quarta-feira, 7 de maio de 2008

Comunicação verbal

Nas disciplinas de Língua portuguesa e Línguas estrangeiras, é suposto levar os alunos a desenvolverem as suas capacidades de comunicção verbal, aperfeiçoando as suas competências comunicativas ( verbais).
Estas competências ,na oralidade, são falar e ouvir e, na escrita, são escrever e ler/compreender um texto escrito.
Na comunicação verbal oral, valoriza-se mais a capacidade de falar do que a de ouvir, ou seja, o peso dado à condição de emissor é superior ao dado à condição de receptor.

Na sociedade em geral, passa-se o mesmo. É frequente ouvirmos dizer que fulano de tal tem uma óptima capacidade de expressão oral: um discurso claro, bem elaborado, inteligente, interessante ( não se torna enfadonho para os seeus interlocutores). Raramente ouvimos dizer de alguém que é um "bom ouvinte", que se concentra no discurso de outrém, fazendo poucas interrupções, escolhendo as perguntas certas para manifestar o seu interesse e estimular o "falante" a explicar-se melhor.

O meu desafio é o seguinte: de todas as pessoas que fomos conhecendo, tentemos escolher uma que se caracterize por ser capaz de ouvir atentamente. Não é necessário identificarmos a pessoa em questão, mas tentar caracterizá-la nessa sua competência, tantas vezes menosprezada :)

29 comentários:

LB disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
LB disse...

Sim, é verdade q na espécie humana, como na natureza em geral, quem dá + nas vistas é q se safa (e, por isso, ao longo dos tempos, a selecção natural tem se encarregue de apurar estas valências).
Faço aqui um paralelo entre o emitir/captar visual e verbal.
Parece-me q o saber ouvir está intimamente ligado ao saber observar/ver.

Sendo o universo à nossa volta mt + rico q o nosso interior (pq este reflecte apenas uma pequena parcela, filtrada do 1º), parece-me evidente q é mais importante, para a nossa evolução, saber observar/ouvir /ler, e, processar o q se capta, do que exibir/falar.
(é tb verdade q ordenamos o nosso raciocínio a expor, a falar ou a escrever)…

Qd ao desafio da REB…, pois, eis algumas da características do perfil das pessoas ouvintes/observadoras que conheço (por coincidência ou, talvez não):

1) Flexíveis no pensamento
2) Tolerantes
3) Cultas
4) Baixa agressividade
5) Sensatas
6) Indecisas
7) Altruístas
8) Calmas
9) Passivas

reb disse...

Gostei da analogia que fizeste entre saber ouvir e saber ver. De facto, os sentidos tb se educam.
Qto a "o universo exterior ser mto mais rico do que o interior" já não concordo. O nosso mundo interior, fruto de como processamos a informação dos sentidos, mas não só, é um "universo" muito complexo. Já aqui falámos de pensamentos e emoções e sentimentos :)

Das caracterisiticas que apontas, só não concordo com 2: indecisos e passivos.
Indecisão penso ser uma caracteristica independente desse binómio emissor/ receptor.
Passividade penso ser outra coisa ainda. Pode-se ser um observador, um ouvinte muito activo. Saõ pessoas capazes de recolher informação, atentamente, com uma grande capcidade de concentração...e que processam essa informação com eficiencia.
Realmente, o que julgo aqui estar mais em evidência é a capacidade de focar a atenção...

TãoSóUmPai disse...

Tive vários ouvintes e sou um bom ouvinte num contexto de aprendizagem. Um meu bom ouvinte foi um professor de finanças, Neves Adelino. Para ele, uma pergunta nunca foi estúpida, e sempre respondeu com ojectividade e sinceridade, Mais tarde confessou-nos: o importante é termos a postura correcta e essa será, sempre, o de estarmos predispostos a aprender com cada questão e pergunta que nos façam. E eu, sempre fui um bom ouvinte do Neves Adelino. Mas este é só um exemplo. Bons falantes, já ouvi alguns, muito deles sem dizerem nestum, apenas palavras bonitas, com uma dicção maravilhosa, até sem saberem nada do assunto que abordavam e que, por isso, o rodeavam.

reb disse...

Há quem fale, sem dizer nada;
há quem oiça sem saber escutar;
há quem olhe, sem saber ver...

