sábado, 19 de abril de 2008

E o pensamento, também é emocional?

Havia uma canção com um poema assim: "...porque é livre como o vento...porque é livre..."
Referia-se ao pensamento e à única liberdade possível em épocas de repressão política...

E qdo somos livres de pensar o que quisermos, o nosso pensamento é realmente livre?

Já aqui falámos da influência da cultura do país/região onde vivemos, da interiorização das regras/ modos de pensar dos nosso pais e outros que contribuiram para a nossa formação.

Falta-nos reflectir sobre aquilo em que pensamos e como pensamos, qdo chegamos àquela altura da vida em que nos julgamos maduros e confiantes.

Vamos a exemplos para compreender isto melhor:
É 2ª feira, chove, tenho sono e preguiça, instala-se uma neura. Entro no carro a caminho do trabalho e penso que esta vida é injusta, pq qdo puder gozar o meu tempo como muito bem me apetecer, já serei velha para isso...
É um dia de férias, está sol, combinei com amigos ir almoçar na praia e ficar por lá a passear, ao solinho. Entro no carro e acho que sou uma rapariga cheia de sorte, pq vivo num país lindo, rodeado de mar por todos os lados, tenho bons amigos, e a vida é um milagre :)


A pensar, a pensar.... :)

57 comentários:

idadedapedra disse...

meus caros bloguistas: cumpri o prometido (pelo menos parcialmente) e pus no tópico emoções e sentimentos algumas das ideias do damásio sobre isso. Livrem-se de não ir lá ler porque me deu um trabalhão

idadedapedra disse...

o pensamento nasce de emoções e da nossa experiência a elas

reb disse...

Acabei de ler o que publicaste no outro post e gostei mto.
Tens em casa o livro "Erro de descartes"? Se tens, podes procurar a definição de pensamento para ele?

Como fazes pra transcrever do livro? Não estás a scannar, pois não?
Isso dá uma trabalheira :)

idadedapedra disse...

tenho o erro de descartes sim.
Como fiz??? Transcrevi letrinha a letrinha!!! Mas há umas canetas digitais, que se passam em cima do texto e elas passam o texto para um documento word. Não tenho mas faz-me muita faltinha porque eu passo a vida a transcrever passagens de livros

reb disse...

Eu tb tenho o "erro de descartes" aqui. Mas estava a tentar que fosses tu a transcrever as passagens sobre o pensamento :))

Temos que arranjar essas canetas...isto de fazer cópias enormes é uma canseira :)

reb disse...

Bom, mas enqto não temos a versão científica do pensamento humano, podíamos ir divagando sobre o impacto que as nossas emoções têm no nosso pensamento...
Nesta idade, todos temos uma estrutura ideológica mais ou menos definida, acreditamos mais numas coisas do que noutras, temos os nossos valores enraizados...mas...não é verdade que pensamos coisas diferentes da vida conforme nos sentimos emocionalmente mais compensados ou não?
Divaguemos sobre isso, ok? :)

harumi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tão só, um Pai disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
harumi disse...

Somos livres para pensar, mas os pensamentos estão sempre condicionados pela nossa relação com o meio. A capacidade de pensar é tão só uma ferramenta do cérebro, que consoante as reflexões que vai fazendo, assim nos vai provocando um corropio de emoções, mercê das comparações que o cérebro estabelece com pradrões que fomos absorvendo nessa nossa relação com o meio.
De tal forma esse corropio de emoções, por vezes, se pode tornar um problema em si, visto provocar stress e mal-estar psicológico (ou sofrimento como diria um budista), que existem práticas continuadas de treino, no sentido de aquietar essa mesma máquina de produzir pensamentos, que é o cérebro, para que esse corropio de emoções possa ser desacelerado ou mesmo interrompido, em momentos de maior desconforto psicológico. É este o objectivo da prática da meditação que os seres humanos realizam há quase 3 mil anos.

Tão só, um Pai disse...

REB, sobre o teu actual post, sinto que, quando sentimos que não sentimos a vida no que fazemos, é porque sentimos que precisamos de fazer o que, para nós, é alcançar o mais e o melhor, para termos um sentido de estar na vida, e não o de ela nos estar a passar ao lado, de forma adiada, até à reforma. Sentimos que a vida já se esgotou para aquilo que fazemos ou de como o fazemos, que temos uma fila de desafios a gritar-nos "tem paciência, agora é a nosa vez", e que nos está tudo por descobrir, em prazeres do que queremos, ainda, ver, exerimenar, conhecer, saber e viver. Não te invejo o conflicto. A vida é sempre um desafio de coisas boas, e estas são as que nos libertam com o gosto do prazer, do de viver. Talvez seja por isso, que há pessoas que nunca envelhecem, e tudo olhem com um misterioso sorriso. Ao contrário do que se possa pensar, há "sem-abrigos" que são, muito, ou, até mesmo, desmesuradamente, felizes.

reb disse...

