segunda-feira, 28 de abril de 2008

Ambivalências

O excerto que se segue foi retirado de um texto da psicóloga Isabel Leal:

"Quer as pessoas quer os povos vivem ambivalentemente. Por um lado, é-lhes agradável pairar num clima de não acontecimentos e de sensações conhecidas, num limbo de tranquilidade difusa e amena. Por outro lado, aspiram por uma qualquer grandiosidade emocional que permita não só um colorido brilhante para os dias mas, também, uma experiência pessoal de novo e diferente.

Porque somos ambivalentes, porque queremos e não queremos, porque tememos o que desejamos, vivemos de fase em fase, racionalizando o que podemos, para contornar o mergulho derradeiro nas tentadoras crises."

Define assim crise: "Uma crise é sempre uma fase aguda, por vezes virulenta, de transformações que põe toda a gente insegura. Todas as crises implicam uma convulsão do que está estabelecido e, por isso, sair delas, quer dizer chegar a um novo equilíbrio..."


Em cheio? :)

61 comentários:

Tão só, um Pai disse...

Em cheio, aonde ou no quê?

reb disse...

nas ambivalências....em gostarmos de viver no limbo mas tb precisarmos de emoções fortes...

idadedapedra disse...

uma crise é 2ª feira depois dum fim de semana de farra... isso é que é uma crise... os neurónios pensantes estão de repouso e não apetece fazer a ponta dum chavelho.
E nesse estado neuronal, levar com um pai às 8 da manhã a chorar à minha frente, sem deitar lágrimas.

De resto, o que aqui diz a psicóloga é a história dos cachorros que eu já contei

idadedapedra disse...

e para acabar o dia em beleza, estão a fazer filmagens na casa ao lado, com umas luzes que fazem parecer dia e deve ser uma telenovela porque os actores berram uns com os outros...

Bien, amanhã é outro dia :)

reb disse...

Um dia diferente :)

Tão só, um Pai disse...

Pois olha, até acho que não é bem assim, tipo "ora vamos lá ter uma crise qué prá malta evoluir ou ficar equilibrada".

Não conheço nenhuma crise tentadora. Conheço desafios e querer mudar para melhor. Conheço querer, sempre, conhecer e aprender outras coisas, entender o que preciso de entender. Em resumo, conheço desafios prementes ou tentadores. Uma crise é, apenas e potencialmente, um desafio, e poderá não ser o melhor. Algumas crises têm o seu quê de pedagógico, o de nos fazerem olhar para o que é importante. Mas as crises cobram-se, também, em muita destruição, até de vidas. O que nós queremos são formas de estar bem connosco, de acordo com o que nos motiva, e a felicidade que, por essa via, alcançamos. Quando vou ao mar para me "restabelecer", não vou à procura de crises, mas de sentidos subtis, de perceber que estar vivo é respirar de forma consciente, que viver não tem de ser uma crise constante. Dar cor à vida não é pintá-la de negro. Conhecer pessoas, aprender com elas, estabelecer princípios, patamares e objectivos comuns não é gerar uma crise. Pessoalmente, não vejo qualquer vantagem em viver no fio da navalha da insegurança.

Já agora, até nem acredito que O equilíbrio exista. É, apenas, um objectivo, como muitos outros. Os sistemas são dinâmicos, autoreguláveis e autoadaptativos. Mas nunca estarão em equilíbrio algum.

idadedapedra disse...

o fio da navalha é um livro lindíssimo. É dos livros da minha vida.
O gosto pelo fio da navalha é característico duma fase jovem da vida, naquela fase em que a vida é tão intrínseca, que a morte parece não poder existir. Depois disso, querer manter-se lá é teimosia, acho eu.
Ser mais ou menos um ser social não implica viver no fio da navalha. Quero eu dizer com isto, que pessoas anti-sociais, orgulhosamente anti-sociais (porque consideram esta sociedade uma aberração), por vezes parece que necessitam de se manter no fio da navalha para se sentirem anti-sociais. Não me parece que seja preciso.
O entrar ou não em crise, falando do indivíduo, vai-se tornando uma opção, à medida que se amadurece. Estou a falar de crises existenciais, obviamente, porque há outras inevitáveis (a morte de um ente querido, a doença dum filho e etc etc).
Precisar, apetecer, emoções fortes não é sinónimo de crise, acho eu.
Em termos de sociedade, se é após uma grande crise que as coisas se reestruturam com mais consistência, isso talvez...

