terça-feira, 13 de maio de 2008

"Pertenço a uma geração que ainda está por vir..."--- Fernando Pessoa

De um texto de 1914:

"Pertenço a uma geração que ainda está por vir, cuja alma não conhece já, realmente, a sinceridade e os sentimentos sociais. Por isso não compreendo como é que uma criatura fica desqualificada, em como é que ela o sente. É oca de sentido, para mim, toda essa (...) das conveniências sociais. Não sinto o que é honra, vergonha, dignidade. São para mim, como para os do meu alto nível nervoso, palavras de uma língua estrangeira, como um som anónimo apenas.
Ao dizerem que me desqualificaram, eu não percebo senão que se fala de mim, mas o sentido da frase escapa-me. Assisto ao que me acontece, de longe, desprendidamente, sorrindo ligeiramente das cousas que acontecem na vida. Hoje, ainda ninguém sente isso; mas um dia virá quem o possa perceber."
"Eu não tenho rancores nem ódios. Esses sentimentos pertencem àqueles que têm uma opinião, ou uma profissão ou um objectivo na vida. Eu não tenho nada dessas cousas. Tenho na vida o interesse de um decifrador de charadas". Fernando Pessoa


2008
Sem me identificar com tudo o que ele aqui diz, sinto que o compreendo. E vocês?

70 comentários:

idadedapedra disse...

se é decodificador de charadas o nuno deve entendê-lo :)
Hoje já é tarde para pensar no tema.
Só me aparecem na cabeça frases perversas sobre o título: se ainda está por vir, já não o vai fazer de certeza :)

Um lugar ao Sul disse...

Eu até comentava, mas até hoje eu tou com um nó enorme na cabeça, mas promento que vou reflectir e amanhã digo qualquer coisa! Agora...

camita time!

JR disse...

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Alvaro Campos

reb disse...

Essa é a minha estrofe favorita da "Tabacaria"...

reb disse...

Um dia hei-de colocá-la, em post, para divagarmos sobre essas sábias palavras...

Mas, neste aqui, gostava que dissessem se compreendem o texto do Pessoa do princípio do seculo, e se acham que nós, a nossa geração, o pode compreender melhor agora.
É engraçado o que ele diz, pq o nietzsche, mais ou menos na mesma época escreveu: "daqui a 100 anos serei compreendido"...
Somos nós :)

Algumas destas pessoas tiveram a percepção que tinham nascido antes de tempo...

JR disse...

Também o Fidel diz que a história o julgará.
Todos os que se acham incompreendidos, remetem para o futuro, para gerações futuras, a possibilidade de compreensão que lhes é negada no seu tempo.
Olha o Van Gogh...

JR disse...

Eu tenho na vida o interesse em viver a vida. E a vida, está para além de qualificações (juízos) de valor, de opiniões, da mesquinhez das convenções.
As convenções impedem-nos de viver a vida. Querem conformar-nos a uma medida estática, a um modelo imobilista e bafiento, a uma mediocridade intelectual.
A sinceridade e o sentimento social escapam aos convencionalismos. Não digo o que seria conveniente. Digo o que me parece correcto e verdadeiro. Esse é o meu sentimento. E esse sentimento impede-me de experimentar o ódio ou o rancor, que não são compatíveis com os meus valores, ou princípios.
Por isso, são sem sentido as desqualificações.
Mas quantos vêm como eu? No limite, estou só. Antes de um tempo que ainda está para vir.

reb disse...

concordo com a tua análise.
O que seria a "honra, vergonha, dignidade" naquela época?
Provavelmente, mts de nós seriam considerados desonrados, desavergonhados, indignos...por ousarmos não ser fieis cumpridores dos cânones estabelecidos...

Se eu tivesse vivido em 1900, provavelmente tb acharia a "vida" uma enorme charada :)

Um lugar ao Sul disse...

jr concordo contigo quando falas dos incompreendidos (dos "bons" e dos "maus" aos nossos olhos) ao remeterem para o futuro, pois isso "desculpabiliza-os" pois do futuro ninguém sabe, e os humanos sempre gostam de divagar sobre o futuro.

Eu acho nós temos sorte no mundo em que vivemos, hoje temos uma liberdade para vivermos a nossa vida À nossa maneira como nunca tivemos.

