilusão da realidade está no que fazes, não no que pensas. A ideologia funciona, cada vez mais, não no que pensas mas no que fazes."

"Há hoje em dia 2 modelos em competição: o capitalismo liberal e a China ou os valores asiáticos. Eu não quero viver num mundo onde estas são as únicas escolhas. Temos necessidade de alternativa."


Temos necessidade de alternativa!
Foi bom ler isto! Sinto-me menos sozinha nas minhas reflexões :)

pontas de cigarro por todo o lado...

Não sei como é nas outras cidades, mas Lisboa está cheia de beatas no chão.
Desde que apareceu a lei que proibe fumar em recintos fechados, as pessoas passaram a fumar ao ar livre, enquanto andam, ou quando, estando num café ou restaurante, vêm cá fora fumar.
Alguns destes espaços colocaram grandes cinzeiros à porta, outros não. Tenho visto, por todo o lado, montinhos de beatas que fazem lembrar aqueles "caramelos" que se lembravam de despejar o cinzeiro do carro para o chão.
As sargetas passaram a servir de cinzeiros públicos, talvez pq haja quem tenha algum pudor em sujar a via pública e julgue menos grave deixar as pontas de cigarro entaladas no gradeamento.
Ninguém se lembra de pensar para onde vão os restos de cigarro quando mergulham na água das sargetas...

Sou fumadora. Não deixei de fumar por causa da lei. Mas não gosto de ver a minha cidade tão estupidamente poluida!
Não seria possivel uma campanha de sensibilização pública? Não poderia a câmara instalar cinzeiros públicos em várias zonas da cidade?
Enqto isso não acontece, pela minha parte vou guardando beatas e despejando nos caixotes verdes...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

"A minha pátria é a língua portuguesa" - F.Pessoa

A C.P.L.P. ( Comunidade de povos de língua portuguesa) é uma organização com princípios diferentes das outras comunidades existentes de países ex-colonizadores e ex-colonizados. Na Commonswealth ou na Comunidade Francófona, o país-mãe tem hegemonia sobre os outros.
Na de língua portuguesa, o modelo baseia-se em valores como a igualdade, fraternidade e solidariedade entre os 8 países que a compõem. Em termos práticos isto resulta em coisas tão simples qto isto: qualquer cidadão de um destes países que se encontre o estrangeiro pode recorrer às embaixadas de um dos outros, caso não haja representação do seu.
O peso de cada país em decisões da comunidade é igual, trate-se de um país pequenissimo como S.Tomé e Príncipe ou do gigantesco Brasil.

Imginemos que este era o modelo seguido pela União Europeia!!
Todos os países ratificariam a constituição, não é verdade?


Enfim, mais uma "ideia a difundir pelo mundo" ( Agostinho da Silva)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Artur Anselmo

Há dias ouvi o Prof. Artur Anselmo a falar sobre o "Homem português". Gostei do seu discurso diferente, politicamente incorrecto, sem aquela necessidade que temos de parecer coerentes, compensar defeitos com qualidades. Ia fluindo, era um discurso simples, próprio das pessoas que, depois de muito estudarem e reflectirem, conversam como se estivessem num café com amigos.
Fez-me lembrar o Agostinho da Silva...

Em resposta a uma pergunta sobre o "Rigor dos portugueses", respondeu: "Os portugueses odeiam o rigor. Não têm paciência para coisas que dêm muito trabalho. Sempre foi assim".
"Já o improviso é uma arte dos portugueses. Se for preciso, desenrascam uma coisa de um dia para o outro."

Na altura, ri-me. Isto é tão verdadeiro que existe, em maior ou menor escala, em todos nós.
Há sempre alguma área da vida em que "aldrabamos" alguma coisa, marimbando no rigor e querendo apenas ver a dita coisa feita. Nem que seja a cozinhar ou limpar o pó :)

Basta andar pela estrada para perceber o comportamento do português. Só se não puder é que não passa um sinal vermelho acabadinho de cair...

Quando estive na Alemanha, estranhei algumas diferenças. Se um encontro era marcado para as 8 horas, as pessoas não chegavam às 8.05 e muito menos às 8.15...
Se queria apanhar um autocarro, bastava-me ter o horário, e à hora certa ele estava a passar...

Eu não chamaria a esta nossa falta de rigor defeito ( embora às vezes se torne insuportável), mas antes feitio :)

terça-feira, 15 de julho de 2008

Quinta da Fonte

Quem, como eu, trabalha em bairros destes, sabe uma coisa: ciganos e africanos não se misturam, são água e azeite, ou pior: a reacção é explosiva!
Que o alojamento de famílias que anteriormente viviam espalhadas pelas barracas das zonas limítrofes da cidade foi feito sem qualquer planeamento, já se sabia. Já assisti a lutas entre gangues rivais, dentro e fora da escola ( mais fora do que dentro).
O que eu desconhecia é que havia um bairro enorme - a Quinta da Fonte - onde tinham sido despejadas famílias das duas etnias. Que diabo! Qualquer assistente social sabe do perigo que isso constitui!

