segunda-feira, 19 de maio de 2008

O mundo sem som...

Lembram-se do filme "Filhos de um Deus menor"?
Havia uma personagem surda desempenhada por uma actriz lindíssima, surda tb.
O que mais me fascinou foi a forma como ela contava ao seu namorado ( ouvinte) como era o seu "mundo sem som". A forma como falava de música, por exemplo. Há uma cena em que estão na discoteca, e ela começa a dançar, sentindo as vibrações . Está na pista, de olhos fechados, e ele encosta-se a uma coluna a observá-la. Quando a música acaba ela abre os olhos de repente...

Já viram grupos de surdos a comunicarem? Em algumas escolas, há núcleos de deficientes auditivos. Quando vou a alguma dessas escolas, fico deliciada a ver e ouvir aqueles movimentos de mãos, aquele bailado, as risadas pelo meio. Sinto-me analfabeta por não os compreender. A linguagem gestual deveria ser ensinada a todos nas escolas.

Li, num dos textos do blog da Margarida, relatos de pessoas que fizeram, já adultas, implantes cocleares. Havia um senhor que dizia que lhe custou muito a adaptar-se a um mundo de ruídos que ele não conseguia discriminar. Acabou por se adaptar, mas, de vez em quando, isola-se, vai ver o mar, e desliga a maquineta, para poder estar em paz com o seu querido silêncio.
O silêncio é de oiro!...

40 comentários:

Um lugar ao Sul disse...

O silêncio é de oiro, mas poder ouvir é uma bênção que não lhe damos o devido valor, nunca imaginamos o que é viver sem poder saborear a vida com todos os sentidos.

Mas acredito que quem, infelizmente, não possa usufruir de igual forma de todos os sentidos, aprendeu a desfrutar de todos os outros de uma forma que a todos nos fará inveja!

Tão só, um Pai disse...

Sim, Nuno, pior do que não ouvir e começar a fazê-lo, será ouvir e deixar de o conseguir. Neste último caso, o silêncio é inevitável, e não uma opção. Conheci pessoas que recorriam a aparelhos auditivos no seu dia a dia profissionl e, quando a conversa não lhes interessava, desligavam o aparelho e desculpavam-se com a descarga da bateria :) ...

Experiências de surdez, tive algumas, claro está, temporárias, e não gostei, possivelmente por razões que não afectam os surdos verdadeiros. Ouvir a minha voz como se tivesse a cabeça dentro de um caixote fechado, o engolir da saliva, a necessidade de olhar para o lábios do outros ... deve ser por isso que não suporto auscultadores cujo uso, aliás, se prolongado, até não dará grande saúde à audição.

Tão só, um Pai disse...

... quanto ao dançar sem música e fazê-lo ao som das vibrações ... é algo que nunca poderei avaliar ... apenas me conheço de continuar a dançar com o par, mesmo depois de a música acabar, como se continuassemos a ouvi-la ...

JR disse...

Porquê esta permanente insatisfação com aquilo que temos?
Veio-me agora à memória uma canção do Sérgio Godinho que dizia: “Só quer a vida cheia que teve a vida parada”. Esta era uma frase plena de sentido à época (25 de Abril). Plena de sentido para quem teve ou tem a vida parada.
Mas, como de costume, começo a interrogar-me. Porque é que temos a vida parada? O que é uma vida plena? Porquê esta tentação de sempre ignorarmos o que temos e de nunca lhe dar o valor devido?
Outro tipo de perguntas: será que temos consciência de ter a vida parada? Ou será que só obtivémos essa consciência com a enchente de possibilidades que se abriu após o 25 de Abril?
Depois, há outras perguntas (outro tipo de perguntas) que para mim, a partir de uma dada altura se tornaram irrelevantes. Deus existe ou não? Nem uma nem outra coisa são possíveis de provar pela razão. Portanto, torna-se uma pergunta irrelevante. Deixa de haver razão para ser colocada. No entanto, num certo sentido, existe e a sua presença é iniludivel.
Se olharmos o grupo de miúdos surdos, ou o filme dos “Filhos de um Deus menor”, poderemos “ambicionar” possuir outros sentidos mais desenvolvidos. Mas não será o olhar que lançamos sobre os outros uma certa tolerância “arrogante”? Um coitados... mas gostaria de sentir aquelas vobrações...
O que nunca deixa de me surpreender (isto é uma força de expressão) é que nunca (quase nunca) haja o intuito de valorizar e utilizar em toda a sua dimensão os sentidos que temos.
O tacto, por exemplo. Sentir os objectos. Sentir a superfície de uma mesa, os contornos de uma cadeira, a pele de uma árvore, a pele da/o nossa/o companheira/o ou parceira/o. E ouvir. Escutar. O ruído, o silêncio. E o olhar? Experimentem escutar o olhar...
Se não usamos os nossos sentidos, se não os exploramos, para quê ambicionar os de outros?
Não são as aptidões de outros que nos trazem a felicidade.
E não é a felicidade o que todos queremos?

TãoSóUmPai disse...

