sexta-feira, 2 de maio de 2008

Somos realistas, exigimos o impossível! --- Maio de 68

Hoje de manhã, ouvi, na rádio, a notícia que o Maio de 68 foi precisamente há 40 anos!

As palavras de ordem desse acontecimento histórico chegaram a nós, alguns anos depois:

Il est interdti d´interdire!

Je suis marchiste tendence groucho! ( alusão a groucho marx, dos irmãos marx)

Une seule solution: AUTRE CHOSE!

Pela 1ª vez na história, e contradizendo o que marx tinha previsto aquando da revolução industrial, esta foi uma "revolução" que não foi encabeçada por operários. Foram jovens estudantes que, ao longo de dias, meses, saíram para as ruas exigindo "outra vida", outra forma de fazer politica, contestando aquilo que não conseguiam mais suportar. O movimento teve repercussões mundiais ( nos EUA foram tb jovens que se revoltaram contra a guerra do Vietname, impedindo de circular os comboios que transportavam soldados)

Em Portugal, 6 anos depois, o espírito do Maio de 68 foi vivido por alguns adolescentes ; outros aderiram a militâncias partidárias que, no nosso país, tb eram uma novidade.

Como seria a vida no ocidente se não tivesse havido um Maio de 68? Provavelmente mais cinzenta. Afinal, ao contrário do que Marx previra, tb se fazem "revoluções de ideias"!

Do 25 de Abril português se escreveu na época: "A poesia está na rua!"
Em Paris, em 68, dizia-se "A filosofia está na rua!"

77 comentários:

JR disse...

Marx enganou-se... Também se fazem revoluções de ideias...

De há uns anos (muitos) a esta parte, está na moda dizer que Marx se enganou. Será que se enganou mesmo?
Vamos por partes:
O Maio de 68 aconteceu por obra e graça do intelecto? Ou foi uma consequência de situações concretas, de vivências, de descontentamentos generalizados? E no Maio de 68 quem é que não tinha nada a perder? Os estudantes... claro está.
E não foram sempre os que não têm nada a perder que fizeram as revoluções? Ora leiam lá outra vez o Marx.
Depois não é assim tão linear que não haja uma interdependência entre infra e supra-estrutura. Se é verdade que a supra assenta na infra, não está dito pelo Marx que não haja uma acção da super sobre a infra. O trabalho intelectual dele próprio é disso um exemplo claro.
Já nos comentários a um dos primeiros posts por aqui se falou de erros de Marx, no que respeita, por exemplo, aos países ex-socialistas.
Ora, se forem ler Marx, poderão verificar que ele diz (onde? onde? não me lembro e não estou para ir procurar. Têm que ter fé em mim) que para se atingir o socialismo é necessário esgotar as etapas do capitalismo. Se olharem para a Rússia, uma boa parte do seu território permanecia (e permaneceu) num feudalismo tardio. Embora tivesse algumas indústrias capazes de concorrer com o Ocidente, no geral estava profundamente atrasada. Com Lenine e os Leninistas queimaram-se etapas. Se quiserem, façam uma analogia com a fruta amadurecida na árvore e a que é amadurecida à força nos grandes armazéns.
Talvez esteja na altura de relerem Marx, a começar pelos manuscritos económico filosóficos, tão renegados pela ortodoxia comunista e, talvez por engano, editados pela editorial avante e posteriormente pela Presença (ou edições 70. Tenho que confirmar).
E, já agora, os grandes gurus da economia não ignoram Marx... Ele está lá, sejam a favor ou contra.
Agora um outro pequeno exercício. Quais os países que poderão estar menos longe do socialismo (do verdadeiro)? Talvez os nórdicos, não? De reforma em reforma, o sistema capitalista foi cumprindo as suas etapas e (apesar de alguns retrocessos), pelo menos, melhorou consideravelmente as condições de vida da generalidade da população. E não é este o objectivo do socialismo?

JR disse...

olha... fui o primeiro...

reb disse...

Jr., Marx previu que a 1ª fase da revolução seria a "ditadura do proletariado", pq essa era a classe explorada. Previu tb que apos essa 1ª etapa, se sucederiam outras e termina com a fase de abolição de estado, que os anarquistas ainda defendem. Na prática, o lenine e os outros ficaram-se pela 1ª etapa. Construiram ditaduras de uma "casta" que se dizia defensora dos interesses proletários.
Lembro-me de, na uni, termos dado outras obras dele como "A ideologia alemã" que eram autênticas utopias lindíssimas sbre o futuro da humanidade.
Uma revolução de "jovens burgueses" como aconteceu em maio de 68, seria completamente imprevisivel por marx.
Talvez pelo hegel...

Tenho reunião agora. Volto ao fim da tarde...
Falem lá dos slogans do maio 68. Adoro aquela "imaginação ao poder" :))

JR disse...

Após o falhanço da Comuna de Paris, Marx concluiu da necessidade de uma organização que agrupasse os que produzem. Surge o Manifesto do Partido Comunista. Surge a ideia de vanguarda da classe operária (mais uma vez a super estrutura a comandar).
Porquê o proletariado? Porque sendo os produtores, eram também os que estavam reunidos em locais (fábricas) onde seria mais fácil mobilizá-los, esclarecê-los (mais uma vez a vanguarda da classe operária), donde a vantagem sobre o campesinato, também menos participador na produção de riqueza. O proletariado que há época era, talvez, inferior à condição de escravo. Bastará ler algumas descrições de Adam Smith, sobre as condições nas fábricas em Inglaterra. O proletariado nada tinha a perder e portanto seria a principal força motriz da revolução.
Mas qual era o proletariado na Rússia?

Portanto, o que temos até aqui é: a organização de Proudhom (mais ou menos anarco sindicalista) perde pontos com a derrota na comuna, donde emerge Marx com as suas propostas de organização da classe operária. É na sequência da derrota da Comuna que surge a ideia da ditadura do proletariado para opor à ditadura do capital. Tal não contraria o que antes eu disse, apenas introduz a possibilidade de acelerar a passagem. No entanto, se é necessário que as condições materiais estejam reunidas (e isto é uma premissa fundamental no marxismo), saltar etapas será prejudicial. Porquê? Porque o contrário é admitir que de facto a super estrutura se possa substituir à infra. Ou seja, que é possível criar uma consciência revolucionária que promova a acção e funcione sem o correspondente em termos de infra-estrutura (viu-se o resultado).
Marcuse, que à sua revelia se viu nomeado como ideólogo do Maio de 68, tem um textozinho posterior, sobre “o proletariado de colarinho branco” onde aborda aquilo que à época (maio 68) é o proletariado e como ele já não é a força motriz, porque já tem muito a perder.
Mas que tinham a perder os estudantes, seja em Paris, em Lisboa, em Seul ou Tianamen?
Que têm a perder os jovens marginais/marginalizados dos bairros de Paris no ano passado?
Mas os estudantes não foram senão os que atearam o fogo. As condições estavam criadas e foi depois nas fábricas e empresas que se conseguiram algumas conquistas. Tal como por cá, no 25 de Abril. Que tinham os militares a perder? Mas abriram a porta e depois entrou toda a gente.
Em resumo: A ditadura do proletariado é apenas uma questão táctica. A estratégia é libertar o humano (escravos ou donos de escravos) das suas alienações. O essencial é a importância dada às condições objectivas para se alcançar o pretendido. E na Rússia, sem um verdadeiro proletariado, nunca seria possível. O que veio a suceder, apenas deu razão à sua esquecida tese da necessidade do capitalismo cumprir as suas etapas.
A ideologia alemã é sobretudo uma crítica aos filósofos alemães que na altura debitavam umas ideias sobre socialismo, etc. e que no entender de Marx apenas prolongariam a exploração do homem pelo homem.
Já agora, o fim último de Marx não era a ditadura do proletariado, mas a libertação de todo o homem da sua própria alienação. A ditadura do proletariado era apenas um momento táctico, uma etapa.

JR disse...

Provavelmente só no domingo por aqui poderei voltar. Bom fim de semana

reb disse...

