segunda-feira, 29 de setembro de 2008

É o mercado, estúpida!

O congresso americano chumbou o plano Bush para "resolver" a crise! Com eleições à porta, ninguém se queria responsabilizar pelo descontentamento dos cidadãos que veriam os seus impostos agravados.
Eu, estúpida que sou nestas matérias, pergunto: "O que se está a passar?" "Para onde foi o dinheiro?"

Então, a lógica era o mercado livre, o estado não teria que regular coisa nenhuma, quem sabia do assunto eram os "senhores do dinheiro"...e agora deparamos com nacionalizações de bancos, até na europa?!
Man, o socialismo vem salvar o capitalismo da crise do capital??

Somos nós, contribuintes, que teremos de pagar a recuperação da banca, sob pena de nos cair a crise em cima??

Alguém entende alguma coisa disto?

Estamos a ficar todos bipolares? :)

Não sei como entram estes termos na linguagem corrente mas desconfio que é por via das telenovelas. Não creio que alguns médicos andem a rotular abusivamente todas as pessoas que não se sentem bem...

Há uns anos, a moda eram os "hiperactivos". Nas aulas, quando mandava calar um aluno, ele respondia-me: "Stora, eu sou hiperactivo" :) Depois, lá me explicaram, havia um miúdo dos "Morangos com açúcar" com esse diagnóstico. Aquilo pegou!
O termo que mais oiço no dia-a-dia da escola é "trauma". As mães referem-se, frequentemente aos problemas dos filhos, usando-o. O ano passado, uma mãe dizia-me que a filha tinha um trauma com o cabelo. Estive quase para lhe responder: "Também eu!" :)
As tristezas passaram a ser denominadas "depressões", de tal forma que é obrigatório andar sempre com um sorriso na cara, para não ter que ouvir com um.. "andas deprimida?".
Não temos nós um leque de emoções e sentimentos vários?

Vem isto a propósito de um episódio hilariante que aconteceu hoje na escola:
Fui à secretaria consultar o processo de um aluno. A funcionária que tem este pelouro estava de baixa. Apareceu a chefe da secretaria, muito nervosa com o avolumar de trabalho com menos uma pessoa no activo. Disse-me que a dona... estava de atestado por se ter tornado "bipolar" com tanto serviço. E acrescentou: "Olhe, estamos a ficar todas bipolares!".
"Deixe estar, dona..., que os profs tb estão todos a ficar bipolares e os alunos tb, por isso isto é uma escola bipolar" :))

sábado, 27 de setembro de 2008

Quasimuda

Gostei da alcunha da Manuela Ferreira Leite :)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Por que matam os finlandeses?

Ondas de criminalidade existem um pouco por todo o lado, mas as causas parecem ser diferentes de país para país.
Em Portugal, quando alguém aponta uma arma tem como objectivo roubar. Podemos encontrar como causas ( e nunca como justificação) a pobreza, o desemprego, o racismo, a droga, etc...enfim, dinheiro...
As razões que levam os finlandeses a matar são, seguramente, outras.
Das duas, uma: ou o ser humano é muito mais complexo do que parece, ou as sociedades que construimos são desumanas. Ou ambas as coisas...

retorno ou recomeço?

Uma frase de T.S. Elliot:

"E no fim de todas as nossas explorações, chegaremos ao local de onde partimos e iremos conhecê-lo pela primeira vez."

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Homenagem aos colegas que partem...

Este ano vou perder a companhia de alguns colegas mais velhos. Foi-lhes dada a possibilidade de se reformarem, ao fim de 30 anos de serviço ( penso ser esta a condição) mesmo que ainda não tenham atingido a idade de reforma. Serão penalizados financeiramente, mas, ainda assim, todos os que estão nestas condições vão aproveitar a oportunidade.O Ministério mete algum dinheiro ao bolso com isto, já que por cada efectivo que sai, colocará um contratado a ganhar menos uns euros. E esta é a única preocupação deles!Tenho pena. Tenho conhecido pessoas muito competentes, muito empenhadas e que, para mim, sempre foram uma referência. Sei que saem antes de tempo, que teriam ainda muito para dar, que ainda gostam de ensinar, mas, perante o estado em que se encontram as coisas nas escolas, quem é que não aproveitaria uma oportunidade destas?Saem antes de começar o ano da avaliação de desempenho de todos os docentes. Saem pq não querem avaliar colegas ou ser avaliados por eles, saem pq não querem perder horas infinitas em burocracias, papeis e mais papeis. Saem pq não querem entrar na farsa de ter que passar todos os alunos. Saem por uma questão de honra! Preferem guardar memórias de uma escola digna, em que cada um dava o seu melhor, em que os professores eram respeitados, em que não havia competições idiotas entre colegas por uma nota melhor. Saem pq ninguém sabe o que nos falta mais aturar da parte deste ministério...Tenho muita pena...com quem vou eu debater a melhor maneira de abordar um texto? Com quem vou eu conferir resultados de testes e verificar, em conjunto, por que razão a maioria dos nossos alunos não entendeu uma questão que nos parecia fácil?Por tudo o que aprendi com os colegas mais experientes, pela disponibilidade de ouvir-me quando os massacro com as minhas dúvidas, um imenso OBRIGADO!