Aqui falemos dos outros :)

idadedapedra disse...

ora este é um desafio difícil...
Eu própria, que me considero boa ouvinte, actualmente nem sempre oiço o que me dizem na totalidade; a cabeça por vezes perde-se em associações de ideias e quando tento voltar a encontrar o fio à meada tenho que ir buscar frases ditas ali pelo meio, que me ficaram gravadas na memória auditiva, mas que não chegaram a ser processadas pelo cérebro; e normalmente funciona.
As minhas viagens diárias de regresso a casa com a miúda mais nova, são cerca de 20-30 minutos de treino de ouvinte, porque ela descarrega o dia dela naquele bocadinho. Como eu normalmente venho cansada e com a cabeça cheia de pensamentos tb, lá vou usando esta táctica de guardar no ouvido frases e juntar depois o puzzle.
Mas estive aqui a percorrer mentalmente os meus amigos e realmente acho que são mais eles a falar e eu a ouvir :)
Quando li as características que o LB aqui escreveu pensei: eh pá, o gajo é esperto... deve ter pensado muito antes de escrever... ou então foi à net pesquisar :)
Não sei se é necessário ser culto para ser bom ouvinte; indeciso tb não. O resto acho que foi muito bem pensado e não tenho nada a acrescentar:)

reb disse...

E achas que um bom ouvinte é passivo?
Eu acho que a concentração que é necessária para apreender o que se está a ouvir, implica acção do cérebro.
Pensa num aluno numa aula, ou num de nós a escutar alguém num congresso...

Tão só, um Pai disse...

Ser um bom ouvinte implica perceber que, não obstante as dissonâncias que nos causa o nosso interlocutor, ele tem o direito, até ao fim, de nos indicar os porquês, mesmo que não concordemos. O facto de não termos questões a pôr, não significa que não tenhamos questões. Pura e simplesmente podemos estar confundidos e em dissonâncias com o que julgamos já sabber, ter ouvido ou vivido, o que precisa de ser esclarecido e articulado mentalmente dentro de nós, antes de manifestarmos, de forma objectiva e positiva, os pontos de concordância e discordância. Outras vezes, ouvimos e nada dizemos porque concordamos. Outras, ainda, o que foi dito não é negociável enquanto interacçãao de saberes e ideias.

reb disse...

IP, essa coisa que descreves de reter algumas frases para as processar mais tarde já me aconteceu...
Deve ser uma técnica de economia da atenção :)

idadedapedra disse...

se um bom ouvinte é passivo?
É passivo no sentido de deixar o outro falar, mas eu quando oiço e tenho que estar a seguir o pensamento, faço perguntas pelo meio sim. E tenho o cérebro ocupado na conversa. Nesse sentido estou a participar tanto como o falante, só que numa forma mais passiva. Depende da definição que se dê a passivo :)

LB disse...

Concordo e, parece-me óbvio, que o ser bom ouvinte implica saber focar a atenção no outro (La Palice).
Agora, penso q implica, acima de tudo, disponibilidade mental e modéstia na atitude.
Todos nós somos bons ouvintes qd nos interessa a conversa/discurso. O que considero q diferencia a atitude do puro bom ouvinte é, a sistemática disponibilidade para o outro. Para descobrir e alimentar interesse onde, aparentemente não existe.

Os adjectivos q usei, não os relacionei directamente com as valências de "bom ouvinte", apenas citei as características + marcantes de alguns “bons ouvintes” que conheço.
Mt possivelmente, tal como a Reb e a IP questionam, algumas delas não têm nada a ver com o serem bons ouvintes, mas genericamente com as pessoas em causa.
Não tenho veia de psicólogo para analisar.

Mas posso especular que a atitude sistemática de “ouvinte/observador”, seja + passiva e condicione a pessoa nesse sentido.
Tb qt à indecisão: A decisão implica, a partir de certa altura, só te ouvires a ti (deixar de ser ouvinte)….

reb disse...

Compreendo tudo menos a última frase: a decisão faz-te deixar de ser ouvinte?
Então eu não posso decidir que quero ouvir? :)

JÁ estamos a filosofar de novo :))

ZIB disse...

Costuma-se dizer (mais 1 lugar comum :-), que saber ouvir é uma “virtude” (intrínseca). Será? Ou será mais uma questão de educação? Para conseguir entender o que se ouve, realmente há que estar atento e dar oportunidade ao cérebro de ir processando a informação. Mas se interrompemos o interlocutor, não o deixaremos acabar e a comunicação pode frustrar-se e frustrar o emissor. Conheço várias pessoas que, por vezes, me interrompem para dar a sua opinião ou para falar de outro tema, seu, que entretanto lhes ocorreu. Será que as pessoas que não sabem ouvir e interrompem o interlocutor, é porque acham que se não intervêm o interlocutor pode pensar que não o estão a ouvir? Ou será porque, simplesmente, não sabem ouvir? E não sabem ouvir porque são egocêntricas e lhes é mais premente falar delas? Ou interrompem simplesmente porque há conversas e conversas, temas que nos podem interessar mais ou menos, estados de espírito do momento, necessidade de exteriorizar problemas…. Porque há tantas variáveis a interferir no nosso comportamento nesse binómio emissor-receptor, falar/ouvir … que é difícil classificar as pessoas em boas ou más ouvintes.

