segunda-feira, 21 de abril de 2008

Laços

De volta ao "Principezinho". A raposa tenta explicar-lhe os sentimentos dos terrestres. Atentem neste diálogo:


"_ Anda brincar comigo _ pediu-lhe o Principezinho: Estou tão triste...
_ Não posso ir brncar ctg _ disse a raposa _ não estou presa...
_ O que é que "estar preso" quer dizer?
_ É uma coisa que toda a gente se esqueceu _ disse a raposa _ Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
_ Laços?
_Sim, laços_ disse a raposa_ Ora vê: por enqto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mim rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu tb não precisas de mim. Por enqto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu tb passo a ser única no mundo...
_ Parece-me que estou a começar a perceber_ disse o Principezinho_ Sabes, há uma certa flor...tenho a impressão que estou preso a ela..."

in "O Principezinho", A. Saint-Exupéry, 1946

26 comentários:

Tão só, um Pai disse...

Por norma, não se dança o tango sem ser a dois. Mas, depois de se escolher a casa, não se escolhe o vizinho. Há os laços de bom trato, que não os de afecto. Se não brincar primeiro, nunca saberei se ficarei preso.

idadedapedra disse...

gostava de saber como é que está escrito no original, em francês. É preso que está escrito? Eu diria ligado em vez de preso...
E a mim também a primeira coisa que me chamou a atenção foi: será que não se pode brincar com alguém antes de se estar ligado a essa pessoa? O puto estava triste; eu se vir um puto triste, brinco com ele sem ter criado previamente nenhum laço. Se não brincar é que acho difícil que venha a criar laços.
Ou seja, como é que venho a ser amiga de alguém se não me der a conhecer?
Já não me lembro do contexto deste episódio no livro, deve ser por isso que me parece tão esquisito

Tão só, um Pai disse...

Será que o moço queria mais alguma coisa da raposa, :):):) e ela lhe tentava explicar que, para essas "brincadeiras", eram precisos outros laços que não os do cabelo?

idadedapedra disse...

hum... talvez... já não me lembro da história, não sei se chegaram a vias de facto :))))

idadedapedra disse...

nascem principosas??? e raposincipes???
:)))

harumi disse...

idadedapedra, claro que podemos e devemos brincar com alguém sem estar ligado a ela de forma particular. Mas o encanto do conceito da criação de laços, assenta, para mim, naquilo que de mais essencial pode existir numa relação entre duas pessoas, a existência de um conjunto de cumplicidades, que faz com que, quando se relacionam, elas sintam que cada uma já é parte da outra. Mesmo na amizade as coisas devem passar-se assim. Tive felizmente ao longo da minha existência alguns exemplos deste tipo de relação, e foram esses indubitavelmente aqueles que guardo em mim com mais veneração.
Essas cumplicidades adquirem-se com a criação de laços....com essa prática constante.

idadedapedra disse...

harumi: absolutly de acordo!!!
Eu tenho laços com com os amigos, laços daqueles que não se rebentam mesmo... Não percebo é como é que se fazem laços sem se brincar primeiro (brincar porque estamos a falar do principezinho e é de brincar que eles falam)

harumi disse...

Claro que não devemos ler o texto com um filtro muito exigente. Acho que é mais linguagem figurativa, simbólica, ou coisa do género. Os domínios dos afectos e das relações entre as pessoas, raramente passam bem a mensagem, se não fizermos uso deste tipo de linguagem. Mas claro que se lermos com uma lupa muito potente, as coisas são como tu dizes.

reb disse...

Não sei como é em francês pq só tenho a tradução portuguesa.
Mas, como diz o harumi, todo o livro é escrito em linguagem simbólica, como é a linguagem das crianças. Eu brinco ctg qdo tiver um laço ctg. Brincar no sentido de fazer alguma coisa a dois ( numa relação). Naõ se "brinca" com estranhos.
Para mim, o mais bonito desta passagem é a definição de "laços". Enqto não tenho laços ctgo, tu és um menino igual a todos os outros, mas depois disso, tu és único para mim...
O texto continua até que a raposa lhe diz: qdo tenho um laço com alguém, e sei que essa pessoa vai chegar, umas horas antes o meu coração já está ansioso...

O ano passado li o livro a uma das minhas turmas ( 10/ 11 anos). Os miúdos gostaram muito, compreenderam e fizeram associações incríveis. Foi muito bonito :)

ZIB disse...

