Há um conceito em psicologia que aprecio especialmente: "baixa capacidade de tolerância à frustração."
Perder é difícil para todos, mas para algumas pessoas é mais angustiante do que para outras. Temos capacidades diferentes de tolerar a frustração.
Ontem perdemos com a Alemanha, o sonho foi interrompido, a alegria foi cortada quando estava no auge, as expectativas foram frustradas...
Agora que perdemos o Scolari, apetece-me homenageá-lo. Este brasileiro racional e emotivo compreendeu bem os portugueses. Desafiou-nos a soltarmos a emoções, a mimar a selecção, a identificarmo-nos com as suas vitórias. E os portugueses seguiram-no, deixaram de ser tímidos e discretos ,de ter "vergonha de existir", de se sentirem ridículos, e passaram a ser competitivos, afirmativos!
O Scolari, com a sua inteligência emocional, uniu os portugueses!
Como dizia o Agostinho da Silva: "um brasileiro é um portugês à solta!"
Este brasileiro soltou os portugueses!
E se, em vez de futebol, fosse outra coisa qualquer?
E se houvesse um político com o carisma do Scolari, disposto a levar-nos para a frente, cativando-nos para a participação?
Há pessoas com uma inteligência especial para compreenderem os povos e culturas...
Por isso, ainda que agora os que têm menos capacidade de tolerar a frustração, o insultem e lhe atribuam as causas da derrota, como há 1 semana lhe atribuiam as grandes capacidades de liderança, eu penso que o que ele fez pelo futebol português e os adeptos fervorosos que conseguiu, de norte a sul do país e no estrangeiro, fazem dele uma figura inesquecível no panorama nacional!
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12 comentários:
excelente análise. mais: scolari reconciliou os portugueses com a sua bandeira, crise que vinha dos tempos do estado novo. realmente os portugueses soltaram-se e passaram a acreditar na sua selecção. um scolari na política seria óptimo para nós. mas não vejo ninguém com esse perfil, infelizmente. porque não descobrimos nós o scolari que há em nós, em cada um de nós????
É verdade, reconciliou os portugueses com a bandeira e com o hino, coisas de que tinhamos "vergonha" pq os associávamos aos tempos do império colonial, aos tempos da exaltação do nacionalismo.
Faltava alguém mostrar-nos que se pode ter orgulho em ser português.
Descobrirmos o scolari dentro de cada um de nós? Sim, tens razão no que dizes: podemos dar muito mais do que damos, podemos soltar-nos, vibrar,...
Mas, falta-nos a liberdade para pôr em prática alguns sonhos que gostaríamos de realizar. Faltam, muitas vezes, as condições, os estímulos.
Vivemos num país ainda muito dependente das políticas do estado.
Tomara que seja possível mudar um pouco este paradigma, para termos vontade de nos "soltarmos" mais, para bem de todos...
o país é dependente das políticas do estado, mas a maior culpa não será do estado, que bem gostaria de ver este povo a ter iniciativas e a organizar-se. a participação cívica é muito pequena, o voluntariado é diminuto. tem tudo a ver com o sentirmo-nos sociedade, comunidade. não sei de onde vem este individualismo exacerbado, mas a verdade é que ele existe.
São anos e anos e anos desta dependência: "quem pode, manda; quem não pode, obedece"
Isto "serve" a todos: os estados são autoritários e os cidadãos são preguiçosos e podem sempre atribuir as culpas a uma entidade abstacta.
Tomara o estado que os cidadãos fossem mais interventivos? Depende! Se precisarem de dinheiro para por em prática os projectos que julgam correctos, o estado torce o nariz...
Como se inverte isto? não sei. nunca trabalhei no sector privado, mas pasmo com a incompetencia de algumas universidades privadas e de alguns hospitais tb privados.
Educação cívica? sim, desde o princípio e a começar em casa.Mas uma educação cívica a sério, incentivando e estimulando à mudança, numa perspectiva não só egoista. Actualmente o grande problema dos jovens é só o seu percurso pessoal: conseguirem entrar na universidade e, mais tarde, conseguirem ter um emprego.
Culpa deles? Não creio. A haver responsabilidade, está mais do nosso lado, geração anterior, que não previu isto...