Tão só, um Pai disse...

De resto, para termos emoções fortes não precisamos de provocar ou de procurar crises.

TãoSóUmPai disse...

IdP,
Focas aspectos interessantes, que vão do eu, enquanto indivíduo, ao social, o do grupo. As crises da aprendizagem de vida. Aprendemos a perceber o que é uma crise, e ficamos a saber que dizer não a uma determinada situação não é provocar uma crise, é sair dela ou evitá-la. :) Ou seja, é sermos inteligentes. :)

idadedapedra disse...

pois, emoções não tem mesmo nada a ver com crises.
Passo a vida a ensinar aos pais os sinais de alarme, nas consultas de pediatria.
Na vida é a mesma coisa. Aprende-se a ver sinais de alarme que servem quanto mais não seja para se tirar do armário uma qualquer protecção para aquela situação.
Aqui há uns anos atrás, depois de uma época de sofrimento, quando passou, eu disse a mim própria: já não há mais nada na vida capaz de me chatear. Ora isto é uma coisa que nunca se deve dizer, porque deve irritar os astros, concerteza: tunga, filha doente, nova crise para gerir...

Tão só, um Pai disse...

Sabes, IdPedrinha, vim agora duma volta de pedestre, onde estive a ruminar sobre isso mesmo, o de ser para nós uma crise do caraças, algo que nos cai, assim e de repente, com estas doenças das filhotas. E fiquei a pensar. Para eles, a crise é ou foi outra e o que fazem, é-o para a defrontar, mas, para elas, o que fazem não é uma crise. Para nós, a crise é o que eles fazem. Fico com o peito apertado, por perceber as crises que causei aos meus pais, quando o que eu queria era descobrir a vida e, até no pior, acho que para mim nunca houve crise. Eram coisas normais da vida, tendo em conta os contextos, e que a vida também se faz com um nadinha de pequenina sorte. Nessas alturas, quando os víamos exasperados de ansiedade e nos tentavam impedir de algo, até dizíamos, "estão a fazer disto uma crise, quando ela não existe". Ah, pois não, então para eles ... :) ... às vezes, o normal para uns são uma crise para os outros.

reb disse...

É verdade, a Isabel Leal fala de crises individuais e sociais: O texto chema-se " a crise como modo de vida".
O conceito de crise, para ela, implica mudanças na nossa rotina que nos obrigam a reestruturar-nos e nem sempre são coisas negativas. O nascimento de um filho, por exemplo, é um momento de crise para os pais. Todas as rotinas se alteram.
Fala ainda da nossa época em que pessoas apressadas e pouco reflectidas, fazem da vida uma crise permanente.
Mas, no fundo, o que aqui é abordado é a nossa ambivalência. Todos gostamos de ter uma vida estável ( uns mais que outros) mas qdo os dias se sucedem sem surpresas, parece que procuramos uma "crise das boas" que nos faça sentir o sangue a pulsar nas veias:)
Eu entendo isto e sinto-o mtas vezes :)
Tb acho que os jovens precisam mais de emoções fortes que nós, mas há um lado de nós que nunca envelhece, não é ? :)

idadedapedra disse...

ora nem mais... tudo é subjectivo...
Não inventar crises já é muito bom:)
Os meus pais, taditos deles, o que eles não terão sofrido com a sua prole na adolescência. Eu fiz muito disparate, mas na realidade nunca achei que estivesse em perigo, que o fio da navalha fosse muito aguçado. Agora olhando para trás, acho que tenho uma estrelinha protectora que me fez sobreviver incólume a tanta maluqueira.

idadedapedra disse...

o comentário anterior era resposta ao ts1p.
Há sempre um irrequieto dentro de nós, isso há, só que com a idade só o alimentamos quando nos convém... ou quase, pronto

Tão só, um Pai disse...

REB, é como diz a IdP, não são só os jovens que precisam de emoções fortes, nós, os juvenais, também, só que diferentes :) ... ehhh ... às vezes ... :)

harumi disse...