Jr. agora entendemo-nos :)

No meu comentário anterior, não disse que a ditadura do proletariado era o fim da revolução socialista. É uma etapa da dita revolução que acabaria com a exploração do homem pelo homem.
O que eu queria dizer era que o marx não podia prever que a luta dos estudantes ( iniciada por eles) teria uma repercussão como teve. Realmente, eles não eram a vanguarda da classe operária, nem as suas reivindicações eram as mesmas.
Depois, é como dizes, em países mais ricos, os operários especializados tinham um bom nível de vida e os seus valores eram tão burgueses qto os dos ditos burgueses. Tudo isto era imprevisível 100 anos antes!
O caso mais recente dos jovens chineses que foram massacrados na praça de tienamnen, nos anos 80, é outra coisa que não era previsível nos estudos de marx.
O conhecimento leva à consicencia e revolta. Deve ser por isso que o mao tse tung chegou a fechar universidades e enviou toda a gente para os campos...

A espontaneidade das palavras de ordem do maio de 68 influenciou as futuras gerações, para o bem e para o mal. Gritava-se uma ideologia sem precedentes, com uma criatividade e humor enormes.
Para mim, a mais deliciosa é aquela: "je suis marxiste, tendence groucho!" :)

Unknown disse...

O que aí vai de marxismo!Claro que o Marx fpo genial, entendeu como ninguém o evoluir das sociedades agora não o coloco num altar, o que ele diz não é dogma.Uma coisa é certa:: os explorados acabarão poragora, etapas definidas, superestruturas e os explorados acabarão por vender os exploradores

Unknown disse...

o meu comentário era diferente do que passou; foi engolido...se tiver pachorra volto a escrevê-lo

Unknown disse...

Dizia
O marxismo é bestial mas a humanidade é demasiado complexa para ser espartilhada em teorias.
Marx entendeu bem o evoluir das sociedades humanas e a sua aposta em que os explorados acabariam por dominar os exploradores.Agora etapas definidas não.Assustam-me as sociedades onde o marxismo (não vale a pena acrescentar leninismo) foi aplicado:países de leste, China, Vietnam, mesmo Cuba com o seu esplendor tropical...O caminho terá de ser outro nem sei bem qual...acredito na criatividade humana capaz de romper etapas e fazer surgir algo de novo .Fujo de dogmatismos: a Igreja Católica não queimava os infieis por não entenderem os meandros da teoria?E agora os muçulmanos que se fazem explodir...
MAIO DE 68 FOI BELO POQUE ESPONTÂNEO.NÃO CORRESPONDIA A NENHUMA ETAPA...mas teve ondas de choque em todos os domínios e o mundo mudou.
Com Marx ou sem Marx digo como Galileu: e no entanto a terra move-se...Embora não tenhamos às vezes a percepção, embora haja avanços e recuos as coisas vão mudando e outras coisas irão surgir.Té

LB disse...

Teorias à parte...

Directamente da audição do Pedro, aqui vai o q penso sobre Revoluções:

Condições:

-Motivação
Desejo de mudança, causado por mal estar ou simplesmente pela crença num qq ideal melhor (superior).

-Visão
"Não há ventos favoráveis p/ quem n sabe para onde vai/quer ir"
Sem uma ideia ou ideal forte n se pode alterar o estado das coisas.

-Poder
É evidente q sem poder não se pode combater o status quo. A democratização trazida pela internet veio alterar o paradigma do poder. Hoje é possível difundir qq mensagem à escala global com recursos mínimos (p.ex. Youtube). Este facto, ainda mt recente, tem provocado uma verdadeira revolução no conhecimento e, pq n dizer, nos hábitos/costumes. Acredito q o melhor está p/ vir, por aqui!!
Ao contrário da tv, não é manipulável por uma minoria e n estupidifica como esta. (é a centelha de esperança na n/ estafada democracia).Usemo-la!!!

Acredito q, no mundo actual, n há + lugar a grandes revoluções sociais, m/ graduais mudanças, como foi citado p/ o exemplo dos países escandinavos, cujo as sociedades, em democracia, evoluíram e se aperfeiçoaram gradualmente, aproximando-se hoje bastante do melhor ideal (pragmático) q conhecemos.

LB disse...
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LB disse...
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reb disse...

Começo por perguntar ao LB se o Pedro de quem fala é algum dos nossos comentadores e que usa aqui um outro nick :)
Qto a já não se preverem revoluções sociais como as do sec. 20 ( portugal incluido) , concordo. Na europa, pelo menos, já não há lugar para revoluções dessa dimensão. Já não há ditaduras, todos podemos, pela via eleitoral, participar na escolha de quem nos vai governar. Também concordo que a internet e todas estas auto-estradas da comunicação nos aproximam e talvez influam na mudança de comportamentos e atitudes à escala mundial. Tornamo-nos mais parecidos uns com os outros.
A comparação com os países escandinavos é que me parece dificil de fazer. Embora tenhamos acesso às mesmas informações, somos povos com caracteristicas totalmente diferentes. Uma das razões para essa diferenças virá certamente do nosso código genético: somos um povo com sangue árabe, africano e celta (lá pro norte). Eles têm muito poucas misturas raciais. A situação geográfica e o clima tb devem ccontribuir para as grandes diferenças. Resumindo, tb admiro essas democracias( onde nunca estive mas que, pelo que sei, produziram riqueza suficiente para não haver tanta pobreza ), mas duvido que em portugal alguma vez consigamos essa harmonia, se é que eles a têm...
Eu preferia pensar que algumas mudanças graduais, como dizes, nos iriam conduzir a um futuro melhor, mas não consigo esquecer-me que há jovens ( aqueles com quem trabalho) que não têm futuro...
Gosto muito de saber que há mtas pessoas por esse mundo fora a acreditar em mudanças. Sinto-me uma delas! Se calhar, neste blog, todos acreditamos em mudanças e sempre para melhor.
Não consigo imaginar para onde nos leva a revolução tecnológica, mas desejo muito que as pessoas continuem a ser simples, a conviver e a lutar pelos seus direitos. Penso que haverá convulsões sociais dentro de pouco tempo, caso o capitalismo em que todos vivemos não consiga resolver os problemas daqueles que nem começaram ainda a sua "revolução tecnológica" pq ainda se debatem com problemas de sobrevivencia.
Tomara que o mundo consiga ser amis justo! Tomara que a nossa geração e a dos nossos filhos consiga avançsr nesse sentido...

LB disse...
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LB disse...

Reb:

Que eu saiba o Pedro ainda n participa neste Blogg. Mas cá há-de chegar...
P/ termos participantes dos 12 (ou menos) aos... (n se diz...) e assim, bloguistas com diferentes formações e de um largo espectro etário. Biodiversidade genética, cultural e etária....(só pode enriquecer o diálogo)

Qd à fatalidade genética q nos reservas, NÃO CONCORDO!!! Como aqui tem sido dito, nós somos fruto da circunstância, e esta, é cada vez + global e uniforme. Para o bem e para o mal. Os Nórdicos vivem e recebem actualmente a mm informação/formação q os restantes povos (do sul) da Europa.
Se levares um Africano à nascença para a Finlândia, o pintares de branco e o colocares numa família endógena, vais ver que ele se vai tornar um perfeito Finlandês. Qual código genético!!!
Acredito e, tenho por isso esperança que a nossa sociedade se aproxime deste estágio de desenvolvimento social nórdico. Creio q, apesar de tudo, já estivemos + longe...

reb disse...

Não lhe chamemos código genético, chamemos-lhe cultura. No fundo, a história de um povo. Nós misturámo-nos e misturamo-nos com povos de africa, os finlandeses têm outra história, vero?
Há imigrantes na finlândia? Refiro-me a povos mais pobres que imigram para países mais ricos à procura de emprego. Como os integram os finlandeses?
Que eles são admiráveis em mtos aspectos, não tenho dúvidas. A reforma do ensino que fizeram deveria ser um exemplo para todos os países.
Mas já estou como uma colega minha que dizia: Dêem-me os meninos finlandeses para ensinar e eu tb faço milagres :)
Nós temos os chunguitas brancos, mais os africanos e ainda os romenos e alguns chineses :)
Sabes como acho que se vê a "qualidade de vida" de um povo? Visitando um hospital publico e uma escola. Basta ver as condições de trabalho...
Não quero com isto dizer que deveríamos transformar-nos em finlandeses ou suecos. Temos o nosso percurso e o nosso ritmo e só em termos tecnológiocs podemos comparar-nos com eles.
Mas, como a humanidade não encontrou ainda o elixir da felicidade, nesses países há mais suicídios do que no nosso, o que prova que é salutar ainda ter algumas coisas por que lutar :)

idadedapedra disse...

oh pá, tou doente, não vos consigo ler hoje. Mas isto do maio de 68 interessa-me muito, por isso assim que tiver os meus neurónios activos, volto cá

TãoSóUmPai disse...

