domingo, 26 de outubro de 2008

A Oeste, algo de novo...

Acabei de ler a crónica do Daniel Sampaio, na revista do Público: "A América e eu".
Partilho, com ele, um sentimento ambíguo em relação à América.
Nunca estive nos E.U.A mas alguns dos livros que me têm marcado vieram de lá bem como alguns "filmes da vida". Sim, o "Citizen Kane" era a alma da América ( ainda?)...mas o que dizer do mais recente "Paris, Texas", ou daqueles filmes do Woody Allen que se passam em Manhattan mas poderiam passar-se em Paris?
Quando descobri o Paul Auster, devorei-o até me fartar. A mulher dele escreveu um livro que me perturbou pela actualidade, pela profundidade...Mais recentemente, li "A mancha humana" do Roth e pensei: "De superficial isto não tem nada"..
Tenho a impressão que os americanos se expressam muito, usam muitas palavras, não são um povo de silêncios...será?
Poderá, uma nação tão grande ter uma entidade? O que têm os nova-iorquinos a ver com os texanos?
A outra América, a arrogante, a grande potência, a moralista ( o mamilo da Jackson foi mais falado que o furacão Katrina), as guerras, os Bushistas, parvos, poderosos e ignorantes, a Palin que ainda acredita que o 1º homem foi o Adão e a 1ª mulher a Eva...
A crise financeira, a ganância, o subprime. Por outro lado, as maiores investigações científicas.

Disto, deste mundo, surge, inesperadamente ( pelo menos para mim) um afro-americano com um discurso de mudança e os americanos querem elegê-lo. Passo a olhá-los de outra maneira. Querem a mudança. "Autre chose".
Se ele vencer, como espero, muita coisa pode mudar por estas bandas.

Alguns, como eu, não se revêem nestas formas de fazer política que tornam os cidadãos meros executantes de medidas ocas, sempre centralizadas, elaboradas ou copiadas de seres pouco pensantes, tecnocratas do imediato, pessoas sem filosofia!
A oeste, algo de novo!

sábado, 25 de outubro de 2008

O que se aprende com os mais novos

Pode-se enganar um adulto? Pode! Muitos ficam-se pelas aparências. Não sabem "ler".
Pode-se enganar uma criança? Não. As crianças e os jovens lêem-nos.
Essa capacidade vai-se perdendo? Julgo que sim...
Um professor, numa turma perante 25 crianças, tem 25 pares de olhos que o "estudam" , o "analisam". Se o que ele estiver a dizer não condiz com a a sua expressão, a criança detecta imediatamente.
Numa aula de uma hora e meia, não há lugar para "teatros de adultos". Toda a concentração é necessária para compreender o que aqueles 25 pares de olhos estão a captar.

Estamos a analisar um texto, falamos das personagens, tentamos caracterizá-las, eles vão pondo o dedo no ar, vai-se aprofundando, os miúdos vêem sempre pormenores que nos escapam. às tantas um diz: "Na outra aula a stora disse que o miúdo estava a ser arrogante e , neste texto, diz que ele é tímido..."
Boa! Quem errou fui eu que julguei que uma atitude duma personagem podia ter só a "minha leitura"
O que achas? Acho que ele é tão arrogante, como o miúdo do outro texto...
Divagamos sobre o que é a arrogância...e a timidez...
Muitos têm o dedo no ar.
Aprende-se é com eles!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Imagine que...

Imagine que era professor, licenciado, profissionalizado ( com estágio profissional de 2 anos, supervisionado por alguém creditado) e experiente;
Imagine que tinha escolhido esta profissão por 2 razões: gostar de ensinar e gostar de estar próximo de jovens ( reconhecer que se está sempre a aprender com eles);
Imagine que a escola que sempre conheceu ( até há 3 anos) era uma instituição democrática, e talvez fosse a única instituição realmente democrática. Tendo os professores todos a mesma formação ( licenciatura e estágio) o que os distinguia era o tempo de serviço, a experiência que traz a sabedoria. Tudo na escola era feito por professores: desde a matrícula dos alunos a todo o acompanhamento de que necessitavam, além das aulas. Os cargos eram desempehados por professores efectivos e eram rotativos. Todos teriam que aceitar ser um dia coordenadores da disciplina, dos directores de turma, elementos do conselho pedagógico.
Os professores mais novos eram acompanahados pelos mais experientes, nas reuniões periódicas de planificação de aulas, ou em conversas na sala de professores.

