domingo, 1 de junho de 2008

Orgulho nacional

Desconheço se foi feito algum estudo sociológico sobre o bem-estar dos portugueses durante o Euro 2004...
Se eu fosse socióloga faria investigação nessa área. Perguntaria a cada português entrevistado: "Quando foi que, nos últimos anos, sentiu orgulho em ser Português?"

Acabei de ver a camioneta dos jogadores a passar por Genebra. Aqueles emigrantes todos, as bandeiras, os gritos: "Portugal!Portugal!" não me são indiferentes...

Os povos, é sabido, têm necessidade de reconhecimento pelos outros. É uma questão de auto-estima nacional, que pressupõe um sentimento de unidade e de orgulho.
Quando recomeçarem os jogos do Euro deste ano, sempre que Portugal jogar, a "crise económica" ficará para 2º plano....as greves, as convulsões farão tréguas....em nome do tal "orgulho nacional".

Será que isto acontece com os outros povos? Todos gostam da sua selecção, mas uma emotividade destas parece-me característica do nosso povo... ( os brasileiros, que são filhos de portugueses, tb assim reagem)

É em épocas destas que tento compreender melhor a "alma portuguesa"...

20 comentários:

Maggie86 disse...

muito orgulho nacional sinto eu, vibro com os jogos, com os golos, com os penalties, com as vitórias e com as derrotas!!é mesmo um sentimento de união muito forte, parece que estamos todos no mesmo barco e que temos de nos agarrar para q n vá ao fundo!!n há festa assim, n há quem sinta nada assim!!
VIVA PORTUGAL e viva os emigrantes da Suiça q festejam tanto ou mais q nós!!!!

Um lugar ao Sul disse...

Não, tem todas as culturas vivem as sensações da mesma forma. Basta ver os condicionalismos que a polícia suíça tem feito, e os avisos aos festejos. E acredito que gerará muitos problemas os festejos dos portugueses por aquelas terras...

Não conheço nenhum estudo, mas é verdade que o nosso bem estar dispara independentemente do preço dos combustíveis...

Mas se a nossa postura festiva choca os centro-europeus, ficamos a muitos anos luz dos nossos irmãos brasileiros. Enquanto precisamos de um motivo para festejar, os brasileiros qualquer hora é boa para uma festa, eu vejo isso pelos meus vizinhos brasileiros que colocam a sua música a altos berros logo pela manhã, cantando em tom mais que desafinado mas sem qualquer vergonha ou complexo sobre os pensamentos de quem está por perto... (e eu que gosto tanto de dormir um pouquinho mais no fim de semana...)

PORTUGAL, PORTUGAL, PORTUGAL

reb disse...

É isso que é estranho nos portugas: durante todo o ano sofrem, queixam-se, mas há uma coisa que lhes devolve a alegria: a selecção nacional!
Talvez seja pq é algo em que temos projecção mundial e nada mais se compara. Vais ao japão e conhecem o cristiano ronaldo, à china, igual, e por todo o planeta....como foi o figo e há mts anos o eusebio!
E isso tem um efeito reparador da baixa auto-estima nacional: somos reconhecidos e admirados além fronteiras e temos necessidade disso..
Engraçado ver como os emigrantes, alguns já nascidos noutras terras, mantêm o sentimento de ser portugueses. Não vejo isso acontecer com alemães ou outros povos do norte que vieram para cá viver...
portugal! portugal! :)

nelio disse...

o aeroporto?, portugal, portugal!

e não foram só os emigrantes. não viste o pessoal no trajecto que o autocarro fez entre oeiras e o aeroporto? há quem diga que o ministro das finanças, o da economia e o inginheiro têm vivido estes últimos dias em grande ansiedade. nunca mais chega o futebol para eles terem um pouco de paz...

harumi disse...

Eu acho que é essencialmente uma necessidade, aquilo que nos leva a ficar em festa, independentemente da realidade socio-política do país.
Os brasileiros para além das pequenas festas quotidianas que o NAC refere, andam todo um ano com os sentidos embriagados pelo próximo carnaval. É assim! É da natureza humana. Temos uma enorme capacidade de sobrevivência, e se o nosso corpo necessita de um pouco de alegria para inteligentemente não se deixar minar por sentimentos depressivos, arranja-se uma festa, onde por algum tempo, existam motivos para que as emoções negativas façam férias e colectivamente nos contagiemos de alegria.
Reparem por exemplo nos povos escandinavos, com todo aquele desenvolvimento e progresso social, se são dados colectivamente a este tipo de manifestações? Claro que também brincam e se entusiasmam. Mas em grupos pequenos de amigos e ao fim de semana. Durante a semana...cabeça bem assente nos ombros e fresca, pois para se manterem aqueles níveis de vida é necessária muita disponibilidade para o trabalho e de preferência sem muitas distracções à mistura.

