Já todos experimentámos calar-nos qdo sentíamos vontade de gritar, recuar qdo nos apetecia avançar. As nossas emoções estão educadas. De outra forma, não poderíamos viver em sociedade. Temos a capacidade de interiorizar as regras sociais e, racionalizando-nos, escolher entre o que podemos demonstar "na hora" e aquilo que devemos guardar, para reflectirmos qdo a cabeça estiver "menos quente".
Somos assim tão eficientes a controlar as nossas emoções?
Há uns anos, um colega meu afirmou o seguinte: "Somos todos potenciais assassinos!"
A frase chocou-me. Ele exemplificou: "O que farias se visses alguém a molestar os teus filhos?"
E acrescentou: "Para mim, nem era preciso que fossem os meus filhos. Se alguma vez deparasse com algum tarado a fazer mal a uma criança e tivesse uma arma na mão, não heistava em disparar."
Muito tenho pensado sobre isto.
Já consegui imaginar que era uma mãe pobre, com filhos a passar necessidades. Sei que não teria pruridos em roubar, num hipermercado ,alimentos que não pudesse comprar...
Em situações-limite, esquecemos a razão ( que razão?) e somos só emoções...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
16 comentários:
exactamente, somos. e essa questão de vermos uma criança a ser maltratada é muito pertinente. e não precisa de ser uma criança. uma vez, estava eu a sair de uma discoteca e deparei-me com uma cena de 5 ou 6 gajos a baterem num outro que se encontrava já no chão. não pensei um segundo. atirei-me aos outros, não lhes bati, mas retireio-os um a um, para que não massacrassem mais o que estava no chão. os ânimos estavam muito exaltados, tentaram virar-se contra mim, mas aí já fiz apelo da razão e disse-lhes que não tinha nada a ver com a questão, mas não conseguia ver vários gajos a baterem num. esclarecidas as coisas, o gajo que estava a ser espancado era um ladrãozeco que tinha roubado a carteira a um dos outros, que eram todos amigos. imobilizado o ladrão, chamou-se a polícia. o mais estranho desta história é que eu sou de natureza bem pacífica e contam-se pelos dedos de uma mão as vezes em que "andei à porrada" em toda a minha vida. outro aspecto estranho é que estava a sair imensa gente da discoteca, se bem me lembro foi na hora do encerramento, e eu fui o único a intervir.
eh pá ontem aconteceu-me uma cena parecida. Ía de carro com a filha mais nova e vi um jeep parado e uns gajos no chão. Disse à miúda: olha, um acidente, há feridos, tenho que ir lá ajudar. Quando aproximei mais o carro os que estavam no chão eram uns miúdos para aí entre os 16-18 anos e de pé estavam 3 gajos enormes, bem mais velhos, a bater-lhes com matracas. Os outros carros passavam, abrandavam e seguíam caminho. Eu não saí do carro, tive medo, mas pus o carro ao pé do deles e desatei a buzinar. fechei a porta e a janela. Um dos batedores veio até ao meu carro, a dizer "que é que foi" com um ar agressivo e tentou abrir a porta. Explicou-me lá de fora que eles eram ladrões, que tinham acabado de assaltar uma casa. Eu de dentro do carro pedi-lhes que não batessem mais, que chamassem a polícia. O gajo diz que já tinha chamado. Então mas se tinha chamado e se os putos tinham metade do tamanho deles e estavam no chão com as mãos atrás da cabeça e chorar e a pedir para não lhes baterem mais, para que era preciso aquilo? Liguei para a polícia, que realmente já tinha sido chamada e chegou logo a seguir.
Doeu-me:
- ninguém parar para tentar interromper aquilo
- ver gente a bater noutros que estavam imobilizados e que eram muito mais pequenos
É verdade o que vocês contam: é espantoso como, em situações dessas, poucos são os que intervêm. A maioria tem uma emoção mais forte do que a indignação: o MEDO!
O que fizeste: aproximares-te do carro deles e buzinar foi uma atitude espectacular!
IP: não é por acaso que fomos (somos) colegas... :)
reb: aí está uma emoção (o medo) que nunca se devia sobrepor à razão. não só nestas situações como em todas. todos nos limitamos pelo medo, mas há pessoas em que o medo as impede de viver uma vida digna desse nome.
uma situação de medo racionalizado:)
A minha filha mais velha outro dia ía a guiar e a falar ao telemovel; azarinho que estava a polícia por ali; ela lá fez um choradinho mas népia: pagou a multa ali logo com o multibanco portátil que eles trazem. Depois, os jovens polícias resolveram ir-se embora levando os documentos dela. Ela ligou para a esquadra, contou a situação e do outro lado da linha riam-se muito mas disseram que íam contactar os jovens polícias para lhe irem devolver os documentos. E lá voltaram os rapazitos para ao pé dela. Entretanto, passa uma senhora a guiar e a falar ao telemóvel. Eles mandam-na parar, dizem-lhe que não pode fazer isso, mas deixam-na seguir sem a multar.
A minha filha interrogou-os sobre a diferença de atitude em duas situações semelhantes. Eles responderam que só multavam quem queriam. Ela responde que vai fazer queixa deles. Eles: pois faça, mas não se esqueça que todas as moedas têm dois lados.
Ela sentiu aquilo como uma ameaça, o quererem que tivesse medo do poder deles. Racionalizou o medo e achou que a justiça devia ser feita: foi à esquadra fazer uma reclamação por escrito.
Uns dias depois recebemos uma carta da polícia a dizer que a reclamação dela tinha seguido os trâmites normais e que ía ser avaliada. Ficámos muito contentes.
