Um dia ouvi esta frase: "Não se pode viver sem poesia e sem filosofia!"
Escutei, acenei em sinal de confirmação e nada acrescentei. Às vezes, não é preciso explicar nada. O resto passa-se no interior. A mente divaga ou não. Alguma emoção aparece quando se ouve, da boca de outra pessoa, o que poderia ter saído da nossa...
domingo, 31 de agosto de 2008
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
A maquinaria das emoções e a neurologia do sentir
Sempre me interessei mais por psicologia do que por neurociências. Foi com a leitura dos livros do Damásio, acessíveis a leigos como eu, que constatei que as investigações nesta área, com a utilização da neuroimagem vêm confirmar que há um registo neurológico ( embora ainda pouco estudado) dos processos psíquicos de que Freud falava na sua extensa obra. A sua investigação foi tão exaustiva e baseada em postulados cientificos, que reclamou para a psicanálise o estatuto de "Ciência do inconsciente".
Damásio , no livro que ando a ler, reonhece estes ensinamentos, referindo "...a nossa gratidão para Freud" e afirmando-se como herdeiro dos "testamentos intelectuais de Darwin e Freud".
A sua investigação incide na observação da "maquinaria cerebral" desencadeada pelas emoções e, numa outra zona do cérebro, dos sentimentos. A parte mecânica interessará mais a médicos, mas é curiosa a hipótese que vai colocando, partindo da definição de emoção como uma "alteração temporária do estado do corpo e do estado das estruturas cerebrais que mapeiam o corpo e suportam o pensamento", e sugerindo que a educação teria com principal finalidade "interpor uma etapa de avaliação não-automática entre os objectos que podem causar emoções e as respostas emocionais. Esta modulação é uma tentativa de acomodar as nossas respostas emocionais aos ditames da cultura."
Estabelecendo um paralelo com a teoria psicanalítica, Freud introduziu o conceito de "pulsão".
"Freud escolheu o termo pulsão e não instinto para se libertar de todas as conotações comportamentais e constitucionais que este último termo tinha herdado das correntes psicológicas e filosóficas do sec. XIX. O conceito de pulsão representa uma das peças mestras do corpus teórico analítico e situa-se na fronteira entre corpo e psique."
"A fonte da pulsão, com efeito, indica por um lado a zona corporal onde nasce a excitação e, por outro, a energia psíquica que nela se encontra qualitativa e quantitativamente investida."
"A representação pulsional corresponde ao traço sensorial interno da experiência da gratificação..." "O afecto pulsional é o estado emocional, a ressonância afectiva que acompanha a representação precedente" ( in Psicanálise, de Alain de Mijolla)
Damasio mostra como tudo isto se processa nas "regiões somatossensitivas principais, desde o nível do tronco cerebral ao do cortex cerebral."
Damásio , no livro que ando a ler, reonhece estes ensinamentos, referindo "...a nossa gratidão para Freud" e afirmando-se como herdeiro dos "testamentos intelectuais de Darwin e Freud".
A sua investigação incide na observação da "maquinaria cerebral" desencadeada pelas emoções e, numa outra zona do cérebro, dos sentimentos. A parte mecânica interessará mais a médicos, mas é curiosa a hipótese que vai colocando, partindo da definição de emoção como uma "alteração temporária do estado do corpo e do estado das estruturas cerebrais que mapeiam o corpo e suportam o pensamento", e sugerindo que a educação teria com principal finalidade "interpor uma etapa de avaliação não-automática entre os objectos que podem causar emoções e as respostas emocionais. Esta modulação é uma tentativa de acomodar as nossas respostas emocionais aos ditames da cultura."
Estabelecendo um paralelo com a teoria psicanalítica, Freud introduziu o conceito de "pulsão".
"Freud escolheu o termo pulsão e não instinto para se libertar de todas as conotações comportamentais e constitucionais que este último termo tinha herdado das correntes psicológicas e filosóficas do sec. XIX. O conceito de pulsão representa uma das peças mestras do corpus teórico analítico e situa-se na fronteira entre corpo e psique."
"A fonte da pulsão, com efeito, indica por um lado a zona corporal onde nasce a excitação e, por outro, a energia psíquica que nela se encontra qualitativa e quantitativamente investida."