JR, :) mas nos estamos contentes com o que temos, e não queremos cá coisas ultrasensoriais ... :)

nelio disse...

reb, começo por fazer uma correcção: não é linguagem gestual, mas sim língua gestual, uma vez que formalmente é uma língua, com tanta riqueza como qualquer outra. tem gramática, semântica, etc, etc. a única diferença é que cada signo em vez de ser representado por um conjunto de sons é representado por um gesto ou conjunto de gestos. como as línguas faladas, cada país tem a sua língua gestual. muitas pessoas acham estúpido não haver uma língua gestual universal. tão estúpido como não haver uma língua falada universal, uma vez que as línguas gestuais se desenvolveram autonomamente umas em relação às outras, tal como as línguas faladas.

posto isto, o mundo dos surdos. como sabes, por força das circunstâncias, é um mundo com o qual convivo. não é muito diferente do mundo dos ouvintes, embora os surdos de alguma maneira, ao não estarem sujeitos à puluição sonora a que nós estamos, mantêm uma ingenuidade e uma paz que nós vamos perdendo. são impressionantemente visuais, nada lhes escapa. de resto, são pessoas como as outras, talvez um pouco mais de pé atrás, pois sofrem bastante, desnecessariamente, ao terem que lidar com esta nossa sociedade mesquinha que desvaloriza e discrimina qualquer diferença.

se estás interessada nesta temática, é de leitura obrigatória um livro escrito por uma surda francesa que se tornou actriz, interpretando precisamente a peça em que o filme "os filhos de um deus menor" se inspirou. aí encontras um mundo fascinante. o livro chama-se "o grito da gaivota" a a autora Emannuele Laborit. suponho que ainda esteja à venda, não deve ser difícil encontrar.

Margarida B. disse...

Querida Reb,adorei o teu post sobre esse filme.:)


Cheguei a vê-lo,há uns anos no Ins.Surdos d Funchal.Vim só dizer, que comento amanha, à noitinha, porque estou pelo joelho com a carga de trabalhos e apresentações.:XX bahh
Obrigada t interessares sobre a cultura surda, que não é nada de outro mundo, como muitos pensam e, alguns surdos, julgam.


Um abraço fraterno!
Margarida

reb disse...

Nélio, obrigada pela correcção: de facto, não é uma linguagem ( como a linguagem matemática ou outras) mas sim uma língua.
Sendo uma língua, pq razão não se inclui no curriculum de línguas estrangeiras( nem que seja como opção?).
Se não a aprendemos, como podemos comunicar com pessoas surdas?

A questão do apuramento dos outros sentidos interessa-me muito. Como é a relação com a música?
Qto ao livro, vou já encomendar :)

Margarida, este post foi criado a pensar em ti. Compreendo qdo dizes que o mundo dos surdos não é tão diferente assim, somos pessoas para além das nossas limitações numas áreas e vantagens noutras.
A música sente-se? Os outros sentidos são mto apurados?
A atenção é maior ao que se passa?
queres falar-nos sobre isso?

Muito obrigada pelos teus ensinamentos e muita sorte para os estudos!
Ficaremos à tua espera :)

muitos beijinhos!

idadedapedra disse...

as perguntas que eu tinha na cabeça sobre isto já foram colocadas que era exactamente pq é que não se aprende na escola a língua gestual e se a língua gestual era universal ou não.
Imagino o difícil que será ser surdo na nossa sociedade...

nelio disse...

é curioso que actualmente para os surdos a língua gestual é encarada como a língua mãe. estudam o português escrito como segunda língua. muitos surdos conseguem, através da percepção da vibração das cordas vocais, aprender a falar, a oralizar. uma coisa que eles detestam é que se lhes refiram como surdos-mudos, pois mudos não são, apenas lhes é mais difícil oralizar porque não têm o aporte auditivo.

nelio disse...

IP, pelo que me apercebo, muitos surdos estão bastante bem integrados. se calhar ser idadedapedra é bem mais difícil.... :)

reb disse...

Do que eu li dos textos de blogs, parece-me haver 2 correntes: uma que defende a lingua gestual como lingua de comunicação por excelencia e outra que defende a oralidade...
talvez o nelio ou a margarida nos possam esclarecer...

idadedapedra disse...

nélio: espero que ninguém se ofenda com a comparação, mas o contacto mais próximo e duradouro que tive com um surdo, foi com um gato. Enquanto vivemos num apartamento a vida dele era fácil, embora apanhasse grandes sustos quando lhe aparecíamos pela frente sem ele nos ter sentido com o olfacto... quando passámos para uma vivenda ele rapidamente desapareceu, imagino que atropelado por um carro que não ouviu ou um cãozarrão... É isso que me faz impressão no ser surdo, só dar pelas coisas quando as vêem. Eu sei que eles têm os outros sentidos mais apurados, mas no meio da confusão duma cidade, na minha imaginação deve ser ainda mais confuso.
Eu adoro o silêncio. Burra como sou em tecnologias, comprei uma "silenciador", achando que aquilo me permitiria estar em completo silêncio quando desejasse :))) Burra, aquilo só serve para tirar os ruídos quando se tem os headphones a dar música :)))

nelio disse...

IP, nem eu nem tu podemos imaginar o que é viver sem som, porque sempre tivemos o som para nos orientar, mas a verdade é que um surdo se orienta tão bem numa cidade como eu ou tu. há muitos mitos que é necessário desfazer. os surdos ainda têm dificuldade em que lhes passem o atestado médico para tirarem a carta de condução, mas os surdos que eu conheço e conduzem, conduzem com tanta segurança como eu ou tu. há um tipo de sensibilidade que nós não temos quase nada desenvolvido, que é a sensibilidade vibratória. todo o som produz vibração. nós habituámo-nos a sentir só as vibrações associadas aos sons graves, mas todo o som é vibração. lembra-te disso. o principal perigo para os surdos são os ouvintes e a sua intolerância. a sua pena também, às vezes faz mais estragos do que a intolerância. se eu fosse surdo, detestaria que tivessem pena de mim, assim como detesto que tenham pena do pedro por ele ser como é, ou que tenham pena de mim por ser seu pai.

reb disse...

