Ultimamente muito se tem falado de Slavoj Zizek, que foi denominado "filósofo pop" pelo sucesso que tem obtido, pouco usual em pessoas ligadas ao pensamento filosófico.
Li a entrevista do Expresso e gostei do que li.
Alguns excertos:
"Na constelação pos-moderna, todas as proposições ontológicas foram rejeitadas. A nossa época é a do pensamento da finitude, do "pensamento fraco". Basicamente, a filosofia renunciou às pretensões epistemológicas de conhecer a realidade, reduziu-se a uma certa lógica discursiva. Eu tento quebrar isso e reabilitar noções como universalidade, verdade, etc..."
"Vejamos alguns exemplos da ideologia actual.A questão da tolerância. Está na moda lutar contra a intolerância e ser pela tolerância. Por que é que automaticamente se formula a luta contra o racismo em luta pela tolerância? Para Martin Luther King, o racismo antinegros não era um problema de tolerância, era um problema de injustiça económica, legalidade, ética..
Por que é que traduzimos o racismo em problema de tolerância? A resposta é clara: pq algo aconteceu com a chamada era pós-ideológica ou pós-política. Todos os problemas são formulados como culturais e não como políticos."
"É preciso repolitizar. Se não repolitizarmos a economia aproximamo-nos da catástrofe."
"Ninguém pergunta se há uma alternativa à democracia parlamentar, uma alternativa ao capitalismo."
"A bela metáfora do novo proletário seria o filme "Matrix", cujas personagens vivem a situação de manipulação total. É mais do que nunca actual a noção marxista de fetichismo da mercadoria.
O paradoxo do fetichismo da mercadoria é que a ilusão da realidade está no que fazes, não no que pensas. A ideologia funciona, cada vez mais, não no que pensas mas no que fazes."
"Há hoje em dia 2 modelos em competição: o capitalismo liberal e a China ou os valores asiáticos. Eu não quero viver num mundo onde estas são as únicas escolhas. Temos necessidade de alternativa."
Temos necessidade de alternativa!
Foi bom ler isto! Sinto-me menos sozinha nas minhas reflexões :)
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5 comentários:
Fui ler o artigo no Expresso e achei muito curiosas as opiniões de um filósofo que não conhecia. Gostei do que li, na maneira como ele encara a nossa democracia e os seus limites e paradoxos. E da necessidade de se pensar na substancia das coisas, algo que está cada vez mais ausente no discurso corrente como se os valores que enformam a nossa cultura fossem eternos...Óptimo que ele queria reabilitar o Manifesto Comunista lançado às urtigas como velharia sem interesse. É bom, revigorante que nos interroguemos sobre como vai o mundo e que achemos naturais todas as tremendas injustiças que o capitalismo gerou e que se aceitam por não haver alternativa. Felicito a Reb pela sua leitura atenta...
É verdade, tornamo-nos passivos quando aceitamos o mundo no estado em que está, com a desculpa que já foi pior e isto é o melhor que a humanidade consegue. É preciso continuarmos a pensar. Por isso, a filosofia é tão importante nos dias de hoje: as pessoas não têm tempo para se interrogarem sobre o que as rodeia, é uma sociedade do "fazer", do não-reflectir. A filosofia continua a ser a base de todo o conhecimento, pela interrogação constante. Sem o método filosofico, o homem torna-se um agente passivo da cultura dominante...
Adorei a frase do zizek, quando inverte a célebre frase do Marx:
"Talvez o problema do nosso tempo seja o de fazermos demasiado. Talvez devessmos inverter a frase de Marx e declarar: mudámos demasiado o mundo, é tempo de interpretá-lo."
Pior que a humanidade é a ignorância persistente, a incapacidade de prever acontecimentos amordaçados na sociedade, se todos seguissemos a via da comunicação, a abertura de dialogo estariamos muito melhor do que olhar para dentro de cada umbigo.
:)
Beijinho terno.
não conhecia este sábio senhor, vê lá o meu estado de alheamento do mundo. concordo a 100%, com tudo. pareço eu a pensar, passe a imodéstia. o mais estranho é que parece que cada vez há mais pessoas com esta consciência crítica em relação aos rumos da nossa civilização, mas depois na prática não se nota nada. o sistema capitalista, baseado na satisfação do ego através do consumo e na criação de necessidades artifiais através da publicidade, tem um lado extremamente poderoso que nos mantem a todos reféns. no dia em que formos capazes de resistir aos saldos, porque temos roupa suficiente em casa, nesse dia talvez possamos começar a mudar qualquer coisa. :)
O melhor livro dele é "A visão em paralaxe" é muito bem escrito e surpreendente
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