segunda-feira, 7 de abril de 2008

Cuba

Há 3 anos estive em Cuba. Não fui para um resort, hospedei-me em Havana. Fui com a mente aberta, tentando observar e aprender, sem ideias pre-concebidas. O que queria compreender era o que fazia com que aquela ilha se mantivesse independente dos tentáculos do polvo norte-americano ( qual Gália do Astérix:) )
Convivi com uma família cubana, visitei uma escola, conversei com todos os motoristas de táxi( desloquei-me mtas vezes de táxi).
Do que vi e ouvi, ficou-me uma opinião, certamente pouco aprofundada, qua passo a expor.
Aspectos negativos:
1º- A poluição. Chegar a Havana é como retroceder várias décadas no tempo. Os carros são velhos, as fábricas tb e a poluição torna o 1º impacto desagradável.
2º- A pouca manutenção da cidade que, embora mto bonita e charmosa, tem um aspecto de pobreza.
3º- O que mais me chocou: a vida dos turistas nos hoteis é contrastante com a vida dos cubanos. No hotel come-se de tudo (buffets diversos) e sabemOs que a população tem racionamento para adquirir bens essenciais. Isto foi-me explicado pela família cubana que conheci, como uma das medidas do fidel, qdo caiu a União Soviética e desapareceram os países do bloco socialista que os ajudavam. Passaram grandes dificuldades e abriram-se ao turismo para que entrassem divisas no país.
4º- A falta de liberdade, a censura(filmes, livros, jornais, canais de tv, musica). Em Cuba os dissidentes ( os intelectuais) são perseguidos e presos. Se eu vivesse em Cuba ou estaria presa ou teria exilado.
Aspectos positivos:
1º- Os cubanos são cultos e informados. Todos os motoristas de taxi conheciam alguma coisa da história de Portugal. Sabiam, inclusive ,o nome do presidente da república(recem-eleito). Sobre Espanha sabiam também. Diziam que o Zapatero os tinha ajudado mto mais do que o anterir, Aznar. A reposta é esta: todos os cubanos têm curso ( superior ou técnico). Alguém imagina um norte-americano saber sequer onde fica Portugal?
2º- A medicina é das melhores do mundo ( vide portugueses com deficiencias fisicas que se têm ido lá tratar, e doentes oftlamológicos que se foram operar por médicos cubanos.) A senhora da casa onde estive disse-me que, nem que precisasse de fazer 10 cirurgias durante a vida, nunca pagaria nada. O mesmo se passa com a educação. Sempre que viajava de táxi perguntava o que faziam os filhos do taxista. A resposta foi sempre a mesma: estudavam na universidade. Nunca pagaram nada por isso.
3º- Naõ se vê uma distinção gritante entre pobres e ricos. Pelo contrário, as diferenças sociais são esbatidas. Isto faz com que não se sinta aquela revolta/raiva que existe nos países capitalistas, onde, de vez em quando, a população miserável/ das favelas assalta os ricos, por não suportarem mais vê-los possuir coisas que a eles são inacessiveis. Essa injustiça gritante que gera uma revolta e agressividade nos mais desfavorecidos, não a vi em cuba.
4º- Os cubanos são um povo muito caloroso e alegre. Querem o dinheiro dos turistas mas, para isso, não mendigam, simplesmente tocam e dançam em todo o lado ( caracteristica essa que penso ser comum aos países da america latina.) Muitos se queixaram de viver tão pobremente, mas todos mostraram orgulho na sua identidade e resistência perante os norte-americanos. Inspiraram-me respeito!
5º- Visitei uma escola primária. Os alunos tinham um ar feliz. Quiseram mostrar-nos como já todos sabiam ler na 1ª classe. Pareciam alegres e disciplinados. Foi isso que constatei tb nas ruas: as crianças são felizes, os adolescentes não! Esses conseguem, piratiando, ter conhecimento do que se passa noutros países e muitos querem sair de lá. Se não o fazem é pq, ao fim de um ano fora ,perdem os direiros cubanos( a tal sobrevivencia das necessidades básicas).

Resumindo: do ponto de vista de uma pessoa habituada ao conforto e variedade que existe no nosso país, viver em cuba seria um tédio, uma neura total; mas, do ponto de vista dos meus alunos pobres, que se confrontam diariamente com as posses dos "ricos", o que os enche de raiva e de um sentimento enorme de injustiça, em Cuba seriam, certamente, mais calmos e menos revoltados.

12 comentários:

idadedapedra disse...

para mim talvez servisse, nesta fase da minha vida em que vivo à bicho do mato

reb disse...

Para mim, servia para passar uma temporada, sem telemóveis nem internet, sem luxos de espécie alguma....e sem ver grandes diferenças sociais, que é uma coisa que, às vezes, me incomida imenso por achar que as prioridades dos políticos estão todas ao contrário. A lógica do capital é muito desumana e insensível...

Tão só, um Pai disse...

idpedra,
:) bicho do mato? :):):) ... hum ... eu diria bichinho da seda ... :)

reb,
A lógica actual do capital é a que resulta da falta do contrapeso, quer fora dela, quer dentro dela.

JR disse...