Nélio, compreendo-te perfeitamente. Habituámo-nos a considerar que pessoas com algum tipo de deficiência são diferentes de nós em tudo.
O que acho inconcebível é que não seja possivel mudar a propria estrutura das cidades cheias de barreiras arquitectonicas. Como é possivel que todos achemos normal que o acesso a edifícios publicos ( para já não falar de prédios de habitação) seja vedado a pessoas com dificuldades de locomoção?. Como podemos aceitar que, na televisão, só haja tradutores de língua gestual em pouquíssimos programas?? e os desenhos animados para crianças?? Ninguém se lembra que alguns não ouvem?
Faz-me confusão que se faça tão pouco pela integração de todos...

O que muito me satisfez ultimamente foi ver vários blogs de jovens surdos e constatar que todos os que têm blog são pessoas comm sucesso, lutadores e orgulhosos.
Isso deixa-me esperançada!

Qto às vibrações do som...pois é....eu já nem as sinto, a não ser qdo vou a uma discoteca, o que é raro :)

reb disse...

Nélio, pena é a pior coisa que podem sentir por nós, seja lá porque razão for...

@Memorex disse...

Nem sempre o silêncio é de oiro e tão deslumbrante, mas fez-me o que sou em toda a sua complexidade.

Um bem haja por ter-te encontrado.

Beijos outrora silenciosos, agora melodiosos.

M

nelio disse...

ocorreu-me agora uma imagem. se os morcegos ou as toupeiras fossem animais ditos superiores, com uma inteligência e uma percepção do mundo semelhante à do bicho-homem, far-lhes-ia imensa confusão como é que nós conseguimos viver sem a percepção dos ultrasons dos morcegos ou sem a visão táctil das toupeiras. se olharmos à nossa volta para a natureza, há imensas maneiras de percepcionar e nós, bicho-homem, somos extremamente limitados, mesmo quando temos os cinco sentidos a funcionar. o que complica as coisas é que a sociedade está organizada para as pessoas com os cinco sentidos, sem respeito pela diferença, como dizes, reb. nos estados unidos da america há uma cidade onde a maioria das pessoas são surdas e a língua oficial é a língua gestual. é uma cidade tão complexa como qualquer outra. tem polícia, universidades, instalações desportivas, lojas, divertimentos, tudo.

outro mito com que me deparo muitas vezes é o mito de que as crianças surdas aprendem mais lentamente do que as outras. na prática a´te pode ter algum sentido, só que as pessoas se esquecem que enquanto uma criança ouvinte adquire os códigos de comunicação e desenvolve o simbolismo em contacto com centenas de pessoas falantes, normalmente os surdos convivem com um número reduzido de pessoas que comunicam por gestos. é tudo uma questão de quantidade de estímulos. aprendemos a falar e a associar um conjunto de sons às coisas e às pessoas, aos lugares e às acções, através da repetição. tantas vezes ouvimos as pessoas chamar pato ao pato, que começçamos nós tembém a chamar pato. se de toda a gente que está à nossa volta apenas uma minoria chamasse pato ao pato e as outras o nomeassem de uma forma imperceptível para nós, levaríamos mais tempo até lhe chamarmos pato. óbvio, não?

@Memorex disse...

Não podemos dizer que a perda de um sentido afecte no seu todo, neste caso a audição não minimiza a nossa capacidade de ver as coisas tal como é o mundo.

Quando uma pessoa não possui um dos sentidos, tem outros atributos que apuram esta perda (geralmente isto acontece).
A nossa consciência determina aquilo que podemos alcançar consoante a perspectiva, ela própria mede a nossa capacidade de adaptação e isto é uma forma de inteligência.

Quando falo de adaptabilidade, existem pessoas surdas que integram facilmente na sociedade e outras nem por isso, vivem apegadas no isolamento.

Por vezes, penso que não tiveram a formação educativa suficiente ou talvez o método de ensino não seja adequado e precise de ser mais abrangido a nível linguístico, devido á pobreza de vocabulário e á escassez de cultura dos Surdos gestualizados.

A prioridade para uma criança surda desenvolver as mais variadas antologias durante o processo de crescimento deve passar-se pela aquisição da linguagem oral onde a estrutura gramatical e a sintaxe são mais ricas e só mais tarde depois de ter a linguagem consolidada adquiria a Língua Gestual Portuguesa.

Devido a esta penalização demonstra que a Língua Gestual Portuguesa não tem gramática e nem sequer verbos conjugativos o que dificulta muito a aprendizagem de escrita para uma criança Surda. Obviamente a Língua Portuguesa deve ser integrada logo no primeiro contacto da Língua Gestual Portuguesa na criança Surda e ser um tema obrigatório em casa e nas escolas.

Seria um factor determinante para a construção da sua personalidade, e ter uma visão mais ampla do mundo ao fim de sociabilizarem e debatendo opiniões diversas dando-lhe uma avaliação crítica e de autocrítica com os demais colegas, surdos e ouvintes numa turma mista.
Existe uma ligeira diferença entre Surdos oralizados e Surdos gestualizados em todo o sistema cognitivo, quer em termos de linguagem, quer a nível de conhecimentos, de compreensão e pensamento.

No entanto, o nível de aprendizagem pode ser um tanto demorada, pois cada caso é um caso.

Eu sofro de Surdrez Profunda desde a mais tenra idade, no entanto sou uma das pessoas que a Red mencionou a respeito de Implantes Cocleares.

È certo, sou mais uma implantada neste Universo e olhem não compara nada a operação que passei, é GRATIFICANTE ESCUTAR e melhor do que os sonhos só mesmo a realidade!