Sem querer generalizar, e baseando-me apenas na experiência de alguns anos em bairros destes, posso afirmar que a maioria das pessoas de etnia cigana é muito mais violenta do que a maioria dos africanos. São vingativos! São racistas: para eles um africano é: um preto! E não gostam de pretos!
No bairro onde dou aulas, brancos e pretos convivem sem problemas, namoram-se, são amigos. Pertencem à mesma classe social e, por isso, não há preconceitos.
Há poucos ciganos ali, mas na escola ao lado há muitos e os desacatos são permanentes: agressões, armas, a família toda a entrar pela escola para fazer "justiça pelas próprias mãos" quando algum se queixa.
Custa-me generalizar, até porque todos temos aquela ideia romântica de um povo nómada, que festeja casamentos de 3 dias e dança músicas bonitas.
Sim, mas os mais pobres, os que vivem nestes bairros, são, muitos deles, traficantes de droga e de armas.


Os africanos da Quinta da Fonte contam que os ciganos os receberam muito mal, corriam com eles e lhes apontavam pistolas à cabeça. Agora chegou a vingança. Não os deixam voltar!
Como dizia uma colega minha: "é a 1ª vez que ciganos perdem uma luta. Todos têm medo deles!"


Pobres das crianças de um lado e de outro que vivem no meio desta guerra!
Estupidez de quem pensou que bastava terem casa para ficarem calmos. E os abandonou ao seu destino...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Ideias e Ideais

Concordo com isto:


"As ideias, os ideais, são estruturantes do ser. Mas é também à volta deles que se constroem as identidades dos povos, os sentimentos de pertença a uma comunidade, a uma nação. Sem ideias ou ideais corremos o risco de nos esboroarmos enquanto grupo."
Isabel Leal

domingo, 13 de julho de 2008

Boas notícias IV

Bactérias podem ser solução para problemas de energia:


Investigadores do Instituto de Biodesign defendem, na revista Nature Reviews Microbiology, que as bactérias são a nossa melhor esperança para a produção de energias renováveis em grandes quantidades sem danificar o ambiente ou interferir com a nossa necessidade de alimentos.
Os microorganismos conseguem crescer numa grande variedade de ambientes e é essa capacidade que poderá trazer a solução para os problemas energéticos.
Por um lado, os cientistas estão a trabalhar no uso de bactérias para converter a biomassa em energia utilizável - os microorganismos podem crescer sem oxigénio tranformando a biomassa em metano, hidrogénio ou electricidade. Por outro lado, as bactérias podem capturar a luz do sol para produzir mais biomassa que pode ser transformada em combustível líquido, como o biodiesel.

Boas notícias III

Na opinião de António Campos, ex-eurodeputado e hoje agricultor de sucesso, já se nota em Portugal um movimento de regreso à terra, "tal como em outros países europeus, sobretudo por parte de jovens bem qualificados." Para tal, têm contribuido alguns instrumentos de incentivo.
Mostra-se muito preocupado com a actual subida dos preços dos alimentos e considera "criminoso" que haja terras ao abandono no nosso país. Por isso, o ex- eurodeputado entende que "o estado devia incentivar os jovens que saem das escolas agrícolas a criarem as suas empresas, por exemplo, disponibilizando os 50 mil hectares que possui e arrendando-os a preços razoáveis."


Não posso estar mais de acordo!
Muito tenho pensado no que acontecerá quando morrerem as últimas pessoas que vivem da agricultura...
Custa-me a aceitar que haja terras abandonadas e seja mais barato importar produtos agrícolas do que consumir os nossos...

Boas notícias II

Avião 100% ecológico:

"A Boeing colocou este ano no ar um protótipo de avião que funciona com recurso a pilhas alimentadas por hidrogéneo. Trata-se do 1º avião ecológico inspirado no design dos planadores sem motor. A Boeing prevê ter esta tecnologia suficientemente evoluida nos próximos 10 anos:"
"As pilhas do combustível usam um processo químico ( electrólise) que aproveita o hidrogénio gasoso ( H2) para produzir electricidade e calor. O protótipo de avião eléctrico da Boeing não recorre a derivados de petróleo e os seus motores, por serem eléctricos, quase não fazem ruído."

Boas notícias I

Que existe uma crise económica, social , de valores ...todos sabemos! Que as crises aguçam a imaginação também: há que encontrar "saídas". Que o mundo é feito de mudanças, já dizia o Camões. Que às vezes é preciso dar dois passos atrás para conseguir dar um em frente, disse o Lenine ( quando ainda era jovem...).

Ao ver telejornais, fica-se , por vezes, angustiado. Quase não há noticias boas...o mundo parece um lugar assustador.
Quando leio o jornal, procuro aquelas notícias pequenas que não fazem 1ª página mas que nos vão alimentando a esperança de que haja gente a fazer coisas dignas de admiração, que o mundo não caminhe num só sentido ( o da destruição), mas haja focos de inteligência e humanidade.

Da leitura do D.N. de hoje, destaco:

Hospital anestesia com acupunctura

O Hospital S.Luís, em Lisboa, aplica, há 2 anos, a técnica de acupunctura em intervenções cirúrgicas, o que permite ao doente não sentir dores nem ter alergias, naúseas ou a má-disposição que as anestesias locais e gerais podem provocar.
A anestesia praticada neste hospital consiste numa electroacupunctura, que introduz agulhas ligadas à corrente eléctrica em determinados pontos das pernas para bloquear os nervos e produzir uma sensação anestésica e analgésica.

Penso que não haverá efeitos secundários nesta prática...

sábado, 12 de julho de 2008

A ausência é um estar em mim...

Li este poema no Und3rblog. Pedi-o "emprestado"...

Penso que estas palavras fazem eco em muitos de nós... aqueles que apreciam momentos de solidão...

