Há 8 meses, no dia 8 de Março estiveram 100 000 professores na rua. Ontem, eram 120 000. A classe tem 140 000 pessoas.
Qualquer pessoa, ainda que não conheça as razões desta revolta, deve perguntar-se: "O que se passa, de tão grave, para virem quase todos protestar?"
A atitude mias cómoda é acreditar no que diz a Ministra da Educação: "Não querem ser avaliados", ou "São manobrados pelos sindicatos".
Os professores estão todos equivocados? Saõ pouco inteligentes e deixam-se manobrar? Estão todos receosos de perder direitos adquiridos?
Os professores sempre foram avaliados. Se o modelo não era o mais correcto, haveria que negociar outro. Mas, sendo uma profissão com características tão peculiares ( não há chefes pq todos têm a mesma formação) teria que se ter pedido o contributo de pessoas conhecedoras da realidade escolar e teria que se ter estudado modelos europeus e fazer adaptações. Em vez disso, pegou-se no modelo de um país de 3º mundo, o Chile, e impôs-se a todas as escolas portuguesas, com o carácter de lei, ou seja, aplique-se! Assim que as escolas tentaram aplicá-lo, depararam-se com situações completamente ilegais, irresolúveis, absurdos, a que a tutela não consegue dar resposta. Apenas insiste: "Avaliem-se uns aos outros!"
O que me revolta não é só a burocracia. Querem afogar-nos em grelhas? Se fosse só isso, pegávamos nas montanhas de grelhas que circulam na net e faziamos copy paste.
O que me indigna e não consigo engolir é esta avaliação inter-pares.
Não tendo recursos para proceder à avaliação de todos os professores, o ministério decidiu abrir um concurso para dividir os professores em "titulares" e "simples professores". Não sabia como dividir-nos, então escolheu o seguinte critério: baseou-se nos últimos 7 anos de docência e atribuiu pontos pelos cargos desempenhados nas escolas.
É aqui que começa o absurdo. Os cargos que sempre existiram nas escolas ( professores que coordenam os seus grupos disciplinares) não se obtinham por mérito!!! Todos tinhamos que os desempenhar, eram rotativos, de 3 em 3 anos havia nova eleição, e eram de aceitação obrigatória.
Eu fui coordenadora do meu departamento, a pessoa que se me seguiu estava no cargo quando foi o concurso. Ela ficou titular-avaliadora e eu fiquei professora-avaliada.
Esqueceram-se, ainda, os senhores do ministério, que há departamentos que englobam várias disciplinas. Passou a haver professores avaliadores de Educação Musical, por exemplo, que, por terem passado a titulares, terão que avaliar colegas de Educação Física ou Educação Visual, sem terem quaisquer conhecimentos científicos dessas disciplinas.
Aqui chegados, pergunta-se à DREL : "Como pode um professor de francês, por exemplo, avaliar um de português?" A resposta deles é : "a avaliação não contempla os aspectos científicos".
Então contempla o quê?????
A relação do professor com os seus alunos??? Mas se em muitos casos ( já que o critério foi aleatório) a pessoa que avalia tem pior relação com os miudos do que a que está a ser avaliada!!!
Outra questão interessante é a seguinte: o minisério, ao fazer esta divisão, legislou que os professores avaliadores seriam eles também avaliados por inspectores. Não conseguiu ( custa dinheiro) formar inspectores avaliadores. Logo, esses colegas, que estão ao nosso lado, têm exactamente a mesma formação que nós, não serão avaliados!
Nesta trapalhada toda, as questões importantes são as seguintes:
Quem avalia quem?
O que se avalia??
Tudo isto é um processo kafkiano que ninguém, no seu perfeito juízo, consegue aceitar!
Os que não são professores preferem nem tentar perceber!
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12 comentários:
O problema da avaliação de professores que,tal como está, te aflige revela,não há dúvida, um certo autismo da ministra a não querer reconhecer o que está mal e não funciona. Mas, como interrogava Lenin "que fazer"?Parar?Seguir outro?E esse outro teria a provação de professores e sindicatos!Tal como está é a quadratura do círculo. Tu tens razão nos teus argumentos, 120 professores idem, a ministra não recua porque não há caminho alternativo...quem aponta outro caminho?Não vejo ninguém
O que eu gostava que me dissessem ( os não professores) era se entendem o que eu contesto neste modelo.
As questões são as seguintes:" Quem avalia quem?" e "O que se avalia com este modelo?"
Ao leres o que escrevi, consegues responder a estas 2 perguntas?
Os professores sempre foram avaliados. Quando a minstra diz que há 30 anos que não o são, é MENTIRA!
Podemos não concordar com o modelo e propôr outro, não se pode é impingir este monstro que não tem pés nem cabeça.
A questão da avaliação de profs é debatida há muito tempo, há países europeus com modelos menos absurdos.
Tem que se parar para pensar, e dar voz a quem faça um estudo da nossa realidade portuguesa.
A dificuldade vem de ser uma profissão horizontal, onde todos têm a mesma formação. Não há comparações com empresas.
Isto como está. uns colegas a avaliarem outros sem terem mais competênica do que eles, é uma monstruosidade. Se fosse aplicado numa empresa, andariam todos "aos tiros"
Eu não tenho competência para me pronunciar mas acho que este modelo foi inspirado em qualquer lugar, não saiu da cabeça da ministra do nada. Agora, de facto, o descontentamento generalizado da classe e o autismo da ministra estão a conduzir a um beco sem saída.É lamentável!
