terça-feira, 22 de abril de 2008

Dedicatória de Saint-Exupéry no livro "O Principezinho"

Para Léon Werth

Os meninos que me perdoem por dedicar este livro a uma pessoa grande. Mas tenho uma desculpa de peso: essa pessoa grande é o meu melhor amigo no mundo inteiro. E tenho outra desculpa: essa pessoa grande é capaz de perceber tudo, mesmo os livros para crianças. E tenho outra desculpa, a terceira: essa pessoa grande mora em França e em França passa fome e passa frio. Bem precisa de ser consolada. Mas, se todas estas desculpas não chegarem, então, gostava de dedicar este livro à criança que essa pessoa grande já foi. Porque todas as pessoas grandes já foram crianças. ( Há é poucas que se lembrem disso.) Portanto, a minha dedicatória vai passar a ser assim:
Para Léon Werth
quando ele era pequeno

12 comentários:

Tão só, um Pai disse...

"Obrigado, por me teres mostrado, e ensinado, a essência do viver. Foste e serás o meu exemplo".

http://deondeteescrevo.blogspot.com/2006/08/por-teres-sido.html

A alguns deveremos, sempre, algo de muito. :(

reb disse...

Se tens a sorte de ter aprendido assim tanto com alguém, não entendo pq terminas o teu texto com um :(

Tão só, um Pai disse...

Por partes.
Entre aspas, o que percebo do prefácio do príncipezinho. O tal Léon Werth, anarquista, filho de bolcheviques, seria, mais coisa menos coisa, 22 anos mais velho do que Antoine, e, aparentemente com nada em comum. Pois é, aparentemente. Ter-se-ão conhecido em 1931 e, desde então, sido amigos.

Quanto ao resto, :) , é o resto, que sempre nos faltará.

Atribui-se a Werth, depois de alcançada a paz, um desafo "qualquer", como algo do génrero, "a paz, sem ele nunca será paz". Bem entendido, "nunca terei uma completa paz". Por isso, o tal :(.

idadedapedra disse...

o principezinho é um livro para crianças dedicado aos adultos, foi assim que eu o vi sempre, até porque tentando dá-lo a ler a crianças (mais pequenas do que os alunos de que fala a reb) eles não lhe acham grande piada. Os adultos sim, porque já passaram por muitos amores e desamores e stresses e não stresses, conseguem perceber até essa frase essencial que diz que o essencial não é visível para os olhos.
Mas nós crescemos, certo? Não podem exigir de nós, por muito boas almas que sejamos, que sejamos inocentes como uma criança nas relações com os outros. Crescer tem de bom continuar a acreditar sem se ser inocente, acho eu... fazendo escolhas sabendo de antemão o sofrimento que isso pode causar. porque nesta fase da vida a gente já sabe se vai doer ou não... às vezes a dor vale a pena porque tudo o resto compensa

Tão só, um Pai disse...

Ah, grande IdP.
Sobre isto,

"... fazendo escolhas, sabendo de antemão o sofrimento que isso pode causar. Porque, nesta fase da vida, a gente já sabe se vai doer ou não... às vezes, a dor vale a pena porque tudo o resto compensa"

... touché!

reb disse...

"...fazendo escolhas, sabendo de antemão o sofrimento que vão causar"- é verdade, mas, julgo eu, qdo arriscamos ( fazemos as nossas escolhas)apostamos sempre no prazer que daí advirá, por sabermos que, ainda que venha a doer, o prazer perdurará...
De outra forma, não escolheríamos, não é? Entre o prazer e a dor, escolheremos sempre o prazer!
Será que entendi?

Ts1pai: podes explicar-me a frase: "Sem ele, a paz não é paz" ?
A quem se refere?

idadedapedra disse...

escolhemos às vezes não querer resistir a alguma coisa que a razão nos diz que vai magoar... em princípio escolhemos porque o que se avizinha é muito forte... não sei se será sempre prazer, mas qualquer coisa intensa, envolvente, que não podemos não viver naquele momento. Pelo menos comigo é assim.
Acho que para entenderes a frase do ts1p tens que ver o link que ele mandou. Eu entendi assim

reb disse...

Ah, não tinha visto nenhum link...

No fundo, escolhemos sempre o que nos dá mais prazer, não será?
Às vezes escolhemos evitar prazeres pq, pondo os pratos na balança, nos parece que a dor será maior do que o prazer...

Tão só, um Pai disse...

REB,
Antoine morreu antes do fim da guerra (só muito recentemente lhe encontraram o avião, no fundo do mar, tendo a identificação sido peremtória, através do número de série de uma das componentes).
Werth teceu aquele comentário depois do fim da guerra. Haveria paz, sim, mas não para ele, a quem lhe faltava algo que não conseguiria substituir e, talvez por isso, pela perda, não conseguisse sentir grande alegria.
Werth, também designado nalguns meios intelectuais como o "insubmisso", terá sido o, ou um mentor para Antoine, e companheiro de armas na sua vida interior e intelectual. Na sua última função de piloto, a de reconhecimento aéreo fotográfico, Antoine sempre arriscou tudo, voava, como os seus companheiros, num avião caça sem armas, nunca se poderia defender e, no entanto, por sua iniciativa, sobrevoava espaços onde, todos o sabiam, só a sorte da lotaria o deixariam sobreviver. À sua maneira, Antoine tornou-se, também, um insubmisso e um esclarecido, quer em relação ao seu país ocupado, quer no sentido que deu à sua vida pessoal. Na sua idade, cada missão de vôo era um risco, devido às elevadas altitudes exigidas. Não obstante, por ser a única que lho permitiam, até nisso fez muito mais do que aquilo que lhe exigiam, pelo que até foi condecorado. Ao que ele, obviamente, até nem deu grande valor ou sentido individual. Na minha opinião, Werth terá sido para Antoine como que um pai. Não o biológico, mas, por alguma razão, que desconheço, Antoine sentiria em relação a ele uma dívida de sangue.
Um dia, se eu escrevesse um livro, ele teria como prefácio o texto no link que indiquei.

Tão só, um Pai disse...

... e há coisas que não nos cabe a nós escolher. Ao contrário do que se possa pensar, na vida nem tudo são escolhas, a própria vida se encarrega de escolher por nós, de promover o "acontecer". Não escolhemos, por exemplo, o sítio em que nascemos, nem o ... "mapa astral" com que o fazemos. :) ... se calhar, nem escolhemos de quem somos amigos. É a vida que se encarrega de nos por em rota de colisão. Eu não vos conhecia a vocês. Hoje, sei da vossa, agradável, existência :)

reb disse...

TS1PAI:
Sim, sei que o avião do saint-exupery foi recentemente encontrado, tendo sido comprovado que lhe pertencia.
Qto ao léon werth, não sabia quem era, a não ser que era a pessoa a quem st exupery dedicava o "principezinho".
Sempre fantasiei sobre tão grande aimzade que inspirava um livro tão belo!
Compreendo que tenha dito que, sem ele, a paz não "sabia" tanto a paz...

Qto às escolhas, lembras-te do post que em tempos aqui coloquei, chamado: "Escolhe-se?"
Em conciência nem sempre escolhemos, mas talvez haja "escolhas" que vamos fazendo, subconscientemente...

reb disse...

É verdade, ts1pai, o "crescimento" deste blog foi totalmente imprevisto por mim :)
Sobre isso, brevemente escreverei um "post" a título de 1º balanço :)