De Carlos Drummond de Andrade:

Ausência

...não há falta na ausência.
a ausência é um estar em mim
e sinto-a branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços, que rio
e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

A receita" Robin Wood"

Quando há dias ouvi os lideres europeus falarem em "Receita Robin Wood" , pensei: será possível que tenham tido ( acho que foi o Putin) um ideia tão luminosa?

Ainda me lembro de , há uns bons anos, ver escrito por essa cidade o slogan: "os ricos que paguem a crise".
Ficou no ouvido. Pela simplicidade. Pela aparente facilidade de usar medidas socialmente mais justas.
Depois, fui percebendo que com os ricos ninguém se mete, porque os políticos precisam deles.

Até que chega a ideia "Robin Wood".
Na altura, sócrates disse que o assunto iria ser pensado.
Hoje li no jornal:
"O negócio " Robin dos Bosques" é simples. Sobre os 400 milhões de euros em lucros extraordinários previstos pela Galp, o Governo taxa 25%. Recolhe assim 110 milhões de euros e financia o "pacote social" de emergência, para combater os efeitos sobre as famílias dos aumentos do preço do dinheiro ( taxas de juro), petróleo e alimentos básicos. Para apoiar as famílias, vai haver alterações no IRS, no IMI, financiamento de passes escolares e alargamento da acção social escolar no ensino básico e secundário."

Finalmente uma medida inteligente!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

A intuição

Vivemos uma época de mudança. O racionalismo que dominou o nosso pensamento desde o Século das luzes começa a ser posto em causa por investigadores de várias áreas. A razão, só por si, não explica toda a complexidade das pessoas e do universo. Em vez do regresso ao obscurantismo religioso e infudamentado e às superstições e outras crenças, começam a cruzar-se estudos de várias ciências que parecem enriquecer-se mutuamente... e talvez comece uma nova era do pensamemto...
O texto que se segue foi-me enviado por email pela ZIB, e é retirado de uma entrevista ao psicólogo alemão Gerg Giegerenzer, a respeito do seu livro: "Se não seguisses a intuição, estarias paralisado" ( tradução livre...)

"A intuição é a inteligência do inconsciente. É uma inteligência sem pensamento consciente. Sem ela estaríamos paralisados e impossibilitados de tomar qualquer decisão."
"Uma decisão 100% racional implicaria pesar inúmeros factores, prevenir todas as consequências, medir todos os custos e benefícios, cruzar friamente milhares de variáveis."
"As minhas investigações revelam que pessoas com altos cargos executivos tomam as suas decisões de modo intuitivo. E revestem-nas de informações de consultoria, dados de assessores, elementos que façam parecer que são decisões racionais."
A intuição era valorizada na Antiguidade: estava vinculada à "inspiração celestial". Quando se enfatizou o raciocínio, a intuição perdeu credibilidade."
"Hoje em dia começa a compreender-se melhor que se trata de uma capacidade humana muito valiosa, uma ferramenta muito poderosa que deve associar-se à razão."
"A intuição, por exemplo, sabe ler num rosto e extrair conclusões instantâneas que a razão não chega a alcançar:"

Confiemos, pois, na nossa intuição! :)

Trufas e caviar em jantares da cimeira do G8 sobre a fome

Anfitriões japoneses servem jantares de 300 euros por pessoa, enquanto falam da escassez de alimentos nos países mais pobres e da subida do preço de bens alimentares nos países desenvolvidos...

O que falta aqui? Será pudor? Será bom-senso?

Dos casais...

Sou uma observadora da vida, de vidas ( da minha, da dos outros...). A complexidade humana fascina-me. Gosto de compreender. Gosto de pessoas! É um assunto inesgotável. Todos diferentes, todos iguais! Leva-se uma vida inteira a tentar entender cada "universo humano" ( e o nosso próprio).
O casal é uma "entidade" intrigante. Que factores levam a que alguns casais se mantenham juntos durante décadas e outros simplesmente se desfaçam com o tempo. Destes, alguns reconstroem outra "entidade", outro "nós" , e vivem novamente em casal, outros não.
Acho espantoso conhecer pessoas de 50 anos que estão juntas desde os 18. Como é esse crescimento? De mãos dadas?

A propósito deste tema, li um texto da Psicóloga Isabel Leal que achei interessante.
Transcreverei algumas partes:

"Os casais, quer dizer, as pessoas que estão na vida juntas, ligadas por um vínculo a que chamamos amoroso, são tão diferentes entre si como o são os próprios indivíduos."
"Estar em casal, pertencer a esse agrupamento tão particular, significa, em 1º lugar, que se selecciona uns tantos aspectos da personalidade, de forma de ser e de viver, para promover e facilitar a relação com o outro. Pelo caminho e a partir desta escolha, quase sempre inconsciente, deixa-se ficar aspectos que parecem de somenos, deixa-se cair estilos de vida que antes se valorizou . A viabilidade de tantas relações passa tanto pelo que se consegue perder e pôr de parte, como pelo que se conquista de novo e de diferente na interacção com o outro."
"Uma relação de qualquer tipo e, por maioria de razões, uma relação afectiva, que implique proximidades e intimidades, cria assim uma entidade nova."
"Exactamente porque a relação é uma outra entidade, em que se dilui ou reforça aquilo que cada um dos intervenientes é em si mesmo, é que não é possivel alimentar e defender a ideia que as relações falham ou terminam por causa de um acontecimento, das características ou comportamentos de responsabilidade de apenas um dos elementos do casal."