"A representação pulsional corresponde ao traço sensorial interno da experiência da gratificação..." "O afecto pulsional é o estado emocional, a ressonância afectiva que acompanha a representação precedente" ( in Psicanálise, de Alain de Mijolla)
Damasio mostra como tudo isto se processa nas "regiões somatossensitivas principais, desde o nível do tronco cerebral ao do cortex cerebral."
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Racismo....causas
Sempre encarei o racismo numa perspectiva social. Se num continente, o homem evoluiu mais do que noutro ( em termos de descobertas científicas), passou a olhar para o homem do outro continente como inferior. Se este 1º homem era branco, julgou existir alguma superioridade na sua raça relativamente às outras. Estes sentimentos ( emoções) tenderiam a desaparecer qdo o homem negro ( o racismo mais evidente no ocidente é entre brancos e africanos) deixasse de ser subalterno do branco. ( Obama, salva-nos do racismo!!)
Acabei de ler, no nosso Damásio, uma explicação ainda mais ancestral para o fenómeno do racismo. Falando da "biologia das emoções", refere-se, desta forma, às emoções que estão na origem dos preconceitos raciais:
"Estou a pensar nas reacções que levam a preconceitos raciais e culturais e que se baseiam em emoções sociais cujo valor evolucinário residia no detectar de diferenças em outros indivíduos _ porque essas diferenças eram indicadoras de perigos possíveis_ e no promover de agressão ou retraimento. Este tipo de reacções deverá ter produzido resultados extremamente úteis numa sociedade tribal, mas não é aceitável no mundo actual. É evidente que é importante saber que os nosso cérebros continuam equipados com a maquinaria biológica que nos leva a reagir de um modo ancestral, ineficaz e e inaceitável, em certas circunstâncias. Precisamos de estar alerta para esse facto e aprender a controlar essas reacções individualmente na sociedade em que vivemos."
in "Ao encontro de Espinosa", António Damásio
Acabei de ler, no nosso Damásio, uma explicação ainda mais ancestral para o fenómeno do racismo. Falando da "biologia das emoções", refere-se, desta forma, às emoções que estão na origem dos preconceitos raciais:
"Estou a pensar nas reacções que levam a preconceitos raciais e culturais e que se baseiam em emoções sociais cujo valor evolucinário residia no detectar de diferenças em outros indivíduos _ porque essas diferenças eram indicadoras de perigos possíveis_ e no promover de agressão ou retraimento. Este tipo de reacções deverá ter produzido resultados extremamente úteis numa sociedade tribal, mas não é aceitável no mundo actual. É evidente que é importante saber que os nosso cérebros continuam equipados com a maquinaria biológica que nos leva a reagir de um modo ancestral, ineficaz e e inaceitável, em certas circunstâncias. Precisamos de estar alerta para esse facto e aprender a controlar essas reacções individualmente na sociedade em que vivemos."
in "Ao encontro de Espinosa", António Damásio
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Kafka
Ao ler "Carta ao pai" do Kafka, compreende-se melhor a mente labiríntica do autor de "Processo" e "Metamorfose"...
sábado, 23 de agosto de 2008
Back to town...
E agora?
Passar um mês a "vadiar", sem relógio, ao sabor do que apetece, sem outras obrigações além das refeições sempre fáceis... perto do mar (revolto numa costa, tranquilo na outra)... um mês a saborear tudo como da primeira vez, e a descobrir sempre coisas novas naquelas que conhecemos de cor...
Chega-se a casa e começa a aparecer aquela dor fininha das despedidas. Só de pensar em retomar a rotina do despertador e tudo o que se lhe segue ao longo de um dia de trabalho dá um aperto cá dentro...
Sim, gosto do meu trabalho ( mais de umas coisas que de outras)...mas nada se compara à LIBERDADE de não ter nada urgente para fazer e poder "perder" tempo a sentir que se gosta, que se está. É bom estar e deixar as coisas bonitas tocarem-nos. Apreciar...