sábado, 20 de setembro de 2008

Ainda há pessoas com princípios?!

Todos os dias vamos sabendo das reformas chorudas que políticos ou administradores de empresas privadas ou públicas vão recebendo quando largam o posto. Às vezes, basta lá terem estado uns 3 anitos para serem compensados de uma forma que indigna quem trabalha uma vida inteira e se tem que contentar com uns trocos.

O que me surpreendeu pela positiva foi a atitude do Ramalho Eanes. Após anos em que não lhe foi paga uma reforma e, tendo os tribunais decidido que tinha direito a receber retroactivos de décadas, no valor de um milhão e trezentos mil euros, prescindiu desta quantia.

Nos tempos que correm, não estamos habituados a atitudes destas. Tiro-lhe o chapéu!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

"Marx-renaissance"

Li no Expresso e não fiquei surpreendida. A ideia de que as democracias liberais seriam o "fim da história" e que estaríamos numa fase pós-ideológica e pós-política começa a ser posta em causa.

"A "Marx-renaissance" é ainda um fenómeno culto, com sede nas universidades ( talvez em 1º lugar as americanas) e manifesta-se num debate que alimenta uma abundante bibliografia."

Num país como o nosso, que viveu metade do seculo XX em silêncio e onde, ainda hoje, a crítica é sinónimo de "bota-abaixo", talvez se devesse recomeçar a pensar que não estamos no fim da linha e que, como diria Marx: "O Real é mto mais permeável à interpretação do que à acção..."

Na origem desta "renaissance" está um deficit que se tinha tornado insuportável, mesmo mortal: o deficit crítico, de pensamento crítico para analisar o mundo actual e orientar-se nos fenómenos singulares das novas configurações sociais."
O filósofo Jacques Derrida diz que assumir a herança do Marxismo é assumir uma responsabilidade teórica, filosófica e politica dos vários "espíritos" do marxismo., incluindo a revolta, mas sem necessidade de uma organização do proletariado, ou de uma classe, ou muito menos de um partido. Apelando à força crítica e analítica de Marx tanto no plano da politica como na interrogação dos fantasmas, das mercadorias, da tecnologia, do trabalho imaterial, da globalização em curso e do aparelho mediático."
Ourto filósofo, Zizek, reinventa o marxismo, desenvolvendo a ideia de que é preciso politizar a economia e interromper a desmesura dos mecanismos do mercado..."

Pensantes de todo o mundo, uni-vos! :)

domingo, 14 de setembro de 2008

Maria do Carmo Vieira

Agradeço a esta senhora, professora de Português do ensino secundário, a coragem, a lucidez e a luta pelas convicções, fruto de 30 anos de dedicação ao ensino da literatura portuguesa.
Haja alguém que não se cala, alguém que não desiste de pensar e de expor as suas ideias, sem medo de consequências.

Excertos de uma entrevista publicada hoje, dia 14, no Notícias Magazine ( D.N.) :

"Só a resignação explica que se obedeça ao teor dos novos programas, que privilegiam o novo, ou seja os autores contemporâneos, no quase completo apagamento do que é velho, ou seja, os autores clássicos, a fonte. Este discurso oficial decidiu que os interesses dos alunos se centram no presente, liberto de influências, e no excesso de imagens que humanamente é impossível reter e que se dispersam sem qualquer significado. Talvez o objectivo primeiro seja treinar os alunos a não pensar..."

"...chamaram-me elitista quando dei a conhecer, de forma crítica, a presença do Big Brother e das telenovelas nos manuais, e quando defendi a importância da arte, nela incluindo a literatura, na sala de aula. Com efeito, se não for a escola a preencher o vazio cultural de uma situação familiar fragilizada, quem o fará? ..."

