quinta-feira, 17 de abril de 2008

O acordo ortográfico

Não consigo entender a necessidade deste acordo!
Já sei que as leis da economia regem o mundo, já sei que os brasileiros são muitos mais que nós e mais influentes e fazem mais pela expansão da língua do que nós.
Mas isso será razão para termos que usar a "mesma" linguagem escrita? Porquê? Eles não entendem o que escrevemos? Penso que o que não entendem é a linguagem oral, mas isso não se pode mudar...
Alguém imagina os ingleses mudarem a sua grafia por causa dos americanos, ou os espanhóis por causa dos povos da América Latina??

Os defensores do Acordo, argumentam que a língua não é estática e que há 100 anos se escrevia "pharmacia", etc. Claro que a língua vai evoluindo ( mais recentemente, a chegada dos retornados das ex-colónias trouxe novos vocábulos que já existem nos dicionários)...mas isso é um processo natural, vem de dentro, vem da oralidade. Este Acordo é uma imposição vinda de fora. É anti-natural.

Já pensaram o que será ter que reescrever dicionários, manuais escolares, etc? E os nossos escritores...será que conseguem adaptar-se?

Pela minha parte, sei que nunca serei capaz de escrever: ótimo, ação, infeção, etc.
Lá terão que ser os meus alunos a corrigir-me :)

O Fernando Pessoa dizia: "A minha pátria é a língua portuguesa!"...mas penso que se referia ao amor pela língua, com todas as suas variantes...

15 comentários:

harumi disse...

reb, também não entendo a necessidade deste acordo! Acho mesmo que é empobrecedor. Não gosto de massificações, e para mim o acordo ortográfico caminha nesse sentido.
Uma das formas de eu perceber o sentir de qualquer povo lusofono, é também, percebê-lo pelas nuances da sua linguagem.
Conseguir entender os outros sem alterar a sua realidade, é menifestamente um sinal de cultura da parte de quem os escuta, lê ou observa.

nelio disse...

pois vai ser difícil, mas pelo que entendi, o acordo não vai ser completamente vinculativo. e não será apenas a nossa grafia a mudar, a dos brasileiros também muda. a mim não me faz confusão nenhuma, embora não entenda a necessidade do acordo também não me consigo colocar contra ele. aliás, desde que eu passei pelos bancos da escola primária já houve pequenos acertos, alguns acentos que desapareceram e não houve crise. toda a escrita acenta em convenções que, de vez em quando, são alteradas. porque não nos havia de calhar a nós uma dessas alterações?

Tão só, um Pai disse...

Acho que estou numa de "represamento" de emoções. Tranduzido para português, de Portugal, seria, talvez, repressão de emoções. Nós, utilizamos muito no dia a dia, expressões anglo-saxónicas, de forma directa. Mas deixamos a nossa língua intacta. Claro, não há povo sem pecado. Mas os do lado de lá, até abusam, são os piores tradutores do mundo, e, em vez de se darem ao trabalho de utilizarem os vocábulos apropriados que sempre existiram na nossa língua, quiçá porque não lhe pagam para isso, aportuguesam de forma ininteligível o que ouvem ao grande chefe do norte. Lembro-me de, no primeiro ano do curso, apenas ter dois livros em língua "portuguesa". Um, era uma qualquer coisa dum tal Piskonov, coisas de matemáticas que há muito se usava no técnico. Bem vêm, os engenheiros despertam muito tarde para a economia e a faculdade andava, perigosamente, cheia deles. A outra das duas únicas obras em lingua ... portuguesa, enfim, tinha como título algo parecido com Introdução à Economia, tratando-se de uma "tradução" brasileira. Lá dentro, vinha um "mapa" de "gralhas" linguísticas, todo dobradinho, ao estilo dos bons e velhos mapas de estradas, dos que necessitavam de uma mesa de bilhar para serem estendidos. Claro, outras palavras inventam-nas eles próprios, localmente, com base no português antigo, e isso sim, é acrescentar algo de mais colorido. Até podiam escrever pharmacia, e, em vez deste "e", usarem o "y". Conheci catalães para quem o português lhes soa a castelhano antigo. Acredito que sim. :) Quando saímos do burgo lisboeta, percebemos que "arado" pode ter, localmente, sinónimos ancestrais de cuja existência sorrimos. Ah, e "rabiça" pode ser a punho do arado, mas isso até vem no dicionário. Acho, porque foi o que me disseram. :)

Agora, os nossos linguistas têm estado a abusar, em particular na educação. Lembro-me do meu filho com 10 anos ter uma dúvida gramatical e eu ter ficado a olhar para ele como se fosse um extra-terrestre. Nunca dei aquilo daquela maneira e pensei no ridículo a que pseudo-iluminados masturbados intelectuais chegaram com a língua ... quiçá a uma tomada de corrente eléctrica alternada de 500 volts para ficarem, quais desvairados anormais, com a língua de fora. É certo, cada um retira prazer do que quer ( ... :) há quem o faça com a bimbie :). Voltando ao acordo, acho importante que exista um acordo, para fins jurídicos, aplicável, nomeadamente, nos regimes contractuais. Por isso, devia fiar mais fino.