Nós gostamos de ter a nossa relação com o meio sob controlo (o que nos faz gostar de rotinas), mas, necessitamos também de novos desafios que nos ponham à prova e eventualmente nos proporcionem mais experiências.
Estas novas experiências adquiridas, que por sua vez irão contribuir para adquirir mais experiências ainda, resultarão na aquisição de conhecimento, logo: sentimento de realização com consequente elevação da auto-estima, e porque não, mais poder.
Mesmo que este processo seja um pouco inconsciente, acho que se passa assim.
Quando este processo é interrompido, por uma qualquer falha do sistema dessa nossa relação com o meio, vem uma crise. Que é como quem diz: falhaste! As coisas não eram para acontecerem desta forma, assim não colherás benefícios, ou seja: sensação de incapacidade de gerir o processo, levando à auto-crítica sobre o ego e consequente descida da auto-estima.

reb disse...

É isso: precisamos de ter controle sobre as nossas vidas e trabalhamos para isso, mas tb precisamos de mudanças pontuais. Essas mudanças, em geral, surgem pq as procurámos, consciente ou inconscientemente.
Para a autora deste texto, essas mudanças geram "crises", já que nos obrigam a uma readaptação. A crise neste contexro não é mais que a alteração à rotina, aquilo que nos faz despertar de uma letargia onde até se estava bem...mas que, nem sempre, nos chega...

E chegamos ao conceito de contínuo/ descontínuo do outro post.
Há quem faça alterações à sua vida numa idade em que se julgava que já só apreciaria a estabilidade. Às vezes, é um novo amor, mas pode ser uma viagem ou um livro, sei lá. Surge um clic, e tem que se mudar...
A vida tem momentos de descontinuidade dentro da continuidade...

harumi disse...

Também não devemos confundir, momentos de elevado stress com momentos de crise.
Não acho, por exemplo, que o nascimento de um filho, seja um momento de crise.
Acontece que os factores constituintes desse "processo" (o nascimento de um filho), têm tantas variáveis repletas de incertezas que podem condicionar o final mais ou menos feliz desse acontecimento, que perante todo esse "território desconhecido", geramos facilmente uma situação de stress elevado.
A crise, acho que tem mais a ver com a nossa perda de controlo sobre um processo que pensamos gerir com eficácia.

reb disse...

Harumi, esse é o conceito de crise que usamos na nossa linguagem.
Mas aqui fala-se de crise enqto mudança. "é uma fase aguda de transformações". Crise enqto oposto de estabilidade, previsibilidade, entendes?
Nesse sentido, o nascimento de um filho, sendo um momento de grande felicidade, tb é um momento de "crise". Nada fica como antes.

reb disse...

As crises, neste contexto, são de curta duração, até que se reencontre um novo equilibrio, na nova situação.
Será esta a nossa natureza ambivalente.
Diz a Isabel Leal: "Dessa ambivalencia constitutiva, emergem facilmente crises que, por por apoio de factos externos ou centrados em pormenores do mundo interno, permite que a maioria das vidas não seja apenas um correr de dias entediante"

idadedapedra disse...

as leis universais de tendência para a normalidade e lei de menor esforço (de que já falei antes), fazem com que as crises, uma novidade, uma qualquer alteração do nível energético em que se está, tendam a ser resolvidas e volte tudo ao estado de menor gasto energético :)
Os electrões são muito parecidos connosco :) Eles lá andam à volta do núcleozito do átomo, rotineiramente... se alguém lhes dá um toque, vá lá uma electrona que por ali passe, eles ficam todos excitadecos e passam a um nível energético mais alto... e ali andam... mas pouco depois eles só querem mesmo é voltar ao nível inicial, que é muito mais simples, com muito menos gasto energético.

harumi disse...