A reorganização vai levar o seu tempo. Sou lentinha :)
Passar um mês a "vadiar", sem relógio, ao sabor do que apetece, sem outras obrigações além das refeições sempre fáceis... perto do mar (revolto numa costa, tranquilo na outra)... um mês a saborear tudo como da primeira vez, e a descobrir sempre coisas novas naquelas que conhecemos de cor...
Chega-se a casa e começa a aparecer aquela dor fininha das despedidas. Só de pensar em retomar a rotina do despertador e tudo o que se lhe segue ao longo de um dia de trabalho dá um aperto cá dentro...
Sim, gosto do meu trabalho ( mais de umas coisas que de outras)...mas nada se compara à LIBERDADE de não ter nada urgente para fazer e poder "perder" tempo a sentir que se gosta, que se está. É bom estar e deixar as coisas bonitas tocarem-nos. Apreciar...
A reorganização vai levar o seu tempo. Sou lentinha :)
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Back to black
Estou há 2 dias a ouvir o último álbum da Amy Winehouse. Comprei os dois: "Frank" e "Back to black". Comecei pelo último e ainda não o consegui largar.
Conhecia algumas músicas, mas nunca a tinha ouvido a sério. Este desejo de a conhecer melhor veio depois de ler uma biografia dela que encontrei.
Quem é esta jovem de 20 e poucos anos que compõe e canta com uma tal profundidade que parece esconder, naquele corpo frágil, a sabedoria e experiência de uma mulher muito mais velha?
Li que os c.d.s dela foram gravados em várias partes do mundo: E.U.A, América Latina. O resultado final é uma fusão de vários sons, de várias épocas, de vários estilos. Mas as músicas são todas dela. E a voz ( aquela voz negra que invade e se expande sem qualquer esforço)...aquela voz é tão forte, tão de dentro que se fica arrepiado...
Há a questão das letras com que muitas pessoas se chocam. A mim, parecem-me páginas de um diário, escritas com aquela dor sem lágrimas. Têm a honestidade, o humor, a provocação daquelas pessoas a quem não se pode dar conselhos. O "BACK TO BLACK" foi feito ao longo de meses de dor. O namorado tinha -a deixado para voltar para a ex. Que pessoas são capazes de transformar o sofrimento em criatividade?
Na altura em que este disco foi produzido, a Amy ainda não estava no fundo do poço. Estará a caminhar para lá a passos largos? Não sei....espero que não.
A música da Amy é genial! O que ali está é ela. Não há truques, não há dissimulações. Há uma verdade incrível! Ouve-se aquela voz, lêem-se aquelas letras e fica-se a conhecê-la.
Penso que há pessoas que nascem especiais...o resto, o mundo à volta, o meio em que crescem...faz o resto...
A Amy é uma pessoa dessas...
Conhecia algumas músicas, mas nunca a tinha ouvido a sério. Este desejo de a conhecer melhor veio depois de ler uma biografia dela que encontrei.
Quem é esta jovem de 20 e poucos anos que compõe e canta com uma tal profundidade que parece esconder, naquele corpo frágil, a sabedoria e experiência de uma mulher muito mais velha?
Li que os c.d.s dela foram gravados em várias partes do mundo: E.U.A, América Latina. O resultado final é uma fusão de vários sons, de várias épocas, de vários estilos. Mas as músicas são todas dela. E a voz ( aquela voz negra que invade e se expande sem qualquer esforço)...aquela voz é tão forte, tão de dentro que se fica arrepiado...
Há a questão das letras com que muitas pessoas se chocam. A mim, parecem-me páginas de um diário, escritas com aquela dor sem lágrimas. Têm a honestidade, o humor, a provocação daquelas pessoas a quem não se pode dar conselhos. O "BACK TO BLACK" foi feito ao longo de meses de dor. O namorado tinha -a deixado para voltar para a ex. Que pessoas são capazes de transformar o sofrimento em criatividade?
Na altura em que este disco foi produzido, a Amy ainda não estava no fundo do poço. Estará a caminhar para lá a passos largos? Não sei....espero que não.
A música da Amy é genial! O que ali está é ela. Não há truques, não há dissimulações. Há uma verdade incrível! Ouve-se aquela voz, lêem-se aquelas letras e fica-se a conhecê-la.
Penso que há pessoas que nascem especiais...o resto, o mundo à volta, o meio em que crescem...faz o resto...