Dos casais...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Os olhos de Ingrid Betancourt

Quando vi a imagem da Ingrid em cativeiro, julguei que estava no seu limite. Escondia o olhar, talvez por saber que os seus olhos revelam tudo e o mundo não estivesse preparado para os ler.

Agora, sempre que a vejo, a falar ou a escutar as homenagens que lhe têm sido feitas, aquele olhar fascina-me. Torna-a uma mulher, ou antes, uma pessoa, muito bonita!
É um olhar muito vivo, muito brilhante, feliz, esperançado, meigo e forte.
Nada derruba um ser humano com aquela força no olhar!
É uma pessoa muito especial!

terça-feira, 8 de julho de 2008

Gostar

Gosto da brisa das manhãs na primavera
Gosto de ter tempo para saborear o passar do tempo
Gosto de pessoas simples e inteligentes
Gosto do amor dos cães aos donos
Gosto de todas as crianças
Sobretudo das difíceis
Gosto da simpatia das pessoas felizes
Gosto de azul, de todos os tons de azul
Gosto de água, doce ou salgada, calma ou revolta
Gosto de nuvens
Gosto de ver o céu da janela do meu quarto
Gosto de ver as nuvens a desfazer-se
Gosto do sabor e do cheiro das comidas da infância
Gosto da lua cheia quando surge, brutal, no céu escuro
Gsoto da música da adolescência
Gosto de palavras
Sobretudo escritas
Gosto do silêncio dos que vêem e escutam
E do silêncio contemplador
Gsoto dos meus sonhos
Gosto dos meus livros
Gosto do meu blog :)

domingo, 6 de julho de 2008

A inquietação é criadora

"A inquietação é criadora. Houvesse conforto e segurança e não haveria arte nem ciência.
Não haveria civilização. O amor criou impérios. Colocou a humanidade no caminho das
estrelas. Mostrem-me uma grande descoberta, uma excepcional obra de arte, e eu
mostrar-vos-ei um grande amor em combustão."

Faiza Hayat

sábado, 5 de julho de 2008

Portugas no seu melhor :)

Fartei-me de rir com a crónica do "comendador" na Única do Expresso.
Falando da história dos tiros ao pavilhão de Portimão onde Sócrates tinha estado, e da hipótese alvitrada de que os tiros tivessem como objectivo assustar o 1º ministro ( que na altura já se encontrava em Albufeira), relata as peripécias dos "malandros" que se dirigiram a Portimão com uma missão prevista, mas que o calor e outros obstáculos fizeram chegar atrasados.
"Para não perderem a viagem, dispararam à mesma os sete tiros que tinham combinado."

"Passadas seis horas, depois de os polícias terem discutido entre si a que força de segurança: PSP, GNR, SIS, PJ, SIEDM pertencia a investigação, 4 agentes chegaram ao local. Três horas depois de terem visto as cápsulas decidiram que tinha havido tiros no local. E foi assim que, dois dias depois, chegaram à conclusão que os disparos queriam assustar Sócrates."

Fez-me isto lembrar o ano passado, aquando do desaparecimento da menina inglesa no Algarve, quando ainda só se falava em rapto, ter ouvido um jornalista num telejornal dizer: "Tudo leva a crer que o raptor não é de nacionalidade portuguesa, uma vez que não deixou qualquer marca/ vestígio.."
Na altura, ri-me e pensei: "pois claro, se fosse um portuga, deixava pelo menos uma beata no chão.." :))

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A ética dos negócios

Excerto de um livro do filósofo Jean-Pierre Dupuy (1994):

"Perguntaram recentemente a Timon, patrão bem conhecido, se tinha intenção de se meter em política. Respondeu: "A política não me interessa fazer. Compro-a já feita". Não vale a pena correr a gritar escândalo. Em matéria de ética, a moral é má conselheira. O argumento libertário merece, à partida, ser tomado a sério. Se uma troca recíproca satisfaz as duas partes, sem prejudicar quaisquer terceiros, quem é que vai criticar? A lei? Sabe-se que a lei pode ser injusta e que não é imutável. Coço-te as costas e tu fazes-me um favor, deixando-me arranjar um mercado público. A justiça, aqui considerada como justiça das trocas, está automaticamente assegurada pelo consentimento das partes. Como diz o filósofo Robert Nozick: "O socialismo é a proibição de actos capitalistas entre adultos consentuais."
"Cada vez se torna mais claro que, para funcionar, a máquina económica necessita algo mais que do egoismo interessado de cada um. Falata-lhe aquele fluido misterioso cujo nome evoca mais os ardores da religião do que a racionalidade fria do cálculo: a confiança. A linguagem da economia demonstra que o seu fundamento é a fé: confiança, crédito, trust, moeda fiduciária, etc. As crises são, em última análise, apenas um défice de confiança de que sofre a nossa economia."

E continua por aí fora, num discurso algo "irónico" que achei delicioso :)

terça-feira, 1 de julho de 2008

Visitas...

