quarta-feira, 18 de junho de 2008

"Nascemos estrelas de ímpar brilho..." --- Agostinho da Silva

A pedido da comentadora Té, um assunto para reflexão:

De Agostinho da Silva:

"Creio que o mundo em nada nos melhora, que nascemos estrelas de um ímpar brilho, o que quer dizer, por um lado, que nada na vida vale o que somos, por outro lado que homem algum pode substituir outro homem. Penso, portanto, que a natureza é bela na medida em que reflecte a nossa beleza, que o amor que temos pelos outros é o amor que temos pelo que neles de nós se reflecte, como o ódio que lhes sintamos é o desagrado pelas nossas deficiências ,e que afinal Deus é grande na medida em que somos grandes nós mesmos: o tempo que vivemos, se for mesquinho, amesquinha o eterno."

11 comentários:

JR disse...

Porque nós somos o mundo. Porque no mundo amamos o que somos nós. Porque nos outros amamos o que neles é nosso. Porque, no fundo, nos amamos a nós mesmos através do mundo, através dos outros. Tudo é objecto. O mundo é objecto. Somos o mundo. Somos objectos.

reb disse...

Seguindo o teu raciocínio eu chegaria a uma conclusão diferente: tudo é sujeito!


Ou, como dizia o Fernando Pessoa: "a minha subjectividade objectiva"

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

jqjbbwav

Unknown disse...

Acho estranho este texto do AS. Porque nos superioriza a tudo; e isso não é verdade: o homem é capaz do bom e do mau...mas eu sei que o AS era um brincalhão e gostava de nos atasanar.Tal como está é um endeusamento do homem a menos que considere o homem TUDO e nesse caso não se contardiz com o resto...será isso?Mas não vejo no texto nada que fale de comunhão...

reb disse...

Não interpretei como tu. O que ele diz vem na linha do que disseram outros filósofos: o mundo é um reflexo de nós.
De facto, isso é verdade. O nosso mundo é aquilo que fizermos dele e a forma como o vemos.. Apreendemo-lo com os nossos sentidos, sentimo-lo com as nossas emoções e sentimentos. Reflectimo-nos nele.
É por isso que cada vez acho mais verdadeiro o conceito de "subjectividade objectiva" do fernando pessoa

LB disse...

“Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos” Anais Nin.
Penso que esta frase sintetiza a ideia expressa pelo AS neste post.
Tudo o que percepcionamos é a uma nossa construção do “real”
Existe certamente muito mais, mas isso não está ao nosso alcance e por isso não faz parte do nosso mundo.
De resto, vamo-nos deliciando com os nossos sentimentos, pensamentos e razão, trocando visões e teorias sobre a existência, mais ou menos coerentes, ou, simplesmente poéticas …

LB disse...

a redundância de ideias, neste caso, foi mera coincidência. O comentário acima (da REB) entrou enquanto escrevia o meu. :PPPP

reb disse...

Sincronizados :)

JR disse...

REB, em quê, aquilo que eu disse nega o sermos sujeitos? Ou um objecto não pode ser sujeito? Se vires bem, o AS começa por dizer que temos todas as potencialidades. Depois diz-te como as costumamos usar: a menorizar-nos a nós mesmos pelos actos praticados. A menorizar o mundo. A menorizar os outros.
E já que tão apreciadas são as citações, Heisenberg, físico nuclear, afirmava que aquilo que dizemos da realidade é apenas o que conseguimos dizer sobre ela e não o que é em si mesma.
Outro modo de dizer algo semelhante, é quando dizemos que a beleza ou a fealdade está nos olhos de quem vê.
Aquilo que dizemos do outro só reflecte aquilo que somos se considerarmos que somos aquilo que dizemos. O que não é verdade. Porque as nossas limitações não são o que nós somos, embora façam parte do que somos.
Somos o que fazemos, embora o dizer seja uma parte do fazer.
Quando dos outros fazemos objectos, então “o amor que temos pelos outros é o amor que temos pelo que neles de nós se reflecte, como o ódio que lhes sintamos é o desagrado pelas nossas deficiências”.
Quando dos outros fazemos objectos, então “o tempo que vivemos” “ amesquinha o eterno.”

reb disse...

Estamos aqui a brincar com os conceitos de objecto e sujeito :)

Falando do sujeito, dizes que somos o que fazemos. Incluis no "fazer" o dizer, e incluis tb o que fazemos dos outros, na pior das hipóteses tornando-os nossos objectos. Entendi bem?
Sendo nós o sujeito da nossa vida ( se é que alguma liberdade temos para a gerir), então tudo o que nos rodeia é objecto dos nossos sentimentos ou acções. A pessoa que eu amo é objecto do meu amor, a que eu detesto é objecto da minha raiva.
Para os outros, somos objecto de tudo o que quiseres.
Isto se partirmos do principio que existimos enqto ser pensante ou sentinte ( segundo o damásio), temos uma identidade encorpada no nosso corpo físico, e essa individualidade faz com que a experiencia do mundo seja distinta para cada um de nós.

Voltando ao A.S., todos nos esquecemos do início do seu texto. Quando ele diz que nascemos estrelas de ímpar brilho e o mundo em nada nos melhora, aposta mais nas nossas capacidades humanas inatas do que na nossa evolução através dos outros...