Harumi, foi engraçada a tua achega: medita-se para acalmar o pensamento :)
Nunca meditei dessa forma ( referes-te à prática oriental, certo?)...mas medito na vida...e nesse sentido, falo de pensamento. Eqto a meditação de que falas deve ser um estado em que se esvazia a mente do acto de pensar. É isto?

Pretendia, neste post, "isolar" o pensamento do sentimento, tanto qto isso seja possível.
Há pensamentos mto produtivos e criativos e que vêm tb da interacção com os outros ( este blog tem sido um exemplo disso). Falo de pensamento enqto conhecimento. Embora possamos dizer que a nossa perspecitva sobre a vida é mais ou menos optimista conforme as nossas emoções, em algumas áreas podemos isolar as coisas, não é?
Há tb aqueles pensamentos circulares, obsessivos. Uma vez uma pessoa disse-me: "tenho um disco rachado dentro da cabeça". Todos conseguimos entender isto. Talvez a "meditação oriental" seja um bom processo para evitar esses pensamentos demasiado emocionais.

ts1pai, compreendo tudo o que escreves, mas, se reparares, falaste sempre em sentimentos e nunca usaste a palavra "pensamento" :)

harumi disse...

reb, é exactamente como dizes, a meditação a que me refiro, é um treino como qualquer outro, mas que neste caso, serve para desenvolver e colocar alguma ordem no habitual caos das ideias. Ao meditar sobre algum assunto, eu normalmente chamo "reflectir".

Tão só, um Pai disse...

CREB, ... :):):) porque pensamos, procuramos, optamos, por aquilo que, pensamos, nos fará sentir melhor. Ou menos pior. :):):) ... com o quê, ou quem, é indiferente, é sempre o mesmo, o "mecanismo" do, também, precisarmos de gostar de nós. Talvez seja o mecanismo do querermos estar vivos, e por muito tempo. Ou por mais tempo.

Pois, se a "função" das emoções básicas é a da sobrevivência, talvez não devessemos incluir as menos boas naquele registo. Por exemplo, a tristeza. Há quem morra de melancolia. O "mecanismo" avaria-se. Pensa-se? Até duvido, de qualquer pensamento que não seja pré-condicionado por qualquer emoção. Claro, se calhar, entendi mal o papel ou a função de tão básicas emoções. Mas, afinal, isto é um debate. Sem outra "causa" que não a partilha da "razão". Como dizia o outro, "a razão explica: a galinha bebe água e não faz xixi". :) A razão também é uma deusa do desconhecido. Até na razão haverá alguma emoção. Tudo depende a que sentirmos, perante o tal desconhecido.

reb disse...

Gostei da tua frase: "duvido de qq pensamento que não seja condicionado por uma emoção" :)

Isto fez-me pensar no seguinte:

Em tempos, li a biografia da Lou Salomé. Ela tinha uma relação com dois homens: o nietzsche e paul rée.
Ela deixa-o, ele isola-se e escreve a obra da usa vida "assim falava zaratustra" ( que eu nunca li)

:))))

reb disse...

Fiquei a pensar nessa da galinha. Ela bebe água e não faz xixi? :)
Realmente ela só tem um buraco, mas pensei que servisse para tudo: xixi, cocó e ovos :)
O que faz ela à água? :))

reb disse...

já agora, o galo tb não faz xixi? :))

Tão só, um Pai disse...

:):):) ... o galo, também não. :):):)

Sim, também podemos ter aversão e medo face ao desconhecido. Ou, então, curiosidade. Procuramos uma razão para o que não compreendemos, o que observamos. Vivemos numa constante ansiedade da procura. :) Às vezes de nós. :) Também há quem viva numa constante ansiedade de fuga, de si, nas procuras que faz fora de si. Atribuímos razões em "talvez(es)" aos nossos porquês. Sabemos que haverá, sempre e, pelo menos, uma razão. Mesmo que não saibamos a qual.