Tenho visitado outros blogues.
Às vezes esqueço o tempo passar....Tenho visto alguns de uma qualidade surpreendente. Através de uns vou conhecendo outros, e estas visitas a outros "mundos" têm-me deliciado. Há pessoas que escrevem muito bem, há artistas plásticos, designers gráficos excelentes, poetas, conhecedores de música, há de tudo...
O que mais me agada são os textos que vou lendo. Em relação a alguns, tive tanto prazer como se estivesse a ler um livro.
A internet/ versão blogosfera teve este mérito: dar voz a quem gosta de se exprimir.
Muitos escreveriam ( como eu) em folhas soltas e perdidas algures. Agora, soltam a escrita e dão-na a ler a quem quiser...
Isto era impensável há uns anos atrás.
A quantidade e qualidade dos blogs que vou visitando demonstra que há muita criatividade em pessoas comuns...
É muito bom :)

domingo, 29 de junho de 2008

"Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio"

A poesia tem aquele dom: fala das coisas sem as explicar...
Gosta-se pelo eco...


De Alberto Caeiro

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Auto-suficiências...e em África como é?

Mais um artigo de Tomás de Montemor, a propósito de África:


" A África de há 20 anos era uma exportadora de produtos alimentares e agrícolas. A globalização e os consequentes baixos preços dos alimentos nas ultimas décadas alteraram a situação -com uma agricultura pouco eficiente e um sistema de distribuição incipiente, é mais barato importar. Isto levou à migração das populações rurais para as cidades ( ou para campos de refugiados), a reformas agrícolas mal conduzidas e à transformação da agricultura numa actividade se subsistência sem efeito na economia dos países. As alterações climáticas, as guerras e a corrupção não ajudam. Tudo isso fez que a situação se invertesse - África, de exportador líquido, passou a importar mais de 25 mil milhões de dólares em alimentos por ano, para além de depender cada vez mais de ajuda."
"A melhor saída para esta crise seria apostar no desenvolvimento sustentável da agricultura que tem potencial de crescimento em mtos países africanos. Para isso é preciso que muitos dos que lá mandam sejam removidos porque a história mostra que boicotam qq iniciativa em que não são os principais beneficiários. O que Bob Gelgof disse em Lisboa chocou mais pela frontalidade do que pela novidade."
"O coordenador da FAO ( Food and Agriculture Organization), organismo da ONU, disse recentemente que África poderia quadriplicar a sua produção agrícola desde que adoptasse algumas medidas, como melhorar a irrigação, usar fertilizantes e sementes de qualidade, incentivar a fixação das populações rurais, etc. Disse ainda que esta revolução é urgente e que não precisa de organismos geneticamente modificados para se concretizar. "

Corrente feminista na Al Qaeda

Li na Visão e gostei de saber :)
As nossas amigas militantes islamitas tb lutam pela igualdade de direitos entre os dois sexos.
Há uma senhora que vive na Bélgica, de nome Malika, viúva de um dos responsáveis pelo 11 de setembro, que aparece na internet a reivindicar os direitos das mulheres. Desobedecendo ao lider supremo Bin Laden, e criticando os seus seguidores "sexistas", reivindica, para as mulheres, a participação na jihad islâmica ( guerra santa).
Penso que pode ser comparada às sufragistas ocidentais, já que não tem medo dos homens da sua religião e defende, essencialmente, os direitos das mulheres.
As muçulmanas têm direito, tal como os representantes do sexo masculino, a escolher ser mártires!

O que será que encontram, no paraíso, depois da sua morte?

sábado, 28 de junho de 2008

Linguagem, actividade simbólica.

Mais um excerto do João dos Santos:

"As instituições humanas existem, persistem e evoluem, porque o homem pode comunicar com os outros por intermédio da actividade simbólica ou linguagem, utensílio do pensamento que lhe permite CONHECER. Pensamento e linguagem são aspectos únicos da emoção, através dos quais representamos mentalmente o mundo e criamos símbolos. A emoção primitiva já produz no animal e no bebé o movimento expressivo, o gesto, a mímica e a atitude ou "movimento cristalizado", forma de procura no espaço e de expectativa ou de esboço de reflexão que precede a escolha ou acto inteligente."
"A atitude, o gesto, a pantomima manifestam-se de forma exuberante desde as danças primitivas que realizam um ensaio de pensamento e marcam o limiar da vida psíquica, a passagem da animalidade para a humanidade. A palavra continua a atitude, o gesto e a pantomima, mas o eco da emoção apenas deixa rasto no corpo frágil dos humanos".
" O traço, o desenho e toda a actividade gráfica são os primeiros factos de uma história natural do homem que se afirma e se impõe à posteridade. Não é só a emoção simples perante o objecto como no caso dos seres primitivos, mas a representação mental que intencionalmente deixa o vestígio de um gesto significando emoção, experiência vivida, conhecimento."
"Nenhuma ciência humana pode ignorar que as reacções do homem, são ou doente, culto ou ignorante, mas inteligente, não são nunca unicamente biológicas, e que uma PERSONALIDADE se exprime por toda uma sucessão de símbolos, que vão da atitude ao gesto e à palavra, e do traço à obra."

in "O desenho, linguagem infantil."1953

sexta-feira, 27 de junho de 2008

E se existisse petróleo no Zimbabwe...?

O Mugabe é muito diferente do Saddam Hussein? A diferença é não possuir "armas de destruição maciça"?...
Ou será que o ditador sanguinário não tem que temer os "polícias do mundo" pela simples razão de não possuir nada que lhes interesse?
Sou contra as guerras. Ponto final.
Mas não consigo deixar de pensar que esse indivíduo que diz que só Deus o pode tirar do lugar que ocupa há décadas , não tem o direito de exercer tal tirania , perante a passividade do mundo...