Maggie86 disse...

eu não concordo com o acordo, talvez por ser demasiado patriota, tb penso q a lingua é o nosso maior patrimonio e, mesmo q os brasileiros tb mudem alguma coisa acho q nós, pelo q percebi até agr, é q vamos mudar mais.isto leva-me a uma pergunta:será q vamos mudar pra evoluir na língua ou pq os brasileiros n nos entendem e estamos, mais uma vez, a sujeitar-nos a países maiores e com mais influencia?e o q me indigna aqui é:fomos nós quem os colonizámos e isto parece uma nova forma de colonização, pela língua e por eles.não q tenha alguma coisa contra os brasileiros porém, acho q nos entendemos o suficiente para termos q mudar a língua.
acho a língua portuguesa muito bonita e n gostaria de me ver obrigada a escrever brasileiro.

idadedapedra disse...

Hum...
para responder a isto tinha que me ir informar sobre todas as modfificações que vai haver. Li alguns mails sobre elas e não me pareceram catastróficas.
A minha mãe ainda escreve mãi, com i... portanto isto de vez em quando altera-se (por acaso essa alteração não percebo porque a gente diz mãi).
Eu acho que a ideia doa gajos é que se continue a poder dizer que o português é das línguas mais faladas (e escritas) do mundo, certo? É por isso, não é? porque têm medo que por exemplo o brasileiro se distancie tanto do português que passe a chamar-se brasileiro mesmo.
Eu não faço tensões de mudar muito a minha maneira de escrever. Mas uma das alterações dá-me jeito: para escrever "nós andamos na escola", no presente, e "nós andámos na escola", no passado, vai poder pôr-se o assento (ou será acento?) que eu já punha porque achava que lá fazia falta. Corrijam-me se estou a dizer asneira.
Quanto à gramática, as alterações têm-me dado jeito. É que assim as miúdas têm que aprender a estudar sozinhas porque eu não faço a mínima ideia do que querem dizer aqueles nomes que para lá v~em escritos para dizer sujeito predicado, etc etc :)

reb disse...

Sempre se escreveu: nós andamos no presente e nós andámos no passado:)
É o acento que faz a diferença. O que se passa com os brasileiros é que eles só têm vogais abertas, por isso, para eles, lê-se sempre "andámos".
Voltarei a este tema mais tarde.

reb disse...

Veio mesmo a calhar: a VISÃO desta semana tem um artigo dedicado ao Acordo Ortográafico. Para quem não comprou, aqui ficam alguns esclarecimentos:
Vai haver alteração de 1,6% das palavras da variante portuguesa e 0,5% da brasileira.
O novo acordo privilegia a fonética, aproximando a língua escrita da falada ( os alunos vão dar mto menos erros:))
Foi lançado um dicionário no mès passado ( do Casteleiro) que contempla as alterações.
No Brasil, caetano veloso é contra a abolição dos tremas e diz: "queria que os meus tremas ficassem onde estão". O nosso Saramago já avisou que prefere que as edições brasileiras dos seus livros obedeçam à ortografia portuguesa.
Estes são amantes da língua, não é verdade?
A melhor notícia ( pelo menos para mim que sou prof de português): temos um período de transição de 6 anos após a aprovação na assembleia da republica, nos proximos 2 meses. Como será com os manuais escolares? Vamos ver se consigo aprender :)
O que vai mudar para nós:
O k, w e y passam a constar do nosso alfabeto. Até aqui tudo bem: já escreviamos yoga, não é verdade?
Desaparecem as consoantes mudas. Esta é a mais lixada! Imaginam-se a escrever: otimo, lecionar, ação, elétrico, adoção, batismo??
Qdo estudava, aprendi q razão de ser destas consoantes: serviam para "abrir" a vogal que as antecedia. Ao escrever baptismo, leio bátismo e não batismo , sem necessitar de acento no a.
Os hífenes desaparecem em algumas situações: passaremos a escrever: minissaia ou autoestrada. Esta não me chateia.
Desaparecem alguns acentos. O circunflexo desparece em : vêem, lêem, dêem. Também desaparece em pêlo que fica igual a pelo. "Pelo caminho vou cortar o pelo" :).

