sexta-feira, 25 de abril de 2008

A pedra filosofal

As músicas despertam-nos emoções! As músicas de Abril não se esquecem! Há uma, escrita durante a ditadura, que passou a ser cantada por todos, depois da festa de 74: A Pedra filosofal.
Acabei de a ouvir, e, como de todas as vezes que a oiço, sinto-me arrepiada...

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer

Como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos

Como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul
......................................


O homem que escreveu isto, de pseudónimo António Gedeão, era Rómulo de Carvalho, prof de fisico-química e poeta...

É tão bonito este poema, não acham?

9 comentários:

harumi disse...

A Pedra Filosofal, é dos poemas mais bonitos que conheço.
Comecei a cantarolá-lo com vinte e tal anos, e de tal maneira me senti enfeitiçado pela correria do seu dizer, rodando sobre mim próprio, que, quando o digo, de tanto rodopio, se ausentam por momentos as razões, e se cria, de entre todas as alquimias, a mais importante: o nascimento do sonho.
Ainda hoje sei o poema de uma ponta a outra, não pelo constante hábito de o dizer, mas porque o aprendi gravando-o no mais fundo de mim.

reb disse...

Entendo perfeitamente as tuas palavras. Conseguiste exprimir o que eu tb sinto :)

Sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança

Ai, o que eu mais desejo é nunca perder a capacidade de sonhar....como uma criança :)

ZIB disse...

Estou longe do meu país, é verdade, mas graças a esta coisa fantástica que é o satélite, as distâncias não existem. Por isso tenho estado a ver As Vozes de Abril, na RTP Internacional. Também ouvi a Pedra Filosofal, Reb, e adorei aperceber-me que ainda me lembrava do poema todo (que força tem!), e cantei-o com o Manuel Freire, com pele de galinha e tudo. Que avalanche de emoções hoje, ao desenterrar da memória aqueles tempos vividos com tanta força ontem. “Tenho o mês de Abril a voar dentro do peito”, acabei de ouvir recitar. E já passaram 34 anos …e ele continua a voar cá dentro.

Tão só, um Pai disse...

Não me levem a mal, mas empre preferi este, mais curto, mais de acordo com o meu sentir, e sentimento:

Livre

versos: Carlos de Oliveira
música: Manuel Freire

Não há machado que corte
A raíz ao pensamento
Não há morte para o vento
Não há morte

Se ao morrer o coração
Morresse a luz que lhe é querida
Sem razão seria a vida
Sem razão

Nada apaga a luz que vive
No amor num pensamento
Porque é livre como o vento
Porque é livre




E ... cá dentro há outros sons, e outros dialectos, Há o batuque (coisas de Mutarara, pá, um gajo em puto arrepiava-se, de ver, ouvir e a dançar aquilo), de atitude bélicas e agressivas, em que se diziam jocosas palavras à frente dos grandes governantes que, de sorriso parvo, não percebiam nada.

Acredito que a terra e o mato em que crescemos nos marca, com um ferro comum, nos trata como se fossemos um, e se ri da raça ou do estatuto. Vocês, isto, não entendem, porque o vosso algoritmo mental não tem a informação para recriar imagens, memórias e emoções dos cheiros, dos espaços, dos suores, dos sofrimentos e do calor. Nascer e crescer na África daquele tempo não é coisa que se traga domesticada.

Como vêm, houve outros cantares e 25s de Abris. De outras poesias.

Muitas mais poesias.

reb disse...

Também me lembro mto bem desse poema, e qdo te comecei a ler, comecei a cantá-lo :)

Mas a Pedra Filosofal....hmmm, é tudo num poema: as pedras e a filosofia :)

Pois, penso que mais ninguém neste blog tem memórias de África como tu tens. Imagino que essas vivências de que falas devem penetrar bem fundo...
Às vezes conheço, no trabalho, pessoas que cresceram lá e interrogo-me como se conseguiram habituar a esta "pequenez", e espanta-me que raramente falem das suas memórias nesse continente...

idadedapedra disse...

Hello!!!
Vim visitar-vos, directamente das caldas da rainha.
A pedra filosofal livre é realmente muito bonita.
Este ano vivi mais o 25 de abril do que nos últimos 10 anos. Não faço ideia porquê, mas fartámo-nos de reviver aventuras dessa época.
É bom relembrá-las, cada um viveu aquilo à sua maneira.
Que engraçado Zib, como também ainda te voa aí dentro.
O sonho é uma constante da vida, que não há machado que corte.

Beijos caldenses

reb disse...

Apoiado!! "o sonho é uma constante da vida que não há machado que corte" :)

Tb pensei na zib a recordar sozinha as emoções desse dia. Às vezes deve se difícil ser emigrante ...

ZIB disse...

Tens razão, Reb, há datas “memoráveis” e fortemente emocionais em que custa mesmo não estar aí, acompanhada de compatriotas, para celebrar. “Ossos de ofício” dos emigras! Mas podes crer, foi óptimo ter as imagens do canal satélite e, sobretudo, os vossos contributos bloguistas.
E comigo também aconteceu o que conta a IdP, este ano vivi mais intensamente o 25 de Abril que outros anos, e também não sei porquê! Terá sido este blog o fio condutor de emoções partilhadas que ligou Lisboa às Caldas e chegou a Barcelona? Porque o sonho é uma constante da vida “everywhere” …. e não há machado que corte este fio condutor que, no meu caso, é também um “cordão umbilical” com a minha pátria.

reb disse...

Lindo!!