reb disse...

concordo contigo, nélio. Este euro vem em óptima altura para os nossos politicos :) Qdo jogar a selecção, ninguém vai querer saber das crises, e se eles passarem por algum sítio, nem vão ser apupados. Até vão receber beijos e abraços pq tb são portugueses :)

Harumi, eu reconheço que é uma necessidade dos povos do sul e talvez tb dos povos mais pequenos e menos conhecidos no mundo...
Mas isto tem qq coisa a ver com o nosso patriotismo, pq noutros paises, como o brasil por exemplo,fazem festa por tudo e por nada (caranavias, etc) e nós só nos entusiasmamos mesmo com os nossos "heróis da bola" ( que devem ser os "heróis do mar" do nosso tempo)

:)

harumi disse...

Tirando Timor, não têm havido mais causas nacionais.
Timor de facto foi um acto de mobilização nacional assente numa causa nobre, mas a selecção nacional de futebol, onde os vencimentos de todos os jogadores que a compõem não deve estar muito distante do meio milhão de contos mensais, não comporta em si nenhum motivo de verdadeiro orgulho nacional. É mais aquela coisa coisa de termos de mostrar aos outros que somos bons numa coisa qualquer, e então quais saltibancos, olhem prá gente tão bons a dar pontapés na xixa...
Hoje estou do contra, desculpem lá, mas esta coisa dos nossos jovens serem a geração dos 500 euros, e depois aparecerem estes rapazes catitas a ganharem milhões e a malta a aplaudir e a pôr bandeiras nas janelas, faz-me muita confusão....

Anónimo disse...

Costumo ler vários posts aqui colocados deveras interessantes e a convite de um dos bloguistas para participar, quero expressar o meu espanto por tão "ferrenho" orgulho nacional dos portugueses que, penso eu,só serve para exorcisar toda a tristeza que lhes vai na alma!!! Daí a necessidade, segundo o harumi, de festejar as as pequenas glórias diárias, tais como o futebol ou os dias dos respectivos padroeiros...

JR disse...

Mas por que hão-de sentir orgulho por Portugal ganhar e não haverão de sentir orgulho pela qualidade do jogo de uma equipa, independentemente da sua cor ou nacionalidade? Porque não hão-de apreciar o ser humano que, por um dom inato ou pelo seu esforço, consegue fazer “maravilhas”, independentemente da sua cor ou nacionalidade?
Porque, sentir orgulho naquele ser humano que realizou algo fora do comum é capaz de ser óptimo. Sentir orgulho porque alguém conseguiu as vitórias que nós não fomos capazes de construir, enfim, parece-me um bocado menor, um bocado frustrante. Isso é o que a generalidade das “claques” faz. O que a generalidade dos “adeptos” fazem. As minhas vitórias são minhas, tal como as minhas derrotas.
Não sinto, nunca senti orgulho no que os portugueses, só porque são portugueses, fazem ou fizeram. Mas já senti orgulho no que alguns seres humanos foram capazes de fazer. Portugueses ou não.
Sempre me pareceu ridículo que cada equipa ao entrar em campo peça a Deus a vitória. No mínimo, significa que não tem o mérito suficiente. No limite, significa uma menorização do Deus a quem pede, como se este fosse um comerciante de favores.
Se toda a energia que se despende a apoiar a selecção fosse despendida a olhar para nós e a reflectir sobre os nossos destinos e a tomar a nossa vida nas nossas mãos, certamente que seríamos um povo muito melhor.
Mas não. Preferimos o lamento e, para disfarçar, escondemo-nos atrás de uma bandeirinha portuguesa made in china, enquanto choramos os malvados patrões que fecham as fábricas texteis.

reb disse...

Antes de mais, quero desejar as boas-vindas ao ( ou será à) mj :)
Espero conseguir manter posts interessantes e espero que continues a aparecer :)

Do que li, tenho a dizer o seguinte:
Tal como o harumi, tb acho escandaloso o ordenado dos jogadores deste nível. Também penso no paradoxo de vivermos numa época em que a nova geração não ganha mais do que 500 euros. É por isso que os meus alunos têm todos o sonho de ser jogadores de futebol. Eles pensam que essa é a única maneira de se ser rico, sem ter que estudar :)