Quanto ao texto, eu invejo o nandinho, quando ele fala daquele desapego ao mundo, a indiferença perante opiniões alheias, viver a vida unicamente à nossa maneira. Hoje vivemos muito de aparências, não vivemos para nós, mas sim para os outros, para o que os outros pensaram de nós. Não vivemos como nós queremos, mas sim como os outros quererão de nós, e isto faz-nos não à nossa imagem, mas à imagem que nós temos dos outros!

É por isso que invejo o Alberto Caeiro, com aquela inocência quase infantil, vê a vida como algo para sentir, não pensando, viver a vida cada dia... Invejo isso, porque acho que uma pessoa assim era muito mais feliz. Mas eu já não posso ser assim já sei muitos "porquês", questiono tudo, e se essa curiosidade de menino me faz viver, não me deixa saborear a inocência!

A vida devia ter um botão, em que podíamos escolher "como queremos ser hoje..."

reb disse...

Nuno, achas que na tua idade se vive mto de aparências?
Podes dar-me exemplos, para entender melhor?

Sabes, gostava muito que visses o filme "o lado selvagem" ( "into the wild") de que falámos neste blog, para ter uma opinião de um jovem na casa dos vinte. Será que consegues "entender" o que aquele rapaz da tua idade sentia?

Um lugar ao Sul disse...

Opah, desde miúdos que se vive de aparências, desde os ténis de marca, às modas das correntes atadas às calças pretas justas, simplesmente para nos integrarmos no grupo, sermos iguais aos outros, não queremos ser nós, queremos ser iguais aos outros. Ou então tentamos ser o mais diferentes possíveis para dar nas vistas, sempre com esse objectivo, ser visto pelos outros. Fazemos aquilo que os outros acham fixe!

Depois quando se é mais velho, vem a ideia dos bons carros (não é por acaso que quando olhamos para o parque automóvel do local onde trabalhamos vemos altas "bombas" de pessoas que sabemos que não têm condições financeiras para tal), temos montes de gente a importar carros do estrangeiro, alguns em estado duvidoso, com várias voltas ao mundo :p, mas prontos, é um Mercedes...
E as pessoas que fazem grandes casarões, mas depois não as acabam pois o dinheiro não estica, mas no exterior está um casarão, e cá dentro ninguém vê...

Vou tentar procurar o filme, e já agora, para ver o que sente aquele rapaz da minha idade? que idade tem a menina, se não é indiscrição
(eu sei que não se pergunta a idade a uma senhora mas...)

reb disse...

A adolescência ( e, hoje em dia, ainda mais cedo ) é uma fase de procura de identidade. Em geral, a identidade está relacionada com o grupo de pares. Por isso, é natural que uns sejam os betos, outros os góticos, os surfistas, etc...
Na minha geração eramos meio-hippies, meio-esquerdistas ( era moda "fingirmos" que não ligávamos a aparências e a sofisticação era reprovada)
Umas décadas mais tarde,
cada um tem o seu estilo próprio, com marcas da adolescência, mas já sem essa pressão de não "destoar" :)

A idade ( será a maturidade?) tem isso de bom: já não há tanta necessidade de afirmação pessoal, pelo menos no que diz respeito à aparencia e modo de vida...

Tens razão, nunca se pergunta a idade a uma senhora, nem o peso ;)

Um lugar ao Sul disse...

Tens razão, uma mulher não se mede ao peso :p

E quanto à idade, tens razão, não te devia ter perguntado a idade, desculpa! Mas, em que ano é que nasceste? :p hi hi

Quanto à questão das aparências, discordo por completo contigo, acho que nunca se viveu tanto das aparências como hoje! O modo de vida de hoje é baseado nisso, na afirmação pessoal, há gente com o frigorífico vazio em casa, mas a vestir roupa cara só para dizer que vive bem, se o outro tem, eu também tenho de ter, e não importa se o outro ganhar o dobro de mim! Não é por acaso que se fala tanto do endividamento dos portugueses, o viver acima das possibilidades

reb disse...

Tens razão, mas eu não conheço pessoas que vivam de aparências. Será que isso é mais evidente no norte do país? Será que é mais típico de uma geração? Falo dos que andam agora pelos 30 e poucos e ainda conseguem ter bons salários?
Qto ao endividamento das pessoas, tenho pensado mto nisso e sabes o que me parece?
Até há uns 10 anos atrás vivia-se menos mal, as pessoas compravam bons carros, viajavam nas férias com a família, etc.
Isto mudou e essas pessoas não se resignam e contraem emprestimos para continuarem a levar a vida que levavam antes...

Um lugar ao Sul disse...