:) a única diferença está em que, os operários de hoje, já não são os braçais. Os futuros operários de então, já não eram os braçais. Uma nova classe de operariado intelectual estava na forja. A burguesia não existe. Outro sim, deu lugar a classes várias, ou melhor, detentores, de comando. Mas, isto, sou eu a pensar.

reb disse...

Tadinha da IP!!
Traz as bactérias dos doentes pra casa :)

Levantei-me a pensar que, no comentário anterior, me tinha esquecido dos brasileiros e dos ciganitos :)
É assim: em todas as turmas tenho: portugas, PALOPS, brasucas e ciganos. Este ano, tenho tb um romeno:)
Portugal é assim, uma misturada de gentes e culturas :)

IP, eu tb gostava de falar mais do maio 68, mas as conversas vão sempre derivando para temas afins...qdo estiveres boa, voltamos a falar do espírito dessa revolução.
As melhoras!

reb disse...

Pois é, ts1pai, o marx não podia prever esta revolução tecnologica. Na época, a classe super-explorada era o operariado surgido na revolução industrial,que eram autenticos escravos das maquinas. No entanto, eles eram o princípio de toda a cadeia, os únicos que produziam ( além dos camponeses). Então, se se revoltassem, orientados pela tal vanguarda operária, começaria a 1ª fase de uma revoulção que, para marx, tinha como objectivo final, o fim da opressão do homem pelo homem.

Mas não foi assim que aconteceu.
E, em 68, surge uma nova ideologia, primeiro espontanea e depois estudada pelos intelectuais, que demonstrou que os jovens universitarios eram uma força capaz de contestar o status quo e talvez as "revoluções" futuras fossem impulsionadas por "classes pensantes" em vez das ditas "classes produtoras"
Lembras-te do que aconteceu em tienamnen? Mais uma vez, 20 anos depois, noutro canto do mundo, foram os jovens universitarios que se revoltaram e, depois disso, a china teve que mudar de politicas ( não sei é se foi pra melhor :))

TãoSóUmPai disse...

Quanto aos países nórdicos, todos eles, tudo o que têm, assentam nos condicionalismos do pós guerra. Foram inteligentes, criaram a EFTA, controlaram as idiossincrazias liberais do capitalismo com uma política social mais adequada á vizinhança das das "conquistas ideológicas" soviéticas, de quem sempre foram muito próximos. No seu percurso histórico, integraram-se mais perto do centro económico mundial, o que lhe permitiu reproduzir, fiscalmente, o seu bem estar. Outros descobriram gás e petróleo nas suas águas e não estão dispostos, nem precisam de se integrarem na CEE e devastarem os seus recursos. A finlândia, se não se põe a pau, e aproveitar a benesse Nokia para outras coisas, lixa-se. Para nós, nenhum desses países é, necessáriamente um exemplo do alcançável, nem mais nem menos do que a Inglaterra, Espanha ou França. Serão os recursos gerados, os valores que comungamos e adoptarmos na sua utilização, que ditarão o que queremos alcançar e o que alcançaremos. Os objectivos estabelecem-se para cada prazo. Na certeza, porém, de que os meninos finlandeses não são nenhuns ET's e que a nossa menor capacidade em lidar com etnias de baixo rendimento tem a ver com o desconhecimento e a falta de recursos para os elevarmos enquanto pessoas. Tal como o vi, aos negros que foram meus colegas. As culturas não se impôem. Subvertem-se, aqui ou em qualquer outro lugar, onde se tente impôr alguma. De resto, deixem-me dizer-vos que, se tivéssemos cá o sistema de ensino nórdico, ele faria, pelas nossas crianças, de forma diferente do que o faz lá, muito mais do que imaginaríamos. Logo desde o berço.

TãoSóUmPai disse...

REB, os estudantes, enquanto novo e futuro operariado, sempre tiveram muito a perder, tal como o tiveram os estudantes portugueses nas lutas contra o fascismo: um futuro para viver. :) ... bem entendido, um futuro diferente. E é esta, no meu entender, não a, mas uma das mais pertinentes géneses da revolta. Toda a ideologia, e até a ecologia, é construída sobre ela.

reb disse...

Sim, o futuro é dos jovens, não há dúvida! Assim, eles percebam isso enqto o são :)
TS1pai, concordo ctg que se importassemos o modelo de ensino finlandês teríamos muito mas muito mais sucesso, até com os nossos palops. Basta sabermos que toda a evolução desse país assentou na reforma do ensino. Há tempos esteve cá o ministro da educção finlandes. Li as entrevistas. Baseiam-se em várias premissas: reduzido do nº de alunos por turma, professores especilaizados em dificuldades de aprendizagem desde o início da escolaridade. Esses meninos são logo despistados e têm aulas particulares na escola, para acompanharem o ritmo dos outros. Diversificação do ensino conforme as capacidades dos alunos e NUNCA como cá "igual pra todos até aos 15 anos", e uma coisa espantosa: os alunos do básico terminam as aulas ao meio-dia!!! ( não sei a que horas começam, mas não deve ser antes das 7 da manhã). Cá começam às 8.30 e terminam às 18hrs, quase todos os dias. A razão é só uma: os pais têm que trabalhar o dia inteiro...


Voltando ao maio 68, quero deixar aqui um apelo:
Quem tiver bibliografia sobre esse acontecimento ( estudos sobre causas/ consequencias/ repercussões no mundo inteiro) envie para o meu email ou o da IP ( ela reencaminha-me qdo estiver melhor) e eu prometo fazer uma síntese.

Acabo de ler o Expresso, que, qdo perguntaram ao Daniel Cohn-Bendit ( um dos simbolos desse Maio) se, naquela altura, acreditavam mesmo que podiam mudar o mundo, ele respondeu: "Mas nós mudámos mesmo o mundo!"
Eu tb acredito nisso! Aliás, acho que se o maio 68 não tivesse existido, teria que ser inventado :))
E como estamos perto dessa época e tanta coisa mudou no pensamento e atitudes ocidentais, penso que deveríamos analisar, um pouco mais profundamente esse fenómeno.
Por isso, e pq não tenho nada em casa para dar mote a um debate mais consistente e informado, apelo aos meus comentadores:)

idadedapedra disse...

eu de marx sei pouco... li-o na adolescência mas pouco recordo já. Por isso queria que me explicassem o que é que ele queria dizer com "para se atingir o socialismo é necessário esgotar as etapas do capitalismo"

idadedapedra disse...

de resto, quando falam de revoluções no séc. XXI e da importância da internet, parece-me a mim que realmente as revoluções daqui para a frente deveriam ser de mentalidades, abrangeradoras de todos os povos. Não me parece que seja tão importante determinada revolução em determinado país, mas sim uma modificação da humanidade. Ora isto é que é apelar à utopia, hein? :)
A net é muito importante nisto... tenho fé que ajude a mudar mentalidades em todo o mundo.
Uma revolução de ideias deste tipo não se fará numa data específica, como um Maio de 68 ou um 25 de abril... vai-se fazendo...

idadedapedra disse...

não percebi nada da benesse Nokia que fala o tsup, mas isso é ignorância minha. Daqui a pouco começo a levar a conversa outra vez para os genes, a ver se consigo dizer algumas coisas fiáveis :) Mas isto é bom, porque vocês são muito melhores a ensinar-me do que a TV e os jornais. Nesses não acredito porque quando leio notícias sobre medicina reparo como não fazem a mínima ideia sobre o assunto que estão a tratar. Daí depreendo que fazem o mesmo nas outras matérias. Em vocês, como cada um sabe daquilo que fala, acredito:)
Ensinem-me portanto :)

reb disse...