Mas, tentemos abstrair-nos disso por momentos e isolar a questão.
Penso haver aqui 2 coisas: uma, o que significa o futebol nos dias de hoje; outra, o que significa para os protugueses em particular.
O futebol, qdo visto ao vivo, é um espectaculo extremamente emocionante. Há um clima de emoções colectivas que poucos outros espectaculos oferecem ( alguns concertos de música tb, mas especialmente para jovens).
É como um ritual ( rito) que não é só dos povos sub-desenvolvidos. É como uma catarse do dia a dia cinzento, rotineiro e sempre igual.
Depois, há o nosso caso particular.
Aqui parece-me representar várias coisas: é uma área onde podemos ser melhores do que os melhores ( atá ganhámos à inglaterra e isso soube-nos muiiito bem :)). Somos reconhecidos mundialmente pq temos o figo ou o ronaldo...se não fosse por eles, muitos estrangeiros ignorariam a nossa existencia.
Parece-me, então, que os portugas são mto patrioticos ( vide reacção dos emigrantes). Mais do que outros povos? Não sei...mas sei que, entre nós criticamos tudo, mas se aparecer um estrangeiro a dizer mal disto, afiamos o dente.
É um sentimento parecido com o que temos pelas pessoas da nossa família. Nós podemos até criticar-nos, mas ai de quem se atreve a atacar um de nós...

E aqui, jr, discordo de algumas coisas que dizes. Não podes pretender que sejamos objectivos, e politicamente correctos em termos de sentimentos.
É claro que não é a mesma coisa ver um bom jogo do chelsea em que podemos apreciar o jogo em si, do ponto de vista técnico, ou ver um jogo da nossa selecção em que cada golo é uma festa colectiva :)

Mais uma vez digo que, se fosse sociologa, tentaria perceber o que vêem os portugueses na sua selecção...mas não há duvida que ficam completamente diferentes e parecem absolutamente gratos aos jogadores por nos elevarem a imagem a nível mundial!

Portugal! Portugal! :)

JR disse...

REB, nunca fui nem sou pelo politicamente correcto. Quanto a não pretender que sejamos objectivos, isso também não foi o que eu disse. Aquilo que pretendi dizer é que seria bom que fossemos capazes de reflectir para além da emoção.
E quando digo que a selecção não me emociona, fiquei a pensar porquê. De facto, na idade adulta, as minhas emoções têm a ver com a qualidade do que se faz e não com quem o faz.
Há muitos anos que penso que só com a completa abolição de fronteiras, com a abolição dos nacionalismos, poderemos viver em paz. Mas isso continua a ser um trabalho para gerações.
Será talvez por isso que me emociona o que a humanidade faz. Mas não me emociona o que o meu país faz, só por ser o meu país.

reb disse...

O nosso país é parte da nossa identidade, as outras partes serão a nossa família, a nossa terra, os nossos amigos.
Ou, de uma forma ainda mais abrangente, como dizia o fernando pessoa: "a minha pátria é a lingua portuguesa"
Não sei como seríamos sem a nossa identidade...
Qdo viajo e regresso, sinto sempre uma emoção por voltar a ouvir falar português :)

ZIB disse...

Orgulho nacional pelo futebol? Que orgulho é esse? Não gosto de futebol e acho que pagar tantos milhões a uma série de tipos que só sabem dar pontapés numa bola, quando nasceram num país onde, por exemplo, os jovens, com formação universitária ou sem ela, só conseguem trabalhos de 500 e., onde não conseguem uma casa digna para viver sem os pais, onde os mais velhos, que cada vez são mais, recebem umas reformas que não dão para viver, onde há fome … não, não entendo!
Porque é que os portugueses, que passam a vida a queixar-se do mal que estão as coisas, o que é verdade para a maioria, em vez de reagirem se resignam e endeusam os futebolistas, mercenários que saem de Portugal vendendo-se a outros países onde vão ganhar num ano o que muitos portugueses não ganham durante toda a vida? Que exemplo dão esses homens? Que orgulho podem provocar num povo tão pessimista? Será que não temos nada mais interessante/criativo/memorável de que nos orgulharmos? Para mim é triste que só o futebol nos internacionalize e nos faça sentir orgulhosos como povo!

reb disse...

Tens razão, zib, mas é por isso que eu penso que se deveria fazer um estudo sociologico sobre o que "projectam" os portugueses na selecção nacional.
Toda a gente critica os ordenados dos administradores privados ou publicos ( que de facto, são uma afronta para que ganha ordenados de miseria) mas poucas pessoas falam do nivel de vida dos jogadores. Aliás, o que acontece é o seguiinte: se eles perdem, o povo revolta-se e diz que são bem pagos para jogar bem, se eles ganham, ficam imediatamente perdoados e merecem todo o "ouro" do mundo.
Porquê?
Sendo o futebol um desporto internacional ( talvez o mais internacional de todos) será que é por isso sentido como "embaixador" de portugal?
Será que alguns países, com identidades menos reconhecidas internacionalmente, vêem no futebol a bandeira do seu país?
Não é semelhante o que acontece com o Barça? Não representa tb o "orgulho nacional" dos catalães?

ZIB disse...

