Vivemos numa sociedade que valoriza mais o "fazer" do que o "ser", o futuro do que o passado, a acção do que a reflexão. Os mais velhos são, injustamente, pouco apreciados, porque já não são "produtivos". Neste ritmo em que vivemos, só há disponibilidade para as crianças, essas sim representando o futuro. É verdade, mas será que os mais velhos, os que já não andam nesta roda-viva, os reformados, não têm um capital de experiência, uma "distância", uma serenidade que a todos faz falta?
Nem sempre foi assim. Ainda hoje, em sociedades diferentes da nossa, ser velho é ter um estatuto. Os mais velhos ouvem e aconselham. Os mais velhos são mais sábios!
Há um provérbio chinês que diz: "a felicidade só está completa quando há 3 gerações a viver sob o mesmo tecto!"
As crianças gostam do convívio com os avós. Gostam do tempo que estes têm, das histórias que contam, das memórias :"no meu tempo era assim...".
Os mais velhos representam para eles as raízes, e isso é muito entriquecedor: qualquer criança gosta de se sentir pertença de uma "linhagem", essas referências são estruturantes ...
Um dia seremos nós a "última" geração. Iremos gostar de contar histórias do nosso tempo :)
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9 comentários:
O problema, como referes no provérbio chinês, começou com a diminuição de rendimentos por parte do homem e consequente entrada no mercado de trabalho das mulheres. Passou a ser um problema ter os avós dos nossos filhos em casa e optámos por colocá-los nos lares. Retirámos portanto aos nossos filhos um elo fundamental de educação, que é, perceber através do contacto com os avós, a importancia e utilidade do estatuto de ancião.
Claro que, depois de termos subtraído a importância natural que estes anciãos tinham no núcleo familiar, as leis da economia fizeram o resto, ou seja: velhos = despesa familiar sem mais valias.
Claro que isto é simplesmente arrepiante! Mas quando se desqualifica numa sociedade, valores como a ética, naturalmente surgem aberrações deste calibre. E como vivemos todos a correr embriagados por prazeres efémeros, nem sequer nos resta tempo para pensarmos que um dia, seremos velhos também.
É verdade, na nossa geração homens e mulheres trabalham ao mesmo ritmo. os filhos ocupam o resto do tempo.
Não há tempo para pensar na geração antes da nossa, nem disponibilidade para cuidar de mais ninguém....(refiro-me às doenças dos mais velhos)
Os meus avós viveram e morreram na nossa casa de família....mas os tempos eram outros...
Hoje levam-se os mais velhos para o lar e os mais novos para os "ATL's", cortando um forte elo de ligação, porque pensamos que as nossas crianças aprendem muito mais com as tais educadoras, muitas sem voluntariado sem grande experiência, pois consideramos muito mais instrutivo os "novos ensinamentos", as tecnologias, ciência, etc. Mas, principalmente nas crianças, não só os conhecimentos teóricos fazem falta, mas o mexer com as mãos, o experimentar, o ter alguém sempre ao lado dedicado a 100%, com tempo e dedicação é tão ou mais importante.
Os meus avós pouco sabiam ler, fazer contas só a da mercearia e esticar a reduzida reforma, mas recordo-me dos tempos de criança, no campo, onde podia andar à vontade, os baloiços e outros brinquedos que eu próprio construía com a ajuda dos meus avós, a sua supervisão quando construíamos as nossas casas na árvore... Hoje é mais fácil entreter as crianças com um videojogo, fechadas numa sala em frente à tv o dia todo. Depois queixamos-nos que são hiperactivas, pois claro, elas têm a mesma energia que uma criança do antigamente (sinto-me tão velho quando digo isto :p), só que não a libertam...
É isso! Assino por baixo, a opinião do Nuno Alves da Costa.
Não me parece que seja um problema da sociedade actual. Não me parece que no essencial esta sociedade “actual” seja diferente da “antiga”. É um problema. E é tanto mais problema quanto mais nós nos aproximamos dessa idade em que corremos o grave risco de ficar dependentes de outros.
Ao contrário do que se pode subentender deste post, as sociedades antigas não protegiam os seus velhos. Os velhos, quando passado o “prazo de validade” eram abandonados em qualquer recanto longe da vista. Ainda no princípio do século XX (?) no Japão, não era invulgar levar os velhos para um local onde pudessem morrer. A família, como hoje a conhecemos no Ocidente, é uma invenção recente, séc. XVIII (depois confirmo data). A criança simplesmente não existia .