Vamos lá a ver se relembro o que dizia o marx. De onde vem essa ideia que era preciso passar por todas as etapas do capitalismo?
Ele defendia que, segundo o esquema de classes sociais que havia na época, uns,a maioria, eram os trabalhadores ( operários e camponeses) que eram explorados pelos detentores dos meios de produção, através da mais-valia. Ou seja, do que produziam, uma pequena parte ia para os salários que recebiam, e a fatia maior era ganha pela classe que os explorava. Este iam enriquecendo, enqto os operários levavam vidas de miséria. Então, ele avançou com o conceito de "luta de classes": o que havia a fazer era elucidar a classe operária. Caso eles se revoltassem acabava a produção. Previu que haveria uma revolução operária, mas que teria uma vanguarda: os tais "intelectuais comunistas". E projectou várias fases nessa revolução: a 1ª das quais seria a tomada do poder pela classe operária( através da sua vanguarda.) Instaurava-se a fase de "ditadura do proletariadao": o estado era o detentor dos meios de produção, confiscavam-se as terras aos latifundiários, as fabricas aos seus donos, etc. Era a fase da "terra a quem a trabalha".
Dessa etapa, que deveria ser transitória, passar-se -ia gradualmente a descentralizar o poder, eram os "poderes locais" ( lembras-te dos sovietes na rússia?) que geriam a sociedade, e finalmente, o estado deixava de ter razão de existir.
Do livro que referi atrás e que dei na faculdade: "a ideologia alemã" lembro-se de ele projectar uma sociedade futura em que as pessoas, em lugar de levarem uma vida inteira com uma unica profissão, poderiam ocupar-se de várias tarefas, umas mais intelectuais, outras mais práticas.
Era a utopia, mas ele demonstrava isto com uma base económica, pq defendia a tese do materialismo dialético.
Na prática, nos países que experimentaram aplicar algumas destas teorias, nenhum passou da 1ª fase, dita de ditadura do proletariado, que era uma ditadura da classe ( casta, segundo eles) que defendia os interesses do proletariado.

Esta é uma síntese básica mas que talvez dê pra compreender alguma coisa, dá?

reb disse...

Tal como tu, eu tb acho que as novas revoluções são de mentalidades e concordo que a internet é um meio óptimo pra divulgar as ideias que há por esse mundo fora.
Mas nos últimos tempos, tenho pensado que há 2 níveis de intervenção necessários: um será este de que falas ( no fundo era o espirito do maio 68), por outro lado continua a haver questõe económicas que não se resolvem só com as mudanças de mentalidades: falo da fome no mundo, das injustiças sociais, do desemprego, da precariedade de emprego.
Adorava saber alguma coisa de economia pra compreender como é possivel resolver estes dramas humanos.
Qdo há 2 anos, os emigrantes arabes dos arredores de paris começaram a queimar carros, e aquela revolta se espalhou por vários sitios de frança, pensei: isto não é uma revolução, mas é uma grande convulsão social. Em portugal não chegámos a tanto, mas há indicios de uma grande revolta latente. Basta ver como a criminalidade tem aumentado.
É por isso, e pq me deparo com essa realidade no meu dia-a dia profissional, que me pergunto como podemos nós ( intelectuais, pelas profissões que desempenahmos) ter algum papelna mudança deste estado de coisas...

harumi disse...

Lembro-me de ler há alguns anos uma investigação jornalistica sobre como estariam nessa altura, e a fazer o quê, os principais protagonistas do movimento que caracterizou o Maio de 68.
A conclusão era de que , volvidos 20 anos sobre 68, a grande maioria podia ser classificada como novos yuppies, ou seja, bem integrados no sistema e bem na vida.
Recordo-me de na altura ter reflectido sobre o assunto tentando perceber o porquê das motivações "rebeldes" que facilmente nos fazem aderir a este tipo de movimentos e se perdem mais tarde, passando nós a previligiar o estar bem na vida em prejuízo de valores éticos.
Claro que não consegui chegar a nenhuma conclusão sobre o assunto, mas pensei nele, e não o esqueci.

harumi disse...

IP, já estás melhor?
Espero bem que sim!

ZIB disse...

Nos anos anteriores ao Maio de 68, tinham-se produzido no mundo acontecimentos, que foram vistos pelos universitários franceses como ícones de admiração: a revolução cubana, a guerra pela independência da Argélia, a resistência de Ho Chi Mihn e o seu povo, a revolução cultural na China. Neste contexto, a repressão na Universidade de Nanterre em 3 de Maio, fez com que os protestos se estendessem rapidamente à prestigiosa Sorbonne. Poucos dias mais tarde, o movimento operário e o estudantil uniram-se em assembleias, comités de acção, barricadas e uma greve geral que incluiu milhões de pessoas e mobilizou milhares. Uma das características principais deste movimento foi a espontaneidade com que se foram somando diversos factores.

Daniel Cohn-Bendit, a figura emblemática de Maio francês e outros líderes, confiavam que uma aliança entre a classe trabalhadora e o movimento estudantil, poderia quebrar a espinha dorsal do sistema capitalista e iluminar uma nova sociedade. Num diálogo que por aqueles dias teve lugar no teatro Odeón de Paris, Daniel Cohn-Bendit, com 23 anos, reivindicou a espontaneidade e replicou ao filósofo Jean-Paul Sarte, que a formação de uma vanguarda política significaria minar as bases dessa “efervescência incontrolável”.
O próprio Marcuse, chegou a ter esperança no possível aparecimento de uma nova figura revolucionária, constituída por estudantes e intelectuais.
Mas … perante a falta de uma organização revolucionária que levasse à tomada do poder, os sindicatos, sem o apoio das bases, negociaram um aumento salarial com o governo do general Charles de Gaulle, como tentativa de restabelecer a ordem. As reivindicações imediatas deixavam atrás a revolução. O Partido Comunista Francês nunca acompanhou os novos movimentos de esquerda universitários e não soube ou não quis capitalizar os acontecimentos.
E depois…. Há quem diga que o objectivo dos estudantes foi só reclamar, à repressiva sociedade dos pais, uma nova forma de libertação que intuíam possível, pelo que a libertação política deveria dar lugar à liberdade sexual e de costumes… E os trabalhadores? Os sindicatos negociaram com De Gaulle e o partido comunista desentendeu-se da luta dos estudantes. E De Gaulle ganhou as eleições gerais em Junho… A principal virtude do Maio francês, a espontaneidade, transformou-se, talvez, na sua maior carência. Foram os estudantes vítimas do seu próprio êxito?

reb disse...

Obrigada, zib, pelo enquadramento histórico. Recebi um artigo que me enviaste sobre o maio68, mas ainda não tive tempo de o ler e seleccionar partes para divulgar aqui.
A questão parece-me ser esta: é preciso tomar o poder para "modificar as coisas" ou bastam movimentos ideológicos que vão, lentamente, transformando a sociedade?
Os comunistas defendem a tal tomada do poder, e na época, o pc fancês ainda acreditava que se teria que passar pela fase da "ditadura do proletariado", mas estes estudantes, descrentes do modelo soviético e inspirados no maoismo, que ainda era pouco conhecido, criaram uma nova esquerda. As repercussões deste movimento na época devem ter escapado, em muito, às suas previsões. Seguiu-se uma greve geral e eleições antecipadas.
Além dos ideologos( cohn.bendit e outros) a juventude aderiu em peso e os operários juntaram-se-lhes.
Naqueles dias de rua, enqto a policia os tentava controlar, fizeram-se coisas incriveis: acabei de ler que, espontaneamnte, os jovens se organizaram na hora. Os que estavam mais atras levantavam as pedras d. a calçada, e iam passando, de mão em mão, aos da frente, para as atirarem aos polícias :)
Havia a guerra do vietnam, e, nessa altura, os jovens eram sensiveis ao que se passava no mundo. Definiam-se como "anti-guerras"É nesse MAIO que surge o slogan mais bonito de todos:
"Faites l´amour, pas la guerre!"

idadedapedra disse...

hum... o que eu queria saber sobre queimar as etapas do capitalismo de que falava o JR, não sei se será aquilo que me descreves... vou esperar por ele para me explicar...
Quanto à revolução de mentalidades em todo o mundo, versus revolução contra as injustiças em cada país, o que eu acho, provavelmente utopicamente, é que a mudança de mentalidades seria a solução para todas as injustiças. Se todos nos apercebermos da função da seta dourada do filme que aqui falámos e a combatermos, o resto virá por arrasto.
Penso por exemplo naqueles americanos que vivem lá no meio do campo e que são pouco informados e a quem só chegam as notícias que o governo quer. Esses acreditam piamente no eixo do mal e nas boas intenções do governo bush e lá votam neles para se defenderem.
Se a net lhes der novas informações... se virem que estão a ser completamente manipulados... Talvez os jovens já se questionem por lá.

Estas revoluções tipo Maio de 68, acabam por ser rapidamente engolidas pelo poder vigente. Porque são revoluções emocionais, sem grandes bases estratégicas, e os do poder estão muito melhor armados para voltar a repôr tudo na ordem anterior.
Os hyppies tentaram mudar mentalidades. Foram engolidos completamente e o que restou deles foi uma moda de roupa e o consumo de drogas. Ou seja, só sobra aquilo que o poder deixa que sobre porque lhe dá jeito. Como eu costumo dizer, sem se dar por isso, as mesmas pessoas que diziam "peace, love, music and flowers", passaram a dizer "sex and drugs and rock'n roll", como se houvesse alguma semelhança entre as duas frases, que eu considero opostas.