Alguns dias depois recebemos outra carta da polícia: desta vez era mais uma multa para pagar porque a carta de condução não tinha a morada real :)
E esta, hein????
PS: Ela resolveu não pagar a multa; diz que prefere ir a tribunal para poder denunciar o abuso de poder dos polícias. Eu não me oponho, até porque já é ela que irá pagar com o ordenado dela a multa + a multa de não ter pago a multa a tempo :))))
Incrível!!!!
Situações dessas devem acontecer todos os dias. A maioria das pessoas "come e cala" para não ter que se chatear. O que devíamos era fazer todos como ela: não "engolir sapos vivos"
:) uma vez, ainda estudante e ao pé da faculdade, com outros colegas isolámos um gajinho que tinha gamado a, a uma velhota, em Entre Campos, a bolsa, com os seus parcos haveres. Não demos porrada a ninguém, mas não o deixámos fugir, até vir a polícia. Quando esta chegou, olhou para o grupo e, apontando para mim, perguntou, "é este? é este?". Claro, também acabei na esquadra. Quando saí de lá, o que havia de nódoas negras e de edemas, não estava à vista, o que roubou, afinal, era menor, saíu em liberdade, directo para um carro cheio de malta crescida.
A profissão de polícia não é digna nem dignificada. Por isso, só os piores aceitam ir para lá. A justiça é a de quem a "pratica", raramente a palavra do injustiçado vale mais do que a palavra da polícia. A polícia também é violentamente sádica, perversa e corrupta. Muitas vezes, mete-me nojo.
A racionalização das emoções tende a colocar-lhes algum controlo, para que aos olhos dos outros as nossas atitudes pareçam obedecer a padrões éticos. Vulgarmente chamamos-lhe "Bom senso".
Por exemplo, acho alguma graça, quando oiço dizer: " Ó pá, eu cá comigo é assim....tenho o coração ao pé da boca...o que penso, digo logo!"
Pois..., a pessoa que diz isto, está toda convencida que, ao dizê-lo, está a fazer uma manifestação de seriedade, verticalidade, força de carácter, etc.
Mas eu não acho que seja assim, temos de facto de utilizar os mecanismos do bom-senso em cada atitude que tomamos em socialização com os outros. Não nos podemos dar ao luxo de dizer aquilo que pensamos. Somos, desde crianças, angariadores de conhecimento e de assimilação de regras de comportamento social. Não é nenhuma vantagem, ter o coração ao pé da boca. As emoções, grande parte das vezes, devem ser sujeitas a vários filtros, que lhes confiram alguma racionalidade e equilíbrio aos olhos dos outros.
Concordo com o que dizes. Também me irritam aquelas pessoas que se dizem mto "frontais".
O que é isso de ser frontal?
Dizer o que se pensa? TUdo bem se estivermos no campo das ideias, mas há pessoas que se servem dessa dita frontalidade para atacarem os outros na maior insensibilidade.
Em geral, aceitam pouco a frontalidade dos outros :)
Eu diria que é mais falta de educação do que frontalidade.
Normalmente dizem o que devem e o que não devem, deixando atrás de si um ambiente de cortar à faca.
Muito coração ao pé da boca versus pouco chá quando eram pequeninos.
Já que andamos numa de Damásio, podemos ver que ele fala do modo como as emoções influenciam a razão.
Não é só, ao contrário do que costumamos “pensar”, a razão a poder dominar as emoções. Estas afectam o próprio modo de pensar.
Por outro lado, sem emoções, a nossa capacidade de decidir, de escolher, é afectada porque embora saibamos o que estamos a fazer, não há um sentido (sentimento) naquilo que fazemos. As nossas escolhas, embora não tenhamos muitas vezes consciência disso, baseiam-se sempre em valores morais. São esses valores que dão sentido ao que fazemos.
Um exemplo corriqueiro da diferença entre compreender o que se quer dizer e o sentido desse dizer: Imaginem uma enfermaria de hospital (antes da proibição generalizada de fumar). Há doentes que apesar da proibição de fumar vão para a janela, ou para corredores, ou WC. Sabem que não o devem fazer mas carece de sentido. No entanto, se alguém falar com eles e abordar os malefícios do tabaco para os outros doentes, ou a forma como o doente A ou B é afectado por causa da sua asma, imediatamente deitam fora o cigarro.
Ou seja, são as emoções que dão sentido às nossas escolhas e nos fazem escolher o caminho. A razão é uma ilusão.
Ah... e os limites do sentir, do dizer, da liberdade... vou ver se arranjo tempo.
bófia... humpf
JR: é muito mais fácil quando és tu a explicar do que quando sou eu transcrever :) Poupa-me um trabalhão e fica muito melhor dito...
Cada macaco no seu galho!
Se gosto ou não de pessoas com o coração ao pé da boca... depende das pessoas. Tenho uma colega de quem gosto muito que tem o coração ao pé da boca, sai-lhe tudo, sem censura, mesmo sobre ela própria... Gosto dela. O que não quer dizer que goste de todas as pessoas que têm o coração ao pé da boca...
Pois é, as emoções estão na base de todo o nosso "edifício" mental.
Diferimos doa animais talvez essencialmente nisso: emocionamo-nos e podemos reagir ou pensar, tomar consciência e adiar a reacção, ou mesmo transformá-la em algo de mais razoável...
A razão, ou a capacidade de a integrar, é aprendida desde o berço pq temos mecanismos capazes de a assimilar.
apesar de tudo, o coração ao pé da boca é bem preferível ao sorrisinho pela frente, punhalada pelas costas.
nelio, eu cá para mim não prefiro nem uma coisa nem outra!
Enviar um comentário