Em tempo de crise, resta-nos o futebol.
Mas...será que não existem, por este país fora, algumas pessoas que desenvolvem projectos interessantes para o país e que não são "dignos" de ser notícia?
Crio este espaço para que divulguem projectos que conheçam e que, embora pequenos, possam ser representativos de alguma mudança, criatividade ou altruísmo. Precisamos de acreditar que há portugueses esquecidos que ainda não desistiram de realizar sonhos.
Estava a tentar lembrar-me de algum e, de repente pensei: "Mas tu estás num projecto este ano, porque não falas dele?"
Algum pudor...porque me envolve...e, no entanto, vou resumir:
Está a acabar mais um ano lectivo e, desta vez, vou despedir-me tb de um grupo de 11 alunos para os quais fizemos um projecto especial. Eram meninos de 13/14/ 15 anos que frequentavam, no ano passdo, o 5º ano de escolaridade. Jovens para quem a escola não encontrava resposta. Todos com problemas emocionais e comportamentais, todos absentistas, todos desorganizados ( como as famílias de onde provêm) e alguns com grandes dificuldades de aprendizagem. Um grupo de professores aceitou o desafio: uma turma pequena, curriculo adaptado, horário diferente ( menos pesado) e a introdução de 2 disciplinas diferentes: Projectos em madeira e capoeira. As restantes disciplinas eram as mesmas das outras turmas.
Não posso dizer que tenha sido fácil. No início do ano eram "cavalinhos selvagens", mas não desistimos deles. Foi preciso muita paciência, muito afecto ( estes miudos só aprendem quando gostam da professora) e muito trabalho de adaptação dos programas.
Agora estamos em fase de balanço e despedidas. Já se foram matricular em cursos profissionais ( que só podiam frequentar com o 6º ano completo) e arrisco-me a dizer que estão diferentes. Ganharam uma perspectiva de futuro. Talvez seja possivel, com alguns deles, quebrar o ciclo vicioso da família onde vivem. Talvez possam ser capazes de lutar contra todas as adversidades e vir a ter um futuro melhor do que os pais tiveram...
As despedidas são difíceis e, no caso destes alunos, ainda são mais. Ligam-se muito a nós e nós a eles. Há dias diziam-me numa aula: "Nunca vamos esquecer este ano, para o resto da nossa vida!"
E a professora fica com os olhos húmidos... :)
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6 comentários:
Aqui vai uma boa iniciativa, acabada de sair do EXPRESSO :)
e, nem de propósito, o título é: "Hortas em Lisboa" :)
"Ninguém vai ficar sem horta, garante Sá Fernandes, vereador do Ambiente, Espaços Verdes e Plano Verde."
" Numa altura em que a FAO ( organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) recomenda que as cidades sejam cada vez mais auto-suficientes na geração dos seus recursos alimentares, a Câmara decidiu garantir áreas de reserva agrícola na revisão do PDM.
A exemplo da cosmopolita Munique, na Alemanha, cidade que tem o seu próprio sistema agrícola, e até tractores comunitários, o Plano Verde quer preservar as hortas existentes, integrando-as em parques biológicos, que deverão ver a luz do dia em Agosto do próximo ano.
Em 2 zonas específicas, Quinta da Granja, em Benfica e Vale Fundão, em Marvila, os parques biológicos terão vias pedonais...
Em Vale Fundão, a aposta será levar para lá a BIOCOOP e direccionar os hortelãos para a agricultura biológica. Haverá adesão dos moradores de Telheiras, onde outro projecto biológico está previsto para Agosto de 2009, com ligações às escolas."
Só boas iniciativas! :)
Que quem souber de outras, em vários campos, não hesite em publicar aqui!
Antes de mais é fantástico ler relatos sobre uma iniciativa desse género bem sucedida, faz-nos ter esperança no futuro e na resolução de problemas que, muitas vezes, julgamos irresolúveis... São inúmeras as vezes em que as próprias pessoas envolvidas nesse tipo de projectos (professores, psicólogos, técnicos superiores de educação)são as primeiras a perder a esperança e a questionar a sua viabilidade. É um facto, para mim, que a escola não substitui a família, mas é sempre bom conhecer casos em que sentimos que a escola pode fazer muito pelas crianças, pela sua integração social e pelo seu futuro. Muitos parabéns!
Relativamente à minha experiência sobre iniciativas positivas posso falar sobre a minha experiência no associativismo. Desde que entrei no Ensino Superior que estive envolvido em associativismo e voluntariado e, para além de ter aprendido muito, fez-me ter muita esperança no futuro. Não posso negar que me deparei com muitos casos de carreirismo e de caciquismo, principalmente da parte dos chamados jotinhas, cujo único interesse é subir num meio já de si distorcido. Estes casos vêm dar razão ao estereótipo que todos temos dos políticos. Apesar disso, tive a sorte de estar sempre rodeado de pessoas que encaravam o exercício da cidadania como uma missão, que eram capazes de inúmeros sacrifícios em que a única recompensa era a consciência de que se fez o que estava certo e de que se teve uma oportunidade de fazer algo de bom pelo meio e pela comunidade que serviam (para mim as maiores recompensas de todas)... Tive oportunidade de contactar com pessoas muito desenvolvidas moralmente e com altos princípios! Posso dizer que com esta experiência tornei-me uma pessoa melhor.
