sexta-feira, 25 de abril de 2008

Mais um 25 de Abril!

Este dia nunca me é indiferente!
Hoje está sol e vou almoçar na praia e ficar por lá...mas, no meu coração, há um lugar para a memória, que não quero que venha a desaparecer...
Qdo as miúdas eram pequenas, iamos sempre desfilar na Avenida. Queria que elas sentissem que, embora tivessem nascido mto depois dessa data, havia ali mtas pessoas para quem esse dia tinha sido uma libertação e sentiam-se "emoções colectivas".
Íamos sempre com uma amiga minha que tem 3 filhas e às vezes juntavam-se outras pessoas. Era uma festa! Nunca me esqueço da filha mais nova dessa minha amiga a repetir o slogan. "25 de Abril sempre, "baptismo" nunca mais!" :)

A última vez que desfilei foi na última manif de profs. Não me entusiasmam as palvras de ordem, sempre repetidas e, por isso, gastas : manda-se sempre "para a rua" quem se contesta, só muda o nome...
Mas comoveram-me às lágrimas os momentos em que desfilámos em silêncio. Uma multidão em silêncio, avenida a baixo, o som dos nossos passos, é potente! O silêncio colectivo é muito bonito!

Neste dia sinto sempre orgulho por pertencer a uma geração que fez história. Não fomos nós que fizemos o 25 de Abril, mas formámo-nos nos valores da época e, ainda que nos tenhamos confundido com tamanha liberdade para a qual não estávamos preparados, somos todos pessoas para quem alguns valores ficaram a pertencer-nos: a solidariedade, a sensiblidade às injustiças. Nós não somos a geração competitiva! Seremos talvez os últimos a contestar a ausência de valores , mas, enqto existirmos, penso que temos obrigação de os transmitir aos mais novos!

Um bom 25 de Abril para todos! ( wherever you are :) )

17 comentários:

Tão só, um Pai disse...

Não aguentámos e nem aguentamos viver, nem no medo da discricionaridade feudal, nem na intimidação constante. Odiamos quem nos faz viver assim. Cada vez mais nos tratam como um custozinho desprezível, utilizam a coação psicológica e a ameaça do despedimento para nos ordenarem o que querem. Vivemos cada vez mais sob a a sanção do abandono. Os despedimentos fazem-se à revelia, decide-se ou decidem-se e manda-se um recado por terceiro. O nome é "reestruturação". Aproveitam-se os períodos de férias para mandar uma cartinha. "Espero que tenha tido boas férias. Aproveito para informá-lo de que está out. Obrigadinho e continuação de boas férias. Quando puder, passe por aqui, para assinar uns papeluchos e receber umas massitas para poder fingir que a gente se preocupa consigo e que até achamos fazermos mais do que o que merece". Quem fica, percebe que não passa, também, dum futuro custozinho desprezível, que não deve lealdade a ninguém, que nem deve cuidar de seja lá do que for, porque, afinal, nada disto é meu e tudo o que fizer, de bom, será agradecido do mesmo modo como o que não fizer de bom, ou seja, com um chuto. As empresas não passam de culturas feudais que, pretensa e cinicamente, se querem mostrar como preocupadas e humanizadas. É por isso que, cada vez mais, a malta só veste a camisola com um símbolo, o do "$". Cada um está entregue a si próprio e tolera os outros, numa negociação diariamente cinica, porque a isso o é obrigado pelas circunstâncias da organização do trabalho. Deixámos de ter amigos porque, agora, cada colega é um potencial inimigo. Vá lá, às vezes conseguimos uma equipa de subversivos, com ojectivos comuns, que até parecem amigos, para conseguirem o tal "$" da camisola que vestem e combaterem, tácitamente, outros inimigos. Unem-se em esforços para cumprirem objectivos pelos quais lhes dão o direito à sobrevivência física, pela social e financeira.
Precisamos de novas ideias e de novas maneiras. Acredito que o trabalho será, cada vez mais, uma joint-venture tácita de gente e não de capitalistas. Esses, estarão hávidos de lhes por nas mãos as notinhas, porque não saberão o que lhes fazer. Quando procurarmos emprego, já não queremos mordomias ou um salário espetacular de entrada, mas apostar numa boa ideia. Estou farto de más ideias. Esta ideia de país começa a ser uma fraca ideia, cheia de feudozinhos autodestrutivos. Como só viajamos para em férias, deixámos de perceber como o mundo evoluíu, enquanto olhávamos para o umbigo do nosso mundinho.


