terça-feira, 27 de maio de 2008

Poesia 2

De José Gomes Ferreira:


Dá-me a tua mão.

Deixa que a minha solidão prolongue mais a tua
_ para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.

Dá-me a tua mão companheira,
até o Abismo da Ternura Derradeira.

4 comentários:

JR disse...

Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?

Eis a grande raiva!
Misturem-na com rosas
e chamem-lhe vida.


(José Gomes Ferreira)

JR disse...

Diz-me o teu nome - agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão

com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,

como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o

nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.

Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.

(Maria do Rosário Pedreira)

reb disse...

este sonho absurdo a que chamam realidade não me obedece como os outros sonhos... :)

reb disse...

De Maria do Rosário Pedreira:

Lembrava-se dele e, por amor, ainda que pensasse em serpente, diria apenas arabesco;
e esconderia na saia a mordedura quente, a ferida, a marca de todos os enganos,
faria quase tudo

por amor: daria o sono e o sangue, a casa e a alegria
e guardaria calados os fantasmas do medo
que são os donos das maiores verdades.
Já de outra mentira

e por amor haveria de sentar-se à mesa dele
e negar que o amava, pq amá-lo era um engano
ainda maior do que mentir-lhe. E, por amor, punha-se

a desenhar o tempo como uma linha tonta, sempre
a cair da folha, a prolongar o desencontro.
E fazia estrelas, ainda que pensasse em cruzes;
arabescos, ainda que só se lembrasse de serpentes.