Pois, eu conheço imensas pessoas a viver acima das possibilidades! É facil de avaliar o nível de vida que aparentam e comparar com o seu trabalho e perceber que algo não bate certo!

Eu sou do norte, mas agora vim trabalhar para o sul, mas vou com bastante frequência à "terrinha". Talvez veja mais no norte porque conheço mais gente e tenho melhor percepção do seu estilo de vida. Mas eu vejo pelo local onde trabalho, vejo pessoas a entrar lá com bons automóveis, e perante o seu salário devem ter taxas de esforço de 80 ou 90%, isso não é viver acima das possibilidades? Jovens (e não só) a trabalhar unicamente para suportar a mensalidade do carro? e quando chega a altura de pagar o seguro ou trocar os pneus é o "ai meu deus"!

(e não te volto a perguntar a idade) :p

reb disse...

Sim, deve haver mtas pessoas a viverem acima das suas possibilidades, basta sabermos que recorrem frequentemente à DECO para pedirem ajuda...
Essa é uma das razões pq eu nunca quis ter cartão de crédito :)
Tinha medo de cair em tentação...

( nunca mais te pergunto o peso:)

Um lugar ao Sul disse...

Não podemos misturar aquelas pessoas que pediram um empréstimo para uma casa (porque todos nós precisamos de um tecto) e devido aos seus salários/despesas e o aumento de taxas de juro tornou-se insustentável para a família e aqueles que pediram um empréstimo para uma BOA casa, um BOM carro, umas BOAS férias e depois quando chegou a hora de pagar, ai meu deus...

Quanto ao cartão de crédito concordo plenamente contigo, e irrita-me quando o banco liga pa casa a insistir com um empréstimo tal que nos atribuíram (sem nós termos pedido) ou se estamos disposto aos cartão de crédito que nos paga o ordenado no inicio do mês e tal (um dia destes tou tentado a perguntar se o cartão nos dá o dinheiro mesmo que esse mês fiquemos em casa na sornice, é que se for assim quero...) :D

nelio disse...

o viver acima das posses não é regional, porque aqui no sul também há imensa gente assim. qualquer auxiliar do meu hospital tem um telemóvel muito mais sofisticado do que o meu. muita gente que ganha bem menos do que eu tem um carro muito mais caro do que o meu e troca-o de 3 em 3 ou de 4 em 4 anos. claro que vivemos de aparências. actualmente é muito mais importante aquilo que se parece do que aquilo que se é. há uns tempos estava a minha filha a ver televisão, um daqueles programas tipo lux ou caras e era um desfilar de gente bonita e sofisticada. corpos bem trabalhados, um look super apelativo, etc, etc. só que quando abriam a boca, entrevistadora ou entrevistados, era uma desgraça completa. não havia uma ideia interessante. só o look, a projecção da imagem. e os putos são sujeitos a estes modelos de "fama", condicionados por uma ideia de notariedade de personalidades que são bastante ocas, projectadas para o estrelato momentâneo pelos media, apenas por terem um palminho de cara, e serem muito frescos e cheios de glamour...

reb disse...

tens razão, nélio.
como isso me passa um bocado ao lado, esqueço-me dessa realidade..

Um lugar ao Sul disse...

Sabes como é nelio, a reb é chique, não vive no nosso mundo, ela vive num mundo à parte! Nós que somos o zé povinho é que vivenciamos estas coisas, no bairro da reb, se não tens um bom Mercedes topo de gama não entras (até o classe C é coisa de pobre).

Num é reb?

reb disse...

nha nha nha nha :)

Um lugar ao Sul disse...

Pobres mas honrados

Tão só, um Pai disse...

:) pois eu, na minha primeira juventude, sempre achei que, por opção, preferia ser um rico homem do que um homem rico :) ... com algumas variantes no que respeita ao homem rico, é bom experimentarmos um pouco de tudo, ou quase, e sim, nos tempos que correm, só os "vigas", os génios e os menos inteligentes não aprenderam a pôr-se de lado, no show-off de vidas, do ter e ser porque o outro tem e fez, assumir alguma frugalidade material como a base de sustentação, que é como quem diz, humildade, porque, talvez, ser-se humilde não o é ser pobre, nem amorfo, mas curioso e rico de si próprio, nos seus valores, no seu entendimento do que faz na vida, do que se quer fazer e para o que o faz, como me parece ser, também, essa, a opção do Fernando Pessoa, neste pequeno texto. Em todos os tempos se atropelam valores e gentes, em nome dum meu "eu" que se justifica com o "meus outros", em nome da sobrevivência, mas talvez quem assim é devesse ser posto numa ilha deserta, apenas com os seu "eu", para perceber o valor dos outros que não os "seus". Às vezes julgamos que estas gentes não sobrevivem ao tempo. Encolhemos os ombros e ficamos num "deixa-os poisar, cá se fazem, cá se pagam", mas, afinal, não é assim. Esta malta sobrevive aos tempos. Podemos encolher os ombros mas há que tê-los debaixo de olho. :) ... quanto mais não o seja para ver se fumam, ou não, em aviões ... :)

harumi disse...

