domingo, 15 de junho de 2008

"Morte de Portugal" ??

Miguel Real, filósofo, escritor, especialista em Cultura Portuguesa escreveu um ensaio "Morte de Portugal"...

Aqui ficam algumas das suas ideias sobre o assunto:


"...deixaremos de ser Portugal. O nosso território não vai desaparecer, mas Portugal que deu origem aos portugueses apaixonados, saudosos, líricos, aventureiros, e no entanto simples, humildes, está a desaparecer e vai dar origem a uma região da Europa, chamada Portugal, com museus regionias e casas de fado, mas como povo singular vamos desaparecer. E isto é inevitável e não vale a pena chorar. Ao desaparecer esse outro povo que fomos, desaparece também esse outro ciclo de saudade e de sucesso, de aventura e de fracasso, de amor e de ódio. A Europa é um caldeirão cultural, onde se diluem todas as culturas, fazendo emergir uma cultura racionalista, informatizada, técnica. A nova geração de bancários, por exemplo, já não sofre com esses ciclos. Nós já não sofremos de analfabetismo, como o antigo Portugal, sofremos de iliteracia, o que faz toda a diferença. Os dirigentes políticos de hoje não têm dores de alma. Saõ homens europeus puros, sem complexos, são técnicos, preparados para optimizar Portugal. O que lhes falta então? Faltam-lhes os grandes princípios do Portugal histórico, a razão para Portugal existir. Se os serviços de saúde de Espanha são melhores do que os Portugueses, então vamos a Espanha."

Por que será que sinto resistência a acreditar nisto? :)

7 comentários:

LB disse...

Pois então, qual seria a alternativa à evolução que escolhemos, como nação, ao aderir à Europa??
Arranjarmos mais um Salazarzito, para mais meio século de genuíno isolamento e atraso….?
Com o devido respeito por este sr., considero completamente hipócrita e retrógrada esta visão saudosista e isolacionista de Portugal.
Acredito que a nossa identidade de 800 anos vai sobreviver. A cultura, claro, vai-se misturando, como sempre aconteceu e acontece com todas as culturas.FELIZMENTE!!!Negar esta evidência do mundo global em que vivemos, é negar o presente e o futuro.
Agora, concordo que devemos enaltecer e valorizar as características que nos distinguem dos demais.
Aproveitar a nossa forma universalista de relacionamento com outros povos e culturas.
Potenciar as nossas capacidades de criação e inovação (que resultam de mts anos de necessidade de improviso:)
Defender e promover o cozido à portuguesa, os peixes grelhados únicos,
os belos queijos, enchidos e vinhos, a doçaria regional. O belo do pastel de nata e a doçaria conventual...
A nossa cultura culinária deve ser a mais rica da Europa e uma das mais ricas do mundo. Os outros povos da Europa é que deviam estar com receio da aculturação.

Unknown disse...

Cada sociólogo pode imaginar o que quiser. A imaginação é livre.Não pode é fugir à realidade com antecipações de provocação mental.A menos que haja um terrível cataclismo nós continuaremos com as nossas qualidades e defeitos...seremos zes povinhos, herois, malucos, empregadotes,poetas, fadistas...mas seremos. Tal como os espanhóis, os franceses serão...Era o que faltava é que de uma mente intelectual surja uma verdade e que essa verdade é que é...aliás o haver um tipo como ele insere-se na corrente muito em voga do bota baixo...O J. Gil dizia que tínhamos medo de existir...outros dirão mais isto e mais aquilo...cá continuaremos...vou folhear a Sofia de Melo Breyner que me fala do mar e de como comia rosas...que depois de morrer voltará para viver os momentos que não viveu junto ao mar...enquanto houver poetas assim nós cá continuaremos, deixa o senhor falar que se entretem..

reb disse...

Aqui estão duas opiniões bastante distintas :)
O LB acha que, se quisermos manter as nossas características, voltaremos a ficar "orgulhosamente sós", a Té pensa que nunca as perderemos enqto houver poetas que falem da "alma portuguesa" :)

Eu não gosto de globalizações a todos os níveis: tudo a comer mcdonalds, a ver talk-shows e a ler best-sellers.
Será que só temos a aprender com os europeus mais "desenvolvidos"? Será que não temos nada a ensinar?
Será que o futuro é sermos todos "iguais", tanto faz que possuamos a maior área marítima da europa ou que sejamos um outro qq país entalado entre 2 mais potentes?

Evoluir sim, mas o que é isso? É só tecnologia?
Não há mais nada? Não há diferenças?
Não acredito.

Qdo morrer, tb voltarei como a Sophia, para viver junto ao mar momentos que não cheguei a viver :)

JR disse...

Mas será que alguma vez houve uma cultura portuguesa? Será que a região fronteiriça do Minho é mais parecida com a Galiza ou com o Algarve? Ou que semelhanças/diferenças há entre o Alentejo e Trás-os-Montes?
Os tempos de crise, de pobreza material e intelectual buscam sempre refúgio nos nacionalismos, nos regionalismos, na pequenez.
E, ao contrário do que os regionalistas e nacionalistas gostam de afirmar, a nossa identidade não se perde na globalização. Ela perde-se na regionalização porque simplesmente deixa de existir, porque estiola, porque se reduz e desaparece, porque não tem onde se afirmar.
Só no seio do mundo, com o mundo é possível afirmar uma identidade. Contra o mundo nada se afirma senão o medo “de existir” mas sobretudo de ser.

reb disse...

Somos seres adaptativos. Criamos raízes, adquirimos culturas, construimos uma identidade. As nossas antigas fronteiras foram-nos unindo como povo. Ganhámos características próprias. Os humanos precisam de ter uma tribo ( como os outros animais sociais).

Os nossos emigrantes são um exemplo disso: ainda que vivam uma vida inteira no estrangeiro, não se desligam do seu país e regressam todas as férias com o sonho de: qdo se reformarem, virem acabar os seus dias numa casinha construida por eles na terra onde nasceram.
Não podes negar isto!...

JR disse...

Os nossos emigrantes, os fanáticos do futebol, Franco, Mussolini, Hitler, ou os exemplos que quiseres, são os representantes do pensar para dentro, do pensar para a sua concha, do pensar pequenino, do medo de existir. Os milhentos exemplos que encontres não invalidam que sejam apenas isso.
Mas a humanidade vem crescendo em direcção à maturidade. E maturidade não é a velhice. Só cresces quando te abres ao mundo. O mundo só cresce quando os seus componentes se aproximarem de um todo e não de um somatório.

reb disse...

Não falo de fanatismo. Existe o 8 e o 80. No meio, estamos todos nós.
Abertos ao mundo, sim senhora, mas o que significa isso? Dissolvermo-nos no todo? Tornarmo-nos incaracterísticos?
Penso que sempre estivemos abertos ao mundo através do cruzamento de culturas e raças de que somos feitos, mas essa integração passou a fazer parte de nós ( viste o filme "fados" do carlos saura? O fado tem influências africanas).
O que eu defendo é a nossa identidade que vai evoluindo ao longo dos tempos , mas que mantém algumas características...
Todos diferentes, todos iguais!
O respeito pela diferença e o convívio saudável ( sem complexos nem imitações) entre povos.