Imagine que um dia, inesperadamente, surge uma equipa no ministério de educação que quer mudar tudo isto. Imagine que essa equipa, em lugar de saber o que estava errado no ensino ( e há tanta coisa errada no que aos programas diz respeito), lança para a comunicação social a ideia que os professores são os repsonsáveis pelo insucesso escolar!
Imagine o que sentia!

Imagine que o que se seguiu foi uma verdadeira "bomba" nas escolas. Criou-se uma divisão entre professores- titulares e não-titulares. Divisão essa que, por ser impossível de determinar o que os distinguia, se baseou, APENAS, no número de cargos desempenhados na escola nos últimos 7 anos ( nem um item sobre prática lectiva). Como referi atras, esses cargos eram, até à data, rotativos e de aceitação obrigatória entre efectivos.
Imagine que alguns colegas, ao terem subido a titulares, se tornaram avaliadores dos colegas do lado, sem qualquer formação para isso, nem qualquer mérito acrescido. Tratou-se, apenas, da lei do azar ( estavam a desempenhar um cargo nesse período). Imagine que os pobres avaliadores se sentem incapazes de exercer tal função, por saberem que, da nota atribuída, dependerá o futuro profissional dos colegas que lhes coube avaliar ( em nº até 12 )
Iamgine o ambiente que se passou a viver nas escolas, muitos repudiam este MONSTRO de modelo de avaliação, uns têm medo de represálias se não acatarem, outros, muitos, os que já podiam fazê-lo, pediram a pré-reforma.
Imagine que este modelo é, além de imoral e estúpido, ineficaz e totalmente impraticável, muitíssimo burocratico ( exige carradas de papeis, grelhas preenchidas , port.folios, etc) ...tudo a roubar tempo a quem gosta de ensinar. As reuniões, em vez de serem para analisar assuntos pedagógicos, descobrir estratégias para alunos mais problemáticos, passaram a ser usadas para interpretar leis incompreensíveis ou decidir sobre quais as melhores grelhas que há no "mercado"...

Eu sou professora e continuo a gostar muito de ensinar e a gostar muito do convívio com os jovens. Aliás, penso que quem convive com eles não envelhece tanto. Obrigam-nos a manter uma mente aberta, tentar ver o mundo pelos olhos deles.
Como todos os professores, estou angustiada com o que se está a fazer à escola pública e considero que atacar professores é atacar os seus alunos ( um pouco como numa família, atacar os pais, é atacar os filhos). A ESCOLA é, ainda, um espaço de relações humanas, que se quer autónomo de gestões impostas pelo exterior, e que precisa de estar "bem de saúde" para que se possa aprender e ensinar...e ainda, sentir carinho...

domingo, 12 de outubro de 2008

A ciência da alma

Li, no "Notícias Magazine" uma entrevista a EDUARDO PUNSET, um investigador científico e escritor, autor dos livros: "Viagem à felicidade" e "A alma está no cérebro".

Alguns excertos:

"O milagre é que tenham decorrido tantos milhares de anos sem sabermos o que se passava dentro de nós. Quando vimos ao mundo dispomos apenas de 7 emoções básicas e universais, positivas como a felicidade e o amor, negativas como a raiva, o stress, o desprezo. Não nos ensinaram na escola que a felicidade é uma emoção básica e universal e que é transitória, não pode durar para sempre."

"Descobrimos que somos menos programados do que acreditávamos ser. Não conheciamos o peso enorme de cada experiência no subconsciente humano, que é tal que deixa uma marca que acaba por transformar a estrutura cerebral.. Estamos programados, mas para ser únicos."
"Daí a reconciliação entre neurologistas e psicanalistas: uns e outros admitem que há leis gerais de desenvolvimento cerebral, mas ao mesmo tempo a experiência quotidiana através do inconsciente marca a estrutura cerebral, o que faz com que cada indivíduo seja único."

"Uma das grandes descobertas que transformará a vida das pessoas nos próximos anos, é que agora sabemos que até aos 5 ou 6 anos de uma criança estamos a decidir o que vai ser a sua vida de adulto."

"O grande desafio de um hominídeo é outro hominídeo..... Se foste bem sucedido em explorar a mente do teu pai, mãe, irmãos, vais querer aprofundar o conhecimento do resto do mundo, ... a busca do amor do resto do mundo. Se isso não funcionar, vais sentir rejeição ou indiferença em relação ao mundo, ou, na pior das hipóteses, serás um psicopata, com vontade de destruir."