Gosto do 25, mas nunca fui à bola com o mês de Abril. Sempre achei que era o mês das mentiras. Gosto de Março e Junho, associo-os ao castanho da simplicidade, frugalidade e da verdade. Que querem, também temos gostos.

nelio disse...

não sei se somos a última geração a acreditar em valores. no meu trabalho, por força das reformas dos mais antigos, entrou recentemente um grupo de 8 ou 9 pessoas com 20 e poucos anos. todas elas são solidárias e têm valores. é nelas que está o futuro. são elas que vão cuidar da sociedade quando nós já não tivermos forças ou pachorra para o fazer. se deres uma volta pela blogosfera mais jovem, verás que o 25a continua a ser importante para eles, que nasceram depois. eu, que gosto de ser optimista, quero acreditar que o testemunho foi passado e que os valores vão continuar a ser importantes. cabe-nos a nós relembrar aos nossos filhos o que significa este dia, que já não é só o de uma revolução. de uma geração, mas de todos os que prezam a liberdade.

um abraço fraterno

ZIB disse...

Tendo vivido o 25 de Abril naquela idade em que o sangue ferve nas veias e as emoções se exteriorizam sem os controlos mais racionais da maturidade, aquele dia, aquela época, são recordações inesquecíveis que revivo ano após ano. A minha condição de emigrante, e o facto de estar longe e não me desmoralizar com as politiquices do dia a dia que por aí vão desencantando o pessoal, ajuda a avivar, com saudade, a memória daqueles dias, tão ligados à palavra/sentimento “liberdade”. Tendo crescido no seio de uma família, dita, normal sem, pensava eu então, grandes inquietações políticas, só depois do 25 de Abril vim a conhecer as inarráveis histórias da tia “comuna” durante essa época. Porque embora ouvisse falar da repressão da Pide, da destrutiva guerra nas “colónias”, à minha volta tudo estava bem, tranquilo, normal (excepto a bengalada do avô salazarista à filha comuna :-)), vivia mais ou menos inconsciente/anestesiada, sem nunca aflorarem em mim inquietações políticas, de solidariedade ou outras … até esse dia. A partir de então, a minha aprendizagem foi uma avalanche de experiências e consciencialização política, que nunca mais poderei esquecer. E porque andei pelo Alentejo nas “reformas agrárias”, a atar feixes de milho, a dormir em celeiros e a comer açordas com os trabalhadores, a filha que tive 3 anos depois chama-se Catarina, pelo impacto que teve em mim a história da Catarina Eufémia que ouvi da boca deles.
Hoje comprei cravos vermelhos para os colegas (há portugueses e espanhóis), e pu-los a ouvir a “Grândola Vila Morena”.
25 de Abril sempre!

Maggie86 disse...

é giro q em todos os blogs por onde passo, vejo algo relacionado com o 25 de abril, seja de pessoas mais velhas ou mais novas; de direita ou de esquerda!o que é certo é que este dia é um marco para a história de todos nós e um orgulho podermos afirmar aquilo que queremos e lutar pelos nossos direitos.
porém, apesar de eu ter sido educada a lembrar o 25 de abril, vejo pessoas q n ligam nenhuma, vêm este dia como mais um feriado!
mais, tenho amigos que nem recenseados estão(não são a maioria, atenção) e isso intriga-me, principalmente as raparigas!tantas mulheres q lutaram por nós, por estes direitos q só temos é q continuar a lutar por esses direitos com um simples gesto:ir às urnas!
só mais uma nota vinda da geração competitiva: na minha geração temos de lutar por ser os melhores e eliminar os outros, mesmo q sejam nossos amigos(é o q se vai passar qd me licenciar).é a coisa q mais custa e n dá prazer nenhum, ainda por cima para recebermos uns míseros 500€ por mês!
desculpem q vos diga, eu adoro dia mas acho q contribuiu muito para a vida precária que eu e outros vamos viver!!!
a falta de estratégia, se é q me faço entender!
de qualquer forma, a este dia devo a possibilidade de poder escrever isto aqui sem medos nem receios!!porque é por causa do 25 de abril q vamos poder alterar isso!!:)
obrigado liberdade!

reb disse...

Que valores tem a nova geração?

Eu prefiro acreditar que lhes conseguimos passar os que temos, e sei que alguns jovens os têm...
Mas, a sociedade em q vivemos, totalmente competitiva, empurra-os para os esquecerem. É disso que dá aqui testemunho a maggie, única representante dessa geração neste blog :)

Ainda assim, apesar de tudo o que lhes é exigido, temos obrigação de os por a pensar, a olhar para o lado, a não se tornarem completamente egoístas e focados só no seu sucesso:)
Tb sou optimista, nélio, pq trabalho com jovens e sei que, embora não sejam a maioria, muitos ainda sabem ser solidários. Mas tenho reparado que o papel do adulto é fundamental para a sua formação...

harumi disse...