Felizmente, pude contactar com a política no verdadeiro sentido do termo e tive oportunidade de contribuir um bocadinho para um Mundo melhor. Fez-me ter muita esperança na minha geração e neste momento, acredito que, nas mãos de pessoas assim, este país dá um grande salto!
Gostei mesmo muito deste post e desta ideia!
Woody, adorei ler-te! Não imaginas como fico contente qdo conheço jovens com bons valores, interessados no próximo e que se sentem gratificados qdo podem contribuir para melhorar alguma coisa!
Como tu dizes, fica-se uma "pessoa melhor"...
Penso que é na juventude que essas acções são sentidas com mais intensidade e, por isso, há tantos jovens que praticam voluntariado. Essas experiências são muito enriquecedoras e úteis para todos! Parabéns!
Se tiveres amigos que queiram relatar as suas experiências aqui, convida-os a participar!
Precisamos todos de acreditar que os jovens de hoje não são tão egoistas e consumistas como os pintam!
Qto à minha turma especial, e às muitas turmas especiais que existem pelo país fora, fruto do "amor" que alguns profes sentem pelos seus alunos, não são notícia em lado nenhum nem são reconhecidas. Nunca, em toda a minha vida de professora, alguém me felicitou pelo trabalho com estes miúdos de risco. Aliás, tu foste a 1ª pessoa :)
No entanto, não há maior gratificação que vê-los a mudar, a começar a acreditar que é possivel ter um futuro, e... nada se compara ao afecto que nos dedicam. Muitos são os meninos que nos vão visitar à escola, anos mais tarde...
Tomara que possam vir a ser mais felizes do que são agora...
Infelizmente não só não existe reconhecimento da importância desses projectos mas também estes são olhados de lado pelo poder, que tem uma visão cada vez mais orçamentalista e economicista das coisas e, não vendo uma rentabilidade imediata desse "investimento", acaba por considerar essas áreas de intervenção como secundárias. Acima de tudo, acho que é um erro encarar estes projectos como meros investimentos visto que é obrigação do Estado-Providência fazer tudo para que ninguém fique para trás, para que haja igualdade de oportunidades e para a protecção daqueles que estão numa posição mais desfavorecida (ninguém tem culpa do meio em que nasce, embora nos tentem fazer acreditar nisso... a mentalidade "blame the victim"). No entanto, a educação é o maior investimento a longo prazo que se pode fazer, muito maior do que um aeroporto, um TGV, uma auto-estrada ou um submarino. É impossível medir o impacto desse investimento segundo os critérios economicistas e "objectivos" normalmente utilizados, no entanto a base de um país é mesmo a educação...
E para fazer uma ligação da tua "causa" à minha "causa", acho mesmo que os estudantes universitários (e toda a minoria das pessoas que tiveram acesso a um curso superior) têm uma obrigação em relação a todas as pessoas que não tiveram as suas oportunidades e em relação às gerações seguintes. Têm obrigação de exercer a sua cidadania activamente, de participar, de informar, de ajudar... Acho que o próximo Maio de 68 passa por isso: pela luta contra a pobreza, pela questão do ambiente, pela igualdade de oportunidades, pela educação, pela solidariedade... Foi sempre por isto que lutei e acho que consegui contribuir um bocadinho... Acredito que as coisas vão mudar...
Woody, separa-nos uma geração e, no entanto, os nosso valores são idênticos. Eu tb acho que o mundo só vai mudar qdo nós, os que tivemos oportunidades diferentes, não enfiarmos a cabeça na areia e olharmos de frente para a outra realidade, a dos que nasceram no "sítio errado" e, por isso, poucas possibilidades têm de sair disso.
Como tu, eu acredito na mudança, como tu, eu acho que um novo maio68 teria que lutar por uma maior igualdade entre as pessoas e pela salvação do planeta.
Acho tb que não podemos abdicar do estado- providência, que foi uma conquista do pós-guerra e sem a qual voltariamos ao tempo da grande miséria.
Ninguém pode viver feliz se, ao lado, morar a pobreza, a fome, a desilusão.
Lutemos por um mundo melhor!
YES, WE CAN! :)
Vou dar voz a uma pessoa que não frequenta blogues :)
Há dias encontrei uma antiga colega. Era ( e deve continuar a ser) uma pessoa que fazia tudo pelos seus alunos e, qdo via um miudo mais abandonado, dizia: "gostava tanto de o levar para casa!".
Casada há mtos anos, não podiam ter filhos...
Já não a via há algum tempo e contou-me: "adoptei o daniel". O menino , de mão dada com ela, de uns 5 anos, tinha um ar tímido mas feliz.
Disse-me, enqto ele brincava com um boneco: "O daniel tem hidrocefalia. Ninguém o queria adoptar. Está connosco há 6 meses e a equipa de médicos e psicólgos que o segue diz que nunca viu uma evolução assim. Era estrábico e deixou de o ser, desde que encontrou uns pais"
Lembrei-me dos estudos do Freud sobre estrabismo...
Disse-me ainda: "só me apetecia trazer os outros miudos da instituição. Não é que sejam mal-tratados, mas vivem ansiosos por term uns pais..."
Dei-lhe um abraço. Pela minha parte, enquanto pessoa, agradeço-lhe o que fez pelo daniel!
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