"O cérebro só assume o que o diverte, o que lhe agrada. Uma das grandes descobertas da neurologia moderna é justamente que, quando a informação não agrada ao cérebro, determinados circuitos se fecham. Não é que não assimile, simplesmente não ouve."

sábado, 11 de outubro de 2008

Está em preparação...

um dia 15 de Novembro muito especial!!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Brecht

"Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém chama violentas as margens que o comprimem.."

Esta frase do Brecht entrou em mim na adolescência. Eu era o "rio" que transbordava. As margens não podiam conter-me...

Tantos anos mais tarde, este pensamento ainda me ocorre, algumas vezes. Não há melhor definição para a revolta contra o que nos parece injusto.

Não consigo entender como tantas pessoas se calam perante coisas que sentem como injustas, incorrectas. Será que engolem o que sentem, ou será que não sentem?

Como todos, eu gosto de me sentir em paz. Mas uma paz real, interna. Não gosto de "paz podre". Se não concordo, manifesto-me!
Penso que serei sempre assim...

"Crash" nas escolas portuguesas

O ambiente nas escolas está explosivo! Nunca vivi nada assim! A indignação é generalizada. Este modelo de avaliação entre-pares, único na história, além de completamente injusto e imoral, é de tal forma burocrático que se torna impossível de realizar. Quem quisesse cumprir o que é exigido, teria que deixar de preparar aulas e , em alguns casos ( caso dos professores avaliadores) teria que deixar de dar aulas para poder avaliar colegas. Todos os professores com mais de 55 anos pediram a pré-reforma ( com penalização salarial), o que resulta numa debandada de gente ainda muito competente, que gosta de ensinar e que eram pofessores de referência, pela experiência adquirida.
A indignação está a atingir proporções incontroláveis. Todos os dias circulam, na net, textos escritos, denúncias de situações aberrantes. O sindicato ( Fenprof), que no ano lectivo passado calou os profs estalabecendo um protocolo com o ministério, apercebeu-se da revolta iminente, e resolveu avançar para não perder o controlo dos professores.
Avizinham-se tempos de grandes lutas!
O essencial é conseguir manter alguma estabilidade para conseguir dar aulas decentes!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Fundamentalismos americanos

Há coisas que custa a crer que existam...


Nos E.U.A. há um jogo, disponível gratuitamente na net, intitulado "Massacre muçulmano, o jogo do moderno genocídio religioso", que está a fazer furor entre crianças e jovens.

"O objectivo é acabar com o maior nº possível de muçulmanos, ou, como é explicado através da reprodução da voz de Bush "assegurar-se que nenhum muçulmano ou muçulmana fique vivo".
"Para isso, o "herói americano" ( uma espécie de rambo loiro e espadaúdo) lança-se de para-quedas no Médio Oriente para levar a cabo a missão de eliminar a raça muçulmana, recorrendo a um arsenal das armas mais destrutivas do mundo. Ganha quem não deixar vivo nenhum muçulmano ou muçulmana. Cumprida a tarefa, o jogador passa, então, a níveis superiores, e a sua missão torna-se mais exigente: matar Bin Laden, o profeta Maomé e, por fim, o próprio Alá."

in D.N.

Prémio Ideias Verdes

Uma coisa tão simples. Como é que ninguém se tinha lembrado antes?

Quem ganhou o prémio foram uns jovens que apresentaram um projecto para prevenção de incêndios utilizando....cabras!


"...cabras que, controladas por cercas, devoram literalmente todos os resíduos florestais que estão na origem dos incêndios. As cercas que controlam a zona são alimentadas com energia solar e cada animal leva um chip na coleira, que permite a sua localização via GPS num telemóvel. É a junção da modernidade à ruralidade, à ecologia e à defesa do ambiente. E a prova de que uma excelente ideia não precisa de milhões para se concretizar."

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Onda de solidariedade precisa-se!

Manique, 01 de Outubro de 2008


Assunto: Falta de Educadoras de Educação Especial no Programa de Intervenção Precoce no Agrupamento da Alapraia - Estoril

