quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A maquinaria das emoções e a neurologia do sentir

Sempre me interessei mais por psicologia do que por neurociências. Foi com a leitura dos livros do Damásio, acessíveis a leigos como eu, que constatei que as investigações nesta área, com a utilização da neuroimagem vêm confirmar que há um registo neurológico ( embora ainda pouco estudado) dos processos psíquicos de que Freud falava na sua extensa obra. A sua investigação foi tão exaustiva e baseada em postulados cientificos, que reclamou para a psicanálise o estatuto de "Ciência do inconsciente".

Damásio , no livro que ando a ler, reonhece estes ensinamentos, referindo "...a nossa gratidão para Freud" e afirmando-se como herdeiro dos "testamentos intelectuais de Darwin e Freud".

A sua investigação incide na observação da "maquinaria cerebral" desencadeada pelas emoções e, numa outra zona do cérebro, dos sentimentos. A parte mecânica interessará mais a médicos, mas é curiosa a hipótese que vai colocando, partindo da definição de emoção como uma "alteração temporária do estado do corpo e do estado das estruturas cerebrais que mapeiam o corpo e suportam o pensamento", e sugerindo que a educação teria com principal finalidade "interpor uma etapa de avaliação não-automática entre os objectos que podem causar emoções e as respostas emocionais. Esta modulação é uma tentativa de acomodar as nossas respostas emocionais aos ditames da cultura."

Estabelecendo um paralelo com a teoria psicanalítica, Freud introduziu o conceito de "pulsão".
"Freud escolheu o termo pulsão e não instinto para se libertar de todas as conotações comportamentais e constitucionais que este último termo tinha herdado das correntes psicológicas e filosóficas do sec. XIX. O conceito de pulsão representa uma das peças mestras do corpus teórico analítico e situa-se na fronteira entre corpo e psique."
"A fonte da pulsão, com efeito, indica por um lado a zona corporal onde nasce a excitação e, por outro, a energia psíquica que nela se encontra qualitativa e quantitativamente investida."
"A representação pulsional corresponde ao traço sensorial interno da experiência da gratificação..." "O afecto pulsional é o estado emocional, a ressonância afectiva que acompanha a representação precedente" ( in Psicanálise, de Alain de Mijolla)
Damasio mostra como tudo isto se processa nas "regiões somatossensitivas principais, desde o nível do tronco cerebral ao do cortex cerebral."

3 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito de ler o teu texto mas ao mesmo tempo pequenina para o comentar; li uma lição e não um tema para debate.

reb disse...

Como abrir portas ao debate sobre pesquisas científicas?
A mim, o que me está a agradar na leitura deste livro do damásio é a confirmação noutro registo( o nuerológico, captado pelas neuroimagens) daquilo que já tinha lido, anteriormente, qdo me interessei pelo Freud. Ou seja, há zonas obscuras, inconscientes, onde se processam coisas que não controlamos. O Damásio investiga a nossa "maquinaria obscura" e distingue emoções de sentimentos, considerando que todos os objectos nos provocam emoções ( não há objectos inocentes, segundo ele) e que os sentimentos ( que ele compreende menos bem) se processam numa outra zona do cérebro mais proxima da zona consciente.
é mto interessante. É giro qdo ele diz que as pessoas costumam dizer :" sinto que compreendo..." em vez de : "penso que compreendo", por haver uma base emocional na compreensão...
Vale a pena ler...

Se tiveres paciência, lê alguma coisa do Freud tb :)

Sun Melody disse...

interessante, neste aspecto estou mais para neurociências do que psicologia, o implante coclear envolve directamente a neuro-ciência e daí a paixão cintilante ferve apenas por enquanto de curiosidade e saciar o conhecimento humano.

Beijinho a ti, estou de regresso, que saudades tive do caos, da agitação e luzes ribaltas da minha bendita cidade com todos os seus inesquecivéis sons dentro de mim.

:)