"Expressiva é a frase de uma das canções de Schumann: "Aqueles que são ignorantes são fáceis de conduzir." Mas isto é um crime, fazer com que os alunos se esqueçam de si próprios, se anulem enqto seres humanos, nunca reflictam sobre o que quer que seja. E depois admiramo-nos com o facto de os jovens não irem votar."

Questionada sobre como imaginaria um Plano Nacional de Salvação da Escola Pública, responde:

"Antes de mais, começar pelos conteúdos dos programas, o que exigiria um debate sério, sem a arrogância que temos vindo a conhecer, um trabalho rigoroso na sua planificação e de redacção límpida. É inadmissível que não exista um fio condutor na elaboração dos novos programas ou que tenhamos de ler 2 e 3 vezes o que está escrito, sem que compreendamos o que se pretende.. Há sempre a tendência para os alongar em demasia e, no caso do Português, é preciso tempo para trabalhar com os alunos a língua, a análise do texto, a contextualização de um autor, a par da literatura, a pintura, a música, ou outras artes. Dever-se-ia tb regressar ao estudo da gramática, verdadeira reflexão sobre a língua, e ao uso de dicionário..."
"Para além da reavaliação dos programas, esvaziados drasticamente dos seus conteúdos pela Reforma de 2003, era necessário que a escola voltasse a ser um espaço de qualidade, valorizando as capacidades dos alunos ( curiosidade, desejo de saber, o pensar, o imaginar, entre outras.) exaltando valores que têm sido silenciados, como o esforço, a força de vontade, o rigor, o trabalho, o brio e a alegria de vencer as dificuldades para atingir um objectivo. Relevante seria igualmente a escola voltar a privilegiar a relação ensinar-aprender, que em si contém desafio, partilha, solidariedade, dádiva e amizade."

sábado, 13 de setembro de 2008

Publicidade?

Sempre que escrevo e publico novo texto, aparece-me uma informação do google convidando-me a "ganhar dinheiro com o seu blog", a troco de publicidade. Nunca cliquei nesse item, mas fico sempre a pensar no que será isso. Pagam o quê?
Visitando alguns outros blogues, reparo que alguns têm publicidade a uma marca de cerveja. Será que são os que aderiram a esse "negócio"?
Alguém me pode informar?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

"A partícula de Deus"

Imagino que físicos de todo o mundo estejam com os olhos postos em Genebra, onde decorre uma experiência destinada a reproduzir, com um acelerador de partículas, as condições físicas da origem do Universo.
A ideia é extraordinária e só hoje, ao ler uma pequena notícia no jornal, percebi um pouco do que se espera encontrar.
Segundo li, espera-se confirmar a teoria de Higgs sobre a existência de uma partícula com o seu nome ( bosão de Higgs), que é conhecida como a "partícula de Deus", e que originou a explosão prevista na teoria do Big Bang.
Este físico de nome Higgs ( actualmente com 79 anos) tem como rival um outro físico, Stephen Hawking que apostou 100 dólares em como o tal bosão de Higgs não existe. ( Acho pouco para uma aposta destas:)

Imagino a ansiedade dos 2 senhores...
Eu, que nem sei o que é uma partícula subatómica, partilho da curiosidade dos "não-físicos" e, já agora, gostava de saber se sempre houve Big Bang ou não...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

"A verdade da mentira"

Pego no título do livro do Gonçalo Amaral sobre o "caso Maddie", para escrever sobre a notícia : "Os chumbos diminuiram significativamente, no ano lectivo passado"
Alguém acredita que, num só ano, se tenham invertido as catastróficas estatísticas de insucesso a que nos habituámos? Convinha justificar com outros dados além dos nºs. O que foi feito de tão diferente no ano lectivo de 2007/2008? Mudaram radicalmente as politicas educativas? Os alunos, miraculosamente, tornaram-se mais motivados e responsáveis? Os professores empenharam-se como nunca tinham feito até agora?
Não é preciso ser muito perspicaz para compreender que, numa área como a educação ( e provavelmente em todas as outras), grandes mudanças dão-se com políticas de fundo que levam alguns anos a revelar resultados.
Então o que aconteceu nas escolas portuguesas?