Sabe que nunca o incomodarão muito. O mundo à volta vai dizendo que não concorda e ele responde: "Quero lá saber do que vocês pensam. A 2ª volta das eleições vai fazer-se e eu serei, como sempre, o único candidato"

Aquele povo massacrado, a passar fome desde sempre, não tem direito a ter esperança de ver a sua vida mudar?

quarta-feira, 25 de junho de 2008

A linguagem escrita: um salto de milhões de anos na história do homem

De João dos Santos:

O Homem tem 500 mil a 1 milhão de anos.
A actividade simbólica do Homem data dos gestos significativos que se transformaram em palavras e em objectos ( artísticos) - estes com pelo menos 40 ooo anos. A transformação dos símbolos em sinais tem 5ooo anos.
Leitura-escrita_ A evolução teria sido:
1. Comunicação directa corporal - organização do corpo próprio, esquema corporal, espaço-relação, distância e gestão desta.
2. Comunicação directa através de uma actividade simbólica - linguagem.
3. Passagem desta ao utensílio e obra de arte.
4. O sinal em vez da comunicação imediata.

A linguagem escrita: um salto de milhões de anos na história do homem

De Eugénio de Andrade...

O que não pode morrer

Diz, diz uma vez mais o que não pode morrer:
a luz, que no sul é inocente
e trepa nos pinheiros;
o trote miúdo das manhãs de junho;
o azul a pique do falcão;
as dunas, com sinais ainda
doutro verão para levar à boca.

domingo, 22 de junho de 2008

Semana de trabalho de 65 horas??!!

Quando li que o Conselho de Ministros do Emprego da União Europeia tinha aprovado uma directiva relativa à organização do tempo de trabalho, prevendo a possibilidade de a semana de trabalho poder alargar-se até às 65 horas, o que daria uma média de 13 horas de trabalho por dia, pensei: "Isto é de loucos! Perdeu-se totalmente o bom-senso?". Passei, então, a procurar vozes que se insurgissem contra isto. Encontrei, hoje, uma, no "Notícias Magazine"( do D.N.)

Diz a socióloga Teresa Medina:

" Esta directiva contraria claramente uma tendência histórica, iniciada nos finais do século XIX, em consequência da persistência e da luta dos trabalhadores e dos movimentos operários, que, já no dia 1 de Maio de 1886, nos EUA, iniciaram uma greve geral exigindo a redução da jornada de trabalho para as 8 horas diárias. A passagem das jornadas de trabalho diário de 16 ou 18 horas, sem descanso semanal ou férias, do início da Revolução Industrial, até à situação actual, da semana de 35/ 40 horas, em vigor na maioria dos países europeus, constituiu uma das maiores conquistas sociais do último século."
"A redução progressiva do tempo de trabalho, com a consequente libertação de tempo para a família, a cultura, o lazer e os descanso, teve uma importância decisiva na melhoria da qualidade de vida das pessoas, constituindo um dos factores mais importantes no aumento da esperança média de vida registado, como tem sido demonstrado por diversos estudos."
"No entanto, e apesar dos constantes avanços tecnológicos e científicos, que criam condições para uma redução efectiva do tempo de trabalho, facilitando uma maior e melhor conciliação entre o trabalho e a vida familiar, cuja importância, noutros documentos, a Comissão Europeia não deixa de salientar, aquilo a que os trabalhadores europeus têm assistido é a um contínuo agravamento das suas condições de trabalho e a uma perda crescente de direitos, há muito consagrados."
"Neste quadro, não deixa de ser chocante ver esta directiva ser apresentada pelos seus responsáveis como uma vantagem para os trabalhadores, que, agora, passariam a ter a possibilidade de "livremente", optarem por jornadas de trabalho mais prolongadas. Mas de que liberdade estamos a falar, quando todos conhecemos as crescentes taxas de desemprego ( que esta directiva tenderá a agravar), a precarização das realções laborais, a persistencia de políticas de baixos salários a que estão sujeitos muitos trabalhadores?"
"A entrar em vigor, estaríamos perante um enorme retrocesso civilizacional, que nos poderia reconduzir às condições de trabalho e exploração do sec.XIX, com consequências gravíssimas para a humanidade. Certamente os europeus não deixarão que isto aconteça."

Aqui está uma análise com a qual estou totalmente de acordo!

sábado, 21 de junho de 2008

"O aquecimento global não é o fim do mundo" ??

Confesso que fiquei baralhada. Agora que parecem estar todos de acordo ( falo dos que decidem : os G8) de que é URGENTE inverter a nossa emissão de gases poluentes, aparece um indivíduo, de nome Born Lomborg a dizer : "Com o dinheiro gasto a combater o aquecimento global, mais depressa se enfrentava a fome no mundo"

Aqui vai um excerto da entrevista publicada no Expresso:

"Estamos mal informados, pq nos tem sido vendida uma visão muito parcial e exagerada do fenómeno. Dou-lhe 2 exemplos que cito no livro: é dito que o aquecimento global irá provocar mais mortes devido ao calor, o que é verdade. O que não se diz é que também haverá muito menos mortes devido ao frio e, muito provavelmente, essa diminuição será maior que o aumento de mortes provocadas pelo calor. O outro é o aumento do nível do mar, que irá acontecer inevitavelmente. Contudo, o público fica com a ideia, muito por culpa do filme do Al Gore, que o mar vai subir 6 metros no espaço de um século. O Painel Climático ds ONU estima que essa subida será entre os 18 e 59 centímetros."

