quinta-feira, 29 de maio de 2008

Surdos e "surdos"

Há tempos, coloquei um post sobre comunicação verbal e suas competências: falar/ ouvir; ler/ escrever.
Parece-me que a maioria das pesssoas é mais competente enqto emissor do que enqto receptor.
Ouvir e ler com atenção é muito difícil!

Em muitos debates ( sejam orais ou escritos) repara-se que, lançado um tema, alguns têm grande necessidade de fazer um discurso sobre ele, e, quando confrontados com argumentos de outros, não ouvem ( não lêem as suas palavras), seguem o que tinham dito antes, sempre no mesmo registo.
Isto acontece muito na oralidade, mas tb na escrita. Basta dar uma vista de olhos pelos blogs de debates, para verificar que são raras as pessoas que "pegam" nas palavras do seu interlocutor. O que transparece é um "diálogo de surdos" em que uns falam de alhos e outros de bugalhos...

Parece-me que os verdadeiros surdos ( pessoas com deficiência auditiva) devem ser mto melhores ouvintes do que os não-surdos. Basta a concentração que precisam de ter para assimilar o que é dito pelo parceiro!

5 comentários:

anokas disse...

Pois é...!
Foi isso que aconteceu ontem no debate do PSD, foi um debate de Surdos.

Quando o importante é contra-argumentar se não se der muita atenção aos outro oradores estamos fritos, acaba-se a fazer figura de urso.

É a ouvir que se aprende a tirar elações. Quem não têm capacidade para ouvir os outros estagna na sua própria mentalidade, moralidade, ou será imoralidade?

harumi disse...

É quase sempre o problema da dimensão do ego.
É necessária a educação dos sentidos, a aprendizagem da convivência com o silêncio. É preciso quando em contacto com os outros, sabermos libertarmo-nos de nós.
Há dias em conversa com pessoas amigas, e na sequência da abordagem de vários temas soltos, diziam-me assim: a música clássica é estranha, porque por vezes deixamos de a ouvir! Existem partes em que a orquestra toca tão baixo que deixamos de percepcionar os sons....
Mas esse é um dos encantos dessa música. A vida também não é ouvida/sentida sempre com a mesma intensidade. O problema é que na maioria das vezes não sabemos conviver com espaços onde os nossos sentidos não estejam a ser distraídos ao máximo.
A música está lá, nem sequer se deve aumentar o volume, está lá, e se estivermos realmente atentos, acabamos por perceber a obra no seu todo.

reb disse...

Harumi, concordo que é necessária a educação dos sentidos e a audição é fundamental( seja para saber ouvir música, seja para saber ouvir o que o "outro" nos está a tentar dizer...)
Anokas, os políticos são eximios na "arte" se só se ouvirem a si mesmos. Já ouviste algum "debate" na assembleia da república?
Aquilo brada aos céus!!
Há mais ruído do que comunicação. Comparado com aquilo, os meus alunos são mto mais educados :)

Maria Romeiras disse...

Reb, essa distinção entre os termos que designam especificidades sensoriais, motoras ou cognitivas e as respectivas metáforas é fundamental. Trabalho com pessoas cegas e - brincando às metáforas - sim, eles vêm muito, e com clareza. É com os sentidos potenciais que devemos estar alerta. Compreendo a utilização destas metáfora. Excepto quando são agressivas e inconscientes, e já falei disso... http://citizenmary.blogspot.com/2007/06/vozes-de-burro.html

reb disse...

Maria, aqui realmente brincava com as metáforas. Também já trabalhei em ensino especial e tenho alguma experiencia das dificuldades pq passam pessoas com deficiências sensoriais num mundo feito para "maiorias".
Interessa-me muito o teu trabalho com invisuais e gostaria que falassemos disso.
Aqui, neste post, dirigia-me às pessoas sem deficiencia que não sabem ouvir o outro, entendes?
um beijo