Eu acho que o Fernando Pessoa falhou redondamente ao pensar pertencer a uma geração futura. Conforme o século XX se foi desenrolando, notou-se um gradual afastamento do pensar em ideias, só pelo prazer das ideias, como se de arte se tratasse. Lentamnete até aos dias de hoje, foi-se catalogando essa atitude intelectual de "viver no acessório". vírá o dia, isso sim, em que vertentes da vida como por exemplo a poesia, serão ridiculamente observadas como devaneios e uma enorme perda de tempo.
O Fernando Pessoa a meu ver, teria uma enorme dificuldade em ser um homem feliz nos dias de hoje.
Tal como acho que a sociedade gratuita profetizada pelo Agostinho da Silva, nunca acontecerá. Também imagino que daqui a mais umas décadas, o pensamento de Fernado Pessoa não terá qualquer significado positivo.
No futuro será necessário executar eficazmente, seguindo regras estabelecidas e pensando o menos possivel.

reb disse...

Sabes o que eu acho, harumi?
Há sempre movimentos "contra-cultura" ( no sentido de contra-cultura dominante). Há sempre pessoas que pensam e equacionam e criticam,...as vozes discordantes ou, pelo menos, inquiridoras, nunca acabarão e, esta coisa da informática, faz com que cheguem a todos os lados do planeta. Eu não me sinto sozinha a pensar. Tenho-vos a vocês mas tb tenho amigos e pessoas que me enviam mails de outros cantos do mundo a alertar para situações e a mostrar iniciativas.
Qto à época em que fernando pessoa viveu, seguramente era mto mais repressiva e limitada em termos de costumes. Enqto mulher, era-me vedada a hipotese de estudar ( a não ser que fosse um génio), de trabalhar numa profissão aliciante, de me divorciar, de votar...

ts1pai, o socrates chama "calvinistas" aos que o criticam por ter fumado num avião. é preciso descaramento!
Não foi ele que fez aplicar as leis pela asae, impedindo que se fume em locais fechados, que se faça queijo com as mãos, que os restaurantes usem galheteiros em vez do azeite em embalagens de plástico fechadas, que se usem colheres de pau, etc, etc....num absurdo controle com o objectivo único de arrecadar dinheiro em multas???
Quem são os calvinistas??
Não suporto cinismo!

TãoSóUmPai disse...

Reb, na vida, precisamos de tudo e, é verdade, custa-nos o cinismo do des-exemplo, o abuso do poder mas, até esses, por vezes, quando ocorrem, demarcam o que de novo há de bom. Ressalta a virtude de quem viu e foi livre para contar o despudor. :) ... logo veremos, a este, o que lhe acontece ... :) ... Salvo erro, o próprio Alexandre Herculano terá dito, uns anitos antes do Pessoa, que quanto mais conhecia os homens, mais gostava dos cães ... :)

JR disse...

Ah... mas vocês têm que ler o Diógenes, aquele que vivia dentro de uma barrica, comtemporãneo do Sócrates (o outro, o original). Há 2500 anos. E só preciso que "não me tapem o sol".

JR disse...

Estão a ver no que dá o apelo à criatividade? Comtemporãneo em vez de contemporâneo...

reb disse...

jr, conta lá a história de diógenes :)

Um lugar ao Sul disse...

ts1p, essas frases todas floreadas são muito bonitinhas e tal, mas na realidade são muitas vezes ocas de conteúdo, ou então são são completamente exageradas da realidade. Essa de gostar dos caezinhos é uma delas!

Quanto ao Fernando Pessoa e à sua inaptidão à época em que viveu, eu acho que as pessoas têm de moldar a sua personalidade à epoca em que vivem, não podemos criticar a sociedade só porque pensamos que seria melhor se fosse de outra forma. As pessoas têm a sua personalidade, têm de saber viver na sua sociedade,mantendo os seus traços pessoais da personalidade, desde que integrados no seu meio. Se eu achar que os índios é que vivem bem não posso dizer que nasci no sitio errado, porque se calhar se nascesse lá ia pensar que nós é que estávamos bem.

