sábado, 12 de abril de 2008

Acreditar na Humanidade

Acabo de ler esta frase no Expresso: " Na História da humanidade sempre foi assim, tempos de crise e épocas onde renascem os valores da solidariedade, onde as ideologias se voltam a impor..." (notícia "Indonésia por detrás dos atentados em Timor")

Pensei logo no trajecto mundial da chama olímpica que antecede o acontecimento tb mundial: Os Jogos Olímpicos em Pequim.
Em todas as partes do planeta por onde tem passado, tem gerado "ondas de contestação" por várias pessoas. Isto sugere uma solidariedade à escala do planeta!
Afinal, um pequeno país ( pequeno em importância no xadrez mundial), mobiliza gentes que se indignam , revoltam e manifestam, em vez de ficarem calmamente no seu "mundinho"agindo como se nada fosse com eles...
Isto é bonito! Faz-nos pensar que não estamos tão moribundos e egocêntricos como costumamos julgar! Isto devolve-nos a esperança.
Podemos até ser governados por políticos insensíveis aos valores humanos, mas haverá sempre pessoas que não se resignam. Essas pessoas, que de poucas passam a muitas, fazem História. Sempre assim foi, sempre foi possível evoluir!

Relembrei o "caso Timor". Foi bonita de ver aquela manifestação de apoio aos timorenses aquando do massacre pelos indonésios!

Tenhamnos esperança no futuro!
E viva a internet que nos põe em contacto directo com todo o mundo :)

15 comentários:

harumi disse...

Razão e emoção, quando de mãos dadas, num determinado contexto, podem fazer eclodir manifestações de solidariedade que acabam por adquirir vida própria, e por vezes nos surpreendem na sua dimensão.

Tibete: Existe em nós um sentimento de injustiça pela forma como os chineses se apoderaram daquele território que de facto não lhes pertencia (Razão). A personalidade do Dalai Lama, mexe conosco pela simpatia que ele próprio erradia e representação de um mundo onde a paz seria posivel (Emoção).

Timor: Tal como no Tibete, também a usurpação de território que não pertencia à Indonésia, desrespeitando as leis internacionais. Pelo lado da emoção, temos o trágico acontecimento do cemitério de Santa Cruz e também o facto da proximidade histórica com o nosso país, e finalmente, mas não menos importante, as Avé-Marias rezadas na nossa língua.

Se pensarmos também no Euro 2004, e a forma como uma grande parte de nós aderiu à colocação de uma bandeira portuguesa na janela de sua casa, embora diferente dos casos anteriores, também encontraremos mecanismos que o justifiquem. Querer ganhar, por uma questão de afirmação de nacionalidade,e reconhecimento do nosso valor por parte dos "outros" (estrangeiros), é razão e emoção no seu estado puro. É só preciso que surja alguém que faça esse apelo no memento exacto.

reb disse...

Adorei este comentário! Estou totalmente de acordo.
O engraçado é que eu tinha exactamente pensado no fenómeno do Euro 2004 e pensei em incluí-lo no meu post, mas depois achei que podia ser mal interpretado.
Tal como o Harumi, eu senti esse momento como uma explosão de patriotismo ! As pessoas vibraram com os jogos da selecção, não pq sejam todas adeptas ferranhas de futebol, mas pq sentiram que havia algo a unir-nos: o nosso sentimento de pertença a um país, o nosso patriotismo. Se em vez de futebol, tivesse sido outra coisa qq com projecção mundial, a emoção revelar-se-ia na mesma :)

Os meus alunos aprenderam o hino nacional nessa época,o que deixou os profs a pensar: "Pq é que nunca lhes ensinámos o hino?"

harumi disse...

Gostei dessa do Euro 2004 ter contribuído para os alunos aprenderem o Hino Nacional. Está deveras interessante.
Devia pôr os nossos homens das ciências humanas e também os nossos políticos a reflectirem um pouco sobre os mecanismos do sentimento de pertença a um grupo.
Eles estão mais que estudados. Faz-se é muito pouco no sentido de contribuir para a sua aplicação.
Lembram-se como todos achámos giríssimo aquela história da nossa selecção de râguebi a cantar o Hino sem medo nem vergonha de estar a fazer figuras tristes?
E em nossas casas ao ver aquilo na televisão, até nem achámos nada piroso.