Contextos. A frase foi ouvida por um tio meu, muito brincalhão, a um negro dado a reflexões filosóficas sobre o que via. Não tenho memória para factos, apenas para emoções, os factos são os que se lhes associam, se as emoções forem fortes. Talvez e, por isso, os números me digam tão pouco. 1000 é 1000. 1000 vidas ou 1000 mortes, já é uma equação. Porquê? A razão explica, o de haver uma emoção. Deus também é a razão, quando sucumbimos ao peso da emoção.

JR disse...

O pensamento é uma actividade do cérebro. É despoletada por estímulos. Emoções provocam actividade do cérebro. Mas o estar sentado e levantar-se também.
Quando jogava xadrez, era levantar-me (a generalidade dos jogadores fazia-o com alguma frequência) antes de fazer um lance, olhar o tabuleiro de uma outra perspectiva, voltar a sentar, etc. Este movimento fazia com que algumas partes do cérebro inactivas quando sentados se activassem ao levantar. O maior número de ligações neuronais em actividade permitia outra visão. Muitas vezes acontecia encontrar jogadas que antes não vira.
Também poderia dizer que o gostar de jogar xadrez obrigava-me a pensar...
Se pensarmos bem, estamos sempre a pensar em algo. Se não nos agrada aquilo em que estamos a pensar, pode ser complicado. Obsessões, depressões, etc.
Uma solução, que não me parece a melhor, a meditação tipo oriental, que na maior parte das vezes consiste na suspensão do pensamento (na verdade é mais um desvio).
A que me parece mais eficaz é a de questionar os valores presentes no objecto do pensamento e transformá-los.

idadedapedra disse...

bem... vocês hoje estão inspirados:)
O pensamento é ruidoso. É muito difícil deixar de ouvir o ruído do pensamento e sentir pura e simplesmente, receber no cérebro apenas os estímulos vindos dos orgãos dos sentidos.
Meditar é conseguir ir baixando o volume do ruído do pensamento e passar a sentir tudo...

reb disse...

Qdo se pratica esse tipo de meditação, ao desligar-se o pensamento, não se desliga tb o sentir dos nossos sentidos?
Eu pensava que era uma espécie de estado zen em que se está virado para dentro.

A tua airmação: "o pensamneto é ruidoso" fez-me lembrar um livro francês que li há algum tempo.
O título era "separação", ou qq coisa do género, e relatava o quotidiano de um casal em ruptura.
Um dia, eles vão de carro para algum lado, vão em silêncio. Às tantas, ele não aguenta mais e grita-lhe: "Naõ penses tão altooo!!!"
:)

idadedapedra disse...

:))))
Já me aconteceu pensar: será que ele tem que respirar tão alto??? :)))

idadedapedra disse...

pode-se meditar sem sentir os sentidos ou sentindo-os. Uma forma de atingir o estado de meditação é mesmo focando o cérebro nos sentidos... é difícil pa caraças conseguir sentir só, sem pensar, sem dar importância aos pensamentos que a mente tenta ir formulando. Sentir a respiração, sentir os pés a tocar na areia, sentir o mar... sem pensar que lindo é o som do mar...

idadedapedra disse...

"Analisemos um pouco mais em detalhe as características dos elementos na meditação andando. No primeiro movimento, levantar o pé, os iogues percebem a leveza, e ao perceber a leveza eles em essência percebem o elemento fogo. Um aspecto do elemento fogo é fazer com que as coisas fiquem mais leves e quando as coisas ficam mais leves, elas sobem. Na percepção da leveza no movimento ascendente do pé, os iogues percebem a essência do elemento fogo. Mas no levantar o pé existe também, além da leveza, movimento. Movimento é um aspecto do elemento ar. Mas a leveza, o elemento fogo, é dominante, portanto podemos dizer que no estágio de levantar o pé o elemento fogo é o primário e o elemento ar, o secundário. Esses dois elementos são percebidos pelos iogues ao prestar bastante atenção ao movimento de levantar o pé."

idadedapedra disse...

isto é a forma "científica" deles explicarem uma das técnicas de meditação :))))

reb disse...

Interessante!
Eu sempre associei a meditação a um estado estático de introversão.

Tão só, um Pai disse...