Quanto à personalidade do Fernando Pessoa, se vivesse hoje continuaria a ser um tipo estranho, e dificilmente se integraria. O mais certo era continuar a dizer mal de nós.

Eu acho que ele tinha uma filosofia gira, mas é demasiado extrema, é necessário adapta-la à sociedade!

reb disse...

se todos fossem adaptados, não existiriam génios que nos deixam obras geniais :)

reb disse...

quem faz avançar o mundo não saõ os adaptados...

Um lugar ao Sul disse...

Essa do avançar o mundo não são os inadaptados, pois esses nunca chegam a perceber o mundo, e são colocados de parte!

Para mim há duas coisas que fazem avançar o mundo, sabes quais são?

idadedapedra disse...

sexo e dinheiro :)

reb disse...

não, os inadaptados de uma época são os que vêem mais longe do que os seus contemporâneos. Os muito adaptados levam uma vida "normalzinha" e não sentem necessidade de mudar nada...
Todos os autores que estudaste na universidade, foram, em certa media, inadaptados na época em que viviam...

Um lugar ao Sul disse...

IP, eu ia referir outros dois, mas agora que falaste desses... deixaste-me confuso. Os dois que eu referia era "o acaso" e "a preguiça"! O acaso porque grandes descobertas foram-no porque alguém, por acaso, a descobriu quando procurava outra coisa qualquer, ou simplesmente, não estava à espera. A preguiça porque o homem só realmente se dá ao trabalho de fazer algo no presente se isso lhe permitir ter menos esforço no futuro, sempre foi assim desde a invenção da roda...

Não concordo contigo, uma pessoa pode ser um génio e ser completamente adaptado à sociedade em que viveu. Quando muito podem ser incompreendido, mas isso não quer dizer que sejam inadaptados, penso eu...

idadedapedra disse...

a preguiça, nuno, é uma lei do universo: a lei do menor esforço, certo?
O acaso não sei, mas tb deve ser concerteza. Tu deves saber mais disso que eu

Tão só, um Pai disse...

nuno, reb e outros,
Não me parece que existam inadaptados neste mundo. Existem opções. Nuno, falas de "palavas bonitas" e "ocas de conteúdo". Ocas, porquê?

Já agora,

"oco
de *vocu? < Lat. vocuu, por vacum
adj.,
que não tem medula ou miolo;
escavado; vazio; insignificante;
fig.,
fútil; frívolo;
s. m.,
vão; cavidade."

Continuando, "oco" porquê? Do quê? De valores? Quais são os teus valores? Que valores praticas como sendo os de cidadania? Que valores tens, acima de tudo? Sim, quais são os teus "core values"? Por quais é que optaste, por quais é que optamos? Ou devemos ver primeiro o que os outros fazem e fazer depender a nossa actuação da dos outros? Fazer depender isso dos outros, não é pior do que querermos ter porque os outros têm? Em que somos coerentes? É, ou não, verdade, que não somos todos iguais? Ou será que os "inadaptados" não passam daqueles cujos valores não aceitamos? Neste mundo de violência, porque não optamos todos por andar com uma arma no bolso, quando saimos á noite? Num bairro de droga e violência, ser-se inadaptado é ser-se drogado e assassino? Ou é optar-se pelo contrário? Afinal, quais são, para ti, os valores que tornam alguém "oco" nas suas palavras? Afinal, quais são os teus modelos e valores de cidadania? Pá, se "o importante sou eu e os outros que se lixem" for um dos teus valores, também os aceito. Porque é a tua opção, mas não me podem exigir que seja a minha. Eu tenho o meu direito de dizer não, de não o querer, mesmo que o contrário signifique indigência.
De resto, há malta com valores em que nem o valor da vida se respeita. Que diferença há entre uma pessoa desta e um animal? Se calhar, um animal ainda respeita mais a vida dos seus. :) Acho que o FP e o AH falam disto, dos valores, os dos respeito pela pessoa enquanto indivíduo. Se recusam a ser atropelados pelos e a atropelar os outros. Afinal, todos nos adaptamos ao que queremos ser e fazer.

Tão só, um Pai disse...