Beijo.
M

reb disse...

MEMOREX, que bom que tb tenhas vindo aqui!!
Estou fascinada com tudo o que vocês dizem. Tanta coisa para aprender!
O exemplo dos morcegos é elucidativo. De facto, o que pensariam eles da nossa limitação a nivel de sentidos?
O mundo é taõ complexo!!
Pouco sei sobre a sintaxe da lingua gestual, mas intuitivamente, parece-me que deverá ser a melhor forma de comunicação entre surdos. estarei enganada?
A margarida e a memorex são surdas oralistas. Será por isso que escrevem tão bem? São bilingues? Comunicam tão bem em gestual como em lingua falada/ escrita?
O ideal é as duas formas? Como se faz isso? Em que escolas?

A memorex fez tb um implante coclear e está encantada com os novos sons :) Que bom!!
Naõ tens saudades do silêncio? Não te agride a poluição sonora?

Fico à espera que aparecçam por aqui muitas vezes para nos ensinarem muitas coisas sobre a grande diversidade dos nossos mundos :)

NÉLIO, uqe cidade é essa?

Vou dormir. Mtos beijinhos **

@Memorex disse...

Red

Sou uma Surda Falante/Oralista e não Bilingue. È certo tenho um sotaque aportuguesado, no entanto desde a perda auditiva aos 18 meses por causa não determinada sempre segui a via da oralidade, já pronunciava antes de ensurdecer progressivamente.

Existe uma faca entre dois legumes: a Oralidade e a LGP (Lingua Gestual Portuguesa), há portanto um confronto eterno.

A respeito do Implante Coclear, se tenho saudades do silêncio, a minha resposta é não, vivi duas décadas silenciosa mas literalmente quando estou mergulhada numa forte dor de cabeça desligo o Implante, pois dá-me a sensação que os sons estejam altos demais que o normal.

O mais engraçado, é precisamente a pergunta que colocaste, e fez-me reflectir. Incrivelmente nada me incomoda, pois o Implante Coclear nada tem a ver com a prótese auditiva.

Escrevo mais adiante.
Beijo
M

harumi disse...

As opiniões sobre este tema serão a meu ver, uma continuidade do tema anterior "Os computadores não substituem as pessoas".
Temos de facto em nós capacidades tão maravilhosas que facilmente nos fazem perceber como é fácil chegar à conclusão cietífica já conhecida: "SOMOS FEITOS DA MESMA MATÉRIA DE QUE É FEITO O UNIVERSO".
Imaginem por um momento a complexidade de leis que se interligam para manter este universo vivo!
Depois, coloquem um DVD da série "Cosmos" de Carl Sagan, e ofereçam algum do vosso tempo a essa experiência, tentando perceber uma só centelha de toda essa complexidade simplesmente maravilhosa.
Pois...., nós somos assim!
Ah, já me esquecia...essa reflexão, façam-na em silêncio.

reb disse...

memorex, esclareceeste-me uma dúvida que tinha. Afinal o implante pode ser desligado e não tem ruídos como o aparelho auditivo.
Chegaste a aprender a lingua gestual?
Quando me referia a seres bilingue, pensava nas duas linguas: a gestual e a falada.

Durante as duas décadas em que não ouviste, sentiste muitas limitações na convivencia ou no acesso a informação? O que te custava mais? A segregação de algumas pessoas?

Margarida, qdo tiveres tempo, tb gostava de te ler...

Que vantagens há em não ouvir? Que sentidos são mais apurados?

Tanta coisa que eu gostava de saber :)

Acham que os ouvintes deveriam aprender lingua gestual? ou a leitura labial é suficiente?

harumi, tenho que comprar os cd do carl sagan e vê-los...em silêncio :)

Margarida B. disse...