Exmos. Senhores,

Chamo-me Cláudia Rocha e sou mãe do Guilherme Neves de Almeida que nasceu a 18 de Abril de 2006.
O Guilherme à nascença fez uma Encefalopatia Hipóxico Isquémica Grau I, pelo que aos 6 meses de idade foi-lhe diagnosticado Paralisia Cerebral (Hemiparésia Lateral Direita) que lhe afectou a nível motor, assim como o seu desenvolvimento cognitivo. A partir dessa idade iniciamos uma longa caminhada para a reabilitação do Guilherme através de sessões de Fisioterapia, sessões de Hidroterapia e sessões de Terapia Ocupacional.
No início do Ano de 2008 e após ter conhecimento do Programa de Intervenção Precoce, referenciei o Guilherme no Centro de Saúde de Cascais.
No dia 20 de Fevereiro de 2008 o meu filho foi sujeito a uma Avaliação do Desenvolvimento Global de acordo com “The Schedule of Growing Skils”, por 1 Terapeuta e por 2 Educadoras.
Segundo a Avaliação o meu filho apresenta em algumas áreas, um perfil de desenvolvimento abaixo dos parâmetros normais para a sua idade, nomeadamente na cognição, fala, linguagem e visão.
Nesta sequência o Guilherme foi inserido no Programa de Intervenção Precoce no Agrupamento da Alapraia, tendo o apoio de uma Educadora do Ensino Especial.
Iniciámos as sessões com a Educadora no 3.º Período Escolar, tendo o meu filho apoio domiciliário 4h por semana repartidos por 2 dias.
No final do período Escolar, a Educadora elaborou um Relatório Final onde concluiu que:

“O Guilherme é uma criança com Hemiparésia Lateral Direita com sequelas desde a nascença e um consequente atraso significativo. Devido à sua problemática, faz as suas aquisições de forma mais lenta. Apresenta um atraso bastante acentuado nas funções da fala com dificuldade em articular. Verbaliza muito pouco, com reproduções de sons intencionais, repetitivos e por imitação, demonstrando um ritmo inconstante na fluência e ritmo da fala.
Nas funções mentais específicas, revela dificuldades acentuadas nas funções de atenção, nas funções psicomotoras e nas funções mentais da linguagem, pelo que se considera que a continuidade do Apoio da Intervenção Precoce é imprescindível para esta criança e para o seu melhor desenvolvimento.”

Todo o processo do meu filho foi devidamente encaminhado pela Escola – Agrupamento da Alapraia para as Entidades Competentes.
No início do presente Ano Lectivo (15 de Setembro de 2008) entrei em contacto com o Departamento de Educação Especial / Intervenção Precoce onde fui informada que até à presente data o meu filho não tinha ainda uma Educadora designada.
Esta situação devia-se ao facto do Agrupamento da Alapraia ter solicitado à DREL a colocação de 7 Educadoras (o mesmo número do ano anterior) e até à data só ter sido colocada 1.
Aconselharam-me nessa altura para entrar em contacto com a DREL com o Departamento de Educação Especial e expor a minha situação.
Nesse mesmo dia consegui contactar a DREL que contactou o nosso Agrupamento tendo o mesmo confirmado a situação, ainda só tinham 1 Educadora colocada, quando tinham solicitado 7. Informaram-me ainda que a presente situação passava pela Direcção Geral de Recursos Humanos a Educação, pois seria este Departamento que promove a colocação de Professores pelo que deveria aguardar até ao final do mês de Setembro, altura esta em que se pensava que a situação estivesse solucionada.
Hoje e visto estarmos a chegar ao final do mês de Setembro, entrei em contacto novamente com o Agrupamento da Alapraia e qual não foi o meu espanto quando fui informada pela Direcção do Departamento de Educação Especial que a situação se mantinha, continuando a existir somente 1 Educadora das 7 solicitadas à Direcção Geral de Recursos Humanos a Educação.
Face ao exposto:
· O meu filho continua sem Apoio Educativo, não existindo qualquer previsão para o início do mesmo;
· Cerca de 60 crianças, pertencentes a este Agrupamento, com necessidades Educativas Especiais não têm Apoio Educativo por falta de colocação das Educadoras necessárias.
Estranhamente constato que a Educadora que acompanhava o meu filho encontra-se no Fundo de Desemprego, não tendo sido ainda colocada em nenhuma Escola.



Perante tal situação a minha revolta é enorme em pensar que:
· Afinal não somos todos iguais;
· Afinal não temos todos as mesmas oportunidades;
Afinal existem diferenças, entre as crianças normais e as crianças com necessidades Educativas Especiais, apesar do nosso Estado dizer o contrário, sim porque o Ano Lectivo iniciou em 15 de Setembro de 2008, mas foi só para alguns.

Neste caso, o que aconteceu ao art.º 23 da Convenção sobre os Direitos da Criança, que diz:
“No caso de seres deficiente, tens direito a cuidados e educação especiais, que te ajudem a crescer do mesmo modo que as outras crianças.”




Agradeço que publiquem nos vossos blogues e, caso tenham alguma ideia sobre como ajudar esta mãe, não hesitem!
Talvez possamos, juntos, criar onda de solidariedade que venha a derrubar estes "muros"!
Obrigada!