Curioso. O que dizem da meditação. Esse estado que poderá ser, tambem, o de quase ou nada, que se atravesse no consciente. O mar e a luxúria da natureza também nos esvaziam de pensamentos, aquele olhar sem ver. Fumamos um cigarro para uma pausa e nos distanciarmos. Uma caminhada matinal, ao som dos melros, desconcertante nos odores matinais. O nascer do sol, sentir-lhe o calor e recebê-lo de olhos fechados, até num sorriso. Umas braçadas numa piscina, ou umas piscinas de braçadas, penetrantes, suaves, separando a água, a concentração no movimento, na respiração, a concentração no azul do fundo, se pensamos em algo vai-se a coordenação, começam os pirolitos. Mas, tudo isto, este sentir de bem-estar, em que nos ouvimos respirar, será vazio de boas emoções?

idadedapedra disse...

o exercício físico pode levar-nos a um estado parecido ao da meditação. Por um lado porque tens a mente ocupada com o exercício e portanto pensas menos noutras coisas, por outro lado pela libertação de endorfinas que nos põem meio ganzados.
Aliás, algumas drogas são como que um atalho para se conseguir chegar a estadios mentais alterados, por vezes com exuberância dos sentidos, muito parecido com o estado pós-meditação.
Acho que foi por isso que nos anos 60 as drogas tiveram um boom, porque nessa altura os hippies valorizavam muito as religiões orientais e queriam atingir aqueles estados... duma maneira rápida :)

Tão só, um Pai disse...

... :) há quem prefira balzac, outros o prozac, pelo meio há o xanax. A paz tem muitos caminhos. Um bébé a dormir-nos em cima do peito também faz a diferença. O amor ainda faz a diferença. Só que não se vende, nem em xaropes, nem em comprimidos. E há Deus. Também nos dá paz. Às vezes só nos lembramos dele quando temos paz, são momentos que agradecemos. :)

reb disse...

Ui, um bebé a dormir-nos no peito....que saudades :))

harumi disse...

jr, não concordo contigo, em relação ao teu último post.
A nível psicológico, quando carecemos de compreensão, isto é, de discernimentos absolutos e não de meras correlações, devemos desconfiar completamente do pensamento, porque nenhum problema psicológico jamais pôde ser solucionado pela actividade do pensamento.
Não será este o nosso verdadeiro problema?
O fracasso em compreender que as pressões que causaram as nossas dúvidas são as mesmas que moldam a mente com a qual tentamos solucionar os problemas?

idadedapedra disse...

por acaso até levantas uma questão interessante ó H (sim, sim, se eu sou IP, tu és H).
Se o problema não é compreendido pela razão, é difícil que seja a razão a resolvê-lo. Se a causa do problema é emocional, por muito que a razão martele em sentido contrário, é difícil de convencer o cérebro.
Não sei se era isto que querias dizer, mas foi assim que entendi e isto que entendi parece-me verdade :)

harumi disse...

IP,era exactamente isso que pretendia dizer e disseste-o melhor que eu.

reb disse...

Vamos lá tentar perceber isto. Qdo estamos deprimidos, o nosso pensamento é negativista, tão deprimido qto as nossas emoções ( somos um todo, não é?).
Mas qdo estamos bem, é possível o nosso pensamento ajuizar sobre os nossos actos e sentimentos. Não pensamos no que fazemos ou sentimos? Não nos acontece dizer assim pros nossos botões: Agora não consigo ver isto claro, não tenho ainda distância, mas amanhã vou ver de outra maneira?

harumi disse...

De facto, empiricamente costumamos utilizar o método chamado "dormir sobre o assunto", exactamente porque perante algo que nos afecte e cuja reflexão para encontrar uma possivel solução, nos crie um sentimento de que estamos a correr "à volta do rabo", sentindo-nos cada vez mais deprimidos, faz com que, habitualmente, surja uma centelha intuitiva de esclarecimento, que nos indica que assim não vamos lá, e que cada vez nos afundaremos mais num poço de confusão e ansiedade.
Então pensamos: talvez amanhã, com o cérebro mais fresco, consiga rodar o poliedro e aceder a faces do problema que agora não vislumbro.
Uma vez ou outra, todos nós fazemos isto, mas, situo este tipo de atitude, mais perto da crença popular do que da metodologia científica. Em resumo, acho que não resulta!
É necessário utilizar ferramentas que não temos na "oficina".
A abordagem ao funcionamento do cérebro perante a necessidade de resolução de problemas de carácter psicológico, a meu ver, terá de ter outra metodologia.
Existe algo que devemos desenvolver em nosso íntimo, e esse algo ao desenvolver-se, torna-se conciente dentro de nós, permitindo assim, um salto qualitativo na forma como o cérebro pode tratar os problemas.
A meu ver, a meditação é uma prática, que segundo a informação que tenho lido sobre o assunto, pode conduzir a essa solução.

PS: Vamos lá a ver se não me estou a meter por terrenos resvaladiços....!

harumi disse...