Tão só, um Pai disse...

:( o hitler também juntou razão e emoção ... o salazar também ... sempre desconfiei dos gajos com carisma ... e dos românticos do comunismo ... sempre vi isto como uma manipulação do patriotismo ...

idadedapedra disse...

patriotismo pode dar para o bem ou para o mal... depende de qual a razão que leva à emoçao.
Quando foi do euro 2004 eu inicialmente achei aquilo ridículo, até porque acho o futebol um desporto tão corrupto, que só podia existir numa sociedade como aquela em que vivemos.
Depois alguém me disse que já não se sentia tão emocionada desde os tempos da revolução...:) Para mim também isso me soou a ofensa. O 25 de abril tinha uma razão tão forte... como se poderia comparar o estado emocional dessa altura ao provocado por uma selacção de futebol.
Acabei a ir ver os jogos numa tasca com ecran gigante :)

reb disse...

lolol, o que estava na base desse entusiasmo era aquela unidade: naqueles dias, não havia benfiquistas e sportinguistas, gajos de direita e gajos de esquerda. HAvia um sentimento comum: o patriotismo. Fosse por causa da selecção ou outra qq coisa que nos fizesse sentir auto-estima enqto nação....Achei mto bonito! Fiquei a pensar mto naquilo e descobri que temos um orgulho nacional escondido e morto por sair cá pra fora.
Claro que isso é sempre aproveitado para um lado ou para outro. Mas, cá pra mim, ó ts1pai, as razões do hitler eram totalmente irracionais. Como um povo inteiro embarca nisso só tem uma explicação: o medo, o terror de vir a ser perseguido e morto. E houve mts resistentes, mas esses foram eliminados!

Tão só, um Pai disse...

reb, um líder só faz o que hitler fez quando tem o apoio de todo um povo ,,, O besta nunca lhes mentiu sobre as suas intenções bélicas, e foi esse povo que, pelo voto, o colocou no poder, e se lhe deu, e aos filho, para a guerra, pelo orgulho de uma grande alemanha.

reb disse...

Qdo o hitler chegou ao poder, a alemnaha estava numa grande crise. Ele só prometeu salvá-los e puxou pelo orgulho nacional para os convencer. Mas nunca lhes disse que ia invadir a polónia. Isso foi depois.
Em geral, os ditadores aparecem em épocas de desmotivação e crise, e surgem como os salvadores da pátria. O meu avô que viveu a insegurança da 1ª republica, com governos a cairem todos os meses, achava o salazar um santo, pq trouxe estabilidade.
O que me chateia é que o patriotismo e nacionalismo tenham que ser considerados de "direita" e associados aos ditadores. Que diabo, esse sentimento é mais enraizado que as lutas do sec xx!

harumi disse...

Eu sei que estamos todos de pé atrás com patriotismos mal explicados. Eu também estou! E continuo a achar que a maioria dos problemas que temos no nosso país ainda radicam nos 48 anos de salazarismo que infelismente tivemos.
Mas o ser humano é um ser essencialmente social. Sózinhos não valemos nem prestamos para nada.
Se por acaso sentirmos que um elemento da nossa família é alvo de um ataque exterior, automaticamente nos mobilizamos, primeiro para defesa do mesmo e seguidamente para o auxiliar na tentativa de repor o equilibrio anterior.
Com a população de um país a coisa não é muito diferente.
Claro que quando vivemos muito tempo em paz nos esquecemos do que podem significar os tempos de guerra. Se assim não fosse, não faria nenhum sentido nos dias de hoje o Tibete e o Kosovo serem noticia.
Razão e emoção coexistem conosco todos os dias e em cada momento. É uma característica dos seres humanos.

idadedapedra disse...

a emoção é mais primitiva do que a razão. Faz parte do hardware do cérebro. Gera-se numa área antiga do cérebro, que todos (serão todos?, vá muitos...) os animais têm. Há animais que tem quase só isso no cérebro.
a razão já faz parte de áreas muito mais especializadas do cérebro...
o que ´e que isto tem a ver com o hitler não sei, mas achei que era uma informação que vos devia dar, cá das minhas ciências :)

reb disse...