Sim reb, mas só se for visto dentro do princípio "Há males que vêm por bem".
Todas as crises podem gerar mudanças para melhor ou para pior, e quando elas acontecem, normalmente não sabemos exactamente o que nos reserva o futuro.
De qualquer forma, embora possamos encetar mudanças na nossa vida a partir de crises, acho que, para a pessoa que cria conscientemente esse factor de mudança, não se aplica inteiramente o conceito de criso. É tão só: provocar um factor de mudança.
Se, por exemplo, for o corte na relação com outra pessoa, a crise acontece de facto, mas para a outra pessoa. Por isso quem parte para uma outra relação já projectada, sofre sempre muito menos do que quem se vê "trocado/a".
Se a separação acontecer por incapacidade de ambos continuarem a gerir a relação, mas, sem que nenhuma parte tenha já uma solução em mente, aí claro que a crise será do casal e ambos sofrerão com ela.
Em resumo, acho que quando conscientemente provocamos uma crise na nossa vida, estamos tão só a introduzir factores de mudança, na expectativa de que as coisas mudem para melhor.
Crise para mim, é sempre ficarmos perante algo que não era expectável.

idadedapedra disse...

vocês estão a usar a mesma palavra para falarem de coisas diferentes. A Reb está a usar a palavra crise como qualquer situação que altera a rotina do dia a dia. pode ser bem-vinda ou não. Por exemplo no exemplo do fim duma relação, os dois ficam em crise: um porque foi deixado, outro porque vai ter que lidar com uma nova vida...
O nascimento dum filho é uma crise do caraças. É das melhores experiências da vida, mas altera-a completamente. Há novas permissas, é preciso reajustar tudo... A palavra crise é usada nesse sentido, na alteração do habitual, ou seja, nem sempre é negativa. Mas obriga sempre a um reajustar que nos vai fazendo crescer...

harumi disse...

De tal forma tento racionalizar (o que é impossível), ou mesmo reduzir as hipóteses de acontecimnto de crises (o que já me parece possível). Que por exemplo no meu trabalho, constantemente faço uso mental da conhecida "Lei de Murphy" no seu modelo mais "hard":
"Aquilo que pode correr mal, vai correr concerteza e na pior altura".
Não porque seja pessimista militante(de maneira nenhuma), mas como disse no início deste post, é só uma tentativa de poder de forma racionalizada diminuir as "crises".
E volto ao que disse no post anterior: crise, para mim, é ficar perante algo não era expectável, por eventual subvalorização das variáveis de um processo.
Evitar a todo o custo: "Houston, we have a problem!"
Mas claro que há sempre espaço para o "sacana do azar" (tipo um golo na baliza do Benfica no último minuto dos descontos. Cum caraças!)

harumi disse...

IP, tal como dizes, se calhar estamos a utilizar a mesma palavra para sentidos que não são exactamente os mesmos.
E até se pode dar o caso de ambos termos razão.
Por isso é que esta coisa de trocar ideias... é maravilhosa!
É crescer e pular para fora do ego, descobrindo que não somos, de forma alguma, o centro do universo.

nelio disse...

que seria da vida sem uma crise de vez em quando. morreríamos de tédio. arriscava-me mesmo a dizer que o esqueleto de uma vida não é mais do essas mesmas crises. são sempre as crises que nos marcam, que deixam marcas, que nos fazem avançar para outras paisagens. boas crises, más crises, temos que nos estreter enquanto por cá andamos. se sofremos, qual é o problema? nunca ninguém nos disse que era suposto andarmos sempre bem. nós é que nos agarramos a essa ilusão...

idadedapedra disse...

Harumizito: qualquer dia já dizes como eu que o ego é um gajo chato pa caraças, um inimigo a abater :)

reb disse...

Como diz o nélio, "sem crises, morreriamos de tédio".
Como diz IP, a tal tendencia para a normalidade e menor esforço, faz com que "trabalhemos" para nos reajustarmos sempre que alguma "crise" se instala na nossa vida.
Harumi, entendo o que dizes. Ninguém quer apanhar com mais uma crise na sua vida, mas eu estou a falar do conceito de "crise" para esta psicóloga, que não é mais do que: normalidade, crise, reajustamento, nova normalidade.
O curioso deste texto é focar a nossa ambivalencia: todoa gostamos de alguma normalidade/ tranquilidade/ rotina...mas isso não nos satisfaz completamente e, se calhar, qdo o exterior não nos provoca alterações, somos nós que as procuramos, talvez para dar uso à hormona da adrenalina :)

idadedapedra disse...

bem dito Reb... estás muito científica :)

harumi disse...