Há um livro giríssimo sobre este tipo de assunto que temos estado a abordar nos últimos posts deste tema.
Chama-se ""O Monge e o Filósofo"
é de:
Jean-François Revel (um dos mais reputados filósofos franceses)
e de:
Matthieu Ricard (depois de uma brilhante carreira científica no campo da Biologia Molecular, dedicou-se ao Budismo).

PS: Não sou budista (longe de mim tal ideia), mas sou concerteza dotado de uma enorme curiosidade.

idadedapedra disse...

Eu li outro que se chama Buda e Einstein :)

De qualquer maneira, dormir sobre o assunto, tem uma vantagem grande; a parte da emoção, que por vezes se sobrepõe à razão, vai-se esbatendo, talvez porque os neurónios mais complexos deixem de lhes ligar tanto (aos neurónios das emoções), ou mesmo porque a emoção deixa de se desencadear.
Aí, é mais fácil resolver o assunto, ou deixar pura e simplesmente que o tempo o vá tornando menos importante

JR disse...

Harumi, antes de mais as minhas desculpas pela demora, mas tenho andado com pouco tempo e nem sempre tenho acesso a um computador.
O fracasso em compreender que as pressões que causaram as nossas dúvidas são as mesmas que moldam a mente com a qual tentamos solucionar os problemas?
São e não tens outro instrumento para compreender a tua mente se não os que a tua mente constroi. As limitações do ser humano são muitas delas ultrapassadas pelos instrumentos que o ser humano vai construindo e assim se ultrapassa a ele mesmo.
Claro está que, se estivermos deprimidos, muito dificilmente conseguiremos sair da depressão por nós mesmos (falo das depressões adquiridas e não das patológicas). Mas as palavras de outros, psicólogos, psiquiatras, amigos, ajudam-nos a pensar de modo diferente e eventualmente a sair da depressão. Claro que dito deste modo é tudo muito simplista. Mas, no fundo, não é assim que funciona a psicologia ou a meditação?
Já repararam que a generalidade dos problemas psiquiátricos (exclusão das patologias) têm a ver com o sentido da vida? E não será uma reflexão sobre esse sentido que nos pode levar a olhar o mundo de outra forma? Não é sempre o trabalho da mente que nos derruba ou nos levanta?

harumi disse...

jr, perante o conhecimento que possuimos sobre o funcionamento da mente, a tua explicação parece-me irrefutável.
A questão que eu pretendo colocar, tem a ver com a possibilidade de a partir de um "treino" sistematizado, podermos, não direi reeducar, mas potenciar o trabalho da mente de forma mais amigável.
A história, já aqui referida, do funcionamento da mente tipo "disco riscado", é comum a todos nós, e quando me acontece, fico sempre um pouco indignado, porque sinto que a mente se tornou um inimigo, causando-me ansiedade e todo o tipo de desconforto psicológico.
Porquê???
Terá mesmo de ser assim?
Não será que no último século nos preocupámos demasiado com o desenvolvimento tecnológico, sem termos tido a preocupação de fazer o mesmo com o melhor de todos os computadores, que é a nossa mente?

reb disse...

É verdade, é uma reflexão sobre o sentido da vida que nos pode levar a mudar. Penso que mtas depressões se instalam após anos seguidos de uma vida "sem sentido".
Reparem no que exige de nós a sociedade em que vivemos e que construimos:
1º vivemos longe da natureza,mtos de nós passam dias inteiros fechados em ambientes artificiais ( o nosso lado animal não deve gostar)
2º praticamente não nos mexemos. Levantamo-nos e sentamo-nos e é tudo. O nosso corpo tb "deprime" ( o nosso lado animal tb não deve gostar disso)
3º Naõ temos tempo para "estar". Estar é repousar a mente, deixar o pensamento fluir, esquecer o relógio ( o nosso lado humano não deve gostar disso)

Já repararam na vida das crianças? Passam 8 horas por dia em aulas( é esta a média no 2º ciclo: 10/11/12 anos), depois vão fazer t.p.c., ginástica e outras actividades.
Qdo têm tempo para "estar", divagar, passear? Nós tivemos infância, remember?

Já pensaram na vida dos nossos jovens? Para terem alguma hipóteses de trabalho gratificante têm que se matar a estudar. Que sociedade é esta que só admite os excelentes e esquece os médios ( como todos nós,agora adultos, fomos e somos) ?
Se quiserem ter uma casa e contruir uma família, com filhos, terão que emigrar para um país rico. Aqui, para poderem fazer isso, ficarão sempre dependentes do dinheiro dos pais ( e eles não gostam, tal como nós não gostavamos). Os que conseguirem ganhar o suficiente para terem a tal casa e uma vida menos carenciada, não têm tempo para terem filhos. Hoje em dia, tanto homens como mulheres trabalham 10 horas por dia, pra terem um ordenado decente...