Agora leiam lá um resumo que encontrei da versão espanhola: …”depois de ter passado por inúmeras dificuldades, encontrou um caminho que o conduziu a um jardim de rosas idênticas à sua. Nesse momento, descobriu que a sua rosa não era única no universo, era apenas uma rosa mais, uma rosa vulgar. Então apercebeu-se que, com uma rosa vulgar e três pequenos vulcões (um talvez extinto para sempre), não se podia considerar um grande príncipe. E, deitado na relva, chorou.
Então apareceu a raposa. O Principezinho estava muito triste e não quis brincar. A raposa não estava domesticada, e por isso não podia brincar. Domesticar significa "criar laços". Quando duas pessoas criam laços, têm necessidade uma da outra e são absolutamente únicas uma para a outra. Antes de criar laços, uma é só uma mais para a outra, uma como tantas outras. A vida assim torna-se monótona, um pouco aborrecida, já que os outros são todos iguais. Pelo contrário, quando se criam laços, a vida ilumina-se, enche-se de cor. Por isso a raposa quer ser domesticada. O principezinho pensa que não tem tempo para isso, tem que descobrir muitos amigos e conhecer muitas coisas, mas a raposa explica-lhe que só se conhece o que se domestica:
-Se queres um amigo, domestica-me. O Principezinho voltou no dia seguinte e a raposa explicou-lhe que tinha sido preferível voltar à mesma hora: assim, a chegada é esperada e prepara-se o coração. Estabelece-se um rito. Os ritos fazem com que um dia seja diferente dos outros, e uma hora diferente das outras horas. O Principezinho domesticou a raposa. Quando chegou a hora de despedir-se, o Principezinho foi ver as rosas. A relação com a raposa tinha-o feito compreender porquê a sua rosa era única no mundo. Foi o tempo que lhe dedicou o que fez tão importante a sua rosa, e foi isso que o fez responsável por ela. Por isso disse:
- Sois belas, mas estais vazias. Não se pode morrer por vocês.
Ao separar-se, a raposa oferece-lhe um segredo:
- Adeus, disse a raposa. Este é o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
E agora para baralhar um pouco a discussão, aqui já falam em “domesticar”, em vez de “estar preso”. Quer isto dizer que para “criar laços” há que prender alguém, domesticar? E isso é “dedicar-lhe tempo” para que seja importante para nós? Claro que as fábulas são em sentido figurado, os adultos sabemos e podemos interpretar como “cumplicidades”, mas esta mensagem lida a crianças que não têm capacidade para interpretar como nós ….. preocupa-me.
Há que ler o original em francês!

idadedapedra disse...

pois olhem, na versão que encontrei na net a tradução é cativar, em vez de prender... muito mais bonito

harumi disse...

Não conhecia essa versão espanhola, mas, tem de facto cambiantes de linguagem que lhe podem mudar o sentido.
Já li 2 ou 3 vezes, mas sinto que ainda não consegui entender na totalidade o significado do termo "domesticar" nesse contexto.

idadedapedra disse...

"- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

idadedapedra disse...

et voilá, a versão francesa:
http://www.odaha.com/littleprince.php?f=Francais

TãoSóUmPai disse...

:) Gostei muito deste "cativar". Pois, cativa-me, até nas suas subtilezas. Não há sentires perfeitos, afinal, há sempre alguém por trás das palavras. A percepção da dor nos desencontros afectivos. Ou, por outras palavras, na perda previsível de quem se gosta ou se quer gostar. Vá lá, amar. O facto de me cativares, ou de qerer que me catives, não te torna, de todo, cativado. Ou, por outras palavras, acontece que me cativas, desejo ser, por ti, cativado, até quero ser mais cativado, eu sei que te vou perder, mas ficarás sempre no meu coração. Sofrerei mais se assim não for, se não ficar com a tua recordação. É lixado. Já por aí escrevi que, por vezes, ou para alguns, o importante é amarmos quem amamos, mesmo que não sejamos amados por quem amamos. Isso nunca estará nas nossas mãos. Eu sei que é difícil aceitá-lo, mas mais difícil é lutar contra o que sentimos por quem amamos.
Outra subtileza, a nossa responsabilidade, por quem cativamos. Aqui, o sentimento é paradoxalmente egocentrista, se encarado pela perspectiva do amor, mas já não tanto pela perspectiva da amizade afectiva, seja o que isso for. Eu estou disponível para ti, sempre que precisares de mim, e espero que também o estejas, quando te quiser a ti.
Mas o amor é generoso, não egocêntrico. Eu sinto responsabilidade por quem amo, mesmo que não me ame. E liberto-te, para amares quem amas. Não posso obrigar alguém a sentir responsabilidade por mim, só porque me cativou, sem ficar, por mim, cativado. No amor, o importante é dar, sem aolhar a, ou mesmo, sem receber. O princípio da escassez de bens na economia logo se encarregará de repor o equilíbrio. Um dia, já não temos mais para dar, viramos do avesso o saco de onde retiramos o último bago, e foi-se. Ficamos vazios, porque o que demos não recebemos. Às vezes até ficamos com ressentimento, até que um dia, em que encontramos, ainda, um baguinho preso nas malhas, já meio ressequido, guardamo-lo com um sorriso, será uma das sementes que nos podeá encher o saco, outra e outra vez. Nem que seja de um gostoso e nostálgico sorriso. De resto, nunca digas nunca, nem que dessa água jamais beberei. E dentro do saco grande guardamos um saquinho de baguinhos, a recordação dos que nos fizeram encher o saco, à vez. Perdemos a noção de como acabou, apenas nos recordaremos de que, também, foi muito, mas muito bom. :)

reb disse...