Apetece-me comentar a pedra de toque do discurso de hoje do Presidente da República, quando diz estar "impressionado" com a ignorância de muitos jovens sobre o 25 de Abril e o seu significado.
Vejamos: quando é possivel extrair uma atitude colectiva de um qualquer grupo de pessoas, neste caso, os jovens portugueses, há que procurar as causas dessa atitude colectiva.
Nunca um grupo vasto de pessoas tem conscientemente atitudes estúpidas ou de desinterresse em relação a determinada matéria, sem que haja uma causa que justifique esse efeito, e que neste caso, os políticos deverão pesquisar para que possam entender o fenómeno.
Como podem os jovens interessar-se pela cultura política, quando os seus agentes vão sistematicamente deixando pelo caminho uma imagem de uma classe que se preocupa mais com a defesa dos seus próprios interesses do que com os direitos da população em geral?
Como é possível que com uma carga de impostos como a que temos, não sejam capazes de por exemplo dar melhores condições de acesso à saúde aos portugueses que não podem aceder a mecanismos de saude privada? É como exigir uma quotização de condomínio de 500 euros mensais e ter as escadas iluminadas com velas!

Tão só, um Pai disse...

Maggie,

Quando comecei a trabalhar, a vida era tão difícil como agora. Por altuma razão só me casei aos 28.

Agora, lembra-te disto:

"Quando procurarmos emprego, já não queremos mordomias ou um salário espetacular de entrada, mas apostar numa boa ideia."

Duma coisa podes ter a certeza. Não hás-de acertar à primeira. :)

Tão só, um Pai disse...

REB,

Não os podemos proteger sempre. Eles terão que aprender a ser estratégicos, a tirar o melhor daqueles com quem trabalham.

Sendo ela psicóloga, até pode dar uma vista de olhos em pequenas coisas de desenvolvimento organizacional.

reb disse...

É verdade que o começo de vida não foi fácil para ninguém. Mas a precariedade de emprego ou a impossibilidade de encontrar algum que seja compatível com a formação que fizeram, é uma constante dos dias de hoje ( não só em portugal, mas aqui mto especialmente). O preço das casas é outra exorbitância, impossível de atingir com ordenados "jovens", bem como o custo das coisas.

Mas aqui, neste post, falávamos de valores, dos valores de abril. De facto, os nossos filhos são filhos dos "filhos de abril". Tudo aquilo que defendíamos e que interiorizámos e, por isso, lhes devemos ter transmitido,entra em contradição com os actuais "valores" que tb os vão formando. O que a sociedade lhes "diz" permantemente é: tens que ser o melhor, senão não te safas!
Isto leva a atitudes como esta que ainda ontem me contou uma mãe: "há jovens que negam emprestar apontamentos de aulas a outros...". Na nossa juventude, quem tomava uma atitude destas era logo "lixado" :)
Hoje, até se compreende...

reb disse...

Acabei de ouvir o discurso do cavaco ( já aqui referido pelo harumi). Qdo ele se preocupa com o o distanciamento dos jovens da política, afirma que a responsabilidade é dos políticos que não cativam os jovens. Hoje, na assembleia, discursaram os deputados mais jovens, um afirmou-se como a geração "500 euros"...
É disso que temos falado neste post...
Qdo o cavaco se impressiona com a ignorância dos jovens sobre política nacional, com base em repostas a inquérito com 3 perguntas: quem foi o 1º presidente da republica post 25 de abril, que partido tem a maioria na assembleia e qtos são os países da U.E...quem é reponsável por isto?
Em 1º lugar, penso que somos nós, eqnto pais; em 2ª é a pouca importância que se dá à disciplina de história no curriculo de ensino.
Talvez não saibam, mas essa disciplina tem direito a uma única aula semanal de 90 minutos!!! Ciências da Natureza tem 2 aulas de 90 e uma de 45! E todas as outras têm maior carga horária do que história.
Porquê?

nelio disse...

porque é que os mais jovens haveriam de saber quem foi o primeiro presidente da república depois do 25a? eu não sei quem foi o primeiro presidente da república em 1910. sei que aprendi na escola, mas já se me varreu. o significado deste dia actualmente transcede os factos históricos de 1974. o que é importante é que se saiba que a liberdade é um bem precioso e disso, parec-me que eles têm consciência. o sr. silva está senil, isso é mais que evidente.

reb disse...

