quarta-feira, 16 de julho de 2008

Artur Anselmo

Há dias ouvi o Prof. Artur Anselmo a falar sobre o "Homem português". Gostei do seu discurso diferente, politicamente incorrecto, sem aquela necessidade que temos de parecer coerentes, compensar defeitos com qualidades. Ia fluindo, era um discurso simples, próprio das pessoas que, depois de muito estudarem e reflectirem, conversam como se estivessem num café com amigos.
Fez-me lembrar o Agostinho da Silva...

Em resposta a uma pergunta sobre o "Rigor dos portugueses", respondeu: "Os portugueses odeiam o rigor. Não têm paciência para coisas que dêm muito trabalho. Sempre foi assim".
"Já o improviso é uma arte dos portugueses. Se for preciso, desenrascam uma coisa de um dia para o outro."

Na altura, ri-me. Isto é tão verdadeiro que existe, em maior ou menor escala, em todos nós.
Há sempre alguma área da vida em que "aldrabamos" alguma coisa, marimbando no rigor e querendo apenas ver a dita coisa feita. Nem que seja a cozinhar ou limpar o pó :)

Basta andar pela estrada para perceber o comportamento do português. Só se não puder é que não passa um sinal vermelho acabadinho de cair...

Quando estive na Alemanha, estranhei algumas diferenças. Se um encontro era marcado para as 8 horas, as pessoas não chegavam às 8.05 e muito menos às 8.15...
Se queria apanhar um autocarro, bastava-me ter o horário, e à hora certa ele estava a passar...

Eu não chamaria a esta nossa falta de rigor defeito ( embora às vezes se torne insuportável), mas antes feitio :)

11 comentários:

Unknown disse...

Sabes que o AA era um tipo completamente do Estado Novo?A verborreira-gira- que debitou não me faz esquecer o que ele foi e creio que não mudou. Falou da República como "República das bananas" e teve o decoro de não elogiar o seu chefe...
Disse coisas engraçadas mas num certo sentido lugares comuns sobre os portugueses.Prefiro outro género de discursos sobretudo se vindas de pessoas mais "limpas" como por exemplo o Agostinho da Silva e a Natália Correia para não falar de muitos outros

ZIB disse...

É tudo uma questão de culturas, no que à educação se refere. Mas nem 8 nem 80. Penso que nem há que ser demasiado estrito com o “rigor”, como os alemães, nem “abandalha-lo”, como acontece com a maioria dos portugueses. Eu, por experiência profissional, porque trabalho para portugueses estando fora de Portugal, posso garantir que é muito stressante. Porque não é 1 nem 2 vezes que os prazos para execução de projectos não são respeitados. É sempre! As datas limites nunca se respeitam, mas depois quem tem que “desenrascar” somos os que estamos “envolvidos”, representando os portugueses e trabalhando com interlocutores que não entendem, nem aceitam, a nossa falta de rigor. Resultado: normalmente acabamos conseguindo desenrascar, mas ficamos mal vistos como povo, o que me dói, e stressados pelo trabalho a dobrar, o fazer o que se tem que fazer + o “improvisar” o “desenrascanso”, tentando encontrar razões plausíveis para que nos aceitem. E o meu trabalho de “intermediária” é em Espanha. Não quero pensar o que seria se estivesse na Alemanha!
Não sei se é defeito ou feitio, mas em qualquer dos casos, torna-se insuportável trabalhar assim, isso posso eu assegurar. E se pudéssemos “educar” os nossos adolescentes para actuar com um pouco mais de rigor em determinadas situações, talvez o nosso país melhorasse em “imagem” e eficiência, e até poderíamos “desenrascar” o país, ganhando credibilidade sobretudo junto dos países que são o nosso oposto e nos vêem como pouco “sérios” para negociar.

reb disse...

Zib, tens toda a razão! Eu tb desespero com as directivas do ministério da educação que, um dia vão num determinado sentido e no dia seguinte vão noutro. Parece que tudo é feito em cima do joelho. Por exemplo: fazem leis e mandam cumprir. Depois, a aplicação torna-se impossivel e as escolas fazem-lhes perguntas. Então eles enviam despachos a contradizer alguns pontos das leis anteriores. No fim, perde-se um tempo infinito a tentar perceber o que eles querem e conclui-se que eles prórpios não sabem...
Imagino o teu constrangimento ao quereres transmitir, perante estrangeiros, uma boa imagem de Portugal.
Mas por que raio somos assim?
Cada geração espera que a próxima seja mais rigorosa, mas eu não vejo nada disso :)
O tal Anselmo que a té diz que era fascista :) foi mto engraçdo a falar da nossa falta de rigor. Falou de um estudo antropológico de alguém cujo nome não fixei, sobre a origem do homem português, o das beiras, que, ao que parece, já era assim :)

Há dias li um tipo que dizia que portugal só se organiza qdo importarmos os gestores da finlândia :)
Eu não me importava de experimentar. Deve ser giro cumprir coisas dentro dos prazos e não esperar sempre meia hora por alguém para começar uma reunião :)

Unknown disse...

eu acho que nós portugalizamos o que é latino...a Zib critica mas não diz o que se passa com certas empresas espanholas sobretudo as sediadas no sul...já trabalhei com uma em Sevilha e vi o que aquilo foi depois de se venderem como impecáveis...em Itália a coisa também não é brilhante...o mário Soares até
diz que somos muito parecidos com eles..
Eu acho que é uma questão de cultura do Norte (rigor, competEncia, calvinismo) versus sul mais solta e desregrada... e que tem a ver até com uma cultura que não prezava muito o trabalho...enfim isto dá pano para mangas

reb disse...

Temo-nos misturado mais com povos do sul do que com os do norte...
Mas deve ter havido épocas em que os casamentos reais se faziam entre cortes da europa e importámos algumas rainhas de inglaterra. Trouxeram algum rigor aos filhos portugueses que educaram? :)

Unknown disse...

Os povos não são propriamente feitos a partir de casamentos das casas reais...embora na nossa História se fale na inglesa Filipa de Lencastre como a grande educadora da ínclita geração que mudou o mundo...os povos estão cá apara baixo e houve bué de cruzamentos...por isso dizer como AA que há um homem português tipo é uma desonestidade intelectual...nós somos as tais circunstâncias e que foram a Igreja católica (com a estúpida expulssão dos judeus que eram a elite da nação, a Inquisição,50 anos de fascismo a iletracia, a a falta de indústria o aban dono dos campos etc e tal Mas hoje estamos diferentes, até mais altos e disciplinados embora haja de facto um lastro de ignorãncia muito forte que vai levar gerações a desaparcer...mas recuso veemente que o português seja considerado inferior.Em certas áreas até estamos a dar cartas...temos de ter auto-estima e fugir dos estereotipos que nos fazem desorganizados e burlões.

reb disse...

Sermos pouco rigorosos não faz de nós inferiores. Talvez faça de nós pessoas com imaginação e capacidade de improviso. Temos características que faltam aos povos do norte.
O que se passa é que, no mundo em que vivemos, o que é valorizado é a ambição, a competição e a tal competência estratégica. Temos que ser iguais aos do norte porque temos que ser competitivos.
Mas se o mundo se regesse por outros valores, provavelmente tinhamos cartas para dar ( como já tivemos, qdo o objectivo era aventuramo-nos pelos mares e misturarmo-nos com outros povos).
É um facto que somos bons em algumas coisas: informática, energias alternativas...mas talvez nessas áreas trabalhemos com os tais povos do norte da europa, não será?

Os nosso cruzamentos foram sempre com pessoas do sul que, tal como nós, têm outro espírito.
Imaginas algum país de áfrica a conseguir ter um desenvolvimento semelhante ao dos países do "1º mundo"?

Claro, há a nossa história, os erros da nossa história....mas os alemães partiram do nada depois das guerras e voltaram a ser uma potência...
Há coisas culturais, estruturais em cada povo.
Não somos melhores nem piores, mas tens que admitir que somos diferentes...

Unknown disse...

Admito que sejamos diferentes.Há loiros e morenos...e que há é características específicas em cada povo.Características que têm a v er com N factores.Mas uma coisa é certa. Se algumas dessas características até nos podem valorizar como a criatividade e o desenrascanço outros só nos podem prejudicar e temos de abdicar delas se queremos fazer alguma coisa e não apenas apontar os valores negativos da sociedade de consumo. Se tiveres um projecto seja ele qual for as pessoas têm de ser responsabilizadas por datas, cumprimento de objectivos,etc e tal. De que serve sermos soltos e imaginativos se não cumprirmos metas, se chagarmos tarde a tudo?Para o bem e para o mal temos de mudar embora não advogue que percamos os nosso sonhos e nos tornemos iguais aos outros...somos portugueses, temos orgulho nisso agora não queiramos que algumas das nossas características perdurem neste mundo tão complexo!

reb disse...

Pois é, mas mudar é dificil...

por que é que os portugueses no estrangeiro trabalham bem e cá se desleixam?
Toda a gente fala bem dos nossos emigrantes...
Se calhar, precisaremos sempre de bons gestores, será isso?

Pela minha parte, adorava que o ministro da educação fosse finlandês :))
Adorava trabalhar numa escola onde as linhas fossem claras e todos as compreendessem bem.
Falo de escolas pq é a realidade que conheço...mas imagino que todas as pessoas gostassem de trabalhar em sitios organizados com regras bem definidas. Produzia-se mais em menos tempo, isso de certeza.
Como mudar esta mentalidade sem perder as boas caracteristicas que são tão apreciadas...?

Parece um lugar comum dizer que o clima influencia as pessoas, mas tem muita importância. Com este calor, e sem ar condicionado, trabalhar é um martírio. Imagino os pobres dos finlandeses a viverem 6 meses de noite, se não fosse o trabalho davam em doidos :)

ZIB disse...

É pá, este tema dá mesmo pano para mangas!
Pelo que vejo, todos temos orgulho de ser portugueses e gostamos dessa nossa típica característica do desenrascanço, que aguça a imaginação/criatividade. Mas pelo que vejo, todos criticamos a falta de rigor e reconhecemos que, para avançar e progredir como país, nesta era da globalização, com tanta competitividade a pressionar-nos, necessitamos mudar. E o problema é esse. Como poderemos dar uma imagem de rigor se continuamos a investir no desenrascanço, porque lhe achamos piada? Porque não creio que seja intrínseco ao nosso povo, já que, como diz a Reb, é verdade que os nossos emigrantes têm fama de bons trabalhadores, bons gestores, cumpridores. Porque quando se rodeiam de outras gentes, trabalham de outra maneira, quer sejam chefes ou subordinados. E não é só porque tenham superiores rigorosos. É porque respiram outro ambiente e necessitam integrar-se, e por isso se esforçam. E a facilidade de nos integramos (que deve vir do nosso espírito aventureiro), é uma das nossas melhores características. Não creio que só por ter um chefe “finlandês”, o “portuga desenrasca” mude. Tem que haver uma educação, tem que se criar um clima propício desde muito cedo, porque temos que aprender a responsabilizar-nos dentro, para que nos respeitem fora.
E Té, é verdade que no sul de Espanha, geralmente parecem-se mais a nós no que respeita à falta de rigor. Acho que o clima tem muita importância (vide diferenças nos níveis de produtividade dos países do norte e do sul). Mas olha que se têm esforçado, porque têm uma das indústrias de aeronáutica mais importantes da Europa. E esta não é precisamente uma indústria que admita falta de rigor na produtividade e exportação.
E agora, para quando um Ministério de Educação que comece a actuar internamente com rigor, para poder preparar as novas gerações para vivermos num país mais responsável e rigoroso, mas sem deixar de ser criativo?

reb disse...

Zib, tens toda a razão no que dizes, mas eu não vejo isto a mudar no campo da educação. Ultimamente, por pressão da união europeia, tivemos que melhorar as estatísticas de sucesso nas escolas. E como foi isso feito? Pela lei do desenrasque. Tinhamos que inverter a tendência num ano lectivo. Como é isso possivel? Só com medidas de fundo se invertem caminhos. A medida foi esta: é "proibido" reprovar meninos. O ministério acenou com o papão: os docentes serão avaliados pelos resultados dos seus alunos. Na minha escola, onde os alunos provêm de meios sociais mto carentes a todos os niveis,onde faltam muito às aulas, etc, houve mais de 80 % de sucesso este ano!
É a maior fraude que já vi!
O que transmitimos aos alunos? Que o esforço não compensa: tanto faz que se apliquem ou não, o resultado é sempre o mesmo. Todos passam!
Eu, como professora e como adulta, sinto vergonha desta atitude perante os meus alunos. Várias vezes os oiço dizer: "já sabemos que no final vai passaar tudo!"
Se acrescentares a isto o facto de as faltas terem deixado de contar, há muitoa alunos que só vão às aulas qdo querem e às disciplinas que querem.... e passam!
O insucesso em matemática era gigantesco. O que se fez este ano? Exames de matemática tão fáceis (9º e 12º ano) que os proprios miudos comentaram, vi-os a ser entrevistados na T.V., que o exame era muito mais fácil do que os testes que os professores lhes tinham dado ao longo do ano.
Achas que estamos a treiná~los para o rigor?
Não! Estamos a treiná-los para serem "chicos-espertos", para saberem como dar a volta ao sistema, sem o menor esforço...

Isto entristece-me e é por isso que adorava ter a experiência de ter um ministério da educação composto por finlandeses:)
O sistema de ensino deles é de um investimento ( desde o principio da escolaridade) tão simples, tão inteligente e tão fácil de aplicar, que me dá inveja :)
SÓ nisso ( em organização e estabelecimento de metas a médio-prazo)...qto ao resto, adoro os portugas imaginativos, simpaticos e genuínos( nem todos) :))