... e, já agora, temos ou não o direito de esperar que o futuro nos dê algo de melhor? Não me parece que o FP se sinta incompreendido com coisa alguma. Provavelmente, se tivessemos o contexto certo das suas palavras, tudo faria sentido. Suponhamos que uma mulher de uma elevada classse social gostasse de mim, e eu dela, mas porque sou de uma classe mais baixa, isso não nos é permitido. Isso não me faz sentir incompreendido. Faz-me sentir reprimido. Se vivesse no tempo do fascismo, o facto de a borregada o aceitar, isso não me faz calar. E, ao ser reprimido, até pelos meus pares, não tenho o direito de me sentir só na minha raiva, descontentamento, inconformidade, e por-me de fora da linha de pensamento do que os fazem? Isso faz de mim um incompreendido? O FP não se sente incompreendido. Talvez se sinta demasiado só no meio de tanta frivolidade, que recusa, sabendo que está só contra isso, sentindo impotência e reservando-se para esperar do futuro algo mais consistente. Eu sinto impotência perante muita coisa, que não esqueço, nunca esquecerei. Acima de tudo, sinto raiva contra a impunidade e a protecção de todos os tipos de criminalidade, incluindo a da corrupção. E, ao contrário do meu filho, não aceito que o mundo em que vivo seja assim, não pactuo com isso. Eu sei, todos o fazem, mas eu não.

idadedapedra disse...

todos são muitos pá... lá estás tu a generalizar :)

idadedapedra disse...

lá que os génios podem ser completamente adaptados isso é verdade, mas deve haver aí um factor neurológico qualquer que faz com que o génio esteja associado à inadaptação. Quer dizer, se for um génio em capacidade de mentir dará um excelente político, mas não estou a falar desses génios.
Génios da matemática, da química, enfim das ciências, são habitualmente nerds.
Génios das artes são habitualmente completamente doidos.
Se calhar são-no porque a sociedade não lhes aceita a maneira de estar na vida, ou porque a cabeça muito pensante não tem pachorras para as futilidades do dia a dia

reb disse...

Voltamos aos conceitos :))
O que é uma pessoa mto adaptada à sua época e meio social? Em princípio é alguém que está satisfeito com o que a vida lhe dá e não precisa de muito mais. Leva uma vida simples e feliz( ou não).
Todos os génios da nossa história, seja lá em que área se destacaram, todos aqueles que nos deixaram obra e fizeram o conhecimento evoluir, foram pessoas com mentes inquietas e com uma capacidade de dedicação às suas descobertas ou outras obras, muito acima da média. Se para estas pessoas, a obra era a prioridade da vida, certamente que, no resto das coisas da vida, não se concentravam assim tanto. Não era o einstein que parecia um louco, sempre distraído? Provavelmente, pela sua cabecinha passavam coisas que nós, os mais ou menos adaptados, nem imaginamos.
É por isso que gosto de ler biografias dessas pessoas:)

ts1pai, o texto do FP é mesmo só assim...foi retirado de um "diário" e corresponde, portanto, ao sentimento/pensamento daquele dia...

Tão só, um Pai disse...

:) ... curioso ... será que somos inteligentes porque não somos génios?

reb disse...

penso que temos uma inteligência mais bem distribuida, mas em menor "quantidade" :)
Temos que ser capazes de gerir várias áreas da vida, desde as coisas mais pragmáticas, às profissionais, familiares, sociais...

Os "génios" são muito inteligentes numa determinada área, mas precisam que se tome conta deles nas coisas mais básicas de sobrevivência, para que a concentração vá só num sentido :)

Até as crianças sobre-dotadas em termos de aprendizagem costumam ser muito frágeis emocionalmente...

Felizmente que somos "normaizinhos de lineu..." e conseguimos ir ao supermercado, trabalhar, namorar, ver filmes, conversar com os filhos, brincar, pagar as contas....etc :)

reb disse...

parece que se estabeleceu uma ponte entre este tópico e o do autismo :)

Um lugar ao Sul disse...

ts1p, voltando ao "oco"! Quando me referia ao oco era no sentido prático da coisa. É uma frase muito bonita e tal, que até nos faz pensar quando paramos um bocado mas, na prática, o que isso diz? Nada! É nessa orientação que eu digo que é oco!

reb disse...

alguém falou aqui de "oco"?~

perdi-me :)

terá sido o nuno que acha que o que não é matemático é oco de sentido?
:))

idadedapedra disse...

Nuno: "até nos faz pensar quando paramos um bocado mas, na prática, o que isso diz?" Parecia que estavas a falar do ferrari e das cabras, hehehehe... na prática...