Nada disto é pessimismo. Penso mesmo que temos obrigação de acordar e ver esta realidade. O futuro são eles, não somos nós!
Há que começar a mudar alguma coisa. Esta competicção ferranha engole a "alma" das pessoas....
É por estas razões que a depressão é a maior doença dos nossos tempos...

harumi disse...

IP, concordo contigo! De facto a intensidade emocional, tende a esbater-se com o passar do tempo, e talvez isso contribua para que os mecanismos da racionalidade, fiquem em condições mais favoráveis para executar o seu trabalho.
De qualquer forma, às vezes, também me acontece o contrário, ou seja, no dia seguinte, o cérebro já encontrou mais umas consequências que não tinha visto no dia anterior, e acaba por agudizar ainda mais a ansiedade sentida.
O que me faz imensa confusão, é porque é que o cérebro, nestas situações, parece funcionar independentemente da minha vontade, ou pior ainda, contrariamente áquilo que seriam os meus interesses (melhor, os nossos interesses, porque eu enquanto entidade humana e o meu cérebro, somos uma e a mesma coisa).

JR disse...

Talvez o problema não seja o do funcionamento da nossa mente, mas o da velocidade a que as transformações tecnológicas e outras a que gostamos de chamar progresso, acontecem.
O cérebro trabalha sobre conteúdos. Esses conteúdos vêm de fora, fruto da nossa experiência, mas não são exactamente o que acontece, mas o modo como foi processado pelo cérebro. Neste processamento/interpretação, há uma óbvia construção de “conteúdos” em função dos quais ajustamos a nossa relação com o mundo exterior (e com o interior também).
O que eventualmente falha, é a capacidade de ajuste ao mundo exterior que parece ser indiferente às nossas convicções e valores.
Isto está um bocado atabalhoado, mas estou mesmo sem tempo (nem para pensar...)

harumi disse...

Dir-me-ão, mas o funcionamento do cérebro é exactamente isso! Encontrar mais correlações relativas ao problema base, e consequentemente mostar-nos as consequências.
É verdade! Mas eu refiro-me mais ao tipo de raciocínio puramente especulativo, que na grande maioria das vezes, nada tem a ver com o problema real.
É como se o cérebro adorasse fazer colecção de permutações só para agravar o nosso mal estar.
É este funcionamento caótico que eu estou a tentar abordar. Não será que o cérebro nestas condições, se assemelha a uma criança com falta de educação? Não deve também ele ser alvo de "aprendizagens"?

reb disse...

Sabes o que me parece, harumi?
Que qdo o nosso cérebro anda assim tão teimoso, é pq anda descontente com a vida que andamos a levar. Se calhar, em vez de o tentarmos domesticar, devemos tentar compreendê-lo, ouvi-lo e, se possível, mudarmos alguma coisa na nossa vida...
Talvez, depois, os pensamentos sejam menos "obsessivos" :)

reb disse...

ninguém pegou na ideia que aqui deixei, ao tentar encontrar algumas causas para a depressão na "qualidade" da nossa vida, nestas sociedades competitivas e desumanizantes que criámos para viver... :)

Tão só, um Pai disse...

Sabes, reb, tu que falas tanto de marx, pois para mim ele só se esqueceu de uma coisa: que este planeta é finito. Quanto ao resto, está lá tudo. Neste momento, estamos numa fase histórica em que os vasos comunicantes, lentamente, vão nivelando por baixo. Esse nivelamento também é cultural. Por esse mundo fora, trabalha-se muito ao fim de semana e não há férias. Quem tem cafés e restaurantes, mas não só, também sabe do que falo.
Não auguro nada de bom ou de muito bom, nesta sociedade em que, directa ou indirectamente, somos todos exploradores e explorados da mais valia, porque todos dependemos dos mercados de capitais, vidé pelas reformas, pelas taxas de juro do crédito hipotecário, porque somos proprietários de casas e de, pelo menos, uma parcela de terra em que elas assentam, compramos made in china, méxico ou outro país de recursos humanos baratos e ... enfim, por aí adiante. Somos todos uns corrompidos da vida. Quando é que acabará este funcionamento dos vasos comunicantes? Também não sei, nada do futuro é muito previsível, até pode acontecer uma nova revolução ideológica ou social, ou tecnológica, ou qualquer outra, ou todas. Agora, as causas, somos nós, que perdemos a ligação neste mundo demasiado extenso e complexo, em que individualmente nunca faremos qualquer diferença. Em conjunto, sim. Classe média, uni-vos. A última vez que vi acontecer algo nesse sentido foi na greve às portagens da 25 de Abril.

reb disse...