idadedapedra disse...

eu passo o dia a ouvir... as mães a falar dos filhos... e tenho que as interromper para fazer perguntas que são importantes para conseguir aperceber-me do que se passa realmente com as crinças, porque há dados ali pelo meio que se eu não lhes perguntar elas não valorizam porque não lhes deram importância. Isto é um treino para ouvir tb noutras circunstâncias. Eu se estou a falar não me importo nada que me interrompa desde que seja sobre esse assunto, porque é mais uma visão do problema que é sempre útil.
Na vida social, acabei de me aperceber com esta dispersão que, por a experiência de vida já ser grande, muitas vezes interrompo para contar uma experiência semelhante pela qual já passei. Acho eu que faço isso para tentar ajudar a outra pessoa a perceber o que se passa com ela. Será que o faço porque gosto mais de falar de mim do que de ouvir os outros? Por uma questão de orgulho daquilo que já vivi? às tantas...

idadedapedra disse...

ah, mas é que há aqui mais um dado novo... com a perda de células de memória que nos vai acontecendo com a idade, se eu não disser na altura aquilo que tenho para dizer, nunca mais digo porque se desvanece completamente do meu cérebro... tenho que passar a andar com um caderninho onde aponto as minhas ideias enquanto oiço para poder falar a seguir :)

Tão só, um Pai disse...

IdP,

Lendo o que escreves, de baixo para cima,


"Será que o faço porque gosto mais de falar de mim do que de ouvir os outros? Por uma questão de orgulho daquilo que já vivi?"

Olha, os contextos do "ouvir" são múltiplos. O "saber ouvir" muda com esses contextos. Por vezes, precisamos de reflectir sobre o que ouvimos, reservamo-nos ao silêncio, tendo o cuidado de o explicar a quem ouvimos, se também for essa a expectativa de quem foi ouvido. Por vezes, precisamos de questionar quem foi ouvido, precisamos de saber mais, damos exemplos de situações ou experiências pessoais. Porque contextos há em que o ouvir se integra num processo de interagir activo, mesmo que não o seja no momento. Não é uma questão de orgulho mas de reciprocidade, e também de atenção, quando não preocupação, com o que e quem foi ouvido.

Claro, outros contextos existem em que o ouvir se concentra na informação, e no ouvir o interagir dos outros.

Também há pessoas que divagam horas sobre tudo e nada. Precisam de solidariedade, no silêncio dos que os ouvem. :)

reb disse...

Na vida real, falamos e ouvimos, não é?
Aliás, comunicar é isso!
Em algumas profissões ( a IP fala disso, mas imaginem tb os psicólogos) há que treinar a competencia de ouvir: saber ouvir atentamente, ou seja concentrar no discurso do outro, impedindo os próprios pensamentos de dispersarem.
Isso treina-se ou educa-se, como diz a Zib...mas todos sabemos que há pessoas incapazes de "ouvir"...
Quem diz ouvir, diz observar( como diz o LB), captar o exterior, focar a atenção no que está fora de si...
Reparem nisto:
Já me aconteceu estar num local mto bonito, seja uma paisagem, seja um outro sítio pouco banal, e a pessoa com quem eu estava, em vez de reparar no que a rodeava, começar a falar de si mesma, dos seus problemas, etc. Ou seja, era indiferente para ela ter um por-do-sol pela frente ou um prédio cinzento...
Tmabém já me aconteceu o contrário, conhecer pessoas que me chamam a atenção para algo que estão a ver e eu não tinha reparado.
São aquelas pessoas que nos "ensinam" a ver. Qdo se trata de música, há pessoas que nos ensinam a ouvir, não é verdade?

São os bons receptores :)

Tão só, um Pai disse...

... :) ... também há preocupações que não nos deixam ver a beleza das coisas ... :) ... é a vida ... e há malta que não se consegue calar por um minuto ... talvez por se sentir desconfortável ... com o silêncio ... fala por obrigação porque acha que o silêncio é falta de comunicação ... enfim, pequenos mal entendidos ... sentir :)

reb disse...

É verdade que uma mente preocupada tem dificuldade em "ver" e "ouvir".
Com os miúdos isso é muito transparente: qdo têm problemas familiares, deixam de conseguir concentrar-se nas aulas...

harumi disse...