Olá Reb!
Este post promete ser bem longo, mas digo, que para resumir/contar as perspectivas dos surdos, na minha pessoa acerca do fabuloso mundo dons sons....daria um livro!Antes de proceder ao comentario,digo que o que escrevo é fruto dos meus conhecimentos.Não sou perita em audiologia, mas penso k posso dar uma ajudinha a
Para já, há diferentes graus de surdez, uns que afectam mais o sentido da audição que outros. Um surdo severo ouve "mais e melhor" que um congénere profundo. Outra coisa que é perninente esclarecer: os auriculares (costumo dizer aparelhos, em vez disso) não SUBSTITUEM a falta de audiçao. Pelo contrario, ajuda o surdo, dependendo da capacidade deste, em captar os sons, descodificá-los, reconhecer a distancia do emissor, distinguir as vozes etc. Tal ganho depende da capacidade do surdo, em detectar esses pormenores. è possivel treina-lo de modo a conseguir adquirir as potencialidades que o aparelho tem para oferecer. Uma tecnologia inovadora surgiu há pouco tempo em portugal: O implante coclear.Segundo uma amiga minha implantadal,o IC é completa/ diferente do aparelho: os sons sao diferentes, mais realistas, semelhantes ao nosso ouvido. Em suma, o IC deve ser bem melhor que os aparelhos auditivos. Em relaçao à comunidade surda, eu apelido-a de heterogenea.Há surdos com diferentes graus de surdez, diferentes capacidades, diferentes modos de vida, diferentes perspectivas de vida, diferentes maturidades, diferentes percursos academicos e profissionais.O oralismo sempre existiu.A mimica deveu-se por insistencia dos surdos em se expressarem.Com a evoluçao da mentalidade, e da perpecçao da realidade surda, foram surgindo formas alternativas ao oralismo. Uma delas é a lingua gestual, oficial no nosso pais desde finais dos anos 90. Como esta comunidade é composta por elementos diferentes, comporta sempre ideiais diferentes,infelizmente, extremistas e desmoralizantes. Uns defendem a 100% a LGP como unica lingua, isolam da comumidade ouvinte de quem sentem desprezo, outros defendem o bilinguismo e muitos poucos(nao conheço ninguem, mas pode haver) o oralismo. Muitos extrapolam o sofrimento para com a sociedade, isolando-se dela. Pela minha experiencia de vida, tive a grande sorte de ser acompanhada por profissionais especialistas na deficiencia auditiva, que me levaram a bom porto, caso contrario nao estaria a escrever estas linhas. o apoio dos pais e da restante familia foi mt mt importante. Surdos mais velhos que eu, provenientes de familias desleixadas, não conseguiram alcançar a escolaridade ou mais. Mas esses tempos já la foram.Outros da minha idade, ou mais novos tiveram mais ou menos sorte. Digo k o sucesso de um surdo depende da sua força de vontade, despida de preconceitos e do apoio da familia e do ensino especial.Infelizmente, em Portugal não existem muitos surdos com o secundario e/ou ensino superior, o que suscita alguma revolta pelos k nao conseguiram. Eu axo k a sociedade surda é tal qual a ouvinte. Infelizmemte, muitos têm preconceitos em usar os aparelhos, muitos detestam ouvir, muitos evitam fazer a leitura labial por comodismo( a leitura labial é extrema/ dificil, e falo por mim).Relativamente à musica, eu se tiver os aparelhos ligados CONSIGO OUVI-LA :) Se desligá-los, entro no mundo do silencio. Mas infelizmente, nao entendo o k está a dar de musica: nao percebo as letras, as vozes,com mta sorte distingo vozes diferentes.Tenho mais facilidade para ouvir os sons graves e bruscos da bateria, viola etc Gosto de meter a mao nas colunas de som e sentir a bruma de ar intermitente. Gosto de ouvir fado, tunas, instrumental...rock mesmo sem fazer ideia do k s está a dizer...A musica é universal. E entendo a musica à minha maneira. E adoro musica. Silencio, tambem gosto quando o cão ladra furiosamente na rua do predio, quando marteladas das obras do lado ecoam d uma forma irritante. Detesto algumas vozes. Adoro ouvir as gargalhadas, as vozes das crianças, de alguns pivots, dela, dele... è obvio k essas minhas sensaçoes podem nao ser a mesma k outro colega meu surdo. Sou surda oralista, desde cedo contactei com as letras.Sempre gostei de ler e dai k tenha facilidades em escrever e me exprimir...Mas ha o revereso da medalha...odeio, simplesmente detesto numeros...e matematica...pergunto-me...pk a matematica....lol e assumo k...tenho dificuldades k a matematica ao contrario de muitos surdos k sao uns ases na matematica. E pelos vistos, nao sou "perfeita" aos olhos deles...por isso digo k kem me conhece...sabe as minhas dificuldades

Como bem disse, a memorex, um bem haja a ti, por entrares na minha vida e na dela qd eu passava por criticas mordazes!Um muito obrigado*** e sabes k adoro os professores eheheh

reb disse...

teste

reb disse...

Margarida, um grande bem-haja para ti tb e para a memorex :)
Para mim, poder comunicar convosco é uma grande alegria. Sempre me interessei pela cultura dos surdos e sempre me interroguei se todos se isolariam dos ouvintes, como aqueles grupos de jovens surdos que vejo em algumas escolas, sempre comunicando entre si, numa coreografia lindíssima e mto expressiva, mas só deles...

Qto ao que escreves. É giro pq me identifico com muitas coisas que dizes: como tu, gosto das vozes das crianças e irritam-me particularmente algumas vozes de adultos, qdo são muito agudas :)
O som a sair das colunas....a vibração...isso não sei como é. Como oiço, sou insensivel a esse outro sentido que tens. Sente-se os agudos e graves? e a melodia?
É engraçado que gostes de fado:) Gostas das vozes das fadistas? Achas o fado uma música forte? Melancolica ou aguerrida?

Diz-me uma coisa, margarida: tu és surda profunda aparelhada, certo?
Como te inicaste na linguagem escrita sem conheceres bem o código oral? Como aprendeste os conceitos, a sintaxe...?

Depreendo que tb comunicas em lingua gestual qdo estás entre surdos, não é?
Uma pessoa que só conheça a lingua gestual fica limitada em termos de desenvolvimento cognitivo?


E já agora, tu que vens de uma ilha, como é para ti o mar? que sentidos mais te desperta? sentes o vibrar das ondas?

às vezes, tb ponho tampões nos ouvidos para não ouvir os ruidos feios ( poluição sonora). Afinal não somos assim tão diferentes :)

Tb pensas candidatar-te a um implante coclear? ou não sentes necessidade?

Desculpa o interrogatório...mas é a minha sede de aprender :)

Um grande beijo *

Margarida B. disse...

Olá Reb!

Fico contente por quereres saber mais sobre o meu mundo e o dos surdos :) Palpita-me que vais tirar um mestrado sobre a educação dos Surdos, devido a tua paixão pela nossa realidade!!! Acertei?

Aqui vão as respostas: adoro o fado, devido á magia das vozes do(a) fadista. São vozes que me aquecem a alma, mágicas, penetrantes e intercaladas pelo ritmo luso das guitarras. Acho uma musica forte.