IP, o maroto do ego, surge com a consciência que adquirimos de nós próprios enquanto entidade humana, mas, depois de nascer nunca mais para de engordar.
Pode mesmo, em casos extremos, adquirir um volume superior ao contido pelas nossas roupas.
Não podemos viver sem ele, é um facto, mas deve ser contido dentro de proporções aceitáveis.
Deixado livremente, pode tornar-se o nosso pior inimigo, porque não parando de crescer, torna-se muito dispendioso comprar roupas que lhe sirvam. Imagina só que ele possa querer vestir-se só com seda ou cetim.
Não o podemos abater, mas devemos contê-lo num espaço limitado dentro de nós, para que nos possa servir não se servindo de nós.

idadedapedra disse...

ah... então é por isso que as calças me estão a ficar apertadas :))))

reb disse...

:)))
vocês acabam sempre a puxar-me pra risota :)))

então eu, qdo tenho uma daquelas crises de emagrecimento, devo estar com um ego completamente encolhido :) ))

reb disse...

Adorava que tivessemos aqui o tal padre, para nos explicar como vive as suas "ambivalências" :)

harumi disse...

reb, a culpa é da IP, que está sempre com estas tiradas bem-dispostas, que colocam côr e alegria em cinzentões como eu que têm a mania de levar tudo para o sério :):):):):)

idadedapedra disse...

hum... és cinzento?
qual era a cor que dizias que mais gostavas?

idadedapedra disse...

eu gosto da cor cinzenta

harumi disse...

Gosto de todas!
Gosto do arco íris!
Detesto fixações!

Para o branco e o preto,
um espaço próprio.

Se quisermos misturar,
fica assim:

Puseste um flor
nos cabelos
e a noite ficou clara

idadedapedra disse...

hum... poeta!
Os meus jasmins estão a florir... são tão bonitos, brancos, muito brancos

harumi disse...

Porque falaste em jasmins a florir,

Um maravilhoso dia de outono, de um céu alto e claro, iluminando no seu vermelho profundo as folhas do alce-anão. A folhagem amarela das árvores que cerca o jardim contra uma cadeia de colinas, irradia ainda o calor do declinar do dia. Deixando o pátio de entrada da casa, circundado por um muro caiado de branco e coberto por telhas azuis acizentadas, sigo um caminho pavimentado de cascalhos redondos e escuros. Passo por um portão de bambus trançados e entro no jardim. Ali, interrompo os meus passos. Será este jardim um mundo criado por mãos humanas?
É um cenário encantador, semelhante aos que se encontram nas planícies costeiras das ilhas japonesas, uma paisagem que reflete todas as particularidades daqueles vales. Tenho a impressão de ouvir, ao longe, o murmúrio do mar e de escutar sua brisa, que brinca entre os galhos dos pinheiros seculares...

Tão só, um Pai disse...

Harumi, e as ninfas, pá?

harumi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
harumi disse...

TS1P, as ninfas estão no Olimpo a cuidar dos deuses. Nós cuidamos de coisas mais terrenas.
Mas foi bom teres-te juntado a esta lufada de ideias mais descontraídas e de boa-disposição.
:))))
Nem só de crises vive o homem (para não fugir ao tema).

reb disse...

Até o camões trazia as ninfas para a terra para animarem os nossos marinheiros :)

idadedapedra disse...

então e ficámo-nos pelas ambivalências? Já não há novas dispersões?

reb disse...

Está a sair :)

os meus comentadores andam a ficar exigentes ;)

Unknown disse...

A ambivalência, a crise!Mas tudo no mundo é ambivalente, ou melhor, polivalente, composto por planos e mais planos, fratares...e nós somos o que existe no mundo.. há uma profunda complexidade na natureza humana.E no mundo? sempre a mudar, a avançar, a recuar.Chamam-lhe crise mas a crise é pregnante, obriga a mudar, a caminhar para novos rumos. SE não houver crise é mau sinal, é sinal de paragem.E as crises resolvem-se acabando com as antinomias para logo surgirem outras.é essa a dinâmica da vida. E em cada um de nós , em quantos espelhos nos vemos?O Fernando Pessoa resolveu a sua crise de antinomias criando heterónimos.E nós?Resta-nos ac eitá-las e geri-las o melhor possível...aí cada um sabe de si!

reb disse...