Continuo sem entender a utilidade disto...mas quem sou eu? :)

Tão só, um Pai disse...

... vai haver confusão. Também não percebo porque temos de eskrever "que", se o pudemos fazer com "q", q diábu, para q kro u "ó"? Ah, o "qué" ficará o "q" acentuado com o "^", quando os teclados o deixarem. E eu já vi esta forma de escrita, inscrita, também, numas pedras mais ou menos milenares. Eis o futuro alienígena.

reb disse...

Hoje no Expresso, na página de cartas de leitores, vem uma carta de uma cidadã britânica a viver em Portugal.
Diz a senhora:
"O inglês falado e escrito nos EUA assim como nos países da Commonwealth tem a sua própria pronúncia e ortografia. No entanto, isso não choca com o "inglês de Inglaterra" que mantêm a sua ortografia e pronúncia, sem necessidade de se adaptar ao inglês falado no resto do mundo..... Lá porque Portugal é geograficamente um país pequeno, não deverão outros impor a sua ortografia...mas sim cada país usar o seu idioma com a sua evolução natural, pois assim mesmo serão bem lidos e entendidos" sic

Esta inglesa pensa como eu :)

idadedapedra disse...

bem, Reb, eu não te consigo jurar mas tinha a sensação de que, tal como deixou de haver acentos nas palavras acabadas em mente, tinha deixado de se pôr o acento em andámos, aqui há uns anos atrás.
Ainda hei-de pesquisar sobre isso, mas hoje não porque um sábado é uma coisa muito valiosa para se andar atrás da gramática :)

reb disse...

Basta consultares uma gramática das tuas miúdas.
Presente do indicativo do verbo "andar":
eu ando, tu andas, ele anda, nós andamos, vois andais, eles andam.
Pretérito Perfeito do Indicativo:
eu andei, tu andaste, ele andou, nós andámos, vós andastes, eles andaram.

Em minha opinião, o que deveria desparecer é a 2ª pessoa do plural: vós andais, vós andastes, pq simplesmente caiu em desuso ( só se usa em algumas regiões) e passou a ser substituída por: vocês ( vocês andam, vocês andaram).
Esta nova conjugação já existe nas gramáticas de português para estrangeiros, mas a nossa mantém-se igual.

JR disse...

Muito se discutiu o ano passado a propósito dos erros ortográficos em provas de português.
Nessa altura, entre outras doutas opiniões, responsáveis do Ministério da Educa(stra)ção vieram dizer que não, que os erros ortográficos não eram importantes.
Ora, assim sendo, para que serve um acordo ortográfico, se não para limitar a criatividade e impedir a cada um de nós a criação de uma língua individual, à medida de cada um?

reb disse...

Para quem está interessado no tema, aconselho a leitura da crónica da Inês Pedrosa, na Única do Expresso.

- letícia disse...

Sou brasileira, cai aqui puramente por acaso.
Sinceramente, nós detestamos isso.
Vimos tanta inutilidade quanto vocês.
Nunca nós acostumaremos a escrever "ideias, creem, enjoo, veem(...)" pois, a nossa cultura não é essa! O mesmo com vocês imagino.
Nós temos até 2011 para aprender isso, se quisermos entrar no vestibular.
Li um texto sem nossos acentos e, tipo assim, achei ridículo.
Vamos todos nos confundir no começo e etc.
A nossa maneira de escrever não vai se tornar errada do dia pra noite, a mudança vai ser gradual, provável que só vejamos os resultados, de fato, daqui uns 20 anos.
Nós -gurias de um site de relacionamento- soubemos dia 23 que vocês também aprovaram esse contrato e digo,definitivamente, todas nós queremos mudar-nos para Paris ou para Londres. detestamos, detestamos, detestamos.
como é que vão ficar as leituras em público? Sem acentuação vamos ter de ler as frases primeiro para tirar o seu sentido para se poder dizer tudo correctamente.
E digam o que disserem, escrever "nao" fica foleiro -.-

Entendemos muito bem o que vocês dizem ou escrevem. Cá estou eu comprovando. Creio o mesmo vocês. Sinceramente, não vejo necessidade disso tanto quanto vocês.
beijo.

- letícia disse...

ps: para nós é
"andamos" sempre.
andámos o som fica agudo no a e nós não falamos assim.
"andamos para o futoro, andamos para o passado."

ingraçado. Aqui por incrível que pareça, chamamos a escrita "brasileira" de portuguesa.
nossas matérias de aula são chamadas de "Português" nunca de brasileiro. ;)