A Amy é uma pessoa dessas...
domingo, 10 de agosto de 2008
...são lágrimas de Portugal...
Somos um país pequeno? Sim, a área terrestre não é grande...mas temos a maior zona marítima da Europa.
Em férias, todos nos viramos para o mar. Temos uma costa soberba, praias maravilhosas, areia fina. O mar acompanha-nos ao longo da vida. Todo o português tem o mar na alma.
Mas.... o nosso mar devia ser mais do que isso. Devia ser a nossa principal riqueza. Não temos petróleo, temos oceano!
Por que investimos tão pouco no nosso mar? Por que lhe viramos as costas? Por que razão, com a integração europeia, fizemos apenas uma aposta continental?
Em Bruxelas está um Português que, há 1 década ( desde a expo-98 dedicada aos oceanos), luta para que Portugal tenha um papel importante na Política Marítima Europeia. Chama-se Tiago Pitta e Cunha e deu uma entrevista ao EXPRESSO sobre o seu trabalho. Gostei de saber...
"Quandi fiz um mestrado em Londres, um professor, ao saber que eu era português, disse-me que ficava surpreendido por não ter mais alunos lusos, pq Portugal possuia a maior Zona Económica Exclusiva da Europa. Fiquei completamente abalado por estas palavras, foi um despertar para as matérias do mar, pq cresci num país que toda a vida me foi apresentado como sendo pequenino, sem outros recursos a que se agarrar senão aos fundos europeus."
"Portugal deve ter projectos nacionais próprios onde se possa diferenciar. Temos de encontrar as nossas áreas de mais-valia, onde possamos ser melhores, pq em termos geográficos temos excelentes condições..."
"Temos de articular muito mais a actividade dos ministérios com impacto no mar, mas de forma moderna, integrada... A iniciativa privada tb deve organizar-se para investir no mar. E é aqui que
a Política Marítima Europeia pode ter um papel fundamental, já que em Bruxelas se começa a investir nesta matéria..."
O parágrafo que se segue sintetiza o essencial do pensamento deste português de Bruxelas:
"Portugal tem um enorme vazio de concertação estratégica, de pensamentos virados para o futuro, de visão. E sem isso imperam cada vez mais os interesses de grupo. Para mobilizar as pessoas é preciso ideias muito fortes e duvido que exista uma ideia mais forte que esta de Portugal ser um país especializado no mar e líder nesta área. Devemos ser líderes nalguma coisa e o mar podia ser o nosso contributo para o projecto europeu."
Pela minha parte, estou 100% de acordo com esta visão!
Tomara que o trabalho deste homem seja conhecido e reconhecido...
Em férias, todos nos viramos para o mar. Temos uma costa soberba, praias maravilhosas, areia fina. O mar acompanha-nos ao longo da vida. Todo o português tem o mar na alma.
Mas.... o nosso mar devia ser mais do que isso. Devia ser a nossa principal riqueza. Não temos petróleo, temos oceano!
Por que investimos tão pouco no nosso mar? Por que lhe viramos as costas? Por que razão, com a integração europeia, fizemos apenas uma aposta continental?
Em Bruxelas está um Português que, há 1 década ( desde a expo-98 dedicada aos oceanos), luta para que Portugal tenha um papel importante na Política Marítima Europeia. Chama-se Tiago Pitta e Cunha e deu uma entrevista ao EXPRESSO sobre o seu trabalho. Gostei de saber...
"Quandi fiz um mestrado em Londres, um professor, ao saber que eu era português, disse-me que ficava surpreendido por não ter mais alunos lusos, pq Portugal possuia a maior Zona Económica Exclusiva da Europa. Fiquei completamente abalado por estas palavras, foi um despertar para as matérias do mar, pq cresci num país que toda a vida me foi apresentado como sendo pequenino, sem outros recursos a que se agarrar senão aos fundos europeus."
"Portugal deve ter projectos nacionais próprios onde se possa diferenciar. Temos de encontrar as nossas áreas de mais-valia, onde possamos ser melhores, pq em termos geográficos temos excelentes condições..."