Este modelo foi decalcado do modelo de avaliação de professores no Chile.
Se estiveres interessada, envio-te isso por email
Um texto genialmente escrito e sentido por quem vive para a Educação, pois dela poucos viverão.
Abraço
Muito obrigada, Delfim!
Não podemos deixar morrer aquilo por que temos lutado toda a vida! Uma escola de qualidade, onde alunos e professores possam ter um ambiente propício para aprender.
Ultimamente, o que vejo nas caras de todos os colegas é exaustão e desilusão...
Isto tem que mudar...
Olá reb, após um longo período de ausência (espero que me perdoes) :p...
É verdade que os professores conseguiram este fim de semana um excelente poder de mobilização (vamos apontar que os números são elevados, talvez não aqueles que foram revelados (também os havia no meio da multidão os não-professores, maridos, filhos vizinhos e amigos), mas sem dúvida foram demasiados professores, que deve fazer qualquer cidadão pensar!
Estado por fora, posso reconhecer que o método pode não ser o mais ideal, pode ser burocrático, pode até não ser realista, não quero entrar nesse campo pois daria-nos pano para mangas...
A questão está em tomar uma posição, nunca vi um único professor apresentar uma solução sensata para a avaliação dos professores, mais rigorosa, menos burocrática e, acima de tudo, mais justa. Que pretendem os professores? Manter tudo como está? Todos nós que fomos alunos já tivemos muitos professores, uns bons, outros medianos e algum absolutamente incompetentes! E custa saber que bons professores, que se aplicam, que transmitem os conhecimentos de forma sólida são ultrapassados na carreira por outros que são absolutamente incompetentes, mas como pertencem à mobília...
Percebes o que quero dizer? Temos os professores como uma classe culta, e como tal absolutamente capazes de apresentar soluções alternativas credíveis! Não basta dizer que não queremos, temos de apresentar propostas melhores, se não as apresentamos, então vamo-nos deixar de sermos uns velhos do Restelo a tentar resistir à mudança! Porque no ensino as coisas estão mal, e forçar a que fiquem na mesma não é solução!
Eu sei que me vais matar depois disto, mas tinha de (re)entar a matar :D
Nuno, no ensino as coisas estão muito pior netes ultimos 3 anos. Não tenhas dúvidas! Agora todos os alunos passam de ano, não existe diferença entre faltas justificadas e injustificadas ( novo estatuto do aluno), o que interessa é apresentar estatísticas de sucesso ( exigencia de bruxelas). Os profs mais velhos ( mas ainda muito competentes e cultos) reformaram-se ( reforma antecipada com penalizações salariais), são substituidos por profs que ganham menos ( vantagem para o minsiterio) mas que já nem passaram pela universidade ( formados para a docencia nas Escolas Superiores de Educação).
Na escola, reina a confusão total: sem tempo para reuniões sobre aulas, todo o tempo não lectivo se transformou em reuniões para tentar analisar leis e despcahos que contradizem as mesmas leis.
Quem nos devia avaliar? Professores universitários com formação superior nas nossas áreas científicas.
Eu gostava de fazer exame. Muitos pensam como eu. Seria um estímulo. Obrigava-me a investigar, a actualizar-me.
Não aceito ser avaliada por colega ao meu nivel. Calhou ser ela a avaliadora, podia ter-me calhado a mim, bastava que o concurso tivesse sido 2 anos antes, quando eu era a coordenadora do departamento de línguas.
Repara que, mesmo assim, estou beneficiada por não ser avaliadora. A minha colega tem que avaliar 12 professores, todos no mesmo patamar que ela e ainda preparar as aulas dos seus alunos.
Isto é o maior absurdo da história e, não tenhas dúvidas, vai cair de podre. Ninguém, no seu perfeito juizo, pode aceitar. Neste momento, já não temos nada a perder. Nunca na minha vida vi a classe docente tão unida!
Bjs
Essa coisa de dizer que muitos dos manifestantes não eram professores só pode ser piada :)
Estavam praticamente todas as escolas do país representadas com faixas identificadoras. Estás a ver alguém que, não sendo prof, apanhasse uma camioneta às 6 da manhã em braga para se vir manifestar em lisboa e regressar ao fim do dia? ;)
Se há pessoas assim tão solidárias connosco, fico muito felizzz! :)
Não sou pref.,e neste momento se fosse. estaria na manisf. e a seguir a tratar de me rsformar.
Só não fui á manifestação dos pref.por não poder andar,Os senhores que esão no poder nâo estão preocupados com a formação dos novos cidadões de amanhã,e não querem união nos pref. é a caça as bruchas,e segundo o acordo ortográfico feito pelos mesmos deveria ter escrito (caca em vez de caça)! desculpe o desabafo neste momento nem eu sei escrever portug. Já agora como avaliar prefos. com 32 alunos e que destes só 4 são e falam português...Beij. com muito carinho força e a luta continua!
A vossa luta é digna não vos queiram comparar aos funcionáris Publicos sentados nas repartç. sem desprimor para eles. O prefessor é em tem uma grande responsabilidade de o Homem e da Mulher no Amanhã!
Obrigada pelas suas palavras, avó Maria :)
um beijinho para si!
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