Saber ouvir é importante desde que não tenhamos por companhia um fala-barato.
Mas já agora que a reb lançou este tema, coloco também uma questão para a qual nunca encontrei uma explicação razoável. È assim:
Nós pensamos com linguagem, não é, o que em princípio nos diz que qunto melhor for a utilização dessa linguagem, ou mais rico o seu vocabulário, melhor será a qualidade da articulação do pensamento.
Então porque é que por vezes encontramos pessoas que sabemos serem inteligentes, escritores por exemplo, que têm uma enorme dificuldade em expressarem-se com harmonia e utilização rica de linguagem, fazendo com que se nos apresentem como pessoas com dificuldade de expressão verbal? E depois sentam-se a uma secretária, começam a escrever, e a coisa sai perfeita.
Pergunto eu, então mas as palavras escritas ou ditas não são as mesmas? Ou será que ao escrevê-las o tempo de raciocínio é mais longo, conferindo assim uma vantagem?

reb disse...

A comunicação verbal tem 2 formas de expressão: oral e escrita.
A competência designada de expressão verbal oral depende de muitos factores relacionados com a personalidade da pessoa, ou seja questões de ordem emocional. Já aqui falámos de timidez e inibição. Há pesssoas com dificuldade no contacto a dois, outras têm mais problemas em dirigir-se a uma assembleia.
Por que é que vemos tantas pessoas a lerem papéis qdo fazem uma intervenção pública?
Para que o discurso seja fluido, é preciso que o comunicador tenha à-vontade, bom timbre de voz, consiga olhar para a assembleia, etc
Por outro lado, escrever é uma actividade mais "livre": não havendo a pressão do interlovutor, dá-se tempo ao pensamento para encontrar as frases mais correctas...

idadedapedra disse...

Harumi: quem disse que pensamos por palavras? Eu acho que na sua origem o pensamento é uma ideia que depois transpomos para palavras. Os putos pensam antes de saber falar e sabem fazer-se entender por expressão corporal. Os surdos de nascença, pensam também e não conhecem as palavras antes de aprenderem a escrever ou a exprimir.se por linguagem gestual. E nós próprios, quantas vezes não encontramos a palavra para exprimir aquilo que estamos a pensar?

reb disse...

Comunicamos através da linguagem verbal e não-verbal ( ouvintes ou surdos).
A linguagem verbal estrutura o nosso pensamento, permitindo-nos conceptualizar e, desta forma, ter um pensamento abstracto.
A linguagem gestual dos surdos é apenas uma outra linguagem. Serve para comunicar e pensar ( os gestos exprimem conceitos tal como as palavras)

idadedapedra disse...

eu não estava a falar em comunicação, estava a falar em pensamentos; só exemplifiquei para demonstrar que os pensamentos não são por palavras... como dizes, as palavras só os estruturam, mas há uma ideia inicial que não é por palavras

reb disse...

Recentemente, aqui em casa estudava-se a génese do pensamento. A cadeira é "pensamento e linguagem". Interessei-me pq se falava disso em linguistica qdo andei na universidade.
Relembrei:
as palavras são símbolos/ conceitos. Qdo falo de "mesa" existe o conceito de mesa entre mim e o meu interlocutor. As palavras são compostas de significante e significado. Entendemo-nos dentro do mesmo código linguistico.
Isto para chegar ao seguinte: se não tivesses conceitos adquiridos ( através de palavras) não terias pensamento. Talvez tivesses sensações/ emoções/ sentimentos....mas não terias pensamentos...

reb disse...

Só podemos pensar pq a linguagem nos permite uma representação mental de tudo o que conhecemos.

harumi disse...

Acho que a linguagem é fundamental no processo do pensamento.
Reparem, por exemplo, que se um português estiver radicado há vários anos em Inglaterra, naturalmente lhe perguntamos: Pensas em português ou em inglês?

idadedapedra disse...

eu acho que a ideia inicial não é por palavras, é como um flash, que depois nós organizamos em pensamento e aí sim, é na língua que falarmos no dia a dia.
O Damásio deve falar sobre isso no livro do sentimento de si, mas não me lembro. Talvez sejam só sensações e emoções e sentimentos, que tudo junto compõe a ideia que nós depois transpomos rapidamente para palavras... Mas eu tenho tantas vezes uma ideia que não consigo transpor para palavras, às vezes até acho que não existe a palavra para dizer aquilo que estou a pensar... mas se calhar é só o que estou a sentir e não a pensar... é possível... a distinção entre sentir e pensar é difícil

reb disse...

Sim, é dificil traduzir pensamentos por palavras. Mesmo qdo falamos de AMOR, cada um de nós associa a coisas um pouco diferentes. Os sentires não são totalmente racionalizaveis...
Mas o pensamento é linguistico. Damos nomes a tudo o que existe: céu, mar, pessoas, casas, ...
Usamos a sintaxe para construirmos as nossas ideias sobre tudo: vou até à praia; gosto deste sítio; estou irritada, ...tudo...

As palavras não servem só para comunicarmos com os outros, mas tb connosco próprios através dos pensamentos...