Um lugar ao Sul disse...

No exemplo do Ferrari e das cabras tens tens o exemplo do concurso, não passou em Portugal, mas é um exemplo real.

Na estatística tens muitos exemplos de probabilidades. Como é que achas que são calculados os prémios a atribuir no Euromilhões?

reb disse...

nuno, este post não é de matemática!!!b :)
há mais vida além da matemática! :)

Um lugar ao Sul disse...

A IP é que desviou o assunto. Eu sei que sim... não sou um vidrado nos números, mas la tenho uma tendência para puxar a brasa à minha sardinha!

idadedapedra disse...

Nuno, se eu já era descrente da estatística, depois de te ler nunca mais acredito numa palavrinha que seja :)

Um lugar ao Sul disse...

Então? Agora a culpa é minha? O que eu fiz?

idadedapedra disse...

disseste que a probabilidade de acertar no ferrari era maior numa situação de 50%... só porque deste uma volta ao enunciado...

reb disse...

IP, não sejas mazinha :)

que culpa tem o nuno de defender a ciência que melhor conhece? :)

Um lugar ao Sul disse...

Eu não dei volta nenhuma ao enunciado! Faz o teste com com as bolas que disseste que ias fazer, eu já não sei como te explicar melhor...

O reb, eu não sei se isso é simpatia e estas do meu lado, ou já o desespero de ouvires falar em cabras, mas fico contente por te sentir do meu lado :p

idadedapedra disse...

o que tu queres é que eu faça figura de ursa a lançar bolas 500000 vezes :)
Eu não fui mázinha, ou fui?
O Nuno deu-me mais uma prova do que a estatística pode fazer com pequenas alterações do enunciado que um leigo como eu não se apercebe... É que para mim, na minha profissão, a estatística, as probabilidades, são uma coisa muito importante. Sempre que eu faço um diagnóstico, faço-o porque naquele conjunto de sintomas a doença mais provável é tal. Por exemplo, vómitos e diarreia numa criança é até prova em contrário uma gastroenterite e eu diagnostico pelo telefone e digo às mães como agir. Mas há outras doenças que podem dar vómitos e diarreia, só que são muito menos frequentes. E se aquilo não melhora, se não tem a evolução esperada eu tenho mesmo que observar a criança para perceber.
Todos os diagnósticos em medicina se fazem por probabilidade.
Mas as voltas que se conseguem dar aos dados, trabalhando-os estatiscamente pegando em pequenos pormenores imperceptíveis, isso é que me lixa porque me torna muito difícil o estudo de um determinado medicamento por exemplo

Um lugar ao Sul disse...

Por isso em vez de olhares so para os %%% olha para os valores absolutos. Um aumento de 100% pode ser simplesmente um aumento de 1 para 2.

Quanto ao diagnostico por telefone, eu pensava que era sempre diagnosticada na presença da criança.

idadedapedra disse...

há até vários artigos de pediatria sobre isso: diagnóstico pelo telefone.
E não conheces a linha telefónica Saúde 24? É porque não és pai...
É um serviço público em que os pais podem ligar e descrever a situação da criança. É feito por enfermeiros que têm em frente um programa de computador onde vão inserindo os dados fornecidos e o computador vai fazendo perguntas... com a resposta a essas perguntas, eles depois aconselham ou encaminham o doente para uma urgência se for caso disso. Nesse caso o serviço de urgência recebe um fax a referenciar o doente.

reb disse...

Acho que o fernando pessoa não gostava lá muito de matemática...mas talvez me engane...aquele homem interessava-se por tudo :)

Nuno e IP, as minhas colegas de matemática estão sempre a dizer que a matemática é um jogo!
Por isso...até se podem resolver charadas aplicando leis matemáticas.

Claro que a estatistica aplicada a outras áreas não deve ser infalível...mas o facto é que é transversal a todas as areas do conhecimento. A interpretação que dos resultados se faz é que pode ser "política"...
Agora brincar com a matemática acho giro e acho que estimula um tipo de raciocinio que eu, por exemplo, não estou acostumada a exercitar.

Um lugar ao Sul disse...

reb, não confundas matemática com estatística, matemática é uma ciência exacta, a estatística nem sei bem como classificar.

sabes que 1+1=2, e sabes que a probabilidade de sair um 6 lançando um dado é de 1/6, mas se o lançares 6 vezes não podes ter a certeza que te vai sair um 6. Por isso é que não devemos confiar nas estatísticas cegamente.

anokas disse...

