quarta-feira, 28 de maio de 2008

Pão e rosas :)

Vinha escrever sobre a crise do petróleo e as consequências tão inquietantes para todos, e muito particularmente para os portugueses. Vinha escrever sobre as anunciadas convulsões sociais que já começaram por essa europa e a que os pescadores portugueses tb aderiram. Vinha escrever sobre o "aviso à navegação" feito pelo Mário Soares ao P.S. e sobre as palavras do Manuel Alegre...

Pelo caminho, lembrei-me da frase "Nem só de pão vive o homem" ( embora sem pão não viva...)
Ocorreu-me, então, aquela expressão "pão e rosas".....e fico-me pelas rosas :)


Um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen:



Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo.

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nehum deus queime o teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.

11 comentários:

JR disse...

Sophia de Mello Breyner Andresen

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

anokas disse...

A expressão "Pão e rosas" fez-me lembrar a Lenda do milagre das rosas da Rainha Santa Isabel.

Dava pão aos pobres encobrindo com rosas. O pão devia saber a rosas.

Precisavamos de uma Rainha assim agora.

Será que se ela fosse viva hoje em dia em vez de distribuir pão distribuia gasolina à litrada aos pobres com cheiro a rosas.

harumi disse...

Hoje não me apetece falar de pão...

Alexandre O'Neill

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

reb disse...

Farto-me de dar voltas à cabeça para tentar lembrar-me quem foi o autor da expressão "pão e rosas"...

Hoje seria ainda pão....com alguns litros de gasóleo :)

O poema do o´neill é lindíssimo!
Sabes, harumi, essas palavras que nos beijam, todos somos capazes de ouvir, pq nos afagam o ego....O problema é ouvir as outras... :)


(fazia uma ponte com o post dos "surdos")

harumi disse...

reb, não estará relacionado com o filme "Bread and Roses"?


Ken Loach mostra luta de classes em "Pão e Rosas"
Trabalhadores explorados, endividamentos, lutas e patrões capitalistas - com outro manifesto nas telas, o diretor britânico Ken Loach descreveu as massas pobres e oprimidas e sua lutas para sobreviver num mundo cruel de "laissez-faire" em Bread and Roses (Pão e Rosas).

O filme passa-se em Los Angeles, onde imigrantes mexicanos ilegais trabalham como tarefeiros do turno da noite num edifício de escritórios, por salários humilhantes. Eles não têm assistência médica, nenhuma proteção no trabalho e ainda suportam um patrão abusivo.

Bread and Roses não deve deixar um único par de olhos secos na plateia, ao mostrar a luta pela criação de um sindicato, pelo trabalho e alguns dos imigrantes voltando-se para o roubo e prostituição para pagar o aluguer e alimentar os filhos.

No meio disso tudo há Maya, uma jovem de Tijuana que, com um activista americano apaixonado - Sam - corajosamente lidera uma campanha guerrilheira contra corporações, ameaçando as famílias e vidas dos patrões, e correndo o risco de uma extradição.

reb disse...

Harumi, eu não me lembro de ter visto esse filme...e, se é assim tão forte, não o deveria ter esquecido...
Talvez a expressão "pão e rosas" venha realmente do filme e eu a tenha lido noutro lado qualquer...

anokas disse...

Não acho! Penso que expressão "Pão e rosas" têm uma origem bem anterior à do Filme de Ken Loach, cujo titulo original é "Bread and Roses", o qual é um Hino ao trabalhadores.
O que não implica que alguns usem essa expresão em função do conteúdo do Filme que é bastante profundo e representativo de uma classe, das dificuldades e da sua força na comunidade.

JR disse...

Ora espreotem: http://www.trt11.gov.br/ArqDiversos/P%C3%83O%20E%20ROSAS.htm

reb disse...

Tentei mas não abriu :(

não te enganaste no endereço?

JR disse...

Tentei e abriu. Mas aqui está o texto:
PÃO E ROSAS *





José dos Santos Pereira Braga



Senhoras Juízas

Senhoras Servidoras

Senhoras Conferencistas



O dia 8 de março, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, ainda não terminou. Continuam a repercutir os festejos, os brilhos, as homenagens em torno dessa figura humana para sempre amável. O nosso Tribunal, associando-se, nesta manhã do dia 11, a tantas comemorações, reúne e recapitula as festas do dia 8, repete as palavras de júbilo, renova o beijo nas mãos, de novo entrega as flores de carinho. No entanto, um pouco mais queremos oferecer: trazemos a palavra de quatro destacadas mulheres do nosso Estado, que desenvolverão o tema Os Desafios de Ser Mulher, e haveremos de recolher dessas palestras a paisagem e a moldura sociais e afetivas, singulares e sérias, em que se movem a mulher e os seus significados para o mundo.