Harumi, já tou boa, obrigada! Os putos pegam-me muita coisa, mas a minha imunidade mata os bichos rapidamente. Hoje já tenho voz e neurónios pensantes.

Bom dia da mãe

JR disse...

Os enganos de Marx e a sua impossibilidade de prever certos acontecimentos.
Parece-me haver por aqui uma mistura entre aquilo que Marx considerava ser a revolução e aquilo que é uma mera revolta.
Para Marx, a revolução significava uma alteração radical no que se refere às relações de produção, mudando a posse desses meios para as mãos do proletariado. Nisso consistiria aquilo a que chamou a Ditadura do proletariado, por oposição à ditadura do capital.
Com o Manifesto do Partido Comunista abre as portas ao que veio a ser o Leninismo e suas variantes. O partido como vanguarda da classe operária.
Nenhuma revolta, seja de estudantes, de escravos, de camponeses, conduziu à mudança da posse dos meios de produção, a não ser na Rússia e países de leste que vieram a ser “anexados”. Não houve, portanto, em país nenhum, uma revolução no sentido marxista.
Mas será que o que aconteceu no leste foi uma revolução? Num certo sentido, terá sido na medida em que provocou uma alteração das relações de produção e na propriedade dos mesmos. Mas essa posse não passou directamente para o proletariado, mas para o seu “intermediário”, o partido. Progressivamente o sentido e intenção (?) original da Revolução perverteu-se e, de uma classe de capitalistas proprietários passou-se para uma classe de burocratas gestores da propriedade do Estado. Os proletários e camponeses continuaram a ser assalariados, ainda que supostamente, de si mesmos. Esta perversão apenas vem confirmar a razão de Marx sobre a infra e a super estrutura.
É também por isto que não é o mesmo falar em Marxismo ou em Marxismo Leninismo. São coisas diferentes, bastante.
Marx nunca negou a importância e influência de elementos da super estrutura no sentido de provocar alterações na infra. De resto, não será por acaso que ele refere como um dos seus exemplos a revolta de Spartacus. Também não ignorava o papel agitador e activo dos estudantes como ateadores de revoltas. Se recordarem, os Carmina Burana são isso mesmo, histórias ou historietas contadas e cantadas por estudantes ridicularizando e pondo em causa os poderosos da época, desde burgueses a nobres ou clérigos.
Mas nem Spartacus nem todos os estudantes juntos poderiam ou poderão alguma vez fazer uma revolução, porque nem sequer participam no processo de produção.
O que tanto um como outros poderão fazer e fazem, é agitar as consciências e provocar alguns aceleramentos no “esgotamento” do capitalismo.
Isso aconteceu com o Maio de 68, aconteceu em Tianamen, aconteceu em Seul, mas não esqueçam que também aconteceu no Afeganistão, com os Taliban (que são estudantes). Os estudantes e Spartacus provocam a revolta, mas não a revolução. Podem agitar o proletariado, mas não substitui-lo.
Por outro lado, tanto Spartacus como os estudantes provam duas ou três ideias de Marx: Uma vanguarda para agitar, agir e eventualmente guiar, o facto de tanto uns como outros (e também o proletariado da época) não terem nada a perder, mas também que sem a real organização e resposta da infra estrutura, tudo o mais se perde.
E sim, os estudantes não têm nada a perder. Os estudantes não têm uma família a sustentar, não têm um emprego para perder, não há consequências sobre os seus actos. Claro que me podem apontar os exemplos de estudantes mortos em Tianamen ou na Checoslováquia. Mas quando digo que nada têm a perder, é sobretudo porque não têm a consciência que o seu futuro está comprometido (que há um compromisso) nos seus actos. Há um sentimento de revolta, que no essencial não é diferente dos filhos adolescentes que põem em causa a autoridade paterna. Para se dizer que têm algo a perder, é necessário que eles disso tenham consciência. É como o corajoso. Só tem coragem quem tem medo e o domina. Aquele que não tem medo, não tem consciência, não tem coragem. É o medo que nos permite a sobrevivência.
Conclusão: Nada do que hoje se passa me parece contradizer Marx. Pelo contrário, apenas confirma as sua análises. O Maio de 60 ou Tianamen são episódios de revoltas perfeitamente conhecidas de Marx, mas sem a consistência que lhes permita passar a revolução. Também o 25 de Abril não foi revolução nenhuma (no sentido marxista) mas apenas uma revolta de militares e muito bem aproveitada para se fazer uma Festa. A Festa... Mas como diziam o Chico e o Sérgio, a festa acabou, pá.
Perguntava a IP o que queria dizer com o esgotamento do capitalismo. Dei uma analogia de fruta que amadurece na árvore ou da que amadurece nos armazéns. Experimentem colher uma maçã madura da árvore e depois comam uma bem luzidia e com o calibre standard e digam-me se preferem a bichosa da árvore ou a do armazém.
Talvez um exemplo mais claro se possa conseguir desta maneira: O que se pretende com a Revolução? Não será melhores condições de vida? Que todos tenham acesso aos bens essenciais e que alarguem o acesso a outros bens, de forma mais ou menos igualitária? Então como se esgota o capitalismo?
Os patrões que há 50 anos poderias encontrar, desapareceram. De resto, só os encontras nas pequenas e médias empresas. As grandes multinacionais não têm patrões, mas gestores que são os conselhos de administração e que são funcionários, assalariados. São substituíveis. Os donos são os accionistas. Qualquer um de nós pode ter acções de uma multinacional. Também qualquer um de nós é (pode ser) um especulador de si próprio. Não têm por aí uns dinheiritos investidos num qualquer fundo bancário? Onde e como é que acham que os bancos investem os seus fundos? Quem investe na especulação do preço dos bens alimentares e destrói produções para manter os preços? Quem especula com os preços do petróleo? Claro que podem dizer que há falta de alimentos. Em alguns locais é verdade. Não há acesso a alimentos. Mas então porque se destroem colheitas? Salvo erro, foi a OPEP que já veio dizer que haverá petróleo ainda durante muitos anos. Por isso é preciso especular enquanto as alternativas ainda são caras e por isso menos acessíveis.
Apesar de tudo isto, o acesso a bens essenciais está hoje, pelo menos no mundo ocidental, acessível a quase toda a população. O acesso ao ensino, aos cuidados de saúde, etc., está acessível para todos. Portanto, todos têm muito a perder para que se atrevam a fazer uma revolução. A posse dos meios de produção é acessível a um maior número, porque através das sociedades por acções, dos fundos de investimento, tornámo-nos “patrões”.
Fundamental também, é algo de elementar, pelo menos desde Taylor: O capitalismo precisa de vender, portanto precisa de compradores. É necessário dar dinheiro aos operários para que estes possam comprar os produtos que estão à venda, num círculo cada vez mais alargado. Assim, progressivamente se vai esgotando o capitalismo, porque cada vez estará mais socializado o acesso aos bens.
E as revoltas continuarão a ser feitas por quem nada tem a perder, sejam operários, estudantes ou escravos. As revoluções é que serão mais difíceis. Só se for a revolução permanente, aquela que cada um de nós deverá fazer todos os dias, nos pequenos gestos, nos pequenos sorrisos, nos pequenos cumprimentos de bom dia...

JR disse...

Só mais uma coisinha. O sentido em que por aqui tenho falado de revolução é o que Marx lhe dava e que consiste na mudança da posse dos meios de produção.
Claro que num sentido menos restritivo, o Maio de 68 representa uma “revolução”, porque impôs umas quantas alterações nos costumes. Mas não alterou nem um bocadinho as relações de poder...

JR disse...

Já agora,vejam: http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/asia-pacific/7370903.stm

idadedapedra disse...

Eh pá, JR, continuo a não perceber como é que o capitalismo se está a esgotar. Há menos patrões, talvez, talvez alguns de nós sejamos "patrões" de grande parte do mundo. Mas isso é só uma maneira de conseguir manter o capitalismo, parece-me a mim. "Nós" (entre aspas porque eu não me sinto nada patroa) sentimo-nos um boadinho patrões porque temos acções (não tenho), mas no fundo esses nossos tostões servem mesmo é para as grandes empresas enriquecerem, portanto o capital mantem a liderança do mundo.
E continua a mandar e escravizar, agora não tanto os seus concidadãos, mas os de outros países. Escravizam países.
Portanto gostaria que me explicasses como é que se esgotam as etapas do capitalismo, porque a minha dúvida mantem-se

JR disse...