E agora o que ele acha um exemplo das más decisões:

"O pânico não ajuda nada. Leva-nos a tormar más decisões. O exemplo mais óbvio é a produção de biocombustíveis, que toda a gente sabia que era uma má ideia. O que se fez foi basicamente comprar uma enorme quantidade de comida e metê-la nos depósitos dos carros. Isso deve ter criado cerca de 100 milhões de pessoas com fome, obrigou a abater mais florestas tropicais para cultivar mais comida e custou milhares de milhões de euros"

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Perder, é difícil!

Há um conceito em psicologia que aprecio especialmente: "baixa capacidade de tolerância à frustração."
Perder é difícil para todos, mas para algumas pessoas é mais angustiante do que para outras. Temos capacidades diferentes de tolerar a frustração.


Ontem perdemos com a Alemanha, o sonho foi interrompido, a alegria foi cortada quando estava no auge, as expectativas foram frustradas...

Agora que perdemos o Scolari, apetece-me homenageá-lo. Este brasileiro racional e emotivo compreendeu bem os portugueses. Desafiou-nos a soltarmos a emoções, a mimar a selecção, a identificarmo-nos com as suas vitórias. E os portugueses seguiram-no, deixaram de ser tímidos e discretos ,de ter "vergonha de existir", de se sentirem ridículos, e passaram a ser competitivos, afirmativos!
O Scolari, com a sua inteligência emocional, uniu os portugueses!
Como dizia o Agostinho da Silva: "um brasileiro é um portugês à solta!"
Este brasileiro soltou os portugueses!
E se, em vez de futebol, fosse outra coisa qualquer?
E se houvesse um político com o carisma do Scolari, disposto a levar-nos para a frente, cativando-nos para a participação?
Há pessoas com uma inteligência especial para compreenderem os povos e culturas...


Por isso, ainda que agora os que têm menos capacidade de tolerar a frustração, o insultem e lhe atribuam as causas da derrota, como há 1 semana lhe atribuiam as grandes capacidades de liderança, eu penso que o que ele fez pelo futebol português e os adeptos fervorosos que conseguiu, de norte a sul do país e no estrangeiro, fazem dele uma figura inesquecível no panorama nacional!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

"Nascemos estrelas de ímpar brilho..." --- Agostinho da Silva

A pedido da comentadora Té, um assunto para reflexão:

De Agostinho da Silva:

"Creio que o mundo em nada nos melhora, que nascemos estrelas de um ímpar brilho, o que quer dizer, por um lado, que nada na vida vale o que somos, por outro lado que homem algum pode substituir outro homem. Penso, portanto, que a natureza é bela na medida em que reflecte a nossa beleza, que o amor que temos pelos outros é o amor que temos pelo que neles de nós se reflecte, como o ódio que lhes sintamos é o desagrado pelas nossas deficiências ,e que afinal Deus é grande na medida em que somos grandes nós mesmos: o tempo que vivemos, se for mesquinho, amesquinha o eterno."

terça-feira, 17 de junho de 2008

Oxitocina --- a química dos "laços"

As investigações não páram. Faltava descobrir a razão "química" para nos ligarmos afectivamente uns aos outros...

Da "New Scientist":

"Um dos principais trabalhos de campo sobre o papel desempenhado pela oxitocina foi feito pela cientista C.Sue Carter da Universidade de Maryland. Estudou 2 espécies de roedores, os arganazes de pradaria e os arganazes da montanha. Os arganazes de pradaria formam casais de longa duração para criar os seus filhos, enqto os arganazes da montanha machos acasalam de maneira promíscua e não estão nada interessados no seu papel de pais.
Carter descobriu que a chave para esta diferença de comportamentos era a oxitocina. As fêmeas arganazes da pradaria têm vários receptores de oxitocina nos centros de prazer do cérebro, enquanto os machos têm tb vários receptores mas que são, tanto para a oxitocina, como para uma hormona aparentada, a vasopressina. Os arganazes de montanha, no entanto, têm muito menos receptores para oxitocina e para vasopressina. Quando estes receptores são bloqueados nos arganazes da pradaria, os roedores não formam os habituais casais de longa duração.
A oxitocina tb joga um papel fundamental na criação de laços entre mães e filhos, assim como no comportamento em sociedade. Se bloquearmos a oxitocina em mães ratazanas ou ratos, por exemplo, elas deixam de alimentar as suas crias e perdem a capacidade para reconhecer outros membros da sua espécie com que contactam habitualmente.
"Sem oxitocina, os animias têm amnésia social", diz o investigador Larry Young, da Univeridade Emory de Atalanta.

Poderá vir a tornar-se uma "droga" de sociedade?
Panksepp acha que não.
"Por que é que uma substância que parece ser tão gratificante tem tão poucos efeitos subjectivos? Pode acontecer que, em etapas mto precoces da vida, a oxitocina faça a ligação entre contacto social e prazer, mas que o prazer venha da região cerebral das recompensas e não propriamente da oxitocina. Há tb investigadores que defendem que o problema não está no facto de a oxitocina não dar prazer, mas que os actuais métodos de administração da substância não chegam ao cérebro nas doses certas e no tempo próprio."


Ainda não é desta :)

domingo, 15 de junho de 2008

"Morte de Portugal" ??