Nélio, há aqui 2 questões: uma são os conhecimentos históricos e outra o significado de abril, como dizes. Repara, o inquérito foi feito a jovens entre os 16 e 18 anos que etudam história. Nessa idade, talvez tu soubesses responder a 3 questões. Eu vi algumas entrevistas ao vivo e o que mais me surpreendeu foi que os jovens interrogados não soubessem qual era o partido com maioria na assembleia. Isto demonstra um alheamento total da política, não achas?
Qto ao significado de abril, concordo que todos sabem, mas as causas dessa revolução e o que existia antes, já nem todos sabem.
Estamos a falar de uma geração cujos pais passaram pelo 25 de abril. O que será que saberá sobre isto a geração seguinte?
" a nossa história é a nossa memória" :)

Qto ao sr.Silva, acho que estava mais senil qdo era 1º ministro. Nesta fase, tem tido uma actuação para mim surpreendente, ao levantar questões mto pertinentes e que são "abafadas" por conveniência...

Tão só, um Pai disse...

Na faculdade, tive vários bons professores. Sabes, metade deles eram engenheiros.
Nem um décimo dos meus colegas de curso trabalhou em economia. É que andámos lá para aprendermos a pensar e a nunca deixarmos de aprender. É aí que está umas das gratificações da da vida :)

Maggie86 disse...

calma, eu n quis generalizar, só quis mostrar o "nosso abrila".eu empresto apontamentos e ajudo os meus colegas, n me importo nada, dd q tenha as minhas notas por mim posso ajudar os outros!!o q quis dizer foi q na nossa geração somos mesmo educados a n emprestar apontamentos pq ao ajudar os outros podemos estar a "lixar-nos" a nós próprios!mas eu n sigo essa linha...
alem disso, ainda ha pc tp tive a experiencia de me candidatar ao erasmus e, cm sabem, é por vagas, estavamos à entrada a pergunta para onde é q as pessoas iam e a torcer para q n fossem para o mesmo sítio q nós!!dei por mim a fazer isso mas é humano, queremos o melhor para nós!!
é neste aspecto q falo de competição!é um ambiente terrível!
eu sei q o início n e facil para ninguem mas tb n quero q seja precário, cm tal vou lutar para começar logo numa aerea parecida com a minha!n é o q queremos todos?

idadedapedra disse...

eu cá também tenho fé...
Até porque a outra solução para acabar com esta sociedade podre é uma catástrofe natural que aniquile a grande maioria da espécie humana.
Como essa é uma hipótese um bocado trágica, prefiro pensar que se vão passando mensagens de bons princípios de "não fazer ao outro aquilo que não queremos que nos façam a nós". Este princípio, só este, mudava tudo.
Sou uma orgulhosamente sobrevivente do 25 de abril. Hei-de contá-lo aos meus netos. Depois eles se calhar perguntam-me "então e o que é correu mal a seguir?"... e eu fico sem resposts :)

reb disse...

Tens toda a razão. Esse princípio, que ouvimos tantas vezes na nossa infância bastava! Digo-o mtas vezes aos meus alunos qdo gozam os colegas ou lhes chamam burros ou gordos. Eles olham para mim de olhos esbugalhados, como se nunca tal tivessem ouvido. Mas acho que os faz pensar...

Qdo tivermos netos, podemos dizer-lhes que o "sonho" às vezes se concretiza e o sonho de um país inteiro chegou a realizar-se nesse dia. Depois, era impossível viver só sonhando...mas, ainda assim, conseguiu-se conquistar aquilo que não se tinha antes: a liberdade de escolher, intervir, criticar ou apoiar...

Eu tb me sinto uma orgulhosa representante da geração de abril. Sinto que somos os "guardiães" dessas memórias que, depois de nós, só existirão em livros e imagens...

reb disse...

Outro princípio que gosto de lembrar é aquele: "experimenta pôr-te no lugar do outro" ( que, às vezes é igual ao "não faças aos outros..." , outras vezes não).
Com os nosso filhos, qdo se queixam, basta lembrar-lhes aquele colega/ amigo que tem que trabalhar pra pagar as propinas. Hoje, como no nosso tempo de faculdade, há mtos jovens que trabalham e estudam.
Tmabém é bom que olhem para o lado e tenham consciencia de que muitos não têm as mesmas condições de vida...

Com os alunos acontece uma coisa engraçada: qdo algum é insolente e o repreendo, reage sempre sentindo-se injustiçado ( o colega do lado tb as vezes se porta mal, etc).
Mas qdo eu pergunto: o que farias no meu lugar? , todos respondem que dariam um estalo ou poriam na rua. :)