IP, o patrão é a empresa, é algum proprietário, ou são os accionistas?
À época de Marx, o capitalismo estava na sua infância. De um lado os patrões que tudo tinham, do outro os proletários que nada mais possuíam que a sua força de trabalho.
Hoje, em qualquer sociedade ocidental, além da força de trabalho têm a sua casita, férias, o seu carrito, a sua tv de plasma, acesso à saúde, acesso ao ensino, subsídio de desemprego, reforma ao fim de uns anos de trabalho.
Há uma maior redistribuição dos lucros das empresas pela sua obrigação no pagamento de impostos e outras contribuições sociais. Ou seja, a mais valia é redistribuída, embora uma grande parte continue no lado das empresas. Mas quem é o proprietário das empresas? Não são os accionistas? Uns com mais acções, outros com menos, muitos mais beneficiam dos lucros. É com este tipo de comportamentos que o capitalismo se vai esgotando e talvez transformando num capitalismo social (esta acho que a inventei agora).
Neste sentido, o capitalismo já não é o que era. Já não é o capitalismo selvagem do século XIX. Tens no entanto alguns exemplos contemporâneos dessa “selvajaria”: A China e outros países asiáticos.
E tens também o exemplo da “solidariedade” de todos os bons revolucionários que vão protestando contra a china e a repressão aos monges do Tibete enquanto acenam com bandeiras tibetanas made in China.

reb disse...

Eu tenho a mesma dúvida!
Era o marx que falava de esgotar as etapas do capitalismo? Não me lembro de ler isso...

JR, ninguém disse que o maio 68 foi uma revolução, no sentido de marx. Para ele, isso implicava mudar o controle dos meios de produção ( mudar de mãos).
Também não acho que o leninismo seguisse a teoria de marx, nem sequer o maoismo....talvez o anarquismo...
Mas, reportemo-nos ao presente: segundo dizes, o capitalismo é diferente agora, pq é internacional, e "patrões" só os das médias e pequenas empresas. Ou seja, o capital é uma "entidade" inatingível. Não tem cara!
Então, o que marx tinha previsto na época dele já não faz sentido nos tempos d ehoje. Contra quem se revoltariam os explorados? Contra os políticos que decidem aumentar preços e desempregar pessoas? Mas esses tb são pressionados pelo grande capital...
Isto leva-nos a concluir que, uma revolução como marx definia, não tem cabimento nos dias de hoje( em países nesta etapa de desenvolvimento economico)
É disso que se tem aqui falado: as revoltas são de ideias, e a internet torna-as globais!
Mas, mas, mas, e isso chega para acabar com a fome e o desemprego? É preciso ter poder para mudar as coisas? Ou basta ir influenciando ( através de revoltas pontuais) aqueles que detêm o poder?

reb disse...

Escrevi antes de ler este teu ultimo comnetario.
Esses operários de que falas, com carrito e casa propria e ainda casita de ferias são os do norte da europa, não?
Aí sim talvez se possa falar de capitalismo social.
Em portugal tens uma classe a que podemos chamar "lumpen" ( pegando no marx) que sobrevive de pequenos trabalhos ou de rendimentos mínimos, vive em casas oferecidas pela cãmara (em troco dos terrenos das barracas) e não são tão poucos como isso...
vou ouvir o professor martelo e já volto :)

idadedapedra disse...

JR, não me parece nada que o capitalismo se esteja a esgotar. A diferença é que a mais valia vai para países ricos; os operários, os escravizados, são os dos países de 3º mundo. A diferença é que o mundo se tornou uma aldeia e os patrões somos nós, os dos países ricos. Antes era o latifundiário que punha a etiqueta "made in herdade do vale fanado"; agora são os países que põe made in china e etc...
Estava esperançosa que me contasses uma qualquer ideia do marx que descrevesse a morte do capitalismo pelo esgotamento dele próprio :/

idadedapedra disse...

... que a morte do capitalismo não passasse pela morte do planeta :(

reb disse...

De tempos a tempos o capitalismo sofre grandes crises,aquelas quedas brutais da bolsa...mas, nessas alturas, passa-se fome...

Alternativas ao capitalismo?
Talvez a tal mudança de atitudes e valores. Se não consumissemos tanto, os produtos não escoavam, e não se fabricavam novos...
Mas, quem pode, hoje em dia, abdicar do conforto a que está habituado?
Entretanto, tenho aqui várias coisas sobre o maio68, mas acho que já não vale a pena publicar...

Gostava, isso sim, de ter os livros do alvin toffler. Pode ser que o LB mos envie, ou então a zib que tem sempre tudo :)

idadedapedra disse...

JR, fui ver o link que mandaste: são bandeiras a dizer "libertação do tibete" (em caracteres chineses, penso eu), made in china :))))))

Já agora, a propósito dos jogos olímpicos na china... como se não bastasse as peripécias com a tocha por onde ela passa, agora há uma epidemia de um vírus que tem provocado doença grave e mesmo morte em crianças, que afastará muitos turistas de certeza se os media resolverem fazer alarde da coisa e fazê-la parecer a epidemia mais grave dos últimos 500 anos :))) (http://www.who.int/csr/don/2008_05_01/en/print.html)

idadedapedra disse...

Reb, eu acho que abdicaria de todo o conforto facilmente se fosse para mudar o mundo. Se me pudessem deixar ficar com um computador com net, seria o ideal, mas se nem isso for possível não faz mal

idadedapedra disse...

Reb, qual é o livro desse tofler que queres?

reb disse...

Tb li essa do virus na china e pensei o mesmo :)

IP, tu abdicarias de muita coisa e eu tb acho que, se fosse por uma boa causa, faria o mesmo. Mas qtas pessoas conheces que fossem capazes disso?...

O livro do toffler é a "3ª vaga", que seria uma 3ª opção.
Se conseguires alguns textos, passa-mos que eu sintetizo!

idadedapedra disse...

se era o Third wave está aqui resumido, mas já é um livro antigo:
http://www.thirdwave-websites.com/ind_primer.htm

idadedapedra disse...

então mas para isso é que se tem que ir mudando mentalidades lentamente, via net ou qualquer outra via

JR disse...

Era o marx que falava de esgotar as etapas do capitalismo? Não me lembro de ler isso...
Sim. Já li isso há mais de 30 anos e não me lembro onde. Vou dar uma vista de olhos para ver se descubro. Isto dizia ele num contexto em que falava do materialismo dialéctico e em como (tal como a dialéctica hegeliana diz) o próprio capitalismo traz em si o germe do seu próprio fim, cumpridas as suas etapas. Esta tese foi sempre ignorada pela “ortodoxia”, porque poderia pôr em causa o papel do partido e a sua necessidade. No entanto, logo com o manifesto do partido comunista. Marx diz que é possível e desejável acelerar esse fim. Para isso a revolta, o partido, etc.
Também não acho que o leninismo seguisse a teoria de marx, nem sequer o maoismo....talvez o anarquismo...
O leninismo e o maoismo ou mesmo o trotskismo têm Marx na sua base. O anarquismo, depende da tendência, mas tem mais a ver com Proudhom, ou Stirner. Bakunine também foi importante na época da Revolução Russa.
Mas, reportemo-nos ao presente: segundo dizes, o capitalismo é diferente agora, pq é internacional, e "patrões" só os das médias e pequenas empresas. Ou seja, o capital é uma "entidade" inatingível. Não tem cara!
Não é bem isso. No fundo é o cumprimento da sua “missão”. É mais uma etapa necessária para a sua própria sobrevivência e desenvolvimento, mas que acabará por trazer o seu próprio fim. E é verdade que o capitalismo hoje não tem exactamente uma cara. Os conselhos de administração são “funcionários”. Muito bem pagos, é certo, mas funcionários, que continuarão no seu posto enquanto cumprirem o seu papel. Neste sentido são mais eficazes que os patrões.
Então, o que marx tinha previsto na época dele já não faz sentido nos tempos d ehoje. Contra quem se revoltariam os explorados? Contra os políticos que decidem aumentar preços e desempregar pessoas? Mas esses tb são pressionados pelo grande capital...
Faz sentido. Na minha interpretação, as linhas gerais enquadram-se nas teses marxistas. A revolta é que terá que ser diferente. Não talvez a revolta contra, mas a revolta por um objectivo. Voltando a um exemplo que já abordei por umas duas ou três vezes: Protestos contra a china. Ok. Tudo bem. Mas então não vais comprar produtos chineses. Nem os baratuchos da loja dos 300, nem os outros como sapatos da Nike, roupas Zara, produtos da Philips (que há mais de 30 anos faz lâmpadas e lanternas na china). A revolta terá que ver com uma consciencialização dos nossos actos e agir conforme os nossos objectivos.
Isto leva-nos a concluir que, uma revolução como marx definia, não tem cabimento nos dias de hoje( em países nesta etapa de desenvolvimento economico)
Aqui estou plenamente de acordo. É impossível essa revolução. Mesmo em países da América latina (chavez, por exemplo) seria uma revolução condenada ao fracasso, pela total interdependência das economias a nível mundial.
É disso que se tem aqui falado: as revoltas são de ideias, e a internet torna-as globais!
Mas, mas, mas, e isso chega para acabar com a fome e o desemprego? É preciso ter poder para mudar as coisas? Ou basta ir influenciando ( através de revoltas pontuais) aqueles que detêm o poder?
As revoltas acontecerão sempre. Não as haver, seria o fim da própria humanidade. A mudança é imprescindível. Mas pode mudar-se com um objectivo e não de um modo cego, em que sejam as condições (de mercado, por exemplo) a imporem-se de uma forma determinista. Se te lembrares, num dos primeiros comentários que por aqui fiz, disse que as calças de ganga fizeram mais pelo fim da união soviética que todas as politiquices juntas. E não estava a brincar. O desejo é uma força sem limites e quando já não o consegues sublimar, quebra todos os muros.
Por vezes, uma imagem, uma simples mas poderosa imagem é capaz de fazer mais pela liberdade que todos os discursos politiqueiros juntos: O estudante (não me consigo lembrar o nome. Ion qualquer coisa) que se imolou pelo fogo aquando da invasão da Checoslováquia pela URSS, o estudante frente aos tanques em Tianamen.
Penso que a humanidade está a entrar na sua maturidade e poderá através da consciência encontrar formas de se conduzir para além da exploração do homem pelo homem. Mas isso não seria possível sem as experiências que tivemos.