O desejo.
O desejo daquilo que não temos e que nos impede de olhar para o que possuímos e decidir se o queremos ou não.
Ainda hoje penso que para o fim da União Soviética as calças de ganga da Levis contribuíram mais que todos os gritos hipócritas em nome da democracia.
Tudo tem um preço.
Todos os nossos actos são um compromisso. Mas talvez a maior parte das vezes recusemos assumir que esse custo existe e que sempre nos comprometemos.
Mas Reb, esqueceste um outro pormenor de Cuba: a prostituição em torno do turismo. E a outra mais barata pelas ruas...

idadedapedra disse...

ts1p: tem piada, tenho um amigo de há 25 anos que me chama borboleta, porque diz que eu passo a vida em metamorfoses :)

JR: aprender a valorizar o que se tem demora muito, só se atinge nesta nossa provecta idade, acho eu. Por isso é que as calças levis são tão importantes, são desejos dessa fase mais precoce da vida. Eu viveria em cuna na boa de certeza (nunca lá fui, note-se)

reb disse...

JR,"gritos hipócritas em nome da democracia"? Eu, se tivesse vivido numa ditadura daquelas, daria gritos bem sinceros :)
Qto à prostituição em cuba ( com turistas) existe e é mto chocante!
Não existe em todo o mundo?
Prostituição nas ruas penso que não deve existir. Como poderiam eles pagar em pesos cubanos??
Havana deixou-me saudades e um sentimento de respeito e ternura por aquele povo, mas não seria capaz de lá viver...
Aí, sou muito mais comodista do que a IP e não seria capaz de abdicar daquilo que tenho...

JR disse...

Não me queria referir aos gritos dos russos, mas aos dos ocidentais que hoje fazem o mesmo, por exemplo, em relação à china, enquando escrevem à luz de uma lampadas philips feitas na china, com um casaquito da zara feito na china,ou vêm tv num plasma com componentes made in china, ou escrevem num computador com peças made in china...

Tão só, um Pai disse...

Mais do que sistemas políticos, deviamos comparar Cuba com outros países da América Latina não produtores de petróleo, aproximadamente amesma população, que tenham de andar constantemente a pensar na ameaça militar americana, que sofram um embargo económico há não sei quantas décadas. Depois, podemos comparar os níveis de instrução, desenvolvimento económico, prostituição e modernidade dos bens materiais.

Como não encontro grandes paralelos, poderíamos começar pelo Paraguai, o Peru, e por aí adiante.

LB disse...

...Sobre as prostitutas e a revolução:
Um descrente do regime terá dito a Fidel,
- Falhámos na revolução, vê essas ruas cheias de prostitutas, agora até universitárias….
Ao q Fidel respondeu
- O contrário camarada, a nossa revolução foi um sucesso, a nossa sociedade é tão evoluída q até as prostitutas têm formação universitária.

É um facto, se há indicadores de sucesso desta sociedade são a formação e a saúde. De resto nunca lá estive e tenho dificuldade em ter uma opinião formada sobre o sistema. É q há mta desinformação pelo meio.

Assusta-me a falta de liberdade de expressão e de mobilidade, mas concordo q, se compararmos com a miséria de outros países da zona, talvez o balanço lhes seja favorável.
Veremos como evoluem agora nesta fase de transição, se modelo é suficiente sólido e aceite pelo povo para resistir à abertura e às “jeans do vizinho”, ou se, pelo contrário, de torna numa ex-urss.

reb disse...

Essa das prostitutas de cuba tá mto boa :))

Qto à falta de liberdade de expressão e de mobilidade, penso que nenhum de nós a aguentaria ( só mesmo a idadeda pedra:)
Para nós, seria recuar no tempo, mas talvez os nossos avós e bisavós tenham vivido assim e eram tb felizes. Os cubanos nunca conheceram mais nada, por isso não lhes faz falta outras coisas. Qdo perguntei ao casal que visitei até onde já tinham ido, nenhum tinha saido da ilha durante toda a vida, e não pareciam mto frustrados com isso. No entanto, ela era joranlista e ele engenheiro.
já o filho, nos seus 20 e poucos anos, queria mto sair de lá. Sabia que havia um mundo de coisas pra descbrir fora dali, mas tinha medo de viver num país onde se se adoece tem que se pagar ( isso fazia-lhe mta confusão).
A falta de liberdade de expressão ainda me faz mais impressão. Um blog destes seria proibido, aliás a internet é proibida. Quem sofre mais são os intelectuais que não conseguem calar a sua revolta e fogem para o exilio ou são perseguidos e presos.
Qto à "pseudo-abertura" do irmão raul, aquilo é treta. Disse que os cubanos já podiam ter tlm e computadores e ir para hoteis desde que pagassem em dólares. Algum cubano tem dinheiro para isso?
Penso que não correm o risco de se tornar uma rússia, pq a ilha é pequena e não há regiões a quererem ser autónomas.
Se abrissem o modelo de regime, seriam provavelmente invadidos pelos cubanos americanos, novos-ricos e corruptos, e com eles viria a liberdade de mercado mas tb a droga e a corrupção.
Escolha dificil, não é?

Tão só, um Pai disse...

REB, :):):) ... quanto à falta de liberdade de exprressão há uns gajos que esperneiam, levam pauladas, mas a maioria não se queixa e continua a querer o líder ... estou a falar de outra ilha, a da madeira.

reb disse...

:))))