Belo texto, Té!
Tens razão: a natureza humana é de uma complexidade enorme. Todos somos um enigma, até para nós próprios.
O mundo, esse é quase uma projecção nossa! Sempre a mudar e nem sempre no mesmo sentido.
A esperança vem daí: se tudo muda, se as crises nunca desaparecerão, então podemos acreditar nas utopias! :)

Tão só, um Pai disse...

Té, pelo que dizes, toda a crise é boa. Quanto ao ´"nós somos o que existe no mundo". Nós, o quê, quem? Os humanos? Se calhar, não somos o centro do mundo. A "essência" do mundo é este planeta. Cabe-nos a nós, os humanos, resolver as crises, não interessa se criando algo de novo, ou não, para ultrapassarmos uma crise que é nossa, a dos humanos, sem dar cabo da "essência" porque, se calhar, há uma crise profunda entre os humanos e a "essência". Acontece que a "essência" sempre nos levou a melhor, porque é a base e a sustentação da nossa vida. Uma forma de ultrapassarmos esta crise, também e se calhar, seria através duma nova guerra mundial. Mas, nesta altura do campeonato, até era capaz de ser a última da nossa espécie. Ou seja, o fim dela. A crise que desembocou na 1ª guerra mundial, até nem ficou bem ultrapassada nem deu lugar a nada de novo. Uma crise pode dar lugar a um impasse, a retrocessos, e um retrocesso não é pregnante de coisas nenhuma. ´É o "menos", no mínimo, o qualitativo. Ou seja, o "pior". Como dizia a cantiga, "para pior já basta assim". Quando falamos de vida, a da humana e a da sua "essência", menos é morte. Alguém se sente a mais neste mundo? Eu não. Há crises de retrrocesso, no conhecimento, na liberdade, nos valores. Isso não é novo. O curioso, são as desdenhadas barreiras "malthusianas" voltarem a funcionar, podendo, agora, dar lugar a um nada. Pois, não lhe chamaria novo, mas diferente. O resultado duma crise será um estado diferente em relação ao que estávamos, mas pode não ser novo. Com uma boa probalidade, até poderá nem ser melhor. A "novidade" apenas existe para quem não a conheceu antes. É como a música. Hoje, apesar de ser feita com outros instrumentos, de novo, ainda não conheço nada. :)

idadedapedra disse...

Diz a Té: "Mas tudo no mundo é ambivalente, ou melhor, polivalente, composto por planos e mais planos, fratares"... pois é o que se tem discutido por aqui, realmente, sobre a continuidade e descontinuidade do universo e sobre as ciências :9

Unknown disse...

especialmente para um pai disse..."
Quando eu disse que" nós somos o que há no mundo" queria dizer que nós somos o mundo, ou seja, nós, os animais, as plantas, os minerais, as estrelas...somos compostos das mesmas substâncias químicas.Portanto nós somos o mundo...e verifica-se que no dito há ciclos, há permanentemente movimento.Tanto no nosso ciclo biológico como no do universo.O próprio sol acabará um dia engolido por um buraco negro e voltará a ser expelido.A crise é um momento de viração, é a essência da própria dialética...E se olharmos o mundo verificamos que de quando em quando a natureza como que em crise retorce-se e despenha-se em tragédias umas vezes, outras não tanto. E como nós somos parte do mundo também connosco surgem momentos de oaragem e depois de movimento.Sao esses ondas que criam a diversidade.Mas se a nossa cabeça não mexer o nosso ser físico encarrega-se de nos ir empurrando lentamente para o diferente...até chegarmos ao nada.E aí, sim, não haverá mais crise!

Tão só, um Pai disse...