Iniciei com a linguagem escrita qd fui para o 1º ciclo.Antes disso, já sabia falar. Aprendi técnicas de leitura labial e fui ouvindo e associando tons, vozes e sons de modo a estrutrurar a memoria auditiva, desde os 2 anos e tal, com recurso aos aparelhos.Daí o português falado nasceu para mim. Escrever e ler foi apenas o passo seguinte, facilitou mt a compreensão das coisas, da vida…

Sou surda oralista, uso próteses. Raramente estou entre surdos. Os meus amigos são oralistas. Aprendi LGP num mini-curso, na Madeira, qd encontro os meus colegas, comunico por gestos, obvia/ rudimentares ou por boa articulação labial. Penso k uma língua para os surdos, LGP, é insuficiente em termos
cognitivos, por isso acho k o bilinguismo e a melhor altenativa.

O mar…ai k saudades cof cof é imponente!!! Sentir as vibrações do mar?? Hum…só quando estou dentro da água…lol os sons são mt agudos para eu ouvir o bater das ondas no calhau.

Relativamente ao IC, e devido a relatos de amigos meus k conheci na net, os resultados da evolução auditiva deles com os IC tem sido fenomenais. Neste momento, estou numa fase da minha vida em k relego para segundo plano o melhora/º da minha performance auditiva. Talvez num futuro, pense seriamente sobre isso, e dado cm é uma cirurgia irreversível…há sp o factor d medo…Mas nem penso nisso. Enquanto vou lendo os relatos de amigos meus, fico k a curiosidade mt aguçada… È complicado decidir…e só pensarei qd tiver a minha vida resolvida…

Margarida**

reb disse...

Não, Margarida, não penso fazer nenhum mestrado :))

Apenas me interesso, e digo-te, para mim, tem sido supreendente constatar que, tanto tu como a memorex, se exprimem por escrito tão bem ou melhor que nós, ouvintes :)
Tive 2 alunos surdos-severos que tinham grandes dificuldades, seguramente pq não foram tão estimulaods como tu nem tão cedo. Provavelmente tb não tinham a tua força pessoal!

Então, tu és uma jovem completamente integrada e que não precisa de viver em ghettos. Isso é fantástico!
Sentes muito a discriminação social, ou, pelo contrário, sentes-te bem aceite pela comunidade em geral?

Vou-me deitar pq estou cansadita, mas espero que continues sempre a escrever, qdo tiveres tempo :)
Já agora, que curso estás a tirar? mts beijinhos**

reb disse...

Memorex, reli o teu comentário e compreendi as razões pq tu e a margarida não defendem a lingua gestual como lingua-mãe do surdo.
Se esta é uma forma de comunicação limitada, condicionará o desenvolvimento cognitivo.
Se os verbos não se conjugam, como pode uma criança, a partir da lingua gestual, adquirir o conceito de passado, presente e futuro?
Sem isso adquirido, como se situa no tempo?

Margarida B. disse...

Estou a tirar analises clinicas e saude publica na grandiosa estsp :)

è assim...eu defendo duas línguas: a LGP e o nosso portugues...precisamente por esses motivos que enumeraste, para alem disso, tb para os surdos estarem bem presentes na sociedade, com recurso à leitura labial, caso contrario, sentir-se-iam isolados. Acho que os surdos tem de lutar pela sociedade, a favor da sociedade; o mundo está a s tornar isolado, anti-social, ng tem tempo pa se dedicar a causas nobres...e acredito que remando a mare a favor do mundo exterior, bem parecido ao mundo dos surdos, as coisas estariam bem melhores...uma sociedade una,e nao numa sociedade pluralista, que nao descrimina raças, religiao, opçoes sexuais, deficiencias, politica...o nosso planeta seria um planeta bem diferente...A historia ensinou-nos muita coisa, foi necessario o sacrificio de muitas almas para tornarmos um mundo moderno e com perspectivas mais humanistas das coisas.
Mas acredito k podemos torna-lo ultramoderno...

Continua com os teus posts...Quando puder comento sobre os nossos idosos :)

Beijocas e ...PAZ!!!
Margarida***

reb disse...

É verdade, margarida: a historia tem-nos mostrado que, "sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança..." ( pedra filosofal)
Como dizes, muitas almas se sacrificaram para que pudessemos viver como vivemos hoje, sem escravos, sem mulheres consideradas sub-humanas, sem crianças a trabalhar de sol a sol ( pelo menos na sociedade em que vivemos).
Mas ainda há tanto por fazer...
O teu sonho é tb o meu: um mundo tolerante, sem preconceitos estúpidos, em que todos, independentemente da sua condição ( seja ela qual for) pudessem ser aceites como iguais. Todos fazemos falta, não é? :)
Bons estudos nessa escola que adoras!
És tão forte! Tão optimista! :)

Um lugar ao Sul disse...

Este é um tema que confesso não dominar, a minha relação com a surdez resume-te a observar pessoas a comunicarem por gestos e admirar como é que conseguem manter uma conversa com uma "aparente" facilidade.

Não passei por aqui durante uns dias, mas estive a ler todos os posts e sinto que o que aprendi agora foi muito mais que toda a cultura que possuía nesta área. Se me permitem, lanço algumas dúvidas, que até podem parecer básicas, mas para quem está de fora não o são.