A Dra. Marilene Correa, a Dra.Catarina Saldanha, a Dra. Daria das Neves, e a Dra. Yone Cardoso, cercadas pela altiva presença de nossa amada Vice-Presidente, Dra. Francisca Rita Alencar Albuquerque, certamente falarão de realidades, de sacrifícios, de possibilidades, de conquistas, de buscas e de atuações. Farão advertências, indicarão caminhos, anteciparão conclusões. Baste-me a mim, porém, entre tantos conceitos que aqui serão expendidos, deter-me rapidamente numa consideração de ordemlingüística que pode interessar aos domínios da filosofia, e cuja evidência, antiga e sempre amável, destaco como homenagem repetida às mulheres presentes: Senhoras, os vocábulos mais expressivos da nossa vida são femininos. Assim, as palavras honra, dignidade, terra, maravilha, paixão, graça, caridade, bênção,felicidade, vida, eternidade, justiça, e tantas outras palavras nobres, sempre terão em sua pronúncia uma doçura de mulher, um toque que convida simultaneamente ao respeito e ao encantamento. Talvez aí, na missão de realizar no mundo o conteúdo dessas palavras, resida a súmula dos desafios de ser mulher: ir até aos confins do sacrifício sem perder a beleza, sem negar a ternura, sem descuidar do amor.



Revisitemos agora um pouco a data que comemoramos. Para que o Dia 8 de Março tivesse a amplitude comemorativa que tem hoje, alguns eventos memoráveis se verificaram. Em um deles, em 1908, 14 mil mulheres marcharam pelas ruas de Nova Iorque, com o slogan: Pão e Rosas. Queriam pão como síntese do trabalho; queriam rosas como resumo da melhoria de vida. Situemo-nos pois, entre o pão e a rosa, para interpretar a imagem da mulher. Se de pão falamos, logo nos ocorre aquela visão imaculada do pão líquido presente nas fontes maternas, que faz do colo feminino o campo de sustentação da vida. Esse alimento de nossos primeiros dias é tão vital, e tão amoroso, que muitos de nós, já adultos, parecemos ainda soluçar por ele, na alegria e na dor, ao pronunciarmos a palavra mãe. Mãe: eis a mulher como pão. Eis aí o suporte, o consolo, a força de nossa caminhada. Eis o corpo protegido e o caminho orientado. O pão é o resumo do lar, assim como a oração é o resumo da fé. Quando aquelas mulheres pediam pão, o que realmente pediam era a paz para as suas casas, um suprimento de graça diária para os seus filhos, pediam a bênção da comunhão na prosperidade.



Se, de outro lado, buscamos as rosas para dizermos da mulher, então aí a palavra, por mais simples que seja, fica perfumada; e o presente que oferecermos, ainda que muito singelo, não deixará de estremecer-se em multidão de pétalas felizes. Jamais faltará à literatura de todos os povos um verso que relembre que tornar-se mulher é o sonho da rosa; jamais faltará um homem que beije na flor uma lembrança querida, um vulto de mulher. Nossa mulher: eis o perfume, o arrebatamento, a alegria, o máximo encanto do coração. Quando aquelas sonharas pediam rosas, na verdade pediam que fossem respeitadas também como símbolos da beleza e da vida.



Pão e rosas. Repito a voz daqueles mulheres pelas ruas pontilhadas de esperança. Parece-me vê-las, enérgicas e frágeis, clamando diante dos homens, bradando contra estruturas que precisavam ser ultrapassadas e vencidas, pedindo pelos filhos e pelos maridos. A essas mulheres de ontem como a essas de agora, a beleza desta hora me permite responder com emoção: Senhoras, pedis pão e pedis rosas. Tereis pão e tereis rosas, porque vossa luta terá sempre vitórias sucessivas. Mas sabei antes que vós mesmas sois o pão e sois a rosa. O pão, sendo a máxima forma ambicionada pelo trigo, representa-vos em estado de solidariedade e de comunhão. Sois o nosso trigo, infinitamente debulhado pelas crianças em todos os lares do mundo. A rosa, sendo a eternidade da beleza na passagem do efêmero, representa-vos em estado de fragrância, de amada substância mais volátil que densa, inapreensível, que dulcifica os ares da passageira existência, inclinando-a na direção de um sonho. Sois o nosso sonho, a dimensão alada capaz de fazer de uma mulher a rosa de uma vida.



Deixai para nós, nesta manhã, com a vossa palavra, o pão de que necessitamos sempre, e com a vossa presença, a eterna beleza que nos encanta.









* Pronunciamento feito no dia 11 de março de 2005, pelo Desembargador Federal José dos Santos Pereira Braga, Presidente do TRT 11ª Região, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

reb disse...

Mto obrigada pelo esclarecimento!

Então é isso: Pão e rosas era o slogan das sufragistas!