Ena, Té, agora sim, percebo-te. Mas, acredito, também, que nem todo o movimento e avanço é uma crise, se faz através duma crise, é sentido como uma crise - logo, a crise não existe. Acredito que nem todas as crises são positivas, que há crises que devem ser evitadas, que há crises cujo ocorrência não controlamos e que não conduzem, necessáriamente a qualquer avanço, podendo, embora, conduzir a um estado de estagnação ou de declínio, que uma crise para uns pode não o ser para outros. Também acredito que os eventuais ciclos do universo poderão ser causadores de crises como também o poderão não ser, no sentido que lhe estamos a dar. Porque o dia e a noite não são crises. Porque as estações do ano não são crises. Porque as fases da lua não são crises. Porque, se o fossem, então, cada segundo, minuto, hora, dia, mês, ano, de cada vida, seria, apenas e sempre uma crise, e os tais momentos de estabilidade de que fala a autora referenciada no post seriam, eles próprios e, de per si, verdadeiros momentos de crise. :) Se calhar, até é uma hipótese limite a considerar :).
Para qualquer um de nós, aqui, os computadores não são uma crise. Para mim, são, foram e serão uma benção. Quem não os usa ou deles não precisa, também pode não achar isso uma crise. Uma crise que os destrua, é a destruição de grande parte do mundo em que vivemos. E isso afecta quem os usa e quem não os usa. Provavelmente para pior. :) ... se calhar, nos tempos que correm, isso seria uma crise e peras :) ... das más ... ou talvez não. Quanto mais provocarmos e estivermos receptivos à mudança, menos isso é uma crise. Os tais estados de transformação aguda esbatem-se. Em vez da grande onda que nos enrola, é uma onda que nos eleva, porque já estamos a nadar mar adentro. E as ondas também se regem pelos ciclos do universo que nos é mais próximo ... mas não têm que ser uma crise.

Unknown disse...

para "tão só, um pai"

Vamos lá a ver se nos entendemos. O que é crise? é um estertor, uma paragem...que leva a uma mudança.Os dias da semana, os meses sucedem-se ciclicamente sem paragem.Na natureza se surge inesperadamente um maremoto aí sim temos uma crise trágica e o que virá a seguir é diferente.Em nós a sucessão das fases da vida é marcada por crises (basta recordar a da adolescência, a da meia idade...)ficamos diferentes!O que eu penso é que a mudança derivada de uma crise é quase sempre traumática mas faz mudar ()para melhor?para pior?)
Se nos limitarmos a estar sem mudar empobrecemo-nos

Tão só, um Pai disse...

Té, penso que o conceito, embora admitindo o aspecto traumático, não o toma exclusivamente como tal:

comentario de REB
29 de Abril de 2008 11:56

Harumi, esse é o conceito de crise que usamos na nossa linguagem.
Mas aqui fala-se de crise enqto mudança. "é uma fase aguda de transformações". Crise enqto oposto de estabilidade, previsibilidade, entendes?
Nesse sentido, o nascimento de um filho, sendo um momento de grande felicidade, tb é um momento de "crise". Nada fica como antes.

Fim de citação

Da Priberam:

crise






do Lat. crise < Gr. krísis


s. f.,
alteração para melhor ou para pior no curso de uma doença;

ataque, acometimento, acidente;

momento perigoso ou decisivo de um negócio;

perturbação que altera o curso ordinário das coisas;

situação de um governo que encontra dificuldades muito graves em se manter no poder.

Fim de citação

Uma crise é uma dificuldade, não necessáriamente um estertor. Dar vida não é um estertor ... mas pode ser uma dificuldade :)

Nem todo o avanço se faz com dificuldade :)

ZIB disse...

É pá, a coisa está acesa entre a Té e o Ts1P … a Té já o manda parar!!! Isso é uma “crise” ou quê?
Olhem, eu só a entrar 1 bocadinho à noite, não consigo seguir-vos com tantos posts, tantos comentários… e por aqui um tempo do caraças num dia feriado seguido de ponte, e passeios e praia e amigos… Para mim enquanto há sol, não há computador, por mais interessante que seja o que há para ler, porque sem sol, sem carregar as baterias, entraria em “crise” :-)
Para mim, nem todas as mudanças têm que levar a uma crise. As mudanças das diferentes fases da vida, como diz a Té, adolescência, meia-idade, menopausa, podem levar a alguma crise, mas isso dependerá da preparação/disponibilidade/adaptabilidade de cada um para enfrentar essas mudanças, que são naturais e para todos sem excepção. Mas claro que há outras mudanças, que se forem traumáticas, podem levar a uma crise. Mas também essas têm que ver com a maneira com as enfrentamos, não? Para alguns pais, o nascimento de 1 filho, que já foi aqui comentado com opiniões contraditórias, pode ser 1 crise, se eles não souberem adaptar-se à mudança radical que, de certeza, acontecerá na vida desses pais. Mas não tem porquê ser uma crise. E porque há mudanças e mudanças, mais radicais ou menos, e porque cada um de nós é um mundo e a fase da vida em que pode aparecer essa mudança também influi, a adaptabilidade de cada um a uma mudança terá que ser sempre diferente. Por isso aqui há tantas opiniões diferentes, não? Mas uma coisa é o que teorizamos quando escrevemos sobre elas, outra coisa é como reagimos quando elas acontecem, como interagimos quando estamos “dentro”, quando as provocamos ou elas simplesmente acontecem. Por mim acho que certas mudanças podem ser positivas, porque senão a rotina dava cabo de nós … pelos menos de alguns de nós. Por isso acho que o Ts1P tem razão “Quanto mais provocarmos e estivermos receptivos à mudança, menos isso é uma crise.”