Qual a razão de não existirem tempos verbais na LGP? A LGP, tal como qualquer outra língua, está em constante mutação. não sendo uma língua morta está em permanente evolução. Se não existem tempos verbais, e isso é fundamental para nos localizarmos numa conversa, não pode ser "acrescentado" isso à LGP? Existe alguma comunidade de linguistas que devem definir as regras da LGP certo?

reb disse...

nuno, enqto não chegam as respostas da margarida ou da memorex, venho dizer-te o que penso:
Já viste qtos gestos seriam necessários para conjugar um verbo que varia em modo, tempo, nº e pessoa?
Imagina o verbo "cantar":
conjuga-o no presente do indicativo ( eu canto, tu cantas, ele canta, ...), passa para o pret. perfeito ( eu cantei, tu cantaste, ele cantou), agora para o imperfeito ( eu cantava, tu cantavas, ele cantava...)...e por aí fora...
Os gestos devem simplificar isto: deve haver um código para cantar e outro para a pessoa a quem se aplica...o tempo? o tempo não sei?
Talvez haja um gesto para indicar passado , outro para presente, outro para o "amanhã"...

Elas poderão esclarecer-nos nisto :)

Um lugar ao Sul disse...

Eu não digo todas as conjugações verbais, mas pelo menos uma localização: presente, passado ou futuro.
Apenas tens de conjugar essa localização temporal com o verbo e a pessoa quem se refere...

@Memorex disse...

Red

O Implante Coclear tem duas partes, um componente interno e implantável na qual chamamos de "chip" com fio de silicone maleável que tem um movimento de rotação (espiral) dentro da cóclea, possui também um porte invejável de 22 electrodos (canais).

Para ele, o fio de electrodos funcionar, necessita da parte externa semelhante ás proteses auditivas, a diferença reside nas programações que ele traz: P1 (ambientes ruidosos), P2(direccionado para a captação de vozes), P3 (para ouvir música de fundo) e P4 (capta sons subtis, vozes de longe, pormenores silenciosos). Tanto como volume que vai de 0 a 9, e por fim a sensibilidade de 0 a 20, sendo o 10a 12 o ideal.

Lmitações? Sinceramente não foram tantas, á medida que fui crescendo, adaptei-me porque em criança ingressei numa modalidade desportiva, isto sem dúvida foi o ponto alto no que diz pela integração e sociabilidade. Não podemos esquecer, já tinha a linguagem desenvolvida e estruturada. Não dou importância relevante a respeito da deficiência auditiva, ela é o menor dos problemas.

As pessoas com deficiência auditiva quando perdem um dos sentidos indispensáveis, apuram outras: a sensibilidade, e intuição, palpitações intuitivas, sentimentos complexos, sonhos inexplicáveis. Até mesmo a visão é abragente em relação a vocês, temos um campo visual superior a 90%.

Vantagem de não ouvir? Só mesmo para dormir!! Tudo o resto é igual... não considero isto uma vantagem, diria o oposto, imagina se houver um incédio no prédio, cujos vizinhos batem á porta enfusivamente e gritam desesperados, não se lembram antes, de se deitar a pessoa surda retira as proteses auditivas.

È nestes casos extremidas que não costumo desligar o meu Implante, não costuma apitar como as proteses pois com ele desperto abruptamente.

Escrevo mais logo.
Beijo
M

reb disse...

Memorex, agradeço-te as tuas explicações. Depreendo do que dizes que uma pessoa que apenas tenha aprendido a lingua gestual, não poderá integrar-se na sociedade, e terá que viver sempre só em comunidades de surdos. É isso?
Quanto a todos os outros sentidos e intuições de que falas, sempre imaginei que assim fosse. Podes exemplificar com situações em que uma pessoa surda intua coisas que um ouvinte nunca é capaz?

Imagino que o implnate te tenha devolvido sensações únicas e tenha sido um período de grandes descobertas :)
A maioria dos casos de implante são bem sucedidos?

MTOS BEIJINHOS

@Memorex disse...

Red,

Uma pessoa surda, que fale apenas pelos gestos (Lingua Gestual Portuguesa) está assimilada na participação da sociedade de uma forma peculiar. Existe contudo um transtorno, como os “gestualistas” comunicam entre si? (ouvintes, estrangeiros).

È um ponto de interrogação constante, pois o facto de não falar oralmente, alguns deles possuem leitura labial, não tiveram é a aptidão e habilidade de prosperar o desenvolvimento da fala/linguagem, auxiliam nas gesticulações corporais, faciais/expressões – refiro nos gestos instintivos, tipicamente humanos e espontâneos – as pessoas ouvintes alcançam este laço, primeiro interpretam depois ajuízam o conceito.

Assim sendo, a premissa, a pessoa surda está apenas isolada a nível de comunicação dos órgãos sociais, privada na escrita derivado a obstáculos de síntese, elaboração de frases inarticuladas, são contrariedades e lacunas na qual a Necessidade Educativa Especial deve interferir o mais precoce possível.

Os possuidores do idioma que falam pelos gestos, integram-se melhor com os da sua verdadeira Cultura, seus semelhantes. No meu ponto de vista não existem dois mundos, mas um só, apelido de Multiculturalidade, onde todos cruzam independentemente do grau de deficiência.

O problema é nem todos os profissionais são competentes e experientes, ainda pior é ao avaliar um prognóstico classificam-no como Hiperactividade ou Autismo, devido á ausência verbal e a visão ser o principal canalizador.

Red, cada um de nós tem um grau paranormal, podes ter menos ou mais que outros – vice-versa… mas dou-te um exemplo, tinha 10 anos quando entrei dentro de uma casa abandonada a cair bocados com uns amigos, intui imediatamente – o local não era seguro – chamamos isto, de instinto de sobrevivência, certo? Minimamente contraditório e assustador, no instante senti alguma coisa e fez-me desviar rapidamente do sítio, caiu um grande tronco de madeira do tecto. Por pouco… morria, ou era encaminhada ao Hospital com uma hemorragia craniana.

