domingo, 25 de maio de 2008

A evolução das brincadeiras infantis

Howard Chudacoff, professor na Universidade de Brown, investigou sobre a evolução das brincadeiras ao longo dos tempos e escreveu o livro "Children at play: an American History".

O excerto que se segue é retirado de uma entrevista publicada na revista Sábado:

"As crianças não brincam o suficiente. As actividades que hoje os adultos lhes impõem parecem-se cada vez mais com um emprego, pela sua rigidez e obrigatoriedade. Tem havido esforços para mudar esta tendência. Organizações, sítios da internet, grupos de profissionais e pais estão a tentar recuperar os recreios, as actividades menos controladas pelos adultos e mesmo as brincadeiras de antigamente."
"A partir do fim do sec 19, instituiu-se que a brincadeira ficava reservada para depois das aulas. Mas os adultos começaram a intervir mais e a estruturar o periodo de brincadeira das crianças."
"A brincadeira é hoje mais associada a brinquedos, há 200 ou 300 anos era apenas uma actividade. O ambiente em que as crianças brincam alterou-se: antes, os jogos faziam-se ao ar livre, agora é em lugares fechados. Os parceiros de brincadeiras deixaram de ser irmãos e primos, passando a ser amigos da escola pq é lá que passam mais tempo. E há cada vez mais crianças que brincam sozinhas."
"Recentemente, os perigos parecem mais ameaçadores e há mais necessidade de educar, fomentar a auto-estima e proporcionar muita qualidade de vida às crianças. As brincadeiras são cada vez mais espartilhadas e organizadas à medida dos adultos. Isso tira-lhes a possibilidade de correrem riscos, experimentarem, aprenderem por si prórpias."
"Os adultos querem proteger as crianças tanto qto possivel, sem perceberem que assim não lhes criam resistências para as dificuldades da vida!"

Sobre brincadeiras electrónicas:

"O perigo da internet é o seu lado viciante, e o facto de os mais pequenos não estarem fisicamente activos qdo se sentam em frente ao computador. Mas as brincadeiras pela Internet permitem-lhes estabelecer contactos e fazer amigos à distância, uma oportunidade única do nosso tempo. A internet não tem só aspectos negativos. Alguns jogos online incentivam as crianças a desenvolver a sua capacidade estratégica, de planeamento e de cálculo."

Conclui:

"As crianças com infâncias saudáveis são mais criativas e menos dependentes dos outros qdo atingem a idade adulta, além de conhecerem melhor o conceito de trabalho de equipa e camaradagem"

4 comentários:

ZIB disse...

Penso que todos já nos apercebemos que o tempo que as crianças podem dedicar às brincadeiras, caiu drasticamente por culpa da Tv, dos videojogos e das actividades extra-escolares excessivas. No entanto, quanto mais inteligente é uma espécie, maior necessidade tem de brincar. Brincar, ouvir contos, são a base da inteligência criativa. Mas brincar é uma actividade que requer uma aprendizagem, e esta capacidade está-se a perder nas crianças do âmbito urbano.

Segundo Piaget, “a brincadeira tende a construir uma ampla rede de dispositivos que permitem à criança a assimilação da realidade, incorporando-a para a reviver, dominar e compensar”. Pelo que, é certo, que brincar cumpre uma função cognitiva que permite que as crianças aprendam a brincar. O problema reside em que, como quase toda a actividade humana, requer um esforço. Porque brincar também é aprender. Porque o jogo implica uns limites temporais, espaciais e normativos. E o perigo é que as crianças já não aprendem a brincar. E nunca tiveram tantas opções: ludotecas, escolas de Verão, actividades extra-escolares, etc. Mas parece que cada vez estão mais insatisfeitos, e aborrecem-se se não têm um videojogo pela frente. E embora haja videojogos que estimulam a imaginação, o perigo é o número excessivo de horas que lhe dedicam. E porquê? Será porque os “dirigimos” demasiado? Porque a obrigatoriedade da escola impõe horários rígidos, a tv e a permissividade dos pais leva-os a dormir menos que o necessário, as actividades extra-escolares que lhe impomos são excessivas, os videojogos são viciantes e raramente se lhes impõem limites, os amigos são os da escola que nem sempre vivem perto e fora da escola não podem brincar com eles, é perigoso brincar nas ruas de uma grande cidade e as casas cada vez são mais pequenas para se espraiarem e os pais cada vez chegam mais cansados a casa e sem paciência para os estimularem com propostas originais, têm demasiados brinquedos e já nada sentem interesse/atracção por eles pouco depois de os desembrulhar….
Será que podemos inspirar-nos nas brincadeiras dos mais desfavorecidos (pedras, caixas…) para os incentivar? Mas há tantas coisas a mudar para que as crianças deixem de se aborrecer sem os videojogos e voltem a brincar …

IdP: onde estás? Há por aí alguma epidemia pediátrica que te tem absorvido? Já há uns quantos posts que não apareces e a "parte" científica deste blog está-se a ressentir :-)

reb disse...