reb disse...

Lá estamos nós à volta dos conceitos :)
Eu penso exactamente como a Té e, aliás, penso que é nesse sentido que a psicóloga deste texto usa a palavra "crise".
Se, como verificou o ts1pai, uma crise é uma alteração, para melhor ou para pior, do curso natural das coisas...então "crise" não tem que ser sinónimo de tragédia.
Como diz a Té, há crises no universo, no mundo, nas pessoas. O 25 de Abril foi um momento de crise! E não só para aqueles que defendiam o antigo regime, mas para todos os portugueses: obrigou a repensar e reestruturar tudo o que se tinha como garantido.
Tirem a carga negativa da palavra, essa é-nos dada pelo "senso-comum" ( conceito da filosfia).
Crise é mudança e tão só mudança. Crescemos, evoluimos, pq, pela vida fora, enfrentamos variadas crises que nos obrigam a "dar saltos". O fim da crise é a morte, que será apenas uma crise para os que cá ficarem e tiverem que se adaptar à nossa ausencia. Há fases de relaxameto e fases de crise e, é só porque as vivemos que não somos autómatos...

Tão só, um Pai disse...

:) REB, tu é que tens o livro. Se crise é instabilidade, ai há momentos que não quero outra coisa. :) ... depois, também gosto de descansar, um nadinha de rotina e ... ala com ele. Agora, não sei que cargas emocionais atribui a autora ao conceito. Este acarreta, pela nossa experiência, doses de conflicto, ansiedade e stress, nada saudáveis. Como o escrevi lá atrás, temos medo do desconhecido e isso envolve-nos em crise. Crise também pode ser desastre.

reb disse...

Claro que todas as mudanças envolvem conflitos e ansiedades. Querias o quê? viver toda a vida à sombra da bananeira? :))

Tão só, um Pai disse...

:) Ha Ha Ha Ha Ha!!!!!

.... deixa-me recompôr ...

... sabes, as mudanças mais gostosas foram as que envolveram entusiasmo, alegria e empenho. É que nunca senti medo, dor ou ansiedade. As contrariedades foram apenas contrariedadezinhas. Quando acreditamos, sabemos o que fazemos e porque o fazemos, fazemos acontecer e levamos tudo à frente, até contagiamos.

reb disse...

Dessas vezes em que levaste tudo à tua frente, provocaste umas belas "crises" naqueles que contagiaste :))

Tão só, um Pai disse...

... não, as crises só acontecem quando há receio pelo futuro. Quando as pessoas conhecem o seu papel e deixam de recear o facto de se excederem e errarem, é um filho da mãe de abrir de portas que é preciso agarrá-los. O que se contagia são os entusiasmos, e estes apenas se contagiam quando temos uma visão muito clara sobre o mundo que nos rodeia. :) ... tu podes contagiar os teus alunos a serem muito, mas muito mais. Trata os teus alunos como membros duma organização, cria a visão e lidera-os. Mas, liderar, não é manipular. :):):):) ... foram os professores que nos criaram visões, não as deles, mas as deles e as nossas, que tiveream a nossa adesão, entrega e entusiasmo, sem crise :):):):

Tão só, um Pai disse...

:):):) e há outra coisa. Os desafios. Um desafio pode ser um estímulo ou um obstáculo. Um desafio pode ter como objectivo um estado cheio de estímulos :) ... a cenoura sabe bem. :)