Na fase em que nos encontramos, continumaos a precisar de líderes. Líderes com visão, com conhecimento do povo que governam. O Scolari seria uma hipótese :)
Estou de acordo contigo, Reb! Sem dúvidas que Scolari(Socolari para um amigo meu) contagiou o nosso povo com a energia brasileira incentivando-nos ao Patriotismo e o pela nossa bandeira republicana. (Não posso deixar de escrever, tb, pela Nossa Senhora do Caravaggio! :P) Adiante, é pena termos perdido; é o hábito "portuga" de culpabilizar os outros pelos fracassos, mesmo que dias antes o venerassemos como 1 Deus. É uma questao de mentalidades e de simpatias. Eu sempre gostei de "socolari", da sua humildade e poder emocional, se bem que, nalguns aspectos, o considerasse tolo. Mas admitamos que esse brasileiro ficará na historia do futebol portugues...quer que gostemos dele ou não.
Beijinhos Reb! E...o Verão ja chegou :D :D
Apesar de tudo Scolari não é uma figura consensual. Havia muita gente à espera que Portugal perdesse para poder vir para a rua. Infelizmente e como estou no Norte do país consigo aperceber-me muito disso. E a diferença entre o antes de Scolari e o depois de Scolari é que antes de Scolari tínhamos ficado todos contentes com o grande jogo que fizemos, agora o homem habituou-nos a ganhar e a não nos contentarmos com grandes jogos e vitórias morais por isso para além de termos subjugado a Alemanha e de sermos muito melhores do que eles estamos completamente frustrados pela derrota... Com Scolari a nossa tolerância à frustração diminuiu muito...
O Socolari (sabe-se lá porquê né Dragutinovic?) elevou o patamar da selecção nacional até onde não tinha estado, e não bastou uma vez, mas em várias consecutivas. Tempo demais para o povo português deixar de ficar surpreso com um sucesso, para o passar a assumir como adquirido.
E o povo português deixou de puxar pela equipa como se fosse um 12º jogador para passar a exigir como se fosse uma obrigação. É o problema quando subimos alto demais, a queda passa a ser enorme. Mas continuo a admirar Socolari pelo que fez da selecção. Renovou uma equipa, elevou-a a um nível de respeito internacional, tudo em simultâneo. Não é fácil!
Por mim só lhe aponto uma falha: é certo que não devemos andar à pancada, mas quando é para perder a cabeça e andar mesmo, pelo menos acerte no tipo e parta-lhe o maxilar, agora festinhas é que não! Afinal, a selecção portuguesa é feita de gajos rijos!
:)))
todos apreciamos o que ele fez, não é? Até esse murro que não chegou a ser um murro a serio :)
woody, é verdade que ele nos habitou a ganhar e que, perder, se tornou mais difícil de engolir...mas não entendo o que queres dizer ao afirmar que mtas pessoas estavam à espera que perdesse...
Pq? por causa do vitor baís?
Agora um desafio:
vocês que são jovens e potencialmente disponiveis para acreditar em causas e lutar por elas ( não quer dizer que os mais velhos nãop o sejam...mas a vossa idade é uma bomba de energias:)....imaginem que o scolari era o nosso 1º ministro e decidia fazer qq coisa de grandioso pelo país contando com os portugueses. Imaginem que ele vos pedia ( com entusiasmo e emoção) que dedicassem alguns dos vossos fins de semana a fazer voluntariado: ajudar os mais carenciados, tratar da agricultura, limpar praias... sei lá, n coisas.
Aderiam?
:)
reb, relativamente ao murro, eu falei com alguma ironia, acho que o que ele fez foi inadmissível, e que o mais certo teria sido demiti-lo na hora!
Relativamente ao voluntariado, foi lançar aqui um pensamento que vai ser algo polémico e muita gente me vai cair em cima, mas eu sou contra o voluntariado!
E passo a explicar porquê, penso que quando fazemos bem o nosso trabalho, e quando ele se torna proveitoso para alguém, este deve ser recompensado. Não se trata mais do que um "comercio" justo. Se eu faço algo que é necessário e útil, esse trabalho está a beneficiar directa ou indirectamente alguém, e portanto acho que deve ser recompensado. Tanto mais que não seja, muitas instituições (entre elas as públicas) que recebem fundos para fazer caridade, afinal é uma obrigação social do estado, aproveitam-se da boa vontade de certas pessoas que estão a fazer um serviço que é da sua responsabilidade de forma gratuita. Acaba por ser um pouco de oportunismo das instituições que têm mão de obra barata (neste caso gratuita) de pessoas muitas vezes altamente qualificadas para o efeito, como é o caso de muitos que se prontificam apenas para ganhar currículo. Inconscientemente essas pessoas estão também a fazer gratuitamente um trabalho que desejam ser o seu emprego e remuneradas por isso, isto é, estão a tirar lugar a elas próprias, criando um ciclo vicioso que as instituições aproveitam da melhor maneira.