JR disse...

IP, podes estar descansada que o capitalismo não se vai esgotar durante a tua vida. Podes continuar a indignar-te. E REB, eu não falei de casitas de férias. E já agora, não confundas sequer os desempregados com o lúmpen proletariado.
E ainda uma outra coisa: sabes que há em Portugal muito mais casa do que famílias para as habitar?

idadedapedra disse...

oh pá, mas eu gostava tanto de vê-lo esgotar-se

JR disse...

congela-te e pede para te ressuscitarem daqui a 200 anos.

reb disse...

Casas há, dinheiro para as comprar é que não :)

Eu acho que se pode fazer uma analogia entre os desempregados ( pessoas fora do sistema) e os lumpens. Há desempregados crónicos, há sem-abrigos...

idadedapedra disse...

nessa altura ainda haverá mundo?

JR disse...

Mundo deverá haver. Humanidade é que é mais duvidoso...

JR disse...

Ó REB e para que é que uma família precisa de mais que uma casa?

reb disse...

Não falei em 2ª casa. Julguei que te referias a haver mais construção do que procura, pelo preço a que estão ( falava numa 1ª habitação)

JR disse...

Não só há mais construção que procura, mas mais casa que famílias. O que quer dizer que estatisticamente todos têm casa.

reb disse...

Exceptuando os jovens, já com a sua formação académica completa ,que continuam a viver em casa dos pais por não poderem suportar o emprestimo de uma casa própria :)

Falo daqueles cujos pais não podem ajudar financeiramente ...

TãoSóUmPai disse...

Não sei se já perceberam que os tempos já não estão para sse olhar com saudosismo para a forma de vida de classe média que até agora temos tido.

Tenho vindo a propor-vos que percebam e aceitem a mudança que se está a operar, por muito que elas vos desagrade. Duvido que, no actual contexto globalizante, possamos alterá-la grandemente. Isso da classe média unida jamais será vencida, nunca acontecerá.

Pois é, a nossa classe média viu o princípio do fim dos seus dias na década de 80 e 90, e nada voltará a ser como antes.

Agora, só haverão duas classes, sociais, a low cost e a high value, esta última a nova aristocracia do valor criativo.

Com o esbatimento dos espaços nacionais, o fim do comunismo e a globalização do capitalismo, o contrato social da classe média, materializado nas constituições e estados do bem estar social, o tal welfare sate, deixou de fazer qualquer sentido, quer para capitalismo, que já não precisa da classe média ocidental, enquanto consumidores sustentadores da sua base económica e seus protectores políticos, quer para os próprios membros dessa mesma classe média ocidental, até agora garante da protecção política anticomunista e do anticapitalismo "selvagem", mas que, paradoxalmente, não está disposta suportar os seus próprios custos, a que os obriga o contrato social que apoiam, e que irão em breve rasgar.
Ou seja, é a própria classe média que se despromove e se junta a uma classe global low cost, e com ela vai comungar os padrões de vida e de consumo

Para o capitalismo, agora sem fronteiras, a perda do consumo da classe média ocidental é muito mais do que compensado pela emergência desta nova clase global, que alguns designam por low cost.

E é esta mesma classe média que não está disposta a sustentar-se e nem a pagar seja mais um cêntimo se pode ter o mesmo mais barato. É o consumo low cost, igual para todos com adaptações locais. São as grandes cadeias do retalho, especializado ou não, as marcas como zaras ou h&m, os mcdonalds e outros quejandos. E até nos chamados produtos de luxo, que não passam de produtos massificados, e apenas o são, de luxo, pela imagem e desejo de quem os compra. São automóveis como o Logan Dacia, inicialmente destinado aos mercados probres, e que teve um sucesso tremendo no mundo ocidental, em particular junto dos casais jovens e dos reformados. E quem não consumir esses produtos, oriundos da e para a classe low cost, perde ainda mais, porque assim não compensa a própria perda dos rendimentos. A malta não tem vindo a consumir disto para ficarmos mais ricos, mas porque, ano a ano, temos ficado mais pobres.

Nestes novos tempos, conceitos como o progresso, qualidade de vida, e outros que temos tomado sob determinados valores de aferição, vão ser redefinidos. O que nós precisamos é de imaginação, e, na família, estruturas familiares adaptadas, com ou sem filhos em casa, á semana ou ao mês, o que tanto faz, até pode ser uma solução bastante razoável e, provavelmente, a que vingará, se não quisermos as famílias ainda mais desagregadas. Se calhar, o modelo de sobrevivência da família rural até será retomado, na sua frugalidade, vivência em conjunto, trabalhando de sol a sol e partilhando responsabilidades e recursos de forma solidária. Na sociedade para que caminhamos, o ter muito menos já vai vai ser muito bom. Só quando a malta do lado de lá começar a encher os bolsos e a ficar mais cara, é que poderemos voltar a olhar o futuro como "progresso", à luz dos olhos de hoje. Isto talvez aconteça por volta de 2025, quando o poder de compra dos chinocas se equiparar ao dos américas e os nossos filhotes estiverem, enfim, no apogeu da sua vida activa.

Só falta perceber até onde dispararão os preços das matérias primas e que impacto terá nisto tudo. Provavelmente, tudo o que for substituível pelo electrónico o será.

Mas não nos queixemos das perspectivas de vida dos filhos. Bom será incutirmos-lhes outros valores, que não os que tinhamos como adquiridos por bons e representativos do nosso status de remediados na vida, nomedamente casinha e carrinho.

Agora, se o Marx ou outro previu ou não isto no século XIX, ou como se enquandra isto no que Marx analisou, até já nem importa muito, porque o importante é a malta perceber como tudo está a evoluir, preparar-se e safar-se. Adoptar padrões de consumo low cost, frugais e partilhados, se calhar é o que vai dar. Aprendamos como fazem os tais dos países subdesenvolvidos, nas suas cultura de biscates e do desenrrasca. Estamos sempre a aprender, e em tudo. Ou tinham dúvidas?

reb disse...