Ainda sobre os "laços" que criamos com os outros de que fala o "principezinho" e o o ts1pai:)

O Principezinho é uma parábola sobre os afectos e está escrita na linguagem dos afectos ( que é mto mais fácil de entender pelas crianças do que pelos adultos).
Resumidamente, é a história de uma personagem ( le petit prince) que vive num planeta pequenino, tendo como única companhia uma flor. Um dia decide ir viajar por outros planetas, e em cada um que visita, encontra um "protótipo" de pessoa ( o planeta do avarento, do homem de negócios, do apressado, etc). Até que chega à terra e vai parar ao deserto. Toma contacto com os animais, e de todos os que conhece, o que mais lhe ensina sobre sentimentos humanos é a raposa (talvez por ser a mais perspicaz e astuta).
Nesta passagem que vos transcrevi, fala de "estar preso" a alguém, que é o mesmo do que criar "laços" com alguém.
Os meus comentadores ficaram chocados com a apalvra "preso" :) Se calhar, pensaram em algemas ou prisões. Aqui trata-se tão somente da linguagem do coração. Qdo nos ligamos a alguém, e essa pessoa passa a ser importante para nós, de facto ficamos "presos" a ela, o que não deve ser interpretado como "dependentes". Entre o nosso "universo" e o das pessoas que amamos, há laços, ligações...
A carga que dão à palavra "presos" tira toda a poesia ao texto...
A versão brasilaiera fala em "cativos". O que é cativo senão um sinónimo de preso? :)
Lembram-se do nosso Camões qdo exaltava o amor e escrevia: "Aquela cativa que me tem cativo/ porque nela vivo/ já não sei se viva" ( amor por uma escrava)

É engraçado: os meus alunos compreenderam perfeitamente o sentido do texto. Aliás, desde essa altura ( ano passado) utilizam mtas vezes o termo "laços" nas suas composições.
Racionalizar demasiado este texto tão poético é despi-lo do seu sentido....perdoem-me :)

Julgava que, a apartir desta passagem ,iríamos divagar sobre "laços", afectos, amarras doces... :)

ANdamos de pé atrás em relação aos afectos;)


Vou transcrever, em novo post, a dedicatória do saint-exupery ao seu livro "le petit prince" que, para mim, é o livro mais bonito ( talvez pq eu trabalho com crianças :)

idadedapedra disse...

ts1p: lindo!

Reb:pois, somos adultos, querentões e cinquentinhos... que queres? que pensemos como crianças, que sintamos como crianças? Achas que 40 anos de vida não alteram os sentires? Graças a deus que sim, penso eu...
A gente achar bonito amar, mesmo sem ser correspondido já é muitíssimo bonito :)

ZIB disse...

Tens toda a razão, Reb, andamos de pé atrás em relação aos afectos! E na tradução espanhola o “domesticar” é completamente inapropriado. Talvez o tradutor se lembrou que, tratando-se de um animal, o normal era falar de domesticação, anulando toda a beleza dos ensinamentos da raposa sobre o criar laços, repartir afectos, de que alguém nos importe e importar a alguém, sem que ninguém domestique ninguém …
Aqui o único que realmente “divagou sobre laços, afectos, amarras doces”, como diz a Reb, foi o Ts1P. Lindo texto, sim sr. Concordo plenamente, “não há sentires perfeitos”. E cada um cria os laços que pode, porque muitas vezes se quer e não se pode. Porque se pode tentar “cativar” alguém, mas não conseguir ser cativado por esse alguém que se quer que nos cative, porque isso não está nas nossas mãos. É bem verdade. E isso funciona nas amizades e no amor. Também estou de acordo que pode haver egocentrismo nas relações de amizade, que nos interessa manter, criando laços para conseguir um feed-back egoísta, porque nos convém para determinados fins. Enquanto no amor não funciona assim, porque para ser amor tem que ser generoso.

reb disse...