Também gostaria que se fizesse um estudo sociológico como dizes, Reb, porque realmente sinto uma curiosidade enorme em saber como explica a maioria este fenómeno da selecção nacional.
Mas quanto ao Barça, embora de fora pareça um fenómeno parecido, pelas explicações que tenho ouvido (porque não vivia aqui na época do franquismo e da repressão ao catalão), o fenómeno é diferente. Há realmente um certo “endeusamento” do clube por alguns catalães. O Barça não é uma selecção nacional e, embora minoritário, existe em Barcelona outro clube (o Espanhol). Mas o Barça sempre foi “mais que um clube”, porque aglutinou à sua volta a resistência dos catalães ao franquismo. O Barça vencia, os catalães venciam e falava-se do catalão e dos catalães em toda a Espanha. Foram os abandeirados da resistência dos catalães à repressão franquista, porque eram os únicos que o podiam fazer. E o fenómeno continua, porque a “Espanha profunda” (Madrid, Castilha), continuam a odiar os catalães porque a Catalunha é uma região rica, porque são autosuficientes, porque têm uma língua própria, porque têm uma identidade e cultura próprias, contradizendo assim o sentimento da “Espanha única e indivisível” herdado do franquismo e ainda “em vigor” em muitas regiões onde só são “espanhóis” e não são “diferentes”.

reb disse...

Mas não será que, da parte dos portugueses, tb há esse sentimento de ostracismo do mundo em relação a nós? Não será que, se a selecção nacional ganhasse o euro, isso iria representar um "soco nos queixos" daqueles que os portugas julgam que os acham inferiores?
Talvez possa haver alguma analogia com o sentimento dos catalães em relaçaõ à arrogância dos castelhanos, não achas?

ZIB disse...

Penso que sim, que é muito possível e lógico que assim seja, Reb. E até é compreensível. O único que não entendo é porque é que tem que ser só com o futebol que nos "sai" esse orgulho nacional. Será que não somos bons em nenhum outro campo que nos permita vendermo-nos bem internacionalmente, ultrapassando o nosso “complexo de inferioridade”? Porque a culpa de “nos verem” inferiores é, sobretudo, culpa desse nosso “complexo”. Não nos sabemos vender nem aproveitar as nossas potencialidades e o nosso “pessimismo”, que vem de longe (depois do filão dos descobrimentos nunca mais nos levantámos…), não nos deixa explorar convenientemente o que de mais válido podemos ter/conseguir.

reb disse...

Zib, o futebol é um fenómeno mundial ( será que foi sempre assim ou hiper-valorizou-se na ultima decada?). Tudo o que seja competição entre países põe as pessoas exaltadas...
Em países pequenos e menos reconhecidos, essa parece ser a única possibilidade de se afirmarem perante os grandes...

reb disse...

Sobre a euforia à volta da selecção, vou transcrever partes de um artigo do Expresso de um tipo que escreve textos humoristicos e assina "Comendador Marques de Correia":
"Claro que o preço do petróleo tem o seu interesse; claro que os impostos sobre os combustíveis são discutíveis; claro que os alimentos estão a atingir preços insuportÁveis.
É certo que o país é desigual, que a pobreza aumenta e que existem, no meio d tudo isto, outros pormenores a que temos de dar a devida atenção. Mas, caramba! Que é isso comparado com a possibilidade de ganharmos o Europeu de Futebol?
Crises tivemos muitas, mas campeonatos da Europa nem um!
Meu Deus! A selecção é a nossa esperança, a nossa vida, a nossa possivel glória. Imaginem só se vivessemos num país onde o mais interessante fossem as eleições do PSD...
Era mortal!"

:))

reb disse...

Os mais racionais que me perdoem mas eu estou a começar a sentir as emoções do euro que hoje começa.
Cheguei a casa agora e vi muitas pessoas "mascaradas" de portuguesas, esperança no olhar, simpatia...tréguas do "cinzentão" da vida!
Logo ao fim do dia, estarei com amigos na esplanada, onde existe um ecran grande que ficou do euro 2004. Estarão várias gerações, beberemos cervejas e esperaremos ansiosamente o início do jogo.
Qdo começar o hino, levantar-nos-emos e sei que vou sentir aquele nozinho na garganta ( alguém tem consciendia que os jovens só sabem o hino por causa do euro2004?), depois será aquele "sofrimento" colectivo, os comentários, a tolerância ( estamos todos a torcer pelo mesmo) e, se houver golos (oh, espero muito que haja!!!) as pessoas trocarão abraços com os amigos e sorrisos com os desconhecidos.
Se ganharmos (TEMOS QUE GANHAR!) sairemos todos de lá satisfeitos, com um novo ânimo, de alma lavada :)

VIVA PORTUGAL!!