A rapidez com que isto tem evoluido obriga-nos a ir parando para pensar um pouco.
Compreendo o que dizes qdo falas de classe média low cost. No entanto, parece-me que se a classe média perde poder de compra ( os bens alimentares essenciais não são low cost, as casa não são lowcost...) a máquina do capital começa a ressentir-se.
As pessoas demoram a perceber que já não têm um nivel de vida que lhes permita viajar, etc. No entanto, várias vezes temos visto na tv pessoas da DECO a revelarem os imensos pedidos de ajuda que têm de famílias da classe média que se endividaram para comprar casa ou carro, ou simplesmente para viajar. A lógica da poupança não é a da nossa geração.
Outra coisa que li e mto me fez pensar, foi que, pela 1ª vez na história, a geração dos mais novos ( os nosso filhos) vai baixar significativamente o nível de vida em relação à geração anterior.
Nós fomos uma geração que progrediu nos seus empregos. Tirámos um curso, começámos por ganhar pouco, mas fomos progredindo e o nosso nível de vida passou a ser mto mais desafogado: as famílias têm casa própria, um ou dois carros, ´férias no estrangeiro, filhos com tudo o que de material podem aspirar a ter.
Os nossos filhos não poderão vir a ter o mesmo nível de vida que nós. Estudam, tirarão cursos, mas dificilmente encontrarão um emprego onde possam progredir tanto como nós, comprar casa é impossível, ter filhos, nestas circunstancias será muito dificil.
E estou só a falar da classe média...

Como é que isto se vai resolver....não sei...tomara saber...

idadedapedra disse...

Eu tenho uma dúvida existencial...
Donde é que vem o dinheiro? Quem é que decide quantas notas andarão em circulação?
Desculpem a minha ignorância. mas nesta ginástica mental que aqui se tem feito, eu fui andando para trás e cheguei à conclusão que nem isso sei. Ensinam-me? Não tenho vergonha nenhuma da minha ignorância :)

TãoSóUmPai disse...

Grosso modo, sem querer ser preciso e exaustivo, a quantidade de moeda em circulação que, para além das nota e moedas, é constituída, ainda, e pelo menos, pelos depósitos bancários à ordem, é determinada pela procura de bens e serviços na economia, ou seja, pelo produto interno bruto, pela velocidade de circulação do stock de moeda e pelo nível de preços. Convém chamar aqui à atenção que o crédito concedido pelos bancos é, também, gerador de moeda em circulação.

reb disse...

Antes de existir dinheiro, as pessoas trocavam uns produtos por outros, não era?
Em algumas aldeias portuguesas, há uns 40 anos, ainda se praticavam essas trocas...
Imaginemos que, agora, decidiamos começar a fazer algumas trocas pontuais: empresto-te a minha casa de férias e tu emprestas-me a tua :)Empresto-te o meu carro qdo for viajar de avião e, em troca, tu tomas conta do meu cão :)
Troco o meu casaco de inverno que já me enjoa mas ainda está novo, por um que tenhas tb em bom estado e já não possas ver :)

Podíamos começar por pequenas coisas...

JR disse...

Talvez a IP queira ir um pouquito mais ao princípio, quando alguém descobriu a possibilidade de encontrar um produto que pudesse servir de padrão para as trocas.
Quando alguém inventou a moeda, que nos primórdios teria um valor mais real e sobretudo com o papel moeda passou a ter um valor simbólico garantido pelas reservas.

TãoSóUmPai disse...

As trocas em espécie até têm um benefício fiscal ... toma lá trabalho, dá cá um carro ... mas enfim, são limitadas. É necessário que ambos os transaccionadores tenham, exactamente, o bem que pretendem um do outro. Olha que é difícil. Supõe que alguém quer muito um dúzia de ovos, mas que o gajo dos ovos quer, em troca, dois kilos de cenouras e tu só tens couves. O gajo quer cenouras porque precisa delas e, provavelmente, couves também ele já terá.

Assim, reverte-se tudo numa mercadoria representativa de valor, que todos aceitam, o dinheiro. Aliás, isso já foi feito com conchinhas, sal, etc.

TãoSóUmPai disse...

JR, hoje e cada vez mais, é o nível de actividade económica, o nível de preços e o cabaz de divisas detido pela economia que garante a moeda.

idadedapedra disse...

Desculpem a minha burrice mas têm que me explicar melhor.
Como é que se decidi quanto dinheiro se faz? É preciso haver depósito de ouro correspondente? Como é que é?
Os gajos não podem fazer à balda, porque senão isto era muito fácil: tamos tesos, vamos fazer uns milhões e pronto, passamos a ser um país rico. O que é que impede que isso se faça assim, é isso que eu não percebo...
(hum, até que nem era mal pensado, o estado fazer uma ilegalidadezita e produzir uns milhões de notas para dar cabo do défice:)))

idadedapedra disse...

o mesmo tema em dois tópicos não vale, hehehehe...sorry

reb disse...

Agora tb fiquei baralhada:)
Julguei que estava com os copos e estava a ler a dobrar :)))
IP, qdo recebo o ordenado e ele fica no banco, penso sempre assim: por que mãos vai andar o meu dinheirinho?
às vezes penso: se eu fosse viajar por alguns anos e deixasse cá o meu money, e não fizesse transacção nenhuma, qdo voltasse ainda aqui estava, com juros e tudo? ;) Será que "morre" se não for movimentado?

As trocas são possiveis se não for para as coisas básicas, ts1pai...


Já agora, senhor economista, explique-me lá a brilhante ideia daquele indiano do "crédito mínimo", pode ser?

Tão só, um Pai disse...

Cara menina, o que determina a quantidade de moeda numa economia é o que ela produz e o que consome. Se consome muito, tem muita moeda, se consome o mesmo muito mas produz menos do que o que consome, tem a mesma moeda, com mais inflacção e uma taxa cambial baixa. Como pode consumir mais do que o que produz? Simples, pelo crédito. O crédito ao sector público e ao sector privado. Conceder crédito moeda é uma forma de criar moeda. Que já não é moeda, mas massa monetária. Os estados hoje financiam-se muito com dívida internacional e junto dos respectivos bancos centrais. Como se controla a moeda em circulação e a sua criação? Pelas taxas de juro, pelos níveis dos salários, pelo desemprego.

idadedapedra disse...

mas atão porque é que, quando a coisa tá brava, não produzem mais dinheiro pura e simplesmente? Quem é que os impede?

Tão só, um Pai disse...

:) porque os estados podem entrar em falência, não podem pagar o que devem e é todo um país que entra em falência :) e um país em falência é-o de inflacção galopante, diária, de desemprego, fome e convulsões sociais :) ... apenas se pode fazer isso quando existe margem de manobra de endividamento ... foi o que aconteceu com o new deal do roosevelt, para tirar os EU da depressão ... contraíu dívida, investiu nas obras públicas, subsidiou os agricultores e a indústria, mas os EU são uma economia à parte :) ... também foi isso que aconteceu com o plano Marshal, para recuperar e reconstruir a Europa do pós guerra, mas, mais uma vez, estava-se a partir do zero, de forma controlada, a partir de endividamentos nulos, em espaços nacionais bem definidos. Isso hoje é impossível, porque o contexto não permite grandes dívidas acumuladas nem mais gastos públicos, porque os níveis destes já estão comprometidos com despesas futuras de financiamento incerto. Vidé reformas, Expo 98, Auto-estradas, pontes, Euro ... e, agora, aeroportos, mais pontes, tgv's ... , acutalizaçãao dos salários públicos e pensões ...

Tão só, um Pai disse...

:) é a diferença entre uma grande economia aberta e uma pequenina economia aberta ... e mesmo assim, acho que os EU, embora tendo capacidade de manobra, de certeza que já não têm a mesma como a que tinham no new deal. Lá está, os contextos económicos mundiais são diferentes ... mas também o eram no tempo do Reagan e ele pôs o resto do mundo a pagar a crise financeira e o défice americano com a guerra fria, com um simples aumento das taxas de juro ... que iam dando cabo do resto do mundo ... a começar pela União Soviética ... há muitas maneiras de vencer um adversário e o por de rastos ... :) ... o reagan podia financiar-se do resto do mundo, mas os russos não :) ... é que, quer se queira, quer não, os mecanismos do mercado não perdoam ... como diz o outro, em economia não há almoços de graça ... ou como diz o povo, cá se fazem, cá se pagam ....

Tão só, um Pai disse...

REB,

O teu dinheirinho vai continuar lá, mas os juros só cobrirão a inflacção, ou a ultrapassam, dependendo dos riscos que assumires na aplicação financeira que fizeres. Num simples depósito a prazo, isso já não acontece. Por outro lado, se assumires riscos, quando chegares também podes ter menos dinheiro.

reb disse...

Hoje li outra palavra de ordem do maio68: "O Amor ao poder!" :)