É isso!!!
Amar é coisa de crianças? Amar implica acreditar, e só é possível acreditar se continuarmos a ter alguma inocência, no que aos afectos diz respeito. COmo o Saint-Exupery diz na dedicatória: este é um livro para crianças e para adultos que não se esqueceram de continuar a ser crianças.
Dentro de todos nós, existe uma criança, não é verdade?
Na transcrição q a IP fez, há 2 partes que os meus alunos adoraram:
Uma é qdo a raposa diz que, assim que tiverem criado laços, o principezinho tem que ser pontual nos encontros, pq se ele disser que chega às 3 da tarde, a partir do meio.dia o coração da raposa vai andar "aos saltos".
Na aula, nós iamos lendo e parando pra conversar. Qdo eu li esta parte, um dos meus alunos que vive numa instituição, sorriu e disse: "É mesmo isso que eu sinto qdo a minha mãe me vai buscar ao sábado. Se ela chega às 10 horas da manhã, às 8 horas eu já estou nervoso".
A outra passagem foi qdo a raposa diz que nunca ligou aos campos de trigo, pq não come pão. Mas agora que conhceu o principezinho de cabelos doirados, de cada vez que vir os campos de trigo a esvoaçar, vai lembrar-se dele, e assim, vai passar a gostar de os ver.
Nesta parte, falámos sobre objectos que lhes traziam recordações boas e todos tinham "objectos que amavam", pq lhes tinha sido dado por alguém especial ou pq lhes fazia lembrar um momento doce da vida...

O Principezinho é um livro optimista e cheio de esperança. No final, qdo ele parte diz ( julgo que para a raposa) que não chore de saudades, pq de cada vez que olhar para o céu, estará lá uma estrela mais brilhante do que as outras, que é o planeta dele..
A mensagem penso ser a de que vale sempre a pena...Mesmo qdo se tem e se perde, é melhor do que nunca ter tido, já que o que guardamos dentro de nós nunca desaparece...

ZIB disse...

Nem mais, Reb, as boas experiências, mesmo quando se têm e se perdem, felizmente recordam-se mais que as más, porque as guardamos como um tesouro, enquanto as más tendem a esquecer-se mais… instinto de sobrevivência da espécie, suponho. Por isso devemos tentar que o ressentimento não nos cegue, ou estaremos condenados a recordar para sempre as más experiências, se bem que com elas às vezes aprendemos mais que com as boas. Mas todas as experiências nos ajudam a amadurecer, certo? Acho que precisamos de aprender com todas, mas tentar avançar com a recordação das boas, mesmo que tenham durado pouco.
Outro dia li algures esta frase “Se voltasse a nascer, voltaria a cometer os mesmos erros”. Não conheço quem a escreveu, mas interpreto que quer dizer que temos que cometer erros para aprender. Será?

idadedapedra disse...

aquela frase que se costuma dizer "se eu tivesse 20 anos e soubesse o que sei hoje...", para mim é disparatada. Eu não conseguiria viver os 20 anos com a aprendizagem que tenho da vida. Era horrível: uma cabeça de 47 anos, num corpo de 20, no meio de pessoas de 20 anos, seria muito difícil de me divertir.
Eu também acho que todos os meus erros foram muito bons para chegar aqui onde estou

reb disse...

Pego nas vossas duas frases:
"Se voltasse atrás faria exactamente o mesmo". Concordo absolutamente. De que adianta arrependermo-nos se sabemos que o que somos hoje é fruto do que vivemos até agora?
"Quem me dera ter 20 anos e saber o que sei hoje". Se isso acontecesse, seríamos uns monstros.
Aliás, nem conseguiriamos ser pessoas de 20 anos, a não ser fisicamente. Tb sempre achei isso um disparate enorme.

Qto às coisas boas e más pq já passámos, concordo convosco: as más fizeram-nos crescer e as boas enriqueceram-nos. As más deram-nos lições de vida, fizeram-nos aprender a distinguir o trigo do joio. E como a memória é selectiva ( ou seja, somos intrinsecamente optimistas) as boas recordações fazem-nos companhia toda a vida, junto com as novas experiências que vamos tendo :)

Tenho que escrever um post sobre memórias ( sem serem as lengalengas:) )

Tão só, um Pai disse...

Nem tudo o que vivi foi bom, e nem sei se aprendi com os erros que cometi. Mas, amores à parte, nalgumas coisas, gostava de ter sido mais ajuizado e, noutras, desembaraçado. Porque temos algo a melhorar, nunca estaremos satisfeitos. Nem todas as decisões que tomámos foram as mais correctas.

reb disse...

Nem todas as opções que tomámos foram as mais correctas, mas foram as possíveis. Nessa altura, não conseguimos fazer melhor...
Por isso, de que adianta arrependermo-nos delas?

Tão só, um Pai disse...

:) não diria que se trata de arrenpendimento. Prefiro, antes, o termo descontentamento. Se estamos descontentes, porque não o faríamos de outra maneira?

reb disse...

Na altura, não tinhamos a lucidez que a distância no tempo nos dá.
Se não fizemos o melhor, foi pq não tinhamos "condições internas" para isso.
Como li no livro que me anda a companhar agora: "Nâo devemos valorizar arrependimentos passados, mas prevenir arrependimentos futuros!"