O problema foi explicar a ocorrência aos meus amigos… afinal de contas assistiram o episódio inteiro, eu com a ingenuidade dos 10 anos, sabia lá explicar, apenas intui.

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Quanto a Implantes Cocleares, cada caso é um caso. Tudo depende do próprio individuo implantado, o tempo de surdez, a causa da perda auditiva, o estado do nervo auditivo e o funcionamento do córtex auditivo cerebral.

As terapias ocupacionais, a reabilitação auditiva, o contexto e ambiente familiar, estimulação precoce/acompanhamento de profissionais são essenciais, indispensáveis para o futuro do próprio Implantado.

Continuemos logo
Beijo

reb disse...

Memorex, colocas várias questões interessantes.
1ª. Existe uma língua gestual em cada país. Os códIgos diferem muito de língua para língua? Assim sendo, não é possivel haver comunicação entre pessoas gestualistas de diferentes países?
2ª Sei de um caso de uma criança surda a quem foi, inicialmente, diagnosticada deficiência mental. Foi só na primária que uma professora suspeitou de falta de audição e a encaminhou para consulta de especialidade.
3º Segundo percebi, um surdo que não tenha aprendido língua oral e escrita, que não seja capaz de entender o que lê, terá, certamente, um defice cognitivo. Se o pensamento se organiza com base na linguagem, haverá lacunas nessas pessoas, certo?
Continuo com uma dúvida: como podem pessoas que nunca ouviram, descodificar conceitos mais abstractos, como por exemplo: compromisso, alienação, corrupção,, etc...
Podes explicar-me isso?

Quanto á tua intuição, acredito que seja muito superior à dos ouvintes. Sim, todos temos algumas capacidades que não são abrangidas pelos sentidos, mas eu penso que vocês têm uma capacidade de concentração superior. Aliás foi por isso que coloquei o post: Surdos e "surdos" :)
É uma questão de necessidade e treino de outras capacidades, julgo...

A minha pergunta sobre os implantes era para tentar perceber se há inconvenientes ( desde que haja opinião médica favorável). Será que nem todas as pessoas surdas se sentem "preparadas" para enfrentar um mundo de sons e ruídos?

beijinhos e continua, porque eu gosto muito de vos ouvir :)

p.s. SOU REB, NÃO RED :))

@Memorex disse...

Reb

Sorry, troquei o nome.

Reb, já escrevi acima, os inconvenientes a respeito de Implantes Cocleares.

"o tempo de surdez, a causa da perda auditiva, o estado (mal-formações) do nervo auditivo, a cóclea calcificada e o funcionamento do córtex auditivo cerebral" os médicos estudam todo o caso de Surdez pois são essenciais para a implementação coclear.

Não é toda a gente que pode submeter-se á cirurgia, pois na maioria dos casos é indicado para crianças dos 12 meses até aos 4 anos onde ocorre a plasticidade neural auditiva, o processo de evolução é muito mais rápido.

Segundo os requisitos, pessoas adolescentes/adultas Surdas que falem pelos gestos não tem hipotese de colocar Implante cá em Portugal. O Implante Coclear é antes de tudo, o grande aliado para desenvolver a fala/linguagem, através do aparelho ouvimos a nossa voz e dos outros, temos capacidade em melhorá-la, desenvolvê-la amplamente corringindo algumas falhas que com as proteses auditivas não eram permitido. Exemplo: a letra G é particularmente dificil de pronunciar para quem não ouve, pois encontra-se escondida nas cordas vocais e sonoramente não é possível distinguir o G do C.
Ora, os Surdos Oralistas partem em vantagem a respeito de Implantes Cocleares e porquê? A linguagem encontra-se estruturada, e a maioria dos casos, é no minimo curioso, são pessoas que perderam audição em criança ou nasceram surdas com fluência na oralidade, segundo as percentagens os Implantados Oralistas são licenciados ou encontram-se a estudar no Ensino Superior.

Ou seja, pacientes adultos que tentam o Implante Coclear são casos de sucesso! Descobri-o sozinha, pois conheci/conheço todos eles.

Os pacientes passam por uma bateria de provas, entre elas o estudo psicológico, para estudar se aceitamos o razoavel caso haja impedimento, serenar as altas expectativas criadas pelos pacientes.

Fiz tantos exames para saber se de facto era uma candidata ao Implante Coclear, tendo em conta passar por procedimentos clinicos: audiometria, timpomografia, TAC aos ouvidos e por fim o mais importante a ser efectuado, Ressonância Magnética por fim colheita de sangue afim descobrir a causa da perda auditiva.

O que os Implantados não podem NUNCA fazer depois de operados é realizar algum exame de Ressonância Magnética,devido á alta intensidade do iman, o chip poderia saltar da pele. Evitar desportos de contacto: Artes Marciais.

O resto, pode-se fazer uma vidinha normal, nado, corro, ando de Bike, jogo futebol, acima de tudo pratico arte marcial sem full-contact e é tal qual como utilizar as proteses auditivas.

Escrevo mais adiante, agora bom jogo e força Portugal!

Beijinho Reb.

reb disse...

Memorex, tinha-me esquecido de vir visitar este post e, por isso, só hoje li o teu último comentário.
Obrigado pelos teus esclarecimentos. Aquilo que relatas é-nos completamente desconhecido.
Fico muito contente por saber que o teu implante foi um sucesso e levas uma vida absolutamente normal :)
Foi tb bom saber que surdos oralistas frequentam ensino superior e há mtos que são licenciados! Que bom! :)