Isso foi pq não estiveste na manif de professores de há um mês atrás :)
100 000 na rua, aquela união comoveu-me...

Achas mesmo que a próxima "revolução" será da classe média?
Eu penso que já não haverá mais "revoluções" como houve, mas que aparecerão grupos de pessoas, de vários quadrantes da sociedade ( provavelmente começará pelos intelctuais, simplesmente pq pensam...), e talvez esses grupos passem a ter progressivamente alguma influência na política dos seus países. Aliás, já há mta gente a pensar e a escrever sobre isto ( não somos os únicos:)
Parece-me uma coisa: filhos de pais que trabalharam desalmadamente sem tempo livre...não vão querer reproduzir isto qdo forem pais...

Tão só, um Pai disse...

É verdade, nem todos nos sentimos bem com este adiar de vida, dia a dia. Só que, entre casados, separados e solteiros, com filhos ou sem filhos, novos, menos novos ou pouco novos, o mesmo não se passa com todos. É provável que, para muitos, vida seja isto, com bons carros e boas férias, a sensação de poder, tácito ou explícito, e o resto é acessório.
Quanto às opções dos filhos, não sei. Quanto maiores as responsabilidades que assumimos, maiores os compromissos. Gerir um departamento, uma divisão ou uma empresa, é tomar nas mãos a vida de muita gente. Fazer parte duma equipa é assumir compromissos elevados com os restantes membros. Assumir objectivos é fazê-lo, enquanto compromisso, em relação à restante organização.
Por outro lado, assumir compromissos é, também, assumir objectivos perante a própria vida. Há profissões em que não podemos manter-nos num nível de baixos compromissos. Ou os aumentamos, ou dão-nos um chuto e vamos para a rua. Não é por acaso que, muitas vezes, equiparamos a vida a uma roda dentada trituradora, em que fora dela não existe mais nada.
Porque nos deixamos ficar na roda dentada? Porque há um compromisso importante, que é o do sustento físico da família.
Há tempo gabaste algures o sector privado. No sector privado não existem diuturnidades e outras benesses salariais, sem aumento de compromissos e responsabilidades.
É verdade, um dos problemas dos filhos é não quererem passar pelo mesmo que nós. É uma das suas fontes de conflicto em relação ao seu futuro. Mas também é verdade que procurarão dar um sentido à sua vida, obter o respeito e o reconhecimento dos pares, incluindo o do que poderá ser a futura mãe/pai dos seus filhos. Para isso, vão ter que assumir compromissos de forma crescente. É curioso como, por vezes, volto a repetir e friso, por vezes, muitas mães acusam os pais, antes de uma separação, de serem ausentes e, depois da separação, quando têm de fazer pela vida porque, por norma, não há pensão que substitua a perda de rendimento, tornam-se elas ausentes. Se o pai não era um bom exemplo, a mãe passa a ser o único bom exemplo. O resultado reproduz-se, tendo como base diferentes pontos de partida. O importante é que os filhos sejam felizes, e há gente que é feliz, ou menos infeliz, a trabalhar 10 ou mais horas por dia, quando o faz com um sentido palpável e vê a sua contribuição reconhecida, quanto mais não seja pela importãncia dentro do grupo e na sua valorização no mercado. Quer se queira, quer não, as pessoas vendem-se num mercado. Não é por acaso que gestores de sucesso e de elvadas responsabilidades, no que se inclui a criação de riqueza, a longo prazo, para o accionista e para os que trabalham consigo, são pessoas que ganham muito bem, por dentro e por fora. São pessoas que lidam com pressões extremas, são tecnicamente competentes, politicamente ágeis e hábeis, são pessoas únicas, determinadas e que não gostam e nem querem deixar nada ao acaso, até onde lhes é possível. Até quando se demitem para denunciarem situações de menor legalidade, são pessoas únicas. É assim, quem tem nas mãos o destino de muitos biliões de $$$, ganha milhões. Para os accionistas, pagar o que se paga a esta gente é um investimento com um elevado retorno garantido, tangível ou intangível. Não tem nada que saber.
Se são felizes ou não, é outra história. Se os filhos são ou não felizes, por vezes até sim e outras não. Nunca me senti infeliz por ver pouco o meu pai. O pai era o pai, ponto final. Hoje, sei-o, que o infeliz era ele. E foi-o para eu ser feliz. Há coisas que se podem explicar aos filhos mas, por vezes, a vida só nos dá um leque de escolhas de armadilhas. Armadilha por armadilha, escolhemos a que, em dado momento, perspectivamos como a que mais precisamos, no momento, e não no futuro. Ninguém tem uma bola de cristal. Se nascessemos na Alemanha, se calhar, teríamos outra postura em relação a isto. O sol nasce mais para nós do que para eles. Talvez, por isso, procurem outro sol, o do trabalho pela família.