"Temos de articular muito mais a actividade dos ministérios com impacto no mar, mas de forma moderna, integrada... A iniciativa privada tb deve organizar-se para investir no mar. E é aqui que
a Política Marítima Europeia pode ter um papel fundamental, já que em Bruxelas se começa a investir nesta matéria..."
O parágrafo que se segue sintetiza o essencial do pensamento deste português de Bruxelas:
"Portugal tem um enorme vazio de concertação estratégica, de pensamentos virados para o futuro, de visão. E sem isso imperam cada vez mais os interesses de grupo. Para mobilizar as pessoas é preciso ideias muito fortes e duvido que exista uma ideia mais forte que esta de Portugal ser um país especializado no mar e líder nesta área. Devemos ser líderes nalguma coisa e o mar podia ser o nosso contributo para o projecto europeu."
Pela minha parte, estou 100% de acordo com esta visão!
Tomara que o trabalho deste homem seja conhecido e reconhecido...
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
As palavras que nunca direi...
As grandes obras de arte são desprovidas de censura...
O que nos toca qdo lemos um bom livro, observamos um quadro ou ouvimos uma música forte é a VERDADE do que ali está expresso. O autor de uma grande obra "fala-nos" de dentro, tem acesso a regiões que nos são, regra geral, interditas, e tem a lucidez de as exprimir de uma forma que, embora absolutamente individual, tem algo de comum a todos nós.
Um artista não sofre de auto-censura, de superego vigilante. Não é politicamente correcto.
O pensamento, enqto racionalização das nossas emoções é muito útil. É um recurso da nossa inteligência que nos permite aprender, crescer e evoluir. É relativamente fácil discursar sobre sentimentos, escrever ensaios, críticas, análises.
Difícil é levantar a âncora e criar. Gosto de ler auto-biografias de pessoas que conhecemos apenas através da obra. A descrição que fazem do processo criativo parece-me um acto exaustivo, de entrega emocional, de comunicação entre o sentimento e a forma de o exprimir.
Lembro-me de ler uma descrição do F.P. sobre a "fúria criativa" que o fazia escrever poemas inteiros de pé, ao chegar a casa....por nem ter tempo de se sentar.
Por mergulharem em zonas sub-conscientes ( ou serão inconscientes?) os grandes autores tornam-se intemporais. Conseguem comunicar com pessoas de várias gerações, ao longo de séculos. Têm acesso à verdade que nos escapa. São também, julgo, menos adaptados do que nós às regras do viver em sociedade. Talvez não tolerem a mentira, a máscara que todos temos que usar para sobreviver. Talvez sejam pessoas com uma sensibilidade parecida com a das crianças...
O que nos toca qdo lemos um bom livro, observamos um quadro ou ouvimos uma música forte é a VERDADE do que ali está expresso. O autor de uma grande obra "fala-nos" de dentro, tem acesso a regiões que nos são, regra geral, interditas, e tem a lucidez de as exprimir de uma forma que, embora absolutamente individual, tem algo de comum a todos nós.
Um artista não sofre de auto-censura, de superego vigilante. Não é politicamente correcto.
O pensamento, enqto racionalização das nossas emoções é muito útil. É um recurso da nossa inteligência que nos permite aprender, crescer e evoluir. É relativamente fácil discursar sobre sentimentos, escrever ensaios, críticas, análises.
Difícil é levantar a âncora e criar. Gosto de ler auto-biografias de pessoas que conhecemos apenas através da obra. A descrição que fazem do processo criativo parece-me um acto exaustivo, de entrega emocional, de comunicação entre o sentimento e a forma de o exprimir.
Lembro-me de ler uma descrição do F.P. sobre a "fúria criativa" que o fazia escrever poemas inteiros de pé, ao chegar a casa....por nem ter tempo de se sentar.
Por mergulharem em zonas sub-conscientes ( ou serão inconscientes?) os grandes autores tornam-se intemporais. Conseguem comunicar com pessoas de várias gerações, ao longo de séculos. Têm acesso à verdade que nos escapa. São também, julgo, menos adaptados do que nós às regras do viver em sociedade. Talvez não tolerem a mentira, a máscara que todos temos que usar para sobreviver. Talvez sejam pessoas com uma sensibilidade parecida com a das crianças...
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