Só posso falar do que conheço. Sou professora numa escola básica de 2º e 3º ciclos. Na minha escola, no ano passado "conseguimos" reduzir em mais de 50% os níveis de insucesso dos nossos alunos!!
Olhemos para a realidade: a minha escola está situada, como dezenas de outras por esse país, numa área onde há muitas crianças e jovens: numa das periferias da cidade, onde vivem, em habitações cedidas pelo estado, centenas de jovens cujas famílias e bairros são muitíssimo problemáticos. O que nos ultimos meses se viu na televisão ( lutas de gangues) passava-se num bairro semelhante àquele em que trabalho. Os alunos faltam muito às aulas? Sim! Os pais responsabilizam-se por eles? Na maioria, não!
Quem são os professores desta escola? A maioria é efectiva do quadro há alguns anos. Experiência não nos falta. O que prende a maioria das pessoas que não concorrem para outras escolas? O desafio, a ligação com os miudos ( estas crianças são muito afectivas e , quando gostam de um professor, nunca mais o esquecem...), o ambiente entre colegas.
Que outros recursos tem a escola? Uma assistente social, que se desdobra em milhentas visitas domiciliárias aos alunos que desaparecem, uma professora de ensino especial e um professor de portugês-2ª-língua, que dá apoio a alunos dos palops ou do leste. Psicologa não há! Existia uma que se reformou e não foi substituida... ( há 2 anos)...

O que foi feito, no ano passado, para que tantos alunos tivessem transitado de ano? A única medida implementada, por orientação do ministério, foi um reforço da carga horária da disciplina de matemática. Foi útil? As colegas fazem balanço positivo, mas acham que não chega para minimizar as grandes dificuldades com que chegam os alunos do 1º ciclo.

A "ordem" foi: não reprovar!.
A ministra disse que as reprovações deviam ser um último recurso, pq se constata que um aluno que repete o ano, em geral não melhora. Concordo com esta afirmação. Mas: que alternativas tem uma escola para estes alunos? Se a solução estivesse em passá-los de ano, eles teriam melhores resultados no ano seguinte. A realidade prova o contrário. Em geral, voltam a reprovar. Relativamente a algumas disciplinas em que as aprendizagens são em espiral ( como a matemática ou o inglês) é impossível aprender o programa de um ano lectivo sem ter adquirido os conhecimentos do ano anterior.
Então, qual seria a alternativa? É aqui que está o problema de fundo. A escola, ao pretender ser igual para todos, pratica uma enorme discriminação. Para alguns, é extremamente fácil e é frquente ver pautas, em algumas escolas, em que a maioria dos alunos atingem o nível máximo ( nível 5); para outros é extremamente difícil, pela falta de aquisições básicas, pela extensão do horário, pela sobrevalorização de disciplinas teóricas e a quase inexistente componente prática.
Miúdos de 14 anos no 5º ano ( como tenho vários) misturados com miudos de 10, dias inteiros na escola a fingir que se interessam, não dá!

No ano lectivo passado, nas reuniões finais de avaliação, em todas as turmas da escola, não houve mais do que 1 ou 2, no máximo 3 reprovações. Riamo-nos todos ( para não nos lamentarmos mais). Diziamos: "Ainda vamos para o ranking das melhores escolas! :)
Passaram miudos com 3, 4 negativas. Quando era preciso, alguém "dava" nota para o aluno passar. Se tinham faltado no 3º periodo, ficavam com as notas do 2º. Se , mesmo assim, não tinham notas para passar, inventávamo-las!

Além de termos que fazer planos de recuperação para cada aluno que tem uma negativa e provar que se fez tudo ( inclusive ir a casa buscá-lo)..., os professores passaram a ser avaliados pelo sucesso dos seus alunos. Desgraçados dos que apanham com vários ciganos numa turma que, em geral, abandonam a escola antes do final ( em especial as raparigas). Quem se atreve a reprovar meninos, se, na turma ao lado, vão todos passar de ano?

Angustia-me pensar no futuro destes miúdos. Até podem concluir a escolaridade básica ( mesmo assim, alguns desistem a meio)...mas o que será desta geração daqui a 10 anos? Estão preparados para quê? Para a lei do menor esforço....e pouco mais!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A inspiração do poeta

Em 1903, um grande poeta da língua alemã troca cartas com um jovem aspirante a poeta, dando-lhe conselhos sobre o acto de criar. Aponta a solidão como caminho, a interioridade como o lugar a desbravar, sem medos, numa dedicação total à sua obra...