REB UMAS PESSOAS CUJO NOME NÃO DIGO PARA MANTER O ANÓNIMATO DERAM-ME O TEU LINK e aconselharam-me a vir aqui para me dispersar.

Fernando Pessoa possuía ligações com o ocultismo e o misticismo. Eu penso que os seus heterónimos demonstram a necessidade que ele tinha de se encontrar e de sair de si próprio.

Reb eu acho que compreender Pessoa não têm nada a haver com a época em que vivemos mas com a nossa sensibilidade e capacidade emotiva.

Há pessoas que se sentem complectamente desenquadradas do tempo em que estão, uns porque acham que vieram cedo demais outros porque acham que estavam melhor se tivessem nascido no século passado.

Acredito profundamente que ele era um inconformado com o que o rodeava e com ele próprio,anticonvencional.

"...Tenho na vida o interesse de um decifrador de charadas".

Adoro charadas e vejo a vida como uma charada, incógnita, misteriosa o que por um lado entusiasma-me e por outro amedrontra-me.

Adorava conseguir viver a vida sem pensar no amanhã para não estar amarrada a medos e inseguranças provenientes do que poderá acontecer se eu fizer isto ou aquilo. E como eu gostaria de arriscar...mas e depois? tenho que arcar com as consequências!

VIVER O HOJE sem o amanhã mudava a vida de qq pessoa.
Basta eu deixar esta pergunta no ar:
- Se te dissessem só tinhas uma semana de vida o que fazias?

reb disse...

Anokas, como tu sou uma apaixonada por fernando pessoa. Costumo pensar que, se não houvesse mais nada para ler, me bastaria a poesia de álvaro de campos.
Também adoro o "livro do desassossego" e um outro ( diário) de onde tirei este texto. Sim, o F.P. tinha conhecimentos de várias áreas, como ocultismo e astrologia. Fez o mapa astral de todos os seus heterónimos.
Qdo, neste texto ele afirma que pertence a uma geração que está por vir....eu penso que tem algo a ver com esta época em que vivemos, em que a variedade de conhecimentos é tal, que deve ser mais fácil entender uma personalidade como a dele, do que em 1920 em portugal.
Mas concordo contigo: compreender o Pessoa tb é uma questão de sensibilidade e isso não pode ser virtude de toda uma geração...

idadedapedra disse...

a sensação de não pertencer a este mundo, acompanha-me a mim desde miúda... o que não me parece é que me sentiria melhor numa geração que ainda está por vir...
Eu não acredito em ocultismos, mas pode ser que existam coisas inexplicáveis no estado actual da nossa ciência. Eu diria que se enganaram quando me puseram este mundo, nesta época, nesta dimensão... Se acreditasse nessas coisas diria que tenho em mim um qualquer personagem vindo de outro local ou de outro tempo e que não está nada satisfeito de ter encarnado aqui e agora :)
mas enfim, lá terei que me cumprir por aqui :)

reb disse...

em astrologia, abordam-se essas questões. Há, segundo eles, uma espécie de missão a cumprir nesta vida :)
A "estrada" que essa missão representa é a que vem de uma constelação chamada "cabeça do dragão" :)

Um lugar ao Sul disse...

IP, claro que na nossa ciência não há explicação para tudo, vamos descobrindo a cada passo, há 100 anos sabíamos muito menos que hoje! Mas seguir aquela máxima do "não negues à partida uma ?ciência? que desconheces" para explicarmos algo que não podemos comprovar parece-me demasiado perigoso!

Penso que a astrologia é um resquício daqueles mitos do antigamente quando atribuíamos a razão de ser das coisas (chuva, trovões, calamidades) a um ente superior, normalmente um deus zangado para as coisas más, e às coisas boas uma dádiva. Não é mais que um suporte "divino" para nos agarrarmos nos momentos mais complicados das nossas vidas, quando não temos nada em que acreditar e sentimos falta disso.

reb disse...

talvez...ou talvez não :)

Um lugar ao Sul disse...

acreditas na astrologia?

reb disse...

vai ver o post que um dia coloquei aqui sobre astrologisa :)

Dalton disse...

Bem e mal são juízos de valor.
Certo e errado são questão de ponto de vista...
Então a compreensão ou concordância passa necessariamente pelo compartilhar opiniões, conceitos e ideais.
Ser compreendido é desejo de inseguros ou daqueles com pouca convicção.
Não quero ser compreendido, quero viver plenamente minhas ideias..., até que as abandone em favor de outras.