Falas numa coisa interessante: aprender a brincar com os mais desfavorecidos. O autor do texto que transcrevi diz que os "melhores" brinquedos para uma criança são a bola, o pau e a caixa de cartão :)
De facto, todos os pais deviam ter consciencia que é através das brincadeiras, do "faz de conta" que os míúdos assimilam a realidade e a compensam ( como diz o piaget na frase que citaste).
O João dos santos dizia esta coisa incrível: " a mente humana é tão complexa que, crianças que vivem em países em guerra, brincam à guerras uns com os outros".
Para assimilar a realidade, uma criança precisa de a transformar em brincadeira.É como se, dessa forma, a "controlasse" em vez de ser controlada por ela...

Pergunto-me se os jogos electrónicos de hoje em dia cumprem tb um pouco essa função...
Lembro-me de ouvir as minhas filhas a brincarem em voz alta com as barbies e "tudo" se passava naquelas brincadeiras ( era uma mistura da realidade que conheciam com a fantasia delas)
Como é agora nestes mais novos?
Já não falam sozinhos ou com os outros? Já não imaginam aventuras em que são os heróis? É possivel viver-se isso tudo com os jogos de computador?

harumi disse...

Não tenho tanto a certeza assim, que os melhores brinquedos sejam a bola, o pau e a caixa de cartão. Foram esses de facto os brinquedos básicos da minha infância, mas, e talvez porque sempre gostei de brincar/jogar, garanto-lhes que há videojogos que são uma perfeita maravilha. Colocam-nos na pele de personagens que habitualmente só tinhamos deles produtos menores criados pela nossa imaginação.
Já na idade de adulto,sempre fui adepto das consolas de videojogos, e amiudadas vezes chego a esta conclusão: O que eu não teria expandido mais a minha mente em criança se tivesse tido estas ferramentas para brincar. Forçosamente que o crescimento da minhas capacidades cerebrais teria sido acrescentado para um patamar superior.
Eram muito engraçados os brinquedos que utilizei em criança. Alguns deles feitos por mim próprio (e aqui sim, existia uma vantagem de relação com o aprender a fazer), mas eram muito limitados no que à imaginação diz respeito.
Hoje é possível simular um voo espacial numa cápsula Appolo com uma distância da realidade em relação às tarefas técnicas que é necessário cumprir para essa missão, de uma forma simplesmente espectacular e viciante. Lembro-me de há alguns anos, ir a casa de um amigo meu que estava a fazer uma simulação com o jogo acima descrito, e eu depois de o observar durante largos minutos perguntei-lhes: mas como consegues perceber com esse rigor tudo aquilo que é dito pela base da missão, e automaticamente fazeres a respectiva verificação ou acerto nessas centenas de comandos? Ele olhou para mim com um enorme sorriso e disse-me: para nós que crescemos a ler ficção científica e a imaginar estas coisas, não é muito difícil. Ao fim de muitas horas; de muitos dias de gozo que este "jogo" me tem dado, torna-se natural perceber tudo isto à velocidade e com o rigor necessários.

reb disse...

Acredito que haja jogos electrónicos fantásticos, mas penso que o autor se referia a crianças pequenas. Qdo fala do pau, da bola e da caixa, penso que quer dizer que brinquedos pouco sofisticados levam as crianças a desenvolverem mais a sua imaginação. Repara, um pau, para um pequenito, um dia pode "fazer" de espada, outro dia de cavalo, e ainda de comboio...
Um jogo electronico apela a outro tipo de competencias. Talvez antes de lá chegarem, as crianças devam passar por brinquedos simples, com os quais podem imaginar todo o tipo de bincadeiras.
Aliás, qdo são muito pequeninos, depressa se fartam daqueles jogos que recebem, aos magotes pelo natal...
Todos nos lembramos de, em bebés, gostarem muito mais de brincar com os embrulhos e laços do que com o conteudo...e, uns anos mais tarde, fazia impressão vê-los receber carradas de presentes da família, pelo natal, e não se concentrarem em nenhum...mal viam um, queriam logo desembrulhar o seguinte :)