Um excerto de "Cartas a um jovem poeta" de Rainer Maria Rilke:

"Aproxime-se da natureza. Tente, então , dizer, como o primeiro homem, o que vê e o que vive e ama e perde. Não escreva poemas de amor; evite por ora as formas mais comuns e mais correntes; são elas as mais difíceis, pois só uma grande força, já amadurecida, conseguirá criar uma coisa própria por entre a abundância de boas e por vezes brilhantes prestações. Evite por isso os motivos gerais e prefira aqueles que o seu quotidiano lhe oferece; descreva as suas tristezas e desejos, os pensamentos passageiros e a fé numa qualquer beleza - descreva tudo isso com uma sinceridade íntima, tranquila, modesta, e para lhes dar expressão sirva-se das coisas que o rodeiam, das imagens dos seus sonhos e dos objectos das suas recordações. Se o seu dia-a-dia lhe parecer pobre, não o acuse de pobreza; acuse-se a sim próprio, reconheça que não é ainda poeta o suficiente para conseguir invocar as suas riquezas, pois para um criador não há pobreza e nenhum lugar é indiferente e pobre. E mesmo que estivesse numa prisão, cujas paredes separassem os ruídos do mundo dos seus sentidos, teria ainda e sempre a sua infância, essa riqueza preciosa e intemporal, a câmara do tesouro da lembrança. Dirija a ela a sua atenção. Tente levantar as sensações submersas desse passado longínquo; a sua personalidade fortalecer-se-á, a sua solidão estender-se-á até se tornar uma casa à luz do cair da tarde ou do amanhecer, por onde o ruído dos outros passa à distância..."

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A escola ideal

"Quem está no convento é que sabe o que por lá se passa". É assim o ditado?
Sei que não há ideais... ainda assim, continuo a imaginá-los e a acreditar que são mais realizáveis do que se pensa...

A minha escola ideal seria pequena. Pouco volume de pessoas num espaço aberto. Haveria jardins cuidados, espaços exteriores bonitos, que se veriam das janelas das salas de aula. As salas seriam arejadas e haveria ar condicionado para temperar o calor de verão e o frio de inverno. Haveria conforto e cores claras e os alunos não sentiriam vontade de sujar e destruir. Teríamos 15 alunos por turma. O professor poderia ajudar cada aluno e dedicar-se mais àqueles que têm mais dificuldades. Cada aula duraria apenas 1 hora ( e não 1hora e meia, o que satura tanto alunos como professores). Todos os alunos terminariam as aulas às 15.30 e passariam o resto do tempo em suas casas, ou bairros ou a praticar outras actividades. Não passariam 8 horas por dia fechados na escola.
Não haveria barreiras arquitectonicas. Haveria professores especializados para companhar alunos com deficiências ou grandes dificuldades de aprendizagem. Estariam dentro da sala de aula e apoiariam o aluno, em conjunto com a professora da sala. Haveria gabinetes em que estes professores dariam apoio individualizado a quem precisasse.
Respiraríamos tranquilidade e bem-estar, e aprender e ensinar seria , para todos ,aquilo que realmente é: um prazer!

Nesta fase de preparação de arranque do novo ano lectivo, olho para o meu horário e para o horário dos meus alunos. Reparo que as turmas têm 26 alunos, dos quais muitos são repetentes e, sei, pouco motivados. Vejo que tenho algumas turmas ao final da tarde ( qdo já estão saturados de várias aulas seguidas), penso que cada aula dura 90 minutos, respiro fundo e penso: " Lá vai começar mais uma aventura. Espero ser capaz, mais uma vez , de os cativar, de conseguir que todos aprendam alguma coisa do que vou ensinar, espero que não sejam muito malcriados, espero, espero..."

Este início é sempre ambíguo: a curiosidade, a expectativa e aquele "medinho" que se tem das "coisas difíceis" :)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Animais que sentem compaixão

Ainda retirado do livro do Damásio:

"A essência do comportamento ético não parece ter começado com os seres humanos. Há estudos feitos com aves ( como os corvos) e em mamíferos ( como os morcegos, lobos e chimpanzés) que indicam claramente que espécies não humanas se parecem comportar, aos nosso olhos sofisticados, de uma forma ética. Exibem simpatia, apegamentos, embaraço e vergonha, orgulho dominante e humilde submissão. São capazes de censurar e recompensar as acções de animais congéneres."
" Numa experiência notável executada por Robert Miller e discutida por Marc Hauser, os macacos deixavam de puxar uma cadeia que lhes trazia comida, caso esse acto fizesse com que um outro macaco recebesse um doloroso choque eléctrico. Em tais circunstâncias, alguns macacos PASSARAM DIAS SEM COMER. De forma bem sugestiva, os animais mais susceptíveis de se comportarem de forma altruística eram aqueles que tinham conhecimento social prévio do animal que receberia o choque. "
in Ao encontro de Espinosa, António Damásio