reb disse...

Li a notícia da vinda do saramago a lisboa para inaugurar a sua exposição. Às perguntas dos jornalistas, respondeu: "Acho que os portugueses andam "aborralhados", perderam o sentido crítico" :)

É pq não leu o nosso blog :)

Não acho que sejamos um povo tão aborralhado como parece, acho sim que somos preguiçosos e comodistas, gostamos de criticar entre amigos e mais nada. Somos algo conformistas. Mas penso que isso se relaciona com a nossa posição geogra´fica que influencia a nossa identidade. Todos adoramos sol e praia e qdo chega um fds grande o que faz todo o mundo? Toca de pedir um empréstimo ao banco pra ir passar esses diazinhos a um hotel fixe com a famelga. Dp pede-se ajuda à Deco :)

Se vivessmos na suécia, sem sol, trabalharíamos mto mais, pq não haveria mais nada pra fazer :)

Tão só, um Pai disse...

REB, os vikings, quando o tempo não lhes permitia fazer muito mais, também bebiam uns copos, andavam à porrada entre eles e, quando se fartavam, ala que vamos a dar porrada nessa gente que há ali mais para sul, e, para além disso, também lhes devia dar algum gozo o fazer filhotes, pois não estou a vê-los a jogar à sueca com cartas.

idadedapedra disse...

hum... não sabia que ainda andavam por aqui :)

H: há uma historinha que eu passo a vida a contar que tem a ver com esse parecer que o nosso cérebro às vezes conspira contra a razão:
"Um velho pensador dizia:
-Tenho em mim dois cachorros em permanente luta: Um irrequieto e brincalhão que é uma alegria ver mas às vezes me destroi tudo, outro pacífico e tranquilo que me guarda a casa mas às vezes entristece de tão certinho que
é.
-E qual deles vencerá a luta? - Perguntou o interlocutor.
-Ora, aquele que eu alimentar, obviamente..."
Comigo passa-se isso. é como se tivesse dois seres independentes na cabeça. O irrequieto é muito mais engraçado realmente e dois dias em que lhe dou alimento, são suficientes para achar que a vida é muito engraçada :)
Mas esse tal de irrequieto, no dia a dia, em que a gente não o alimenta, passa o tempo a remoer lá no fundinho do cérebro. E por vezes quando temos um conflito emocional dentro de nós e é preciso ouvir a razão, o irrequieto não larga, está lá sempre atrás a mandar umas bocas... e apesar de termos já o problema todo equacionado pela razão, o problema continua lá na prática porque o irrequieto não se cala :)

Tão só, um Pai disse...

IdP,
Se gozas desse conceito moderno que todos designam por férias, então verás que, em média, esse bicho irrequieto tem um boocadinho de mais espaço, só que muito concentrado.

reb disse...

Às vezes acho que tenho montes de cães dentro de mim :)
Há o tranquilo e o irrequieto, mas tb há o activo e o preguiçoso, o tolerante e o exigente, o frágil e o forte, etc...

Isto faz-me lembrar um jogo que brincávamos em pequeninas: Se fosses um animal que animal eras? :)

Tão só, um Pai disse...

... eu, às vezes, também tenho um que gosta de dar dentadinhas ... hnam, nham, nham, ... enfim ..., é o chachorro que não pensa e que, depois, umas vezes arrepende-se e, outras, não ... nham, nham, nham ... :):):):)

Tão só, um Pai disse...

... (suspiro) ... do que eu me havia de lembrar ... estas coisas desassossegam-me :)

reb disse...

Lê o "livro do desassossego" do fernando pessoa que isso passa-te :)

idadedapedra disse...

se fosse um animal? Era uma águia

reb disse...

Eu tb só me vejo como ave, mas não sei qual. Migradora não era de certeza. Devia dar grandes passeios pelo céu e passar mto tempo tb no ninho :)