As notícias que de vez em quando os escrevedores (não, não são jornalistas) de notícias por aí fazem, expõem uma realidade que não é maior nem mais grave (para os que a sofrem) que a realidade de há 100 anos. Os velhos sempre foram maltratados, abandonados, como qualquer deficiente, por exemplo. Que hoje haja mais gente a protestar contra estes factos, revela apenas que, apesar de tudo, a consciência pesa. E para libertar a consciência desse peso, fazemos de conta que nos preocupamos e tratamos bem dos nossos filhos. Colocamo-los em bons infantários (os que podem), em boas escolas, damos-lhes tudo...
E quantas vezes falamos com eles? Quantas vezes lhes mostramos o nosso afecto? Quanto tempo não passam abandonados, frente a um computador? A uma consola de jogos?
Respeitamos os nossos velhos? Quantas vezes falamos com eles? Quantas vezes estamos dispostos a ouvi-los, a escutá-los? Quantas vezes não demonstramos o disparate que são as suas conversas? Quantas vezes damos de facto algum valor às suas conversas? Quantas vezes não os vamos ver apenas por obrigação?
A sociedade actual não é melhor nem pior. É a sociedade adequada à moral vigente. É a moral de mercado.
No entanto, apesar do que antes disse, há (havia) povos (mais ou menos isolados e localizados no tempo) onde a palavra dos velhos era escutada. Povos que protegiam, por exemplo, aqueles que consideramos loucos.
Mas mesmo estes, com a “entrada” de outras culturas foram abandonando estes costumes.
O problema não é do tempo actual, mas sim do modo como (não) organizamos a vida.
Permitimos que sejam sempre as condições exteriores a determinarem aquilo que fazemos. E tudo é organizado em função do material.
Mas aquilo que distingue o humano dos outros é essencialmente o espírito (e isto nada tem a ver com religião). E nunca nos preocupamos em cultivar o espírito, porque isso não paga o jantar, tal como a ética.
Mas quando andamos deprimidos, ansiosos, insatisfeitos, isso é um problema do espírito.
Concordo, qdo andamos deprimidos é pq esquecemos que somos mais complexos do que simples homens e mulheres activos numa correria inconciente...
Qto aos velhos, noutras sociedades eram realmente escutados. O que acontecia com povos índios era que, qdo chegada a hora da morte, eram levados para o alto de uma montanha para morrerem numa comunhão espiritual com a natureza.
Se é verdade que só existem crianças e adolescentes há pouco mais de um século ( adolescencia conceito do sec. passado), já que um jovem era apenas um aprendiz de adulto, tb é verdade que as famílias, até à geração anterior, eram mais alargadas e incluiam várias gerações debaixo do mesmo tecto. Nascia-se e morria-se em casa e, pelo caminho todos ajudavam a criar os mais novos...
E não foi assim há tanto tempo. A maioria dos nossos avós esteve presente na nossa infância e morreu na nossa casa.
As crianças brincavam na rua. Até o nuno, que é mais novo que nós, ainda teve essa experiencia. A comunidade tomava conta de todas as crianças. Os avós ajudavam nos tais oficios, nas brincadeiras, nos lanches, nas histórias.
Hoje temos famílias de pai, mãe e filhos ou só de mãe e filhos, ou aquela confusão de "os meus, os teus e os nossos" com vários avós diferentes...
Para muitas crianças, os avós estão longe...
E, sim, passa-se da escola e ATL, para a uni e trabalho ( precário) e em velhos para o lar.
Deviamos mesmo parar para pensar nisto e alterar algumas coisas...
A vida corre e não podemos dar-nos ao luxo de não pensar...
Em relação à montanha e aos velhos índios, por aquilo que li, não era a vontade dos filhos em levar o pai para a montanha, mas a decisão deste em ir para um local escolhido para morrer (não necessariamente a montanha). Poderia ser na “curva do rio” (há um livro de um chefe índio que se chama “sepultem o meu coração na curva do rio”.
Mas estamos a esquecer um pequeno pormenor: e as mulheres (idosas ou não)?
É verdade, o que "sustentava" as famílias alargadas era o trabalho das mulheres. Enqto não entrou no mundo do trabalho, a mulher dedicou a sua vida a ocupar-se dos seus descendentes e ascendentes...
Qto às velhas índias, pensei que tb iam morrer para longe...nunca me ocorreu que fossem só os homens...
Sabem que os elefantes tb se afastam qdo chega a hora de morrerem?
Encontro nobreza nessa atitude...
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