Miguel Real, filósofo, escritor, especialista em Cultura Portuguesa escreveu um ensaio "Morte de Portugal"...

Aqui ficam algumas das suas ideias sobre o assunto:


"...deixaremos de ser Portugal. O nosso território não vai desaparecer, mas Portugal que deu origem aos portugueses apaixonados, saudosos, líricos, aventureiros, e no entanto simples, humildes, está a desaparecer e vai dar origem a uma região da Europa, chamada Portugal, com museus regionias e casas de fado, mas como povo singular vamos desaparecer. E isto é inevitável e não vale a pena chorar. Ao desaparecer esse outro povo que fomos, desaparece também esse outro ciclo de saudade e de sucesso, de aventura e de fracasso, de amor e de ódio. A Europa é um caldeirão cultural, onde se diluem todas as culturas, fazendo emergir uma cultura racionalista, informatizada, técnica. A nova geração de bancários, por exemplo, já não sofre com esses ciclos. Nós já não sofremos de analfabetismo, como o antigo Portugal, sofremos de iliteracia, o que faz toda a diferença. Os dirigentes políticos de hoje não têm dores de alma. Saõ homens europeus puros, sem complexos, são técnicos, preparados para optimizar Portugal. O que lhes falta então? Faltam-lhes os grandes princípios do Portugal histórico, a razão para Portugal existir. Se os serviços de saúde de Espanha são melhores do que os Portugueses, então vamos a Espanha."

Por que será que sinto resistência a acreditar nisto? :)

sábado, 14 de junho de 2008

Damásio e Espinosa

Retirado de um blog "Meditação na pastelaria", excertos de uma entrevista a Damásio, em 2003, aquando da publicação do livro " Ao encontro de Espinosa":

Quer isso dizer que se opõe à sacralização da ciência?
A ciência é uma das vias para o saber mas não é a única. É evidente que certos aspectos da natureza requerem uma abordagem científica, e é evidente que a tecnologia que deriva da ciência tem um papel decisivo a desempenhar nas soluções para o sofrimento humano. Mas a integração dos dados científicos numa visão abrangente da natureza requer uma empresa supracientífica. Há mais de um pedestal dentro da cultura



.O lançamento de um livro como Espinosa, de Steven Nadler, poderá ser (mais) um sinal de que assistimos à redescoberta do filósofo proscrito educado na língua portuguesa?
Espinosa começa hoje a ser redescoberto. Não há grande dúvida de que a figura central e insuficientemente reconhecida do «Radical Enlightenment» é Espinosa, e que as suas ideias sobre o tecido social tiveram uma influência subterrânea no desenvolvimento da modernidade europeia e norte-americana. A mim, porém, aquilo que mais me interessa, naturalmente, é a sua radicalidade no que respeita à concepção da mente humana. É tão radical que antecipa diversas ideias que hoje fazem parte da biologia e da neurociência de ponta. É por isso que digo neste livro que Espinosa foi um protobiologista. É de notar também que esta modernidade biológica implica uma modernidade ética que era revolucionária no século XVII e que continua ainda a sê-lo. Talvez o maior valor de Espinosa resida precisamente nesse facto.
O tema das emoções tem sido uma constante do seu trabalho. Em O Erro de Descartes relacionava-as com a razão, em O Sentimento de Si com a consciência. Neste terceiro, ocupa-se das «emoções sociais». Quais foram, resumidamente, as investigações que lhe permitiram ir alargando o campo de acção das emoções?
Há diversas linhas de investigação que apoiam esse percurso. As primeiras dizem respeito a doentes com lesões pré-frontais. As segundas a doentes muito jovens com lesões semelhantes. As primeiras demonstram a ruptura dos mecanismos de decisão que se segue ao comprometimento de certas emoções; as segundas mostram como tais comprometimentos bloqueiam a socialização de uma forma quase completa. Uma outra linha de investigações, em indivíduos normais, usando a neuroimagem funcional, também nos deu a possibilidade de delinear pormenores do processo de sentir as emoções. Todo este trabalho tem permitido confirmar hipóteses formuladas há mais de uma dezena de anos. E daí podermos afirmar que na base de todas as faculdades ― decisão, consciência, comportamentos éticos ― estão o corpo, a emoção como emblema de regulação biológica, e o sentir das emoções.«Os sentimentos orientam os esforços conscientes e deliberados da autoconservação e ajudam-nos a fazer escolhas que dizem respeito à maneira como a autopreservação se deve realizar», escreve.
Estaria de acordo em contestar a famosa máxima cartesiana «Penso, logo existo» através da fórmula «Sinto, logo existo»?
Absolutamente. «Sinto, logo existo» é uma proposição verdadeira e é a formulação preferível. Sem o sentir não é possível pensar ou conhecer o que se pensa. Sem sentir não há «si». E na ausência da maquinaria da emoção e do sentir duvido que o comportamento moral jamais tivesse emergido.Ao dualismo alma/corpo cartesiano, que reduz o corpo a uma máquina e o espírito a uma substância pensante, Espinosa contrapõe uma concepção monista em que corpo e mente não são duas substâncias distintas mas manifestações diferentes da mesma substância: a Natureza ou Deus (que deixa de ser transcendente). A concepção dualista de Descartes seria responsável (escreveu-o em O Erro de Descartes), por exemplo, pela «incapacidade de a medicina tradicional considerar o ser humano como um todo». )