Não duvido que na torre das Antas tenham aberto umas garrafitas de chamapanhe com a derrota de Portugal mas nem estava a falar disso... Acho mesmo que o espírito vitorioso incomoda muitos velhos do restelo que estão sempre à espera de oportunidades para dizer mal e viu-se muito isso durante o apuramento e sempre que o homem dava um passo em falso... Apesar disso o sucesso do Scolari dificultava muito essa atitude, o que é muito irritante para quem só gosta dizer mal... Este velho do restelismo é um traço de personalidade dos tugas e sei que é inevitável, mas confesso que me custa ver tanta gente a criticar o Scolari por tudo e por nada. Simpatizo com o homem, só isso...
Relativamente ao voluntariado, eu não precisaria de um líder carismático como o Scolari mas penso mesmo que este país poderia dar um grande passo se houvesse um maior apelo à participação nas instituições democráticas e na acção social. Incentivo esse que teria que começar muito cedo (na escola),visto que nada pode ser tão pedagógico como participar em voluntariado, tem um potencial enorme.
É por isso que discordo em parte com o que o Nuno diz. Sei que há muitas instituições privadas e públicar que se aproveitam da boa vontade das pessoas e de uma situação profissional difícil para terem mão-de-obra escrava (no caso da Psicologia é um escândalo... sei de grandes hospitais públicos que têm dezenas de psicólogos em voluntariado a fazerem funções de psicólogo...). No entanto não devemos cair no erro de achar que isto é voluntariado, isto são aberrações. Nem todas as recompensas são monetárias. Nada é tão compesatório do que ter a oportunidade de, para além do emprego em que somos devidamente remunerados e que nos sustenta, poder contribuir para o desenvolvimento da nossa comunidade, ajudar quem precisa, desenvolver novos projectos, contribuir para um mundo melhor... Para além disso aprendemos imenso, como experiência de vida é impagável!
Já falei sobre isto num post anterior por isso não me alongo mais. É mesmo um tema que me interessa muito.
Caros jovens comentadores, adoro saber as vossas opiniões:) Lembrem-se sempre: o futuro são vocês!
Quanto ao voluntariado: concordo com a perspectiva de exploração que é feita da boa vontade de muitos estudantes ou recem-licenciados.O exemplo dos psicólogos é flagrante. Tenho uma amiga que trabalhou anos a fio no hspt de santa maria, completamente à borla, como se isso fosse condição necessária para um dia poder ganhar pelo seu trabalho. Relativamente aos biologos( tenho uma filha que estuda biologia marinha) a situação é identica: há biOlogos licenciados a praticar voluntariado no oceanário, nos zoos, etc....e que se sentem indignados por não receberem nada pelo seu trabalho.
Mas isso são voluntariados à força!
O conceito de voluntariado é, como diz o woody, muito mais abrangente. São actividades de grande utilidade e de grande gratificação pessoal. Se um jovem dedica um dos seus fins de semana a fazer trabalho social, não só pode ajudar realmente quem precisa como se vai sentir muito realizado. Aprende o que são as outras realidades, aprende com quem ajuda e torna-se, seguramente, uma pessoa melhor. Sai do seu casulo para conhecer o mundo.
A experiencia do "grupo alimentar contra a fome" tem sido extraordinária em portugal. De país de egoístas, parecemos ter revelado que, afinal, somos bastante solidários. Uma das minhas filhas esteve na última campanha e descreveu-me o trabalho nos armazéns como uma ctividade muito bonita, em que, pessoas de várias idades, trabalharam horas a fio com uma grande motivação e alegria.
Ajudar os outros faz-nos bem!
Como passei do scolari para o voluntariado? :)
Imaginando que tinhamos um 1º ministro que apostava na solidariedade dos portugueses e estimulava a organização de fins de semana de voluntariado.
Penso que muitas pessoas adeririam, em particular os jovens!
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