É iso mesmo: aquela adesão ao hitler parece-me ter muito mais de emocional ( arcaico) do que de racional!

Tão só, um Pai disse...

... :) e o que teve de racional a adesão colectiva à selecção, no euro de 2004?

Já agora, o que perdurou dessa adesão "colectiva"? Até em relação à própria selecção? Redescobriu-se ou perdurou algum sentimento colectivo de gente com um objectivo partilhado e histórico? É que, nos alemães, isso perdurou durante muito tempo e, para o melhor ou para o pior, deram a vida por ele.

Às vezes, acho que embarcamos em "pseudo uniões colectivas", porque também precisamos de festejar e dar descanço aos porquês do dia a dia, preferimos adiar as respostas.

Não ficámos mais unidos ou mlhor, depois do Euro. Voltou tudo ao mesmo e á realidade do dia a dia.

Gostei e senti mais a união dos que deram o corpo ao manifesto na greve às portagens da ponte 25 de Abril. Isso sim, foi malta com tomates, que cuspiu na repressão fingida e asseadinha.

idadedapedra disse...

ts1p: fiquei 12 horas na ponte nesse dia :) Não foi de propósito, mas foi muito engraçado.
Eu saí do hospital garcia de orta por volta das 7 da manhã, para me dirigir à estefânea onde estava a fazer uma valência do internato de pediatria.
Quando cheguei à ponte estavam oa camiões todos parados. Tinham acabado de ali chegar. Fiquei logo atrás deles. Parei e esperei, dormi... acordei, saí do carro, entrei no carro... bem, ao fim de uma ou duas horas já eu tinha percebido que tão cedo não saía dali.
à portuguesa, rapidamente apareceram umas banquinhas a vender bebidas e até sardinhas se assou (foi por altura dos santos populares)
Foi uma curte. Em vez de ir trabalhar depois dum dia de 24 de urgência, aquilo foi muito melhor!
Até andei a fugir à polícia!

No euro, o que aconteceu foi a emoção colectiva. As emoções incham desincham e passam.

Se tu mesmo não sendo crente fores a fátima numa altura daquelas importantes, acho que sentes emoção, arrepiam-se os pelos.

O hitler puxou pela amor à pátria e conseguiu que o seguissem através das emoções de massas... razão não devia haver muita. Quer dizer, ele lá tinha as suas razões, mas o povo seguiu-o emotivamente

harumi disse...

O problema da alemanha quando o Hitler subiu ao poder, passava por as principais artérias da economia alemã estarem nas mãos dos judeus que residiam lá, nascendo em torno desta ideia a doutrina do nacional-socialismo para combater este problema e criar espaço económico para o investimento alemão.
Inicialmente portanto, o nacional-socialismo foi apresentado aos alemães como uma política onde a ideia principal era sustentada por objectivos económicos.
Posteriormente desancadearam-se dinâmicas no interior do próprio partido que conduziram o nacional-socialismo a objectivos políticos mais vastos, e que vieram infelizmente a culminar naquilo que todos sabemos.
Portanto acho que no início, a mobilização dos alemães para o projecto nacional-socialista, tinha alguma racionalidade para o povo alemão. Doutra forma seria impensável todo um povo unir-se em torno de ideias que conduziram a humanidade a uma das suas páginas históricas mais trágicas.
Os aspectos de mobilização emocional, estavam portanto desencadeados por uma propaganda bem elaborada e organizada e que a meu ver, distorciam a realidade no que à comunicação com o povo alemão diz respeito.
Finalizando, acho que todo o processo começou com uma ideia que o povo alemão até compreendeu e aderiu, mas depois descambou para objectivos terríveis, que não eram os iniciais, e os quais o próprio povo alemão só mais tarde se veio a aperceber.

idadedapedra disse...

a propaganda... é isso... uma propaganda bem feita é uma arma terrível. Convence os mais controversos...