sexta-feira, 4 de julho de 2008

A ética dos negócios

Excerto de um livro do filósofo Jean-Pierre Dupuy (1994):

"Perguntaram recentemente a Timon, patrão bem conhecido, se tinha intenção de se meter em política. Respondeu: "A política não me interessa fazer. Compro-a já feita". Não vale a pena correr a gritar escândalo. Em matéria de ética, a moral é má conselheira. O argumento libertário merece, à partida, ser tomado a sério. Se uma troca recíproca satisfaz as duas partes, sem prejudicar quaisquer terceiros, quem é que vai criticar? A lei? Sabe-se que a lei pode ser injusta e que não é imutável. Coço-te as costas e tu fazes-me um favor, deixando-me arranjar um mercado público. A justiça, aqui considerada como justiça das trocas, está automaticamente assegurada pelo consentimento das partes. Como diz o filósofo Robert Nozick: "O socialismo é a proibição de actos capitalistas entre adultos consentuais."
"Cada vez se torna mais claro que, para funcionar, a máquina económica necessita algo mais que do egoismo interessado de cada um. Falata-lhe aquele fluido misterioso cujo nome evoca mais os ardores da religião do que a racionalidade fria do cálculo: a confiança. A linguagem da economia demonstra que o seu fundamento é a fé: confiança, crédito, trust, moeda fiduciária, etc. As crises são, em última análise, apenas um défice de confiança de que sofre a nossa economia."

E continua por aí fora, num discurso algo "irónico" que achei delicioso :)

1 comentário:

tacci disse...

Os patrões mais actualizados - e já não são patrões, claro, são preferencialmente gestores - não perdem tempo nem investem nessa linha de produção. Com vantagem, podem recorrer a empresas especializadas: os partidos políticos, por exemplo.
Chama-se «autessorcingue», creio eu.