domingo, 6 de julho de 2008

A inquietação é criadora

"A inquietação é criadora. Houvesse conforto e segurança e não haveria arte nem ciência.
Não haveria civilização. O amor criou impérios. Colocou a humanidade no caminho das
estrelas. Mostrem-me uma grande descoberta, uma excepcional obra de arte, e eu
mostrar-vos-ei um grande amor em combustão."

Faiza Hayat

7 comentários:

Pedro disse...

eu diria antes "o desamor criou impérios" porque, as mais das vezes, foi a falta que fez substituir, que fez a mola, que se fez "imposição", como forma de chamar a atenção, de tentar cativar, como substituto: é ver, com alguma atenção, como os conquistadores eram desamados e como as conquistas funcionariam como "olhem, eu valho a pena, gostem de mim, sou muito bom!"
:-)
conquistadores como sinónimo de mal amados?
não deve andar longe :-)
dava uma boa (belíssima) tese de mestrado (à antiga, não esta treta de Bolonha), quiçá doutoramento, houvesse orientador(a) à altura que soubesse de história e psicologia "comme il faut", sem medo de descobrir verdades

reb disse...

concordo ctg, os desamados tornam-se mais criativos...
mas, aqui fala-se de amor à obra..
ou talvez seja a sublimação do amor perdido :)

Pedro disse...

eh pá, se é assim, dá-me lá um exemplo de "amor à obra", qq coisa se se encaixe nisso que será
"Mostrem-me uma grande descoberta, uma excepcional obra de arte, e eu mostrar-vos-ei um grande amor em combustão."
no exemplo que me consigas dar
- que amor será esse em combustão,
- que obra é essa que o mostre;
tenho a curiosidade à flor da pele para isto...

reb disse...

penso que todas as grandes obras foram muito amadas pelos seus criadores.
Um exemplo?
não foi o camões que saltou para o mar para salvar páginas dos seus Lusíadas?

Pedro disse...

essa do mar e dos Lusíadas é uma boa resposta! e a forma da resposta é excelente! não gozo! a sério! constato! porque repara que a apresentas com uma interrogativa!
"não foi o camões que saltou para o mar para salvar páginas dos seus Lusíadas?"
e parecendo a apresentação de um exemplo, sendo uma interrogativa não é uma afirmação explícita! porque a resposta pode ser, mesmo que se diga que está o "facto documentado no Canto X, 128", pode-se afirmar que isto foi auto-publicidade e não se verificou realmente!... um poeta sabe bem falar de si!
atenção: só estou a dizer que não sei da verdade histórica factual que comprovadamente e fidedignamente corrobore tal facto! porque acreditar na palavra de um (anti)herói não é boa política como forma de chegar à verdade científica comprovável! e que ele tenha naufragado realmente pode nada ter a ver com ele ter de facto salvo ou não parte ou o todo dos Lusíadas, ou só meras anotações! quantas vezes na mente do artista as coisas banais são feitas transversalmente monumentais?!

e não estou a fazer da verdade científica uma verdade cega e deshumana, só quero saber realmente se o facto foi real ou se não é uma forma de acreditar "porque sim", porque até é colorido e fantástico pensar num poeta herói salvador e tudo o mais... acho que me estou a repetir :-)

mas a pergunta ainda pode ser outra: mesmo admitindo que tenha MESMO nadado para salvar as páginas, o que representa isso de amor? não vejo! estava a salvar o investimento, isso sim! porque o livro era a glorificação do soberano e depois de lho apresentar Camões esperava a paga sonoramente do metal vil, uma pensão se não por serviços então por glorificação! mas isto é outra discussão! :-)

voltando ao acto de amor e obras... a noção que tenho: é mais a noção de amor/ódio, no sentido de se gostar mas haver sempre algo que se podia melhorar, e nesse sentido o obejecto visto e sentido como ser não acabado...

e auqle escritor (qual? não me lembro! ah o Mia Couto! mas penso que acontece um pouco com todos) a quem perguntaram: e no fim de publicado o livro, volta a lê-lo?
e ele:
- sou incapaz
nas entrelinhas eu vejo alguma forma de criar distanciamento, e obviamente a palavra que use a seguir, ainda por cima com o Mia Couto à mistura, uma doçura de pessoa, mas a palavra/sentir que leio nessa incapacidade, nessas entrelinhas da resposta é, vi-me livre daquilo, já era, não quero voltar a ver, a palavra sentir é alguma forma de "ódio" ?

estou a ser exagerado, e por isso coloquei "ódio" entre aspas...

bom, no fundo, no fundo acho que o acto criador nasce muito mais de uma vontade de a pessoa se libertar... e não vejo nisso amor

formam-se tensões, ideias, estados, sensações, a pessoa passa para escrita, para imagem, filme, fotografia, outra coisa qq, e essas tenções canalisam-se, exprimem-se, ganham corpo, libertam quem delas se faz canal e instrumento, e com isso liberta-as, liberta-se, torna-se mais livre

de quê não sei, talvez dos fantasmas e quaiquer outras coisas que deram origem ao processo do acto criador...

quando antes pouco acima digo
"e não vejo nisso amor"
tenho também que parar e olhar-me:
para poder afirmar isto
teria que saber defenir amor

Pedro disse...

obejecto em vez de objecto também é uma palavra bonita... :-)))

reb disse...

Eu acredito em mitos :)
Vejo o camões a saltar de uma daquelas caravelas para salvar a sua obra, o maior amor da sua vida :)
Claro que os artistas se apaixonam pelo processo criativo que resulta em obras de arte. Já imaginaste o investimento emocional e intelectual que é preciso para criar uma obra como os Lusiadas?? Aquilo é, em termos de forma e conteúdo, absolutamente perfeito!
Imagina o Picasso a pintar o Guernica. Já viste a força daquilo? Sai de onde? Das entranhas, seguramente!
Um criador, qdo está no activo, desliga-se do mundo, perde peso, perde sono, é a entrega total!
Semelhante a qdo nós nos apaixonamos. Tudo o resto passa a cenário...
Se depois não podem reler nem olhar muito é pq seria insustentável reviver tudo aquilo. É preciso fazer um "luto", cortar o cordão umbilical, a bem de uma tranquilidade mais normalizante.
Imagina os grandes actores. O esforço de encarnar uma personagem, sentirem-se alguém-outro. Qdo terminam, há que fazer férias e reencontrar-se.
Falo de pessoas que fazem da criação a sua vida, não de pessoas como nós, que fazemos n outras coisas e vamos escrevinhando, ou pintando, ou tocando nos tempos livres. É diferente.

Amor? Definir? Ora vasculha lá no meu blog um dos 1ºs posts chamado: "amor é fogo que arde sem se ver " :)
Por essa altura, por